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sábado, 29 de maio de 2010

Vem Dando nos Jornais

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Março, 1996.

Clepto, do greco klépto = Roubo, roubar; Cracia, do greco krátia = Governo, autoridade; CLEPTOCRACIA = Governo de ladrões (fonte: Dic. Aurélio).
Tudo por conta dos relatórios das CPIs. As provas nos inquéritos parlamentares dão conta de que não há muita falsidade nas acusações recíprocas entre petistas, peessedebistas e pefelistas. É tudo verdade. O que nos leva a outra realidade terrível. O Brasil saiu de uma ditadura, no final do governo Figueiredo, e entrou numa CLEPTOCRACIA desvairada.

Governo Itamar à parte, a truculência deu lugar à ladroagem. Confesso a que não tenho saudade da ditadura. Mas tenho pena deste Brasil vítima do baixo estrato moral de grande parte de seus homens públicos. E, claro, da estupidez incomensurável do povo infeliz que os elege. Aliás, a maneira desastrada como o povo brasileiro escolhe representantes é nossa melhor garantia de horizontes nublados por longos anos.

Constrange ver, no noticiário, partidos políticos comportando-se como facções criminosas. O PT que emerge das CPIs em andamento, com valerioduto e cuecas recheadas, mereceria melhor classificação? E o PMDB da suspeitíssima contumácia no Ministério dos Transportes, do Estevão, do Governo Sarney, do Newtão, do Quércia, do Genebaldo, do Barbalho, do Zé Geraldo “Quinzinho”? E o PFL da grana de responsa nas burras da Roseana, das “loterias” do João Alves, do painel eletrônico do ACM avô, do Fiúza, da fidelidade a Collor/ PC até o derradeiro instante? E o PTB do Jéferson, do Queiroz, da Sra. Cândido? E o PSDB do Senador Arruda, da campanha do Azeredo, do governo FHC nas privatizações opportunityscas do Mendonça de Barros ao limite ricardiano da responsabilidade? E o PL do Mabel, do Costa Neto, do Bispo Rodrigues? Ó tempos, ó costumes!

Não há exagero em dizer que as próximas eleições se resumirão a uma luta entre amigos do alheio para definir quem pilhará cofres públicos nos quatro anos seguintes. Ou seja, votaremos pela permanência de ladrões ou pelo rodízio entre eles. Uma escolha entre “o que aí está" e o "que aí esteve".

Vira e mexe a Previdência volta ao noticiário. Previdência toca no futuro, no bolso, na saúde e no estômago de cada um. Mesmo lembrando que “no longo prazo estaremos todos mortos”, incomoda o temor de que, antes, possamos conhecer a miséria e o abandono. Uma previdência falida e sem perspectivas de sustentação é ameaça de Dâmocles. Pelo que se sabe a população economicamente viável nos países civilizados vem tendo um filho por casal, no máximo dois. Num mundo cada vez mais competitivo, como esses (poucos) filhos irão prover os custos previdenciários dos pais – cuja longevidade aumenta? Complicadíssimo! A ameaça é de que os pais de hoje envelheçam em Asilos de baixo nível, pois os salários correntes mergulham a níveis asiáticos. Um “lugar ao sol” para nossa juventude é cada dia mais problemático.

Há poucos dias, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B - SP) depois de almoçar com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em Viçosa, Alagoas, por ocasião do Natal, saiu com este comentário: - “De tanto falar de política, ele parecia Lázaro escolhido por Cristo para ressuscitar”.

Vê-se que nossa Câmara de Deputados não é bem servida de presidentes, ultimamente. Se depois de almoçar com um homem público do nível de FHC, Aldo foi capaz de tal grosseria, ele carrega, para mim, uma virtude e um defeito. Como virtude, a verve - sem dúvida notável; o defeito seria a falta do legado doméstico do "berço" e seus consectários de natureza ética.

A CPI das privatizações, a ser instalada possivelmente nesta semana, é promessa de mais complicação e menos governo. Há diálogos telefônicos gravados e não contestados em sua essência relacionando passagens de Pérsio Arida (do Opportunity), Elena Landau (ex-diretora do BNDES), Luiz Carlos Mendonça de Barros (ex-ministro das Comunicações) e Lara Rezende por órgãos estatais e por empresas privadas com interesse financeiro direto nas privatizações.

O nivelamento por baixo, feito principalmente pela TV quando deixa que o grande público, via institutos de pesquisa, lhe fixe a pauta dá que pensar: - Quem está educando a quem? A TV educa o povo ou o povo “educa” a TV. Veja essa interessante minisérie “JK”, da Globo.

Para contar a história de um grande estadista já enfiaram, em pouquíssimos capítulos, três cenas de sexo explícito (incluso uma de estupro não convencional) e um altíssimo percentual de cenas de bordel. Tudo para agradar o grande público em cima da propalada natureza boêmia do grande estadista. Dá pra elogiar?

E a faixa presidencial? Você acha que ela poderia ser confeccionada num barracão de Escola de Samba? Quantas confecções e mestras da alta costura brasileira não dariam tudo para passar à história oferecendo, gratuitamente, essa faixa? Mas, não, tem que ter “concorrência” e altos pagamentos em espécie...

E tome noticiário do Oriente Médio! Entendo, até prova em contrário, que Israel/Palestina têm importância estratégico/militar para os Estados Unidos. Mesmo assim, o espalhafatoso destaque que nossa imprensa dá a cada incidente de rua ocorrido por lá me parece mais um macaqueamento de noticiário alienígena. O território geográfico de São José do Rio Preto, SP, é muito mais importante para o Brasil e eu nem sei quem é o prefeito de lá.

Vi na TV o Sr. Rodrigo de Rato, diretor-gerente do FMI, dizer:

“O que posso dizer é que o Brasil não tem há mais de uma geração uma oportunidade tão boa como tem hoje de assentar-se num caminho de crescimento. A economia brasileira é dinâmica, com um futuro promissor. Crescerá mais em 2006 do que cresceu em 2005, com menos inflação, custo menor de sua dívida, menos pobreza e mais emprego. Isso foi obtido depois de muitos esforços, mantendo uma política macroeconômica que garante a estabilidade. Creio que é do interesse dos brasileiros não perder tudo o que foi alcançado e continuar trilhando o caminho de uma economia que dará resultados cada vez melhores. (...) Queria lembrar que, em outros momentos em que o ambiente internacional foi favorável, o Brasil não se beneficiou da mesma maneira. É verdade que hoje a situação internacional é mais favorável, mas também é verdade que os brasileiros fizeram muitas coisas na direção correta para colher os benefícios”.

Nada mais claro: o diretor do FMI está com o Palocci e não abre. A única coisa que se pode dizer, como crítica ao PT, é que nesse terreno o governo fez o que o PSDB também faria. Isto é, na área econômica o governo tem sido continuísta. Não é por acaso que o Palocci tem defensores importantes. O que explicaria, ainda, a percepção de que o establishment (leia-se, quem manda no Brasil) confie, hoje, mais no Palocci que no Serra.
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(Publicada no jornal LEOPOLDINENSE de março de 1996)

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