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domingo, 28 de fevereiro de 2010

Pe. José Ribeiro Leitão

***
Leopoldina

Ao pé da serra serpeava um rio,
Donde o puri, libérrimo e nú,
Ao ver chegar o branco, então fugiu,
p’ra nunca mais voltar ao Feijão-Crú.

Ficou o branco, que aceitou com brio
Vencer o tempo e a onça e o urutu
Tudo mais que lhe fosse desafio,
Até surgir o arraial do Feijão Cru.

Com gerações de gente intemerata,
Virou cidade linda e paladina
De valores e de nobreza grata,

Tão rica no saber que a ilumina,
Atenas, não da Grécia mas da Mata...
Nome que Aquino deu a Leopoldina

(Poucos meses antes de falecer, o Pe. José Ribeiro Leitão mandou ao jornal LEOPOLDINENSE o soneto acima, de sua lavra, escrito nos idos de 50. Na ocasião, Luiz Otávio Meneghite, editor do jornal, solicitou-nos algumas palavras de homenagem ao velho mestre do Colégio Leopoldinense. Com complementos obtidos, pelo telefone, com os amigos, Maria do Carmo Leitão (irmã do homenageado) e seu esposo, Jader Kneipp, residentes em Brasília, preparamos o texto abaixo)

Desprovido de credenciais mínimas para a empreitada aceitei, talvez por vaidade desmedida, o pedido do Luiz Otávio para reunir em rápida assentada alguns dados biográficos do Padre, Professor e Doutor José Ribeiro Leitão. Em verdade, pontificam dentre as lembranças mais gratas que guardo do meu curso secundário no Colégio Leopoldinense as aulas de filosofia do querido mestre, “Padre Leitão” – tal como o chamávamos naquele tempo.

(E o fazíamos corretamente porque padre não deixa de ser padre quando larga a batina, da mesma forma que médico não deixa de ser médico quando para de clinicar, nem advogado deixa de ser advogado porque fechou sua banca. Formação acadêmica não se perde.)

O Pe. José Ribeiro Leitão nasceu em Leopoldina, MG, aos 15 de março de 1928. Primeiro foi Religioso, Professor de Filosofia e Poeta, depois, Juiz Federal e Jurista. É filho de Da. Maria José Ribeiro Leitão e de José Maria Leitão – ex-comerciantes, proprietários da tradicionalíssima “Casa Leitão”, que funcionou, até meados do século XX, na Rua Ribeiro Junqueira, 31, no centro de Leopoldina.

É casado com Da. Regina Coeli de Freitas Ribeiro Leitão, com quem teve os filhos: Rodrigo, já casado e jornalista do “Jornal de Brasília”; Raíssa, solteira, professora em Letras pela U.N.B.; e Rômulo, casado, advogado e desenhista industrial. É avô de quatro netos: dois, filhos de Rodrigo e, dois, filhos de Rômulo.

São seus irmãos, Maria do Carmo Leitão, casada com Jader Kneipp, residentes em Brasília; Terezinha Ribeiro Leitão, solteira, artista plástica, residente em Leopoldina e Kleber Ribeiro Leitão, ex-comerciante nesta cidade, recentemente falecido.

Juiz Federal aposentado e grande cultor do Direito, o Dr. José Ribeiro Leitão é autor de três obras de Direito Processual Civil, incluído o trabalho “Processo Cautelar e Procedimentos Especiais”, Editora Forense, Rio de Janeiro, RJ, ano 1980, de grande aceitação entre advogados e magistrados.

Para os menos familiarizados com a organização judiciária brasileira, explica-se que a Justiça Federal tem por competência o julgamento de ações nas quais a União Federal, suas autarquias, fundações e empresas públicas federais figurem na condição de autoras ou rés e outras questões de interesse da Federação previstas no art. 109 da Constituição Federal, tais como disputa sobre direitos indígenas, crimes cometidos a bordo de aeronave ou navio, crimes praticados contra bens, serviços ou interesses da União, etc.

José Ribeiro Leitão lecionou Religião e Filosofia do Colégio Leopoldinense, depois Colégio Estadual Botelho Reis, de Leopoldina. Foi professor universitário em Belo Horizonte e professor de Direito Processual Civil na Universidade do Distrito Federal - UDF.

O início de sua preparação intelectual e religiosa se deu no Seminário Menor de Mariana, depois no Seminário Maior, também de Mariana. Formou-se em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, tendo recebido tonsura aos 2 de setembro de 1948 e se ordenado Padre na Catedral de São Sebastião, de Leopoldina, por nosso primeiro Bispo Diocesano, Dom Delfim Ribeiro Guedes, no dia 15 de agosto de 1953. Cursou Direito na Universidade Estadual do Rio de Janeiro e licenciou-se em Filosofia pela Faculdade Dom Bosco, de São João del Rey.

Na vida sacerdotal, muitos foram os cargos que exerceu: Vice-Chanceler do Bispado; Prefeito de Estudos do Seminário Diocesano; Prefeito Geral do Seminário Diocesano; Reitor do Seminário Diocesano; Chanceler do Bispado; Censor Eclesiástico; Promotor de Justiça; Defensor do Vínculo; Membro da Comissão de Arte Sacra; Membro do Conselho de Administração da Diocese; Cônego Honorário do Cabido Diocesano, aos 20 de agosto de 1954; Diretor Diocesano da Federação das Congregações Marianas da Diocese; Assistente Diocesano da A. C.; Cerimoniário da Catedral; Examinador Sinodal; Vigário Geral; Visitador Diocesano; Pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, de Leopoldina, de 30.7.57 a 15.11.59, ocasião em que organizou a Juventude Estudantil Católica; Capelão e Professor, em Belo Horizonte, MG, em 1959.

Ausentou-se da Diocese aos 17 de novembro de 1959 e secularizou-se. Mediante indulto da Santa Sé casou-se, no cível e no religioso, com Regina Coeli Freitas Ribeiro Leitão, nascida na cidade de Tocantins, MG. Hoje, aposentado como Juiz Federal, de Brasília, reside no aprazível balneário de Guarapari, no Espírito Santo, onde – como ele mesmo diz – vive seu Otium cum Dignitate (Ócio com dignidade). Aliás, merecidamente - dizemos nós.

Poeta desde 1946 quando ainda cursava filosofia no Seminário de Mariana, confessa ter em seu “velho baú” mais de mil sonetos, a maioria inédita. Mais dois deles merecem transcrição: “BONANÇA”, extraído do site “sonetos.com.br”, e “CRUZEIRO”, um culto ao Morro do Cruzeiro, de Leopoldina, poema citado por Pedro Wilson Carrano Albuquerque em bela crônica publicada no Jornal Leopoldinense, de 31 de outubro de 2006, quando do falecimento do autor.

BONANÇA

Não mais no leito canta o rio e escorre;
nem mesmo o vento abana os coqueirais.
Nas veredas, o gado mole corre
e molemente busca os areais.

De um canto a outro o bravo sol percorre
crestando os densos verdes capinzais.
Um bafo ardente estala, apaga e morre,
nas feias folhas secas dos mangais.

Cinzentas nuvens rondam o ar soturno;
ruído algum belisca o céu profundo,
só, na tronqueira, geme o sabiá.

Barulho imenso rasga o véu noturno;
o temporal estruge num segundo;
daqui a pouco o sol já brilhará!


CRUZEIRO

No oculto escaninho da lembrança
revivi uma imagem esvaída,
tão grata, de meu tempo de criança.
Era um passeio de íngreme subida.

Após “Pedra Pinguda” e que avança,
escalavrando o pé numa ferida
que para de doer quando se alcança
cume do morro ou alma embevecida,

por ver de cima a bênção do Cruzeiro,
e em baixo a minha rua, numa rede
de gente formigando num terreiro.

Hoje triste a dizer: amigo, vede!
Aquela antiga cruz, nosso luzeiro
- falou Drummond - é quadro na parede

Conheci o Dr. José Ribeiro Leitão, como dito acima, no final dos anos 50, nosso professor de Religião e Filosofia no Colégio Leopoldinense. Com o “Manual” do Theobaldo Miranda dos Santos à mão ele nos orientou, com sabedoria e paciência, nos primeiros passos do “conhecimento das coisas, pelas últimas causas, mediante a luz da razão”. Metafísica platônica e o racionalismo aristotélico conciliados à fé por Santo Thomás de Aquino, firmando em nossas cabecinhas vacilantes a originalidade do ser humano, a transcendência da alma sobre a matéria corporal. Moral tomista, imanência essencial da natureza humana que são traços da essência Paterna, vestígios das mãos de Deus na idealização e concertação do mundo.

Atuar moralmente igual a agir racionalmente, em harmonia com a natureza racional do homem, sem jamais tomar a razão como estranha ou oposta à fé, porquanto procedente, ambas, da mesma volição divina, original. Internávamos, meio sem o saber, que o mundo das nossas buscas pela compreensão da realidade humana passaria a depender muito do que era dito pelo bom mestre Pe. Leitão na acanhadinha Sala-2, do Ginásio.

Os caminhos da idade adulta que viriam logo depois, as opções de penosa escolha, as decisões forçadas por uma necessidade premente de ganhar a vida, relegaram filosofia à prateleira baixa dos guardados ginasiais. Mas bem plantadas no espírito ficariam as sementes de uma curiosidade insopitável à qual não escapariam os grandes mestres e, como convinha à filosofia do Direito, reverências às “Críticas” de Kant, ente superior em cujo cérebro o discernimento humano terá alcançado seu vôo mais alto.

Mestre José Ribeiro Leitão era um professor de aguda percepção, atento até às mais insuspeitadas dificuldades pessoais de seus alunos. Vou contar uma história.

Havia entre nós um garoto de periferia, menino arredio, tímido, ostentando desvantagem na desenvoltura e na sociabilidade com os companheiros. A origem modesta - sem rádio, cinema, TV, revistas, jornais – não lhe propiciava informações para entrosamento com os de sua idade. Como resultado, era deixado meio de mão pela turma. Nas carteiras de dois lugares, o menino sentava-se sempre só.

Correram uns seis anos até que “Filosofia” entrasse na grade curricular para o Professor José Ribeiro Leitão, logo nas primeiras aulas, dar pela maçada.

Entra em cena, então, a atitude de um verdadeiro mestre: seguro, certo dia, de que o aluno assimilara um conceito qualquer, formulou-lhe, a queima-roupa, a pergunta correspondente. A resposta veio correta. Foi o suficiente: tantos elogios fez, tanto valorizou diante da turma a “resposta inteligente” do garoto que este, com a auto-estima nas nuvens, logo encontrou coragem para romper a timidez e balbuciar: “Obrigado, Padre.”.

Daquele dia em diante o novo “gênio” passou a ter colegas de “banco escolar”. Até as meninas já o viam de outra maneira!
Ouvi esta história da boca do próprio aluno, anos depois, e a declaração emocionada: “Devo ao Padre Leitão minhas primeiras alegrias de rapaz.”

Por esta e por outras, nas muitas frentes em que atuou na vida, o Dr. José Ribeiro Leitão foi um exemplo marcante. Pode ser que, como Juiz, seus colegas lhe dispensem os cânones: magistrados levam mais fé em normas substantivas, adjetivas, íntegra de acórdãos, decisões sumuladas. Pode ser que, como Jurista, também a vaidade cultora do direito considere despicienda sua valiosa contribuição: só os sábios bebem da experiência alheia, aos vaidosos agrada tropeçar nos próprios equívocos. Pode ser que, como Religioso, seus exemplos não superem dados da fé sobre os fenômenos da natureza e da vida que os religiosos exaltam, em torno de um totem, de um túmulo ou de um altar. Pode ser que, como Poeta, ele também não impressione a outros trovadores: os poetas são indispostos a influências externas porque é da natureza deles o diálogo direto com as estrelas.

Mas o Dr. José Ribeiro Leitão foi também modelo de Professor. E, como Professor, ele será sempre referencial porque para muito além dos limites pedagógicos deu mostras de que o educador tem a missão de ser pai, mãe, irmão mais velho, assistente social e ombro amigo.
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(Publicado no jornal LEOPOLDINENSE de 15.03.2006)

NOTA POSTERIOR À PUBLICAÇÃO DESTA CRÔNICA: Faleceu o Dr. José Ribeiro Leitão a 6 de outubro de 2006, em Brasília, estando sepultado no Cemitério Campo da Esperança, daquela cidade. Fizemos, para o LEOPOLDINENSE, a nota abaixo:

José Ribeiro Leitão (Pe.) NOTA DE FALECIMENTO

Vítima de complicações cardíacas desaparece, aos 78 anos de idade, o jurista e juiz federal, Dr. José Ribeiro Leitão. Tendo passado mal, dias antes, na cidade de Guarapari, em sua residência, optou por buscar tratamento em Brasília, onde, infelizmente, veio a falecer, no dia 6 de outubro corrente.

O extinto era leopoldinense de nascimento, filho de Da. Maria José Ribeiro Leitão e de José Maria Leitão – ex-comerciantes e proprietários da tradicionalíssima Casa Leitão, que funcionou, até meados do século XX, na Rua Ribeiro Junqueira, 31, no centro de Leopoldina.

Deixa viúva, a Sra. Da. Regina Coeli de Freitas Ribeiro Leitão, com quem teve os filhos: Rodrigo, já casado e jornalista do “Jornal de Brasília”; Raíssa, solteira, professora em Letras pela U.N.B.; e Rômulo, casado, advogado e desenhista industrial. Deixa, ainda, quatro netos: dois, filhos de Rodrigo e, dois, filhos de Rômulo.

São seus irmãos, Maria do Carmo Leitão, casada com o leopoldinense, Jader Kneipp, residentes em Brasília; Terezinha Ribeiro Leitão, solteira, artista plástica, residente em Leopoldina e Kleber Ribeiro Leitão, ex-comerciante desta cidade, recentemente falecido.

De formação religiosa e homem de letras, tendo cursado direito, o Seminário de Mariana e a Universidade Gregoriana de Roma, o Dr. José Ribeiro Leitão contava com sólida e abrangente cultura humanística. Lecionou Filosofia no Colégio Leopoldinense e em Belo Horizonte, foi professor da Universidade de Brasília, sendo lembrado por todos os que com ele conviveram como mestre de grande bondade e empatia com seus alunos.

Lega-nos apreciável acervo poético e três obras de Direito Processual Civil, incluído o trabalho “Processo Cautelar e Procedimentos Especiais”, Editora Forense, Rio de Janeiro, RJ, ano 1980, de grande acolhida entre advogados, magistrados e cultores do Direito.

A seu sepultamento, ocorrido também em Brasília, estiveram presentes, amigos, parentes e inúmeros magistrados, colegas seus, unânimes na exaltação de suas qualidades profissionais, morais, éticas, de caráter e honradez no exercício da magistratura, descendo o féretro à sepultura sob as palavras emocionadas de seu filho, o jornalista Rodrigo Leitão. Na oportunidade foi lembrada frase lapidar por ele passada ao filho Rômulo, como síntese de sua afabilidade e brandura na faina de educar: “As palavras voam, os exemplos arrastam-se.”

O Dr. José Leitão era assinante e entusiasta deste jornal, pelo que a família do Grupo LEOPOLDINENSE de Notícias, lamentando tão irreparável perda, une-se à Sra. Regina Coeli, a seus filhos e aos irmãos, Maria do Carmo e Terezinha, num abraço comovido de grande pesar. (JCR)
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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Paradigma #

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(Publicada em 25.02..2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
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Quando Francisco I, rei de França, perdeu para o exército dos Habsburgo a batalha de Pavia, no Campo de Mirabello, disse para sua mãe: “Está tudo perdido, menos a honra.”
No Brasil de hoje a realidade é inversa à de Francisco I: perdemos toda a honra, menos o chão.

Vivemos uma entressafra de premissas morais. Nossos homens públicos ignoram regras de cidadania e o respeito devido às leis. A cultura é a do oportunismo descarado. Ética, dignidade, honradez, decoro, integridade de caráter, são princípios presentes apenas no cinismo dos discursos enganadores. O dinheiro é a medida de tudo, não importando de onde vem nem como vem – nas meias, nas cuecas, no paco, na valise, no fundo falso das malas.

Impossível não invocar a lástima do tribuno romano ante o vício e a corrupção da Roma de seu tempo: Ó tempora ó mores! (Ó tempos, ó costumes!) Lá se vão 2.073 anos. Cícero discursou no ano 63 a.C.! Há dois milênios, portanto, o senador romano – que, aliás, veio a ser assassinado – verberava ausência de moral por lá, essa maldita praga que os séculos não dissiparam.

Já a palavra latina “mores”, passou ao português no vocábulo “moral”, que os políticos brasileiros conhecem apenas de ouvir falar. Seríamos nós, seres humanos, deficientes morais atávicos?

Talvez. Pelo menos quanto à moralidade pública - aquela que em tese somos capazes de intuir e desejar – mas que na prática resiste a firmar-se como regra. Eleitos para cargos públicos, os cidadãos se tornam cegos à prevalência das normas do estado de direito, passam a não mais discernir entre o público e o privado. Como se o exercício da política acanalhasse as pessoas.

A sociedade reage em espasmos ocasionais. Imprensa e ministério público às vezes os importunam levando alguns, não ao abandono, mas ao aprimoramento das práticas delituosas. Os tribunais hesitam: estará mesmo o Brasil preparado para encarcerar “pacientes” de terno e gravata? Mudanças culturais exigem a ajuda do tempo.

Enquanto isto, fazendo tábula rasa das instituições e das leis, políticos insubmissos aos mais comezinhos preceitos da decência violentam a inteligência circundante:
- Pães com frutas cristalizadas para o povo!...

Para Thomas Kuhn, físico americano célebre por suas contribuições à história e à filosofia da ciência, um aparato de idéias, definições, regras, costumes, modelos, métodos, práticas e recursos escolhidos por um determinado segmento humano, constitui o “paradigma” dessa comunidade.

Qual seria então o “paradigma” da classe política brasileira? A corrupção e o uso máquina pública em proveito próprio? Certamente. Mas podemos simplificar e dizer, sem risco de exagero ou erro, que o “paradigma” da classe política brasileira é o furto. Simples assim. O furto. Independente dos eufemismos.

Em artigo não muito recente, Frei Betto escreveu que só se “evita criar espertos através de uma rígida educação ética”. Certo, porém problemático. Pra começar não existe punição prevista para a falta de ética. Somente nos estatutos de algumas categorias profissionais a ética é objeto de lei com previsão de sanções.

A ética tem que vir do berço, da formação familiar do indivíduo. Não há como ministrar princípios éticos a adultos com vícios e desvios de caráter. Vá explicar a eles que “dar a volta na lei” é algo antiético, e não prova de inteligência e astúcia!

Só para citar um exemplozinho bobo, que muitos dirão nem vir ao caso: A lei brasileira fixa um prazo a partir do qual a propaganda eleitoral é permitida. Antes desse prazo, a propaganda é ilegal.

Às vezes fico pensando como pode alguém que deseja ter em suas mãos o destino de um povo ser capaz de simplesmente fingir que uma lei não existe.

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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

José Gomes Domingues

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Foto: Jornal LEOPOLDINENSE

(Texto publicado no jornal LEOPOLDINENSE, edição de 31.08.2006)

Se ainda estivesse entre nós, o legendário delegado Dr. José Domingues estaria fazendo 100 anos neste mês de agosto. Homem exemplar, elevou ao ponto mais alto da dignidade profissional a nobre missão do policial. Poucos terão exercido esse munus com maior autoridade, equilíbrio, lisura e competência, ao ponto de constituir-se em paradigma de conduta para os que o sucederam.

Nasceu, José Gomes Domingues, em Leopoldina, MG, aos 10 de agosto de 1906, tendo falecido em 1º de julho de 1977. Era filho de Raphael Gomes Domingues e de Da. Idalina Gomes Domingues.

Foi casado, por 43 anos, com Da. Maria do Carmo Barroso Guimarães Domingues, falecida aos 9 de julho de 1975, com quem teve os filhos:
José Maria Barros Domingues, servidor público federal aposentado; Distribuidor da Justiça Federal, em Belo Horizonte, casado com Da.Vilma Guimarães Domingues, com dois filhos – Tadeu e Silvia; Marcelo Barroso Domingues, professor e ex-Diretor da “E.E. Botelho Reis”, de Leopoldina; ex-Diretor da Escola da Comunidade “Cel. Luiz Salgado Lima”, C.N.E.C.; ex-Secretário de Educação do Município, com cinco filhos – Marcella, Henrique, Cláudia, Malyra e Isabela, com os netos, Érika, Júlia e Miguel. Divorciado, é casado em segundas núpcias com Da. Tânia Villela Salgado; Marco Aurélio Barroso Domingues, engenheiro civil e eletrotécnico; ex-Diretor da Construtora Mendes Júnior, casado com Da. Celeste Maria Leite Domingues, tendo três filhos – Marco Aurélio, Paola e Érika, e duas netas – Gabriela e Carolina; e Márcio Barroso Domingues, Delegado Geral de Polícia Civil e ex-Secretário de Segurança Pública de Minas Gerais, casado com Da. Marília Teixeira Diniz Domingues, tendo dois filhos – Márcio e Marina.

Da. Maria do Carmo Barroso Guimarães Domingues (Da. Carminha) descendia de tradicional família leopoldinense, sendo filha de Arsênio Tambasco Guimarães e de Da. Dinorah Barroso Guimarães, fazendeiros no distrito de Ribeiro Junqueira. Esposa dedicada e mãe extremosa, Da. Carminha excedia as fronteiras familiares para destacar-se na sociedade leopoldinense como referência de trabalho profícuo em prol dos mais necessitados, tendo atuação marcante, ao lado do marido, mas mais diversas obras de benemerência.

São irmãos do Dr. José Gomes Domingues a Sra. Herondina Domingues da Cruz Machado, residente em Leopoldina, e viúva do falecido Sr. Átila Lacerda da Cruz Machado; Antonio Gomes Domingues (Ninico); Sra. Arminda Domingues França, casada como Oto Lacerda França (falecidos); Moisés Gomes Domingues, casado com Da. Regina Rezende Domingues (falecidos); Da. Maria de Lourdes Domingues Rosa, casada com o Geraldo Rosa (falecidos); e Odilon Gomes Domingues, casado com Da. Leíse Guimarães Domingues, que lhe sobrevive e reside no Rio de Janeiro.

Os cursos, primário e secundário, o Dr. José Gomes Domingues os fez em Leopoldina, sendo ex-aluno do tradicional “Ginásio Leopoldinense”, atual “E.E. Professor Botelho Reis”. Bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Niterói, RJ.

Nomeado pelo Presidente Olegário Maciel, exerceu o cargo de Juiz de Paz na sede do município de Leopoldina, entre os anos de 1932 e 1935. Nesta mesma cidade tornou-se Delegado Municipal de Polícia, a partir de 27.11.35, passando, desde então, a galgar todos os postos da carreira até aposentar-se como Delegado Geral de Polícia em 1962.

Assumiu o tabelionato do Registro de Imóveis de nossa cidade, entre 1941 e 1943. Rotariano dedicado, inscreve-se dentre os fundadores do Rotary Clube de Leopoldina, em fevereiro de 1944, entidade na qual ocupou todos os cargos, vindo a tornar-se, por duas vezes – 1955/57 e 1959/60 - Governador do Distrito Rotário que, na época, compreendia os Estados do Rio de Janeiro, inclusive a Capital, Espírito Santo e Minas Gerais.

Anteriormente fora Secretário do Rotary Clube por várias vezes; Vice-Presidente do Clube no anuênio, 1944/1945; Presidente do Rotary de 1945 a 1946; conferencista rotário em Conferências Distritais e Convenções Internacionais; fundador dos Rotarys Clube de Caratinga e Cataguases.

Foi membro do Conselho Consultivo do Banco de Crédito Real, posto do qual se desligou para candidatar-se, pela ARENA, a Deputado Estadual, logrando-se eleger para a legislatura, 1966/1970.

Ocupou a Secretaria de Administração do Estado, no Governo Rondon Pacheco. Presidiu a vários Conselhos Estaduais, tendo sido agraciado com as medalhas da “Inconfidência” e de “Santos Dumont”. Foi Presidente do Conselho Estadual de Política de Pessoal; Presidente do Conselho de Administração Pública de Minas Gerais; Criador da Comissão de Acumulação de Cargos e Funções de Minas Gerais; Sócio Benemérito de inúmeras entidades.

Em repetidas ocasiões recebeu designação para representar o governador do Estado nas reuniões da SUDENE.

Desportista quando jovem, foi zagueiro central do E.C. Ribeiro Junqueira, clube do qual veio a ser Presidente e Presidente de Honra. Presidiu também o Clube Leopoldina.

Foi agraciado com o título de Sócio Benemérito do Clube América Mineiro, de Belo Horizonte. Tinha simpatia, entretanto, pelo Fluminense Futebol Clube, do Rio de Janeiro e, em Minas, pelo Clube Atlético Mineiro.

O Dr. José Gomes Domingues, que por todas as suas virtudes de retidão e probidade valorizou o apelido pelo qual foi sempre referido, “Zé Domingues”, como “Delegado Mito” da região da Zona da Mata Mineira, valoriza hoje a Justiça de Leopoldina emprestando nome ao Fórum Municipal.

É designação, também, de rua do Bairro Bela Vista; da Banca Examinadora do DETRAN - em Leopoldina; de uma Sala na Secretaria de Estado de Administração; e da Delegacia Regional de Polícia de Leopoldina.

Tenho a honra de com ele haver pessoalmente privado, como decorrência da enorme amizade que o ligava a meu sogro, o Dr. Lélio Lara, seu companheiro de Rotary e também atleticano apaixonado, e de tê-lo como um dos padrinhos de meu casamento com Leila de Castro Lara, no ano de 1968.
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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Monsenhor Guilherme de Oliveira


Todo ex-aluno que fez o secundário no velho Colégio Leopoldinense e no atual Colégio Estadual Professor Botelho Reis, entre 31/01/49 e 09/11/79, terá registrada indelevelmente na memória a imagem muito querida do Diretor, Monsenhor Guilherme de Oliveira.

Diretor do “Ginásio” por trinta anos, Monsenhor foi aquela presença suave e constante lendo seu breviário em vagarosa caminhada pelos corredores externos do Colégio desde as primeiras horas da manhã. Talvez fosse aquele um artifício seu de estar presente em todos os espaços do enorme educandário que administrava, evoluindo a passos imperceptíveis pelo lado externo das salas de aula, pelas proximidades dos dormitórios dos alunos internos, secretaria, recepção, cozinha e pátios.

Para os problemas a ele submetidos, sempre uma solução de equilíbrio e conciliação. Monsenhor a todos convencia pela candura. Jamais alguém o viu, ou o ouviu, erguendo a voz. Sem dúvida, aí o segredo de ter sido tão naturalmente respeitado por mestres e alunos.

Monsenhor Guilherme nasceu em Cachoeiro Alegre, município de Palma, aos 3 de novembro de 1916. Era filho de Ezequiel de Oliveira e Flora de Oliveira. Seminário Menor e Seminário Maior ele os cursou em Mariana. Ordenou-se Padre no dia 21 de novembro de 1947, na Catedral de São Sebastião, de Leopoldina, em celebração de Sua Excelência Reverendíssima, Dom Helvécio F. de Oliveira, Arcebispo Metropolitano de Mariana.

Dentre os muitos cargos exercidos ao longo de sua trajetória sacerdotal, Monsenhor foi, além de Diretor do Colégio Leopoldinense, de 31/01/49 a 09/11/79; Reitor do Seminário de Leopoldina; Chanceler do Bispado; Cônego efetivo do Cabido Diocesano aos 24/09/47; Vigário Geral do Bispado de 02/01/49 a 1960; Preposto do Cabido em 15/11/49; Camareiro Secreto do Papa Pio XII, em 18/10/51; novamente Vigário Geral da Diocese, de janeiro de 1964 a 1985; Capelão do Colégio Imaculada Conceição, de 31/07/59 a 31/01/94; Prelado Doméstico do Papa em 03/01/58; Capelão do Asilo Santo Antonio, de Leopoldina, de janeiro de 1955 a julho de 1959; Administrador Diocesano eleito após a saída de Dom Gerardo F. Reis, entre 26/08/85 a 15/12/86; Vigário Geral de Dom Sebastião Roque, entre 15/12/86 e 06/06/89; Vigário Geral de Dom Ricardo, entre 21/05/90 e 12/03/92; Capelão da Casa de Caridade Leopoldinense entre 1985 e 1994.

Meus sete irmãos e eu, ex-alunos do Colégio Leopoldinense, sempre tivemos por Monsenhor Guilherme um carinho muito especial e nos orgulhamos de que esse sentimento fosse recíproco. Rapaziada pobre que precisou ir deixando Leopoldina pelo Rio de Janeiro à medida que terminava o curso ginasial, ao longo dos anos 50 e 60, nem por isso nossa amizade pelo Monsenhor Guilherme deixou de prosperar à distância.

A partir de 1981 – remediando a dispersão geográfica – nossa família passou a reunir-se em Leopoldina de três em três anos. Os encontros sempre começaram por uma santa missa em nossa modesta casa da roça. Como celebrante, enquanto viveu, invariavelmente, tivemos o Monsenhor Guilherme. Suas homilias sempre muito adequadas ao momento e ao lugar não dispensavam o coloquial – brincadeiras com seus ex-alunos, alusões espirituosas às melhoras que iam aparecendo na casa, aos novos casamentos, às crianças nascidas no período e por ele batizadas...

Leopoldina lamentou sua falta no dia 01/04/95. Foi sepultado no túmulo da Diocese, no Cemitério N. S. do Carmo, desta cidade.

Pela Lei Municipal nº2848, de 20 de junho de 1996, “Monsenhor Guilherme de Oliveira” passou a ser denominação de uma rua no Bairro Pedro Brito. Leopoldina perdeu seu grande educador, um homem que manejava com sabedoria o silêncio e as palavras. Magrinho, simples, perspicaz e cordial, alegria meio contida, jamais aparentou envelhecer. Aos 79 anos ainda se manifestava nele a mesma aparência jovial dos primeiros tempos, a dificultar-nos ainda mais imaginá-lo ausente. Como ausente na memória de seus alunos ele jamais estará.
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Joaquim Custódio Guimarães

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Joaquim Custódio Guimarães, farmacêutico, nascido em Leopoldina no dia 21 de dezembro de 1912, era o filho mais novo dentre os onze filhos do também farmacêutico Martinho de Campos Guimarães e de sua mulher, Da. Hercília Furtado Guimarães. Cursou o primário no Grupo Escolar Ribeiro Junqueira, o secundário no Ginásio Leopoldinense, diplomando-se em farmácia, no ano de 1932, pela Faculdade de Farmácia da Universidade do Rio de Janeiro.

Formado, assumiu a direção da Farmácia Moderna fundada por seu pai, inicialmente na Rua Sete de Setembro esquina coma a atual Praça Professor Botelho Reis, depois transferida para sede própria no atual número 166 da Rua Barão de Cotegipe.

Dos filhos de Martinho Guimarães, três tornaram-se farmacêuticos – Joaquim, Pompílio e Maria Amélia. E farmacêuticos também os netos, Jairo e Jones (filhos de Alzira) e Elizabeth (filha de Joaquim).

No exercício de sua nobre profissão, em Leopoldina, Joaquim Custódio Guimarães foi profissional competente, dedicado, cidadão respeitadíssimo que se fez indispensável à comunidade. Trabalhou desde muito criança na farmácia do pai fazendo entregas e outros serviços. Fundou, em 1933, o laboratório farmacêutico por ele denominado Instituto Martinho Guimarães - nome dado em homenagem ao pai - cujos produtos, lançados em Leopoldina, foram receitados em todo o Brasil: Bismutilan, Calciotone, Euritival, Geri-Tone, Neocolagol, Enterovermil, Hepatormon, dentre outros.

Presidiu o Clube da Farmácia, no Rio de Janeiro. Viajou por quase todo o Brasil e, algumas vezes, ao exterior. Guardava estima especial pelo dentista Job Nogueira, que lhe ofereceu o almoço festivo de formatura quando de sua chegada a Leopoldina. Manifestava também especial apreço ao amigo, padre José Domingues, pelo estímulo que este lhe dispensava nos momentos difíceis, em muitas visitas ao Laboratório.

Dizia-se também reconhecido ao irmão Pompílio, que lhe custeara a permanência no Rio de Janeiro durante a formação universitária.

Como industrial, já enormemente atarefado, não se furtava a abraçar iniciativas de interesse da comunidade. Assim é que participou da direção de diversas entidades em nosso município. Foi presidente do Clube Leopoldina, diretor da Caixa Escolar do Grupo Ribeiro Junqueira, secretário do Asilo Santo Antonio, conselheiro da Casa de Caridade Leopoldinense e presidente da Associação Comercial de Leopoldina. Para esta última contribuiu na aquisição do terreno onde hoje se situa. Também auxiliou Rubem Duarte na construção do prédio.

Esteve na presidência do Esporte Clube Ribeiro Junqueira, sendo obra sua a iluminação do estádio. Rotariano dedicadíssimo não aquiesceu, todavia, à sua indicação para Governador do Distrito Rotário 4580, indicando para o posto o companheiro José Gomes Domingues.

Como delegado do Rotary Clube de Leopoldina compareceu à Convenção Internacional de Rotary realizada em Atlantic City (USA), no ano de 1951.

Manteve durante muitos anos o jornal “Ilustração”, de gratíssima lembrança entre os leitores leopoldinenses. Amava profundamente esta cidade. É doação dele a imagem de Jesus Crucificado, no altar da Catedral de São Sebastião.

Joaquim Custódio Guimarães, falecido aos 13 de julho de 1987, era casado com Da. Maria Pureza do Carmo Guimarães desde 24 de junho de 1942. O casal teve seis filhos dentre os quais o atual Vice-Presidente de Relações Institucionais da Rede Globo, Evandro Guimarães, Elisabeth, Emerson, Eloá (falecida), Alziro e Eliane. Legaram, Joaquim Guimarães e esposa, a todos os seus filhos a marca da intelectualidade, do espírito público e da simpatia.

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Cel. Olivier Fajardo

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Pater familias do clã dos Fajardos, tradicional família de Leopoldina com raízes no Distrito de Piacatuba, o Cel. Olivier Fajardo de Paiva Campos foi político, vereador por várias legislaturas, Presidente e Vice-Presidente da Câmara Municipal, grande fazendeiro, um dos acionistas-fundadores da Cia. de Fiação e Tecidos Leopoldinense, fundador e editor do histórico jornal leopoldinense, Nova Fase.

Seu Olivier nasceu no dia 31 de janeiro de 1883, na Fazenda São Pedro, pertencente a seu avô materno, Francisco Esmério de Paiva Campos, em Piacatuba. Foi criado na Fazenda Santa Cruz, de seus pais, Capitão José Fajardo de Mello Campos (Cap. Zeca) e Maria Esmério Campos (Da. Sinhá), fazenda esta que já pertencera, no passado, ao bisavô de. Olivier, Sr. Joaquim Honório de Campos (o Barão do Rio Pardo).

Primogênito dentre treze irmãos, casou-se aos 22 anos, em 25 de fevereiro de 1905, com sua prima Oziêta Fajardo, filha de seu tio, Cel. Joaquim Fajardo de Mello Campos, um dos maiores fazendeiros da Mata Mineira, político influente, que ao falecer precocemente em 1910 possuía 1.300 alqueires de terras.

Oziêta e Vié (como também era intimamente conhecido) não deixaram descendentes, mas criaram os sobrinhos, José Maria, Joaquim e Maria (Lilia) como verdadeiros filhos.

A vocação de Olivier pela política vinha das tradições da família, pois seu trisavô, Cel. Domingos Henriques de Gusmão, foi um dos fundadores de São João Nepomuceno e maior benfeitor da Igreja da Matriz, da Piedade. O bisavô, Joaquim Honório de Campos, foi vereador à Intendência de Leopoldina e recebeu o título de Barão do Rio Pardo em decorrência de serviços prestados à instrução pública, além de ter construído uma igreja (“do Rosário”), em Piacatuba, demolida na década de 40.

O avô, Cap. José Fajardo de Mello, pioneiro dos Fajardos em Leopoldina, foi conselheiro e vereador à mesma Intendência, membro da Subcomissão Distrital que recrutou os voluntários locais para a Guerra do Paraguai, além de ter executado, às suas expensas, as obras para o abastecimento d’água do Arraial e, segundo informações a serem confirmadas, comandado a construção daquele conhecido e centenário calçamento da principal rua de Piacatuba – com legítimo “meio-fio”. Ou seja, o fio-da-água passando pelo meio da rua.

Seu pai, Cap. Zéca Fajardo, foi Presidente do Conselho Distrital de Piedade e integrante do Conselho Municipal de Leopoldina, em fins do século XIX e princípios do século passado.

Olivier foi nomeado para o posto de Capitão da 2ª Cia. do 797º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional por decreto assinado pelo Presidente da República, Wenceslau Braz, em 25 de abril de 1914.

Elegeu-se, pela primeira vez, vereador especial pelo distrito da cidade em 1915, sob a sigla do extinto PRM. Até 1918 Olivier integrava, com familiares e amigos, a legião de partidários do Dr. Ribeiro Junqueira. Posteriormente, por desavenças internas mudou-se para fileiras oposicionistas, embora no mesmo partido.

Em 1926, após os acontecimentos que originaram a “unificação da política municipal” – fusão das duas correntes políticas de Leopoldina, Olivier Fajardo atuou, por algum tempo, como Presidente Interino da Câmara Municipal, em substituição ao Presidente daquela Casa Legislativa, Dr. Carlos Coimbra da Luz. Lembre-se que, por essa época os cargos de Presidente e Vice-Presidente, da Câmara, equivaliam aos de Prefeito e Vice-Prefeito, respectivamente.

Até por volta de 1935 e 36, Olivier viveu com esposa e filhos em companhia de sua sogra e tia, Da. Guilhermina Balbina Henriques Soares Fajardo, viúva do Cel. Joaquim Fajardo, proprietária da Fazenda Aurora, empreendimento que Olivier administrava. Com o falecimento de Da. Guilhermina, por aquela época, Olivier mudou-se para a cidade de Leopoldina, fixando residência em uma Chácara cuja sede ficava nas proximidades da ponte que liga a atual Rua Prof. Joaquim Guedes Machado com a Rua das Flores.

Em outubro de 1958 o Cel. Olivier foi, mais uma vez eleito para uma cadeira de vereador em Leopoldina e, a 31 de janeiro de 1959 – dia em que completava 79 anos – foi escolhido Presidente da Câmara Municipal. De novo, em janeiro de 1961, o Jornal Ilustração informava que o Cel. Olivier Fajardo era reconduzido ao posto de Presidente da Câmara Municipal de Leopoldina.

No dia 19 de novembro de 1961, quando em visita aos sobrinhos, Abdon e Lília (ela, sua filha de criação), residentes na Fazenda Santa Cruz, Olivier Fajardo sucumbiu, vitimado por violento ataque cardíaco.
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NOTA: Agradecendo os dados acima coligidos ao pesquisador e genealogista leopoldinense, Plínio Fajardo Alvim, de cujos trabalhos nos valemos sob autorização expressa do autor, nesta biografia deixamos consignada modesta homenagem a esse grande valor da história leopoldinense, à sua enorme e amicíssima família. Tivemos a honra de pessoalmente conhecer Olivier Fajardo no fim dos anos 50, quando ainda jovem estudante secundário frequentávamos a casa de seu irmão, Sr. Octacílio Fajardo (o “Sô Nem”), casado com Da. Carolina (a bondosa “Da. Catita”), na rua Tiradentes, em Leopoldina, em razão da estreita amizade que nos unia a seus filhos mais novos, Zéca, Lêda, Léa, Sebastião, Osório, Ruth, Nicolina, Maria do Carmo e aos primos, Adauto, Dirceu, Rubens, Geraldo e Vicente.

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Américo Lobo Leite Pereira

Foto: Américo Lobo Pereira - Internet


Leopoldina desde os primeiros tempos primou por contar com notáveis advogados. Assim é que repassando nossa rica história forense vamos encontrar, já na metade do século XIX, a vocação e o sucesso do Dr. Américo Lobo, um talentoso advogado que honrou o foro de Leopoldina.

Profissional do direito e destacado político brasileiro, o Dr. Américo Lobo era filho de Joaquim Lobo Leite Pereira. Nascido em 1841, formou-se em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito de São Paulo onde, em 03.12.1862, recebeu o grau de bacharel.

Em abril de 1863 foi nomeado Juiz Municipal e de Órfãos do termo de Pouso Alegre, no sul de Minas, e ali permaneceu até 30.09.1865. Nesse mesmo ano foi removido para Rio Pardo, também em Minas. Dois anos depois solicitou demissão do cargo e ingressou na política, pelo partido liberal, sendo eleito deputado da 13ª legislatura (1867-1870).

Dissolvida a Câmara em 1868, desligou-se do seu partido político e passou a dedicar-se à propaganda republicana no município de Leopoldina, transformando-se num republicano histórico.

Proclamada a república, no período provisório, foi nomeado governador do Estado do Paraná, em fevereiro de 1890, cargo do qual pediu demissão no mesmo ano. Voltou ao Estado de Minas Gerais e foi eleito, em setembro daquele ano, senador por três anos.

A ele, nossa região ficou a dever a criação da Alfândega de Juiz de Fora, um importante instrumento de desenvolvimento da Zona da Mata. Foi um dos representantes de Minas que mais trabalhou no Congresso.

Em decreto de 15.10.1894 foi nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal, onde tomou posse em 8 de dezembro do mesmo ano.

Primoroso cultor das letras, o Dr. Américo Lobo deixou valiosa contribuição à literatura brasileira.

Foi casado com D. Manuela Urbana de Queirós Lobo e faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 01.10.1903, sendo sepultado no cemitério de São João Batista.
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NOTA: Os elementos históricos desta biografia constam de pesquisa de José Luiz M. Rodrigues e Nilza Cantoni e dos “Dados Biográficos do STF e STJ” de Laurênio Lago, Ed. Biblioteca do Exército, ano 1978.

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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Francisco de Paula Ferreira de Rezende



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(Foto: Francisco de Paula Ferreira de Rezende)



Francisco de Paula Ferreira de Rezende com seu livro “Minhas Recordações” será, provavelmente, quem maior contribuição deixou à história de Leopoldina do Século XIX. Nasceu e viveu no tempo da Regência, na cidade de Campanha, no sul da província de Minas Gerais, em 18 de fevereiro de 1832.

Era filho do Coronel Valério Ribeiro de Rezende e de D. Francisca de Paula Ferreira de Rezende. Foi batizado em 20 de abril do mesmo ano pelo Cônego João Dias de Quadros Aranha, tendo sido seus padrinhos, conforme de costume, os avós que ainda estavam vivos, que eram, o Comendador Francisco de Paula Ferreira Lopes (avô materno) e Francisca de Paula Galdina de Rezende (avó paterna).

O menino Francisco de Paula viveu boa parte da infância, na Fazenda Bom Jardim, propriedade de seu avô, situada a três léguas de Campanha. Desde essa época conviveu com os políticos do seu tempo, principalmente, Evaristo Ferreira da Veiga e Diogo Antônio Feijó.

O pai foi Coletor (por uns 5 ou 6 anos), comerciante, fazendeiro e Juiz de Paz, em Campanha.

Em 16.11.1855, Francisco de Paula formou-se em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito de São Paulo, recebendo o grau de bacharel. Nesse curso teve como colegas, entre outros, Américo Brasiliense de Almeida e Melo, Antônio Ferreira Viana, Evaristo Ferreira da Veiga, Francisco Manuel das Chagas (Barão de Itaipu) e Paulino José Soares de Sousa.

Formado, retornou a Campanha onde foi nomeado, aos 13.12.1855, Curador Geral de Órfãos e Promotor de Capelas e Resíduos. Ali, chegou a Promotor Público. Por decreto de 30.10.1856, veio a ser nomeado Juiz Municipal e de Órfãos em Queluz (atual Conselheiro Lafaiete), Minas Gerais, onde permaneceu até 1861. Naquela cidade, acumulou, também, o cargo de Delegado de Polícia.

Em 1861 mudou-se para Leopoldina onde se estabeleceu como advogado. Na verdade, ao transitar por Leopoldina seu destino era São Fidelis (RJ), onde imaginava fixar residência, depois da perda do cargo de Juiz Municipal em Queluz. Aqui, porém, pretendendo apenas pernoitar, encontrou por acaso um ex-colega de faculdade, de São Paulo, Gabriel de Paula Almeida Magalhães que, provando-lhe o sucesso de sua banca advocatícia na cidade, convenceu-o a ficar.

Foi atendendo, pois, ao convite insistente do amigo “Bié”, que Francisco de Paula decidiu ficar em Leopoldina. Decisão da qual confessou jamais ter-se arrependido.

O episódio está relatado na página 20 do livro “Histórias de um Médico”, de Cássio de Rezende. Relata o Dr. Cássio - filho do biografado - que seu pai deixando a magistratura em 1861, na cidade de Queluz de Minas, partiu a cavalo na direção de Leopoldina à cata de lugar promissor onde sentar banca de advogado. Pensava chegar a São Fidelis, no Estado do Rio. Cansado, porém, com os cavalos estropiados, um escravo como pajem e uma dívida de dois contos de réis, parou em frente ao único hotel de Leopoldina e, antes de apear, enquanto negociava com o hoteleiro a hospedagem, alguém lhe gritou da janela do sobrado ao lado:

-“Então, estais aqui?!..”. E prossegue Cássio de Rezende: ... “volvendo a cabeça, quem meu pai havia de encontrar? Ninguém menos que seu colega Bié, um sujeito que tinha escapado de ser Visconde e que, já naquela época, era milionário. Gabriel de Almeida Magalhães que, no seio da família, tinha apelido de Bié, pelo qual era também conhecido entre os colegas... Em vez de apear no hotel, diz meu pai que deu uma rápida meia volta à esquerda, e foi cair nos braços do colega que ele não via desde a formatura. Tendo contado ao Dr.Gabriel que sua viagem não passava de procura de uma advocacia qualquer, disse-lhe o amigo que estava achado o que o ele queria, isto é, o que lhe convinha era a cidade de Leopoldina. E para convencer meu pai de que tinha razão, mostrou-lhe os seus assentamentos e, então, com um pouco de inveja, verificou meu pai que, enquanto ele partira para Queluz levando dois serviçais e de lá saíra possuindo menos do que levara, o Dr. Gabriel, pelo contrário, tendo vindo para Leopoldina logo depois de formado, pouco mais trazendo de seu além do cavalo em que montava e, na garupa, a importância da própria formatura que ainda estava devendo, no fim de pouco mais de cinco anos, tinha pago todas as dívidas e já era tido até em conta de capitalista”.

Registre-se, à parte, que o advogado Gabriel de Almeida Magalhães tornou-se astro de brilho intenso nos céus da história leopoldinense. Político notável, foi um dos fundadores da Casa de Caridade Leopoldinense. Na aurora da república transferiu-se para o Rio de Janeiro onde a família se fixou definitivamente. Seu neto, Rafael de Almeida Magalhães foi Governador do extinto Estado da Guanabara e, mais recentemente, Ministro da Previdência Social. 

Francisco de Paula Ferreira de Rezende decidiu montar sua banca de advogado em Leopoldina. Em 1865, para apoiar seu irmão Valério, adquiriu a antiga fazenda Córrego da Onça a qual, como ele mesmo informa, decidiu crismar com a designação de "Fazenda Filadélfia", homenagem à cidade em que se proclamou a primeira das repúblicas americanas.

Consta que vinte anos depois de adquirida, a Filadélfia contava 100 alqueires de terras, boa parte em matas, 150 mil pés de café e vinte e tantos serviçais.

Antes de adquirir a fazenda Francisco de Rezende morou, em Leopoldina, num sobrado que, por suas descrições, deveria situar-se na atual Rua Lucas Augusto, um pouco acima da Prefeitura.

Depois comprou uma chácara da qual doou parte, “que julgaram necessária”, para a construção do novo cemitério da cidade. (Trata-se do terreno do atual cemitério de Leopoldina)

Quanto a seu irmão, Valério Ribeiro de Rezende, este teria vindo para Leopoldina com o objetivo de ser agricultor, mas tornou-se, inicialmente, dono de um colégio de instrução secundária, até que ambos passassem a se dedicar exclusivamente à Fazenda, cuja principal cultura era o café

A historiadora Nilza Cantoni anota, ainda, que Francisco de Paula chegou a ser nomeado substituto de Juiz Municipal a 02.01.1880, pela presidência da província, conforme consta de ata no Livro nº 7 da Câmara, fls. 17, verso.

Para que se tenha uma idéia de nossa cidade quando por aqui aportou Francisco de Rezende (1861), ele conta que chegou a conhecer um aldeamento de índios Puris na estrada que ligava Tebas ao então arraial do Rio Pardo (Argirita). A Vila de Leopoldina, incluindo o bairro da Grama que era mais distante, possuía não mais que 70 ou 80 casas.

No biênio 1864-1865 Francisco Rezende ocupou cadeira da Assembléia Legislativa da província como Deputado Provincial, o que corresponderia hoje ao Estadual. Logo depois foi indicado pelo presidente da província para candidato a Deputado Geral, o que recusou por dele divergir politicamente.

Por mais de uma vez declarou-se republicano apaixonado. Tão apaixonado a ponto de buscar nos grandes republicanos de Roma o nome para os filhos (Cássio, Flamínio e Mânlio) e mudar, como foi dito acima, o nome de sua fazenda adquirida como tributo à pioneira república americana.

Deixa claro que era republicano também porque não concordava com o apoio da Coroa à abolição da escravatura “feita de afogadilho”, segundo ele, sem que o país estivesse preparado, obedecendo a interesses externos e “destruindo a capacidade de produção do País”.

Com o advento do regime republicano fez parte da comissão encarregada de elaborar a constituição do Estado de Minas Gerais, em companhia de Joaquim Felício dos Santos e Pedro Augusto Carneiro Lessa, a convite do Congresso Republicano do Estado.

A 21.01.1890 foi nomeado 3º Vice-Governador do Estado, sendo transferido para 2º Vice-Governador por decreto de abril do mesmo ano.

Por essa época, tendo o Governo Federal consultado correligionários, deputados de Minas, sobre a indicação de um jurisconsulto mineiro, de provado saber e patriotismo, para ser nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal, seu nome foi o indicado e ele nomeado para o cargo em decreto de 25.05.1892, com posse em 04 de junho do ano seguinte. No Tribunal exerceu também a função de procurador-geral da República.

Francisco Rezende era casado com D. Inácia Luiza Barbosa de Rezende, filha do Conselheiro e depois Senador Luiz Antonio Barbosa. Deixou grande descendência que, segundo seu filho Cássio, foi a seguinte: Valério Barbosa de Resende, advogado em Belo Horizonte; Francisca Eugênia Barbosa de Resende; Luiz Barbosa de Resende, engenheiro; Francisco Barbosa de Rezende, advogado e presidente do Conselho Nacional do Trabalho; Gaspar Barbosa de Resende, médico em São Paulo; Cássio Barbosa de Resende, médico no Rio de Janeiro; Flamínio Barbosa de Rezende, que exerceu o cargo de Desembargador do Tribunal de Apelação do Distrito Federal; e Mânlio advogado em São Paulo.O casal teve ainda duas filhas que faleceram em tenra idade.

Como jornalista, colaborou, entre outros, com os jornais Correio do Povo, A Ordem (editado em Ouro Preto) e O Estado de Minas Gerais (órgão oficial do Estado).
Escreveu, ainda, “Julgamento de Pilatos” ou, “Jesus Perante a Razão e os Evangelhos”, em 1885 e, “O Brasil e o Acaso”, publicado em 1893, após a sua morte. Além desses, três outros manuscritos ficaram inéditos até sua morte: “Comentários Bíblicos”, “O Mosaísmo Perante a Razão” e “Minhas Recordações”. Este último, escrito aos 56 anos (1888).

Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 26.10.1893. Foi sepultado no cemitério São João Batista.

Dentre os filhos do biografado, tivemos oportunidade de pessoalmente conhecer, nos anos 70, o médico Dr. Cássio Barbosa de Resende, em seu consultório da Rua São José, 70 (sobreloja), no centro do Rio de Janeiro. Dr. Cássio, hoje falecido, deixou-nos, como acima mencionado, sua importantíssima obra, “Histórias de um Médico”, na qual faz alusões à vida da família após a mudança de seu pai para o Rio de Janeiro, como Desembargador; à casa em que viveram na Rua Pedro Américo, no bairro do Catete; ao “Ateneu Leopoldinense”, o colégio secundário que seu tio Valério conduziu em Leopoldina; às lavouras de café da Fazenda Filadélfia e outras; aos hábitos bizarros das pessoas com as quais conviveram, no meio rural leopoldinense, seu culto pai e sua mãe, mulher da mais fina estirpe que conhecera, na juventude, as duas filhas do Imperador; e às falências desesperadoras dos fazendeiros da região (inclusive do pai) com o advento da Lei Áurea.

Lei contra a qual não se insurge pela evidência de sua necessidade e justiça mas que, “no afogadilho com que foi promulgada, a todos surpreendendo e arruinando”, lhe pareceu ato de irresponsabilidade de uma monarquia submissa a pressões externas.
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NOTA: Os dados desta biografia foram coletados em anotações históricas de José Luiz Machado Rodrigues (a quem agradecemos); nos arquivos do Supremo Tribunal Federal; e nos livros, “Minhas Recordações e “Histórias de um Médico”, no texto referidos.
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LEIA MAIS EM: http://www.cantoni.pro.br/alla/FerreiraRezende.htm - Patrono da Cadeira nº11 da Academia Leopoldinense de Letras - Titular: José Luiz Machado Rodrigues

Dinah Botelho Capdeville


(Foto: Dinah Botelho Capdeville)

A primeira aviadora, mulher, diplomada em Minas, foi Dinah Botelho Capdeville uma leopoldinense nascida em 15 de setembro de 1913.

Dinah é filha de Nestor Capdeville e de Hermínia Botelho Capdeville. Cursou o Colégio São José, das irmãs Lintz, na Rua Barão de Cotegipe. Com o pai, Nestor, assimilou noções de administração indo trabalhar por dois anos na Cooperativa dos Produtores de Leite de Leopoldina, mais precisamente entre janeiro de 1943 e dezembro de 1945.

Aos 24 de janeiro de 1945 titulou-se com a Carteira de Piloto da Aeronáutica Brasileira, para recreio e desportos. No curso para obtenção desse brevê, por sua perícia e vocação, sobressaiu-se dentre os melhores alunos da Escola, tornando-se a primeira mulher a pilotar um avião em Minas Gerais.

Pouco tempo depois, Dinah foi incluída entre os pilotos solicitados a efetuar buscas a uma aeronave desaparecida, no dia 12.11.1948, nas matas da serra de Petrópolis, com dois leopoldinenses a bordo. Eram eles, o piloto Elias Mattos, seu colega de turma, e o empresário Antonio Resende Peres, também conhecido como “Totônio Peres”, ex-goleiro do Ribeiro Junqueira com passagem pelo América F.C., do Rio de Janeiro.

Infelizmente, as procuras resultaram infrutíferas e os desaparecidos, com os destroços do avião, somente encontrados ano e meio depois, ao pé do chamado “Pico do Papagaio”, por um colono da região. A identificação dos corpos, naquela época em que nem se cogitava de exame pelo DNA, só foi possível através das alianças encontradas entre os ossos das vítimas.

Como todo aviador, Dinah adorava voar. O Dr. Francisco Mendonça Gama, nosso estimado Chiquinho Gama, certamente dos mais perspicazes anotadores do folclore leopoldinense, conta que os “pousos” de Dinah no Aeroporto de Leopoldina, que se situava na várzea onde hoje está o Estádio do RJ, eram divertidos... Deleitava-se ela em fazer várias aproximações e arremeter o avião. Ou seja, vir baixando como quem vai pousar e, de repente, aprumar a aeronave em novo vôo.

Um dia alguém comentou: - “Será que ela não pretende pousar nunca?” Ao que um outro respondeu: - “Quando a gasolina estiver acabando ela desce...”

Dinah, em sua mocidade, marcou época também como grande desportista no vôlei e no basquete. Ficou célebre um torneio de vôlei disputado no Clube Leopoldina, no início dos anos 50, quando o time em que jogava saiu campeoníssimo graças às violentas cortadas do alto de seu metro e oitenta de altura.

Carnavalesca apaixonada, organizava e participava de animados blocos que contagiavam as ruas da cidade e os salões do Clube Leopoldina.

Dinah Botelho Capideville é, portanto, dos personagens de vida mais marcante e exemplar de nossa terra. Mas talvez o feito que mais lhe haja proporcionado alegrias ao coração tenha sido poder ajudar sua irmã Ester que, residindo na zona rural, por um certo tempo precisou apoio para seguir na educação dos filhos. Entregou-os a Dinah, com a responsabilidade de orientá-los e prover-lhes o estudo. Desta tarefa ela se desincumbiu com desvelos de uma verdadeira mãe, vindo a ganhar dos sobrinhos o carinhoso apelido de Tia Grande.

Em 1971 Dinah transferiu residência para o Rio de Janeiro. Os últimos anos de sua vida, segundo relato de seu primo Joseph Gribel, ela os passou na tranqüilidade de seu apartamento do Largo do Machado, tendo como grande alegria falar dos bons tempos e de sua linda mocidade nesta Leopoldina de tantas saudades. Faleceu no Rio de Janeiro a 26.06.2005.
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(NOTA: Agradecemos os principais dados colhidos para esta biografia ao amigo Joseph C. Gribel, que no-los passou a 06.02.2004)

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Antonio José Monteiro de Barros

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É comum quando se fala dos fundadores de Leopoldina vir à mente a justa lembrança daquelas figuras lendárias com as quais nos afeiçoamos desde curso primário. O aprofundamento na história de Leopoldina vai demonstrar, entretanto, que outras pessoas deram sua contribuição importante para que o Feijão Cru se transformasse na Leopoldina dos nossos dias.

Um destes certamente será o Dr. Antonio José Monteiro de Barros, pessoa pouco lembrada, raramente incluída entre as celebridades do amanhecer leopoldinense, mas que foi presença decisiva na transformação da vila em cidade.

Registro induvidoso disto nossos historiadores foram encontrar no memorialista Francisco Rezende, em seu livro Minhas Recordações. Disse Rezende: “Por simples amor ao lugar ou talvez antes para com ele formar para si um verdadeiro feudo, Antonio José promoveu e conseguiu a elevação de Leopoldina a FREGUESIA e, ao mesmo tempo, a VILA, pela Lei Provincial nº 666, de 1854 e, sete anos depois, elevou a Vila a CIDADE, pela Lei nº 1116, de 18.10.1861”.
E “não havia uma só eleição de qualquer natureza em que se apresentasse como candidato, que ele perdesse qualquer outro voto que não fosse unicamente o seu”!

Segundo Barroso Júnior, em artigo para a Revista Acaiaca de março de 1954, Antonio José Monteiro de Barros era proprietário fundador da Fazenda Paraíso e sobrinho do senador do Império, Padre Dr. Marcos. Ostentava, ainda, o título de advogado formado pela faculdade de Pernambuco, não se tendo notícia, todavia, de que haja exercido a profissão em Leopoldina.

Consta ter sido ele o PRIMEIRO VEREADOR do distrito de Leopoldina, na Câmara Municipal da Vila de São Manuel do Pomba. Mandato, aliás, que passou a ser exercido por seu Suplente, o Capitão João Gualberto Ferreira Brito, quando o Dr. Antonio José, em 1840, elegeu-se deputado, à terceira legislatura provincial.

Há registro de que ele se elegeu mais tarde deputado à Assembléia Geral, por Minas Gerais, sendo reconduzido ao cargo por três legislaturas.

Era casado com Helena, sobrinha do Senador do Império, Padre Dr. Marcos Antonio Monteiro de Barros, que foi cônego da Sé de Mariana e costumava veranear na Fazenda do Paraíso.

Em 21.08.1817 Dr. Marcos foi nomeado Vigário Capitular de Mariana e, segundo consta, teria ocorrido por sua indicação a nomeação do primeiro Cura de Leopoldina, o Padre Manuel Antonio Brandão, que era natural de Sumidouro de Mariana e se houvera ordenado aos 03.06.1811.

Antonio José, ainda segundo Francisco Rezende, na Corte e em todos os lugares por onde andou, foi sempre muito estimado e respeitado. E tão estimado foi que, ao perder sua condição financeira, o que o levou a endividar-se com muita gente, jamais se encontrou na cidade alguém que o recriminasse. Pelo contrário, seus credores foram unânimes em apregoar que - tratando-se de pessoa tão boa e prestativa - o prejuízo que a eles causara era de ser “considerado como um dinheiro muito bem empregado”.
Como dito acima, foi ele o construtor e primeiro proprietário da Fazenda Paraíso, histórica e portentosa propriedade rural situada às margens do Rio Pirapetinga, com acesso pela esquerda da BR-116, sentido Leopoldina/Rio, no alto da Serra da Vileta.

Consta que o “Paraíso”, posteriormente, teria sido adquirido pelo Barão de Mesquita, o mesmo que dá nome à conhecida rua da Tijuca, no Rio de Janeiro. Em passado recente foi adquirida por Ari Vasconcelos Cunha, pertencendo, ainda hoje, a sede e algumas terras no seu entorno, a um dos filhos de Ari.

No início do século a Fazenda do Paraíso estaria entre as maiores, mais luxuosas e bem equipadas fazendas do Estado, talvez do País. Tinha uma sede que, além de muito grande e bem decorada, fora guarnecida por clássico mobiliário e grande número de objetos e preciosidades bem ao estilo da esposa do proprietário, Sra. Helena, filha de um Visconde, sobrinha de um Senador, senhora acostumada ao luxo aristocrático e dotada de muito bom gosto.

Relata Francisco Rezende que a casa era tão bem decorada que depois que o Dr. Antonio José teve que dela desfazer-se, “bem poucos foram os habitantes de Leopoldina, de uma certa ordem, que não tivessem nas suas casas algum ou alguns daqueles mesmos objetos, comprados por trinta ou por quarenta o que valia duzentos ou trezentos”.
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NOTA: Agradecemos aos estudiosos da história leopoldinense, Nilza Cantoni e a José Luiz M. Rodrigues os conteúdos informativos desta biografia. Nilza, aliás, reluta em incluir o Antonio José como um dos fundadores de Leopoldina porque ele só aparece na região a partir de 1838. Informa ela também não estar documentalmente comprovada sua atuação como nosso vereador no Pomba.

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Clóvis Salgado


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Clóvis Salgado da Gama nasceu em Leopoldina (MG) no dia 20 de janeiro de 1906, filho de Luís Salgado Lima e de Virgínia da Gama Salgado. Bacharelou-se em Medicina em 1929.
Iniciou suas atividades profissionais como assistente de cirurgia, e ingressou na vida política, fundando e dirigindo o jornal Nova Fase.
Filiou-se ao Partido Republicano Mineiro (PRM), pelo qual candidatou-se às eleições para a Assembléia Nacional Constituinte realizadas em maio de 1933, obtendo uma suplência.
Depois da instauração do Estado Novo em 1937, Clóvis Salgado passou a dedicar-se ao magistério. Foi também um dos organizadores da Cruz Vermelha em Minas Gerais, para a qual fundou e organizou uma escola de enfermagem. A partir de 1944 foi diretor do Hospital São Vicente de Paula e do Hospital das Clínicas da Universidade de Minas Gerais (UMG).
Em 1950 elegeu-se vice-governador do Estado de Minas Gerais na legenda do PRM, em chapa com Juscelino Kubitschek, eleito governador. Antes de completar seu mandato Kubitschek resolveu candidatar-se à presidência da República. Para isso, a Constituição impunha-lhe que renunciasse ao governo dez meses antes do término de seu mandato, entregando-o ao vice-governador Clóvis Salgado.
Em março de 1955, Clóvis Salgado assumiu o governo de Minas Gerais, tendo Juscelino Kubitschek lançado sua candidatura à presidência da República. Em maio de 1955 o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) mineiro rompeu oficialmente com o governo de Clóvis Salgado, depois que o PRM se recusou a apoiar a candidatura de João Goulart e vice-presidente na chapa de Juscelino. Em meados de 1955, acionando a Polícia Militar, Clóvis Salgado tomou uma série de medidas ligadas à mobilização e reforço das forças policiais tendo em vista o acirramento das disputas eleitorais.
Como governador deu atenção especial à educação e à saúde, promovendo a criação do Departamento de Saúde Pública e do Departamento Social do Menor. Participou da elaboração de um novo código do ensino primário e favoreceu a criação de numerosos colégios estaduais e cursos de segundo ciclo nas escolas normais oficiais. Foi um dos fundadores da Universidade Mineira de Arte e presidente da Cultura Artística de Minas.
Em 1956, quando Juscelino Kubitschek assumiu a presidência, Clóvis Salgado tomou posse como Ministro da Educação e Cultura. Com o intuito de estabelecer uma adequação entre o sistema educacional e as transformações que se operavam no país, promoveu a reestruturação desse sistema com o programa "Educação para o Desenvolvimento", que configurava 12 proposições cujas diretrizes seriam capazes de reformular os ensinos secundário e superior. Durante sua gestão, dispensou especial atenção ao ensino técnico-profissional. Concedeu incentivos à Campanha Nacional de Teatro, à construção da Casa do Estudante do Brasil em Paris e ao projeto de um estabelecimento idêntico em Madri. Segundo a cientista política Maria Vitória Benevides, sua permanência na pasta da Educação durante todo o governo de Juscelino Kubitschek deveu-se ao fato de ter sido ele o único político capaz de compor com as facções partidárias por representar o PRM que, embora pequeno, servia de mediador entre o Partido Social Democrático (PSD) e a União Democrática Nacional (UDN), favorecendo a estabilidade política do período.
Em julho de 1960 Clóvis Salgado deixou o ministério, desincompatibilizando-se para disputar as eleições de outubro seguinte, quando Jânio Quadros foi eleito presidente da República. Nesse mesmo pleito voltou a eleger-se como vice-governador do estado de Minas Gerais na legenda do PRM. Depois de eleito, reassumiu, ainda em outubro, o Ministério da Educação e Cultura, permanecendo no posto até o final do governo Kubitschek, em janeiro de 1961. Apoiou o movimento político-militar de 31 de março de 1964 que destituiu o presidente João Goulart.
Entre 1964 e 1968 foi membro do Conselho Federal de Educação. Em abril de 1967, assumiu a Secretaria de Saúde de Minas Gerais, afastando-se do cargo em março de 1971. Em 1973, assumiu a direção da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cargo que exerceu até 1976.
Casou-se com a cantora lírica Lia Portocarrero de Albuquerque Salgado, com quem teve três filhos. Faleceu em Belo Horizonte no dia 25 de julho de 1978.
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(Transcrição do Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro Pós 1930)
LEIA MAIS: http://www.cantoni.pro.br/alla/Clovis.htm - Academia Leopoldinense de Letras - Patrono da Cadeira nº5: Clóvis Salgado - Titular: José Gabriel Couto de Viveiros Barbosa

Joaquim Antonio Dutra

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(Publicado no jornal LEOPOLDINENSE)
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Dentre os muitos vultos da história leopoldinense, talvez Joaquim Antonio Dutra seja o mais injustiçado pelo silêncio da nossa história municipal. Joaquim Antonio jamais é citado, jamais homenageado. Não empresta nome a uma rua sequer, a uma praça, a uma escola, a um prédio público de Leopoldina. Só em Piacatuba há uma rua com o nome dele.

Não obstante foi figura das mais notáveis, como político e médico, na Leopoldina do final do Século IX. Médico, Fundador da Casa de Caridade Leopoldinense, Vereador, Presidente da Câmara (cargo que na época equivalia a Prefeito), Deputado, duas vezes Senador Estadual por Leopoldina - na primeira delas o candidato mais votado do Estado de Minas.

Joaquim Antonio Dutra nasceu em São João Nepomuceno em 21.08.1853, possivelmente nas terras de sua família na serra dos Dutras, na divisa de São João com Piacatuba. Era filho de Antonio José Dutra e Joaquina Maria Guerra d’Assumpção. Pelo lado paterno, neto de Maria Joaquina d’Assumpção e José Dutra Nicácio, a quem S.J. Nepomuceno homenageia com a rua Cel. José Dutra. Pelo lado materno era neto e afilhado de Antonio Vicente Rodrigues Guerra.

Em 17.01.1881 Joaquim Dutra casou-se com Eugênia Murgel Dutra, filha de Maurício Murgel e Maximiana Araújo.

As primeiras letras ele as fez em sua cidade natal. Cursou humanidades em Teresópolis (RJ), de onde rumou para o Rio de Janeiro para, em 02.12.1881, graduar-se em medicina pela Faculdade Nacional de Medicina daquela cidade. Concluiu sua residência médica no Hospital São João Batista, de Niterói, vindo clinicar e dedicar-se à lavoura em São João Nepomuceno, Piacatuba e Leopoldina.

Segundo Joaquim A. Moretzsohn, em “História da Psiquiatria Mineira”, p.185, “aliando seus conhecimentos de clínica médica ao seu permanente apego aos livros e ainda à vocação humanística, pouco a pouco, foi abraçando a psiquiatria, fazendo dela sua real especialização e tornando-se um distinto especialista. Contemporâneo dos famosos psiquiatras Juliano Moreira e Franco da Rocha, mantinha com eles lúcida e científica troca de informações....”
De seus estudos resultou o trabalho literário denominado “Notícia Histórica sobre a Assistência a Alienados em Minas Gerais”, publicado em 1933.

No ano de 1882 Dutra aparece como sendo médico em sua terra natal, São João Nepomuceno e, a 07.01.1883, é eleito para o cargo de vereador para a primeira câmara daquela cidade. A partir de 1885 passa a exercer a medicina em Leopoldina.

George C. A. Boehrer em seu livro “Da Monarquia à República”, traduzido por Berenice Xavier, do Serviço de Documentação do Ministério da Educação, alude à página 138 ao deputado Joaquim Dutra Nicácio, eleito pelo 9º distrito em 1888, e que aderiu à causa republicana. Nota-se, no entanto que, pela Revista do Arquivo Público Mineiro, nesse ano só havia o deputado Joaquim Antonio Dutra, da 27ª e última legislatura. Parece, pois, haver equívoco daquele autor, tratando-se, com efeito, do Dr. Joaquim Antonio Dutra, no caso, já nosso deputado à Assembléia Mineira, em 1988.

Evidência maior dessa realidade é que, com a instalação da República, em 1889, ele integrou a Assembléia Constituinte do Estado. Em 1890, segundo a Gazeta de Leopoldina, de 24.04.1892, o Dr. Joaquim Antonio Dutra foi eleito vereador em Leopoldina. Já em 30.07.1893, na eleição para preenchimento de quatro vagas surgidas na câmara, de novo elegeu-se deputado, segundo as Efemérides Mineiras (1664 –1897), de José Pedro Xavier da Veiga p. 719.

Participou dos trabalhos parlamentares de votação da mudança da capital, juntamente com Francisco Salles, Levindo Lopes, Domingos Viotti, Wenceslau Braz, Júlio Bueno Brandão, Gama Cerqueira, David Campista e outros, onde assumiu posição contrária à mudança.

Registros do Dr. Joaquim Custódio Guimarães, em “História da Medicina em Leopoldina”, informam que a 18.09.1893 os Drs. Otaviano Costa e Joaquim Antonio Dutra foram nomeados para “verificar e extremar os limites do município de Leopoldina”. Além de médicos, diz o autor, cumpriram eles tarefas de engenheiros.

Dutra fazia parte da comissão de saúde da Câmara Municipal de Leopoldina e foi um dos que aprovaram a lei nº 24, de setembro de 1894, que criou a Casa de Caridade Leopoldinense.

Consta do jornal O Leopoldinense, de 09.09.1894, a informação de que, na eleição municipal daquele ano o Dr. Ernesto de Lacerda foi eleito Agente Executivo e o Dr. Dutra, médico na Piedade (Piacatuba), foi escolhido vereador especial por aquele distrito. E ainda nesse mesmo jornal está a notícia de que fixara residência em Leopoldina o Dr. José Monteiro Ribeiro Junqueira que, a 15.11.1894 se elegeu deputado estadual e, posteriormente, veio a se tornar adversário político do Dr. Dutra.

Dois meses depois, em 04.11.1894, o mesmo jornal O Leopoldinense informa que esteve na cidade o Dr. Joaquim Antonio Dutra, digno Agente Executivo do Município, residente na Piedade. E na edição seguinte o periódico trás a notícia de que foram eleitos Presidente da Câmara (Prefeito) o Dr. Joaquim Antonio Dutra e, vice presidente, o Ten. Cel. Manoel Lobato Galvão de São Martinho.
É a partir dessa administração municipal, do Dr. Dutra, que a cidade de Leopoldina passou a contar com rede de esgoto e água encanada.

Na 15 de novembro de 1894, Joaquim Antonio Dutra foi eleito para o Senado Mineiro, com a maior votação de todo o Estado, segundo O Leopoldinense do dia 18/11. Este mesmo jornal, na edição de 01.12.1894, informa que o Dr. Dutra, Presidente da Câmara de Leopoldina, solicitou ao governo do Estado e ao Ministro da Viação a interrupção do tráfego do trem para Leopoldina a fim de evitar a chegada do cólera.

Deu-se que, com a paralisação do trem, a cidade passou a ter sérios problemas de abastecimento, o que provocou um aumento assustador nos preços e exigiu do Dr. Dutra convocação de reunião com os comerciantes da cidade para resolver o problema.

Apesar de eleito senador, em 15.11.1894, O Leopoldinense de 06.01.1895 informa que Dutra esteve entre os vereadores de Leopoldina, empossados em 03.01.1895. Esse jornal, em número de 27.01.1895, narra que “tendo se espalhado na tarde de 21 do corrente a notícia de que o Dr. Dutra havia renunciado ao cargo de Vereador Geral e Presidente da Câmara, a população se reuniu para pedir que desistisse dessa idéia”. Lideradas pelos Dr. Ribeiro Junqueira, Dr. Teixeira e Randolpho Chagas, várias pessoas foram até ao Dr. Dutra para convencê-lo de que o povo precisava dos seus serviços e do seu sacrifício, pedindo-lhe para permanecer no cargo. Pelo visto seria possível a acumulação.

Em março de 1895 era ele o Agente Administrativo (Chefe do Executivo Municipal) interino de Leopoldina, na ausência do titular, o comendador Lucas Augusto Monteiro de Barros e, a 15.04.1895, segundo o jornal O Leopoldinense de 21 daquele mesmo mês, “seguiu para Ouro Preto, para tomar parte nos trabalhos do congresso, o Sr. Senador, Dr. Joaquim Antonio Dutra, que há pouco deixou o governo municipal, cujo cargo principal exercia.”

Nessa mesma época seguiu, também, para tomar posse no congresso mineiro, como deputado, o Dr. Ribeiro Junqueira, que tempos depois, na disputa pelo mesmo espaço político regional, iria divergir do Senador Joaquim Antonio Dutra.

Dutra e Ribeiro Junqueira, como se vê, eram políticos de uma mesma base eleitoral, a região de Leopoldina, e cujos pontos de vista nem sempre coincidiam. Jornais da época citam, inclusive, várias ocasiões em que os dois estiveram em posições divergentes.

“Notas e Epístolas”, obra de Estevam de Oliveira, p. 152, registra uma das ocasiões em que esta divergência se fez bastante clara quando o Dr. Ribeiro Junqueira assumiu posição contrária a Silviano Brandão, o que se traduziria, segundo o autor, em simples desafogo contra o candidato oficial, o senador Joaquim Dutra, antagonista local.

Profícua foi a atuação de Dutra no senado. O jornal O Leopoldinense de 28.04.1895, trás a notícia de que foi apresentado ao senado seu projeto sobre a encampação da rede mineira da Estrada da Leopoldina. Logo em seguida ele propõe e é aprovado, substitutivo sobre o serviço sanitário no Estado, com o qual procurava garantir o Tesouro Mineiro, a moralidade eleitoral e os princípios democráticos.

Pouco depois, a 27 de setembro de 1896, a Gazeta de Leopoldina noticia que o Presidente da Câmara era o ilustre clínico, Dr. Joaquim Antonio Dutra. Neste mesmo ano de 1896 ele é eleito 2º Secretário do Senado Mineiro e em 1897 é escolhido para 1º Secretário daquela Casa Legislativa.

Em 14.11.1897 é eleito deputado à Assembléia Provincial de Minas Gerais e, em 1898, reeleito para o Senado.

Quanto ao local onde teria residido em Leopoldina, diz a Gazeta de Leopoldina de 27.02.1898 que ele possuía sua chácara próxima ao Colégio Leopoldinense.

Candidato a deputado federal nas eleições de 31.12.1899, renuncia no dia 28 de dezembro daquele ano em razão de incidentes políticos ocorridos em Carangola (MG), envolvendo o candidato oposicionista João Batista Martins, cuja vida o Dr. Dutra consegue salvar. Paulo Mercadante, em “Crônica de uma Comunidade Cafeeira”, p. 75, conta como esse incidente de desenrolou e a participação mediadora assumida pelo Dr. Dutra.

Joaquim Dutra foi também grande defensor da cidade de Barbacena. Já em 1899, lutou tenazmente contra um projeto que dispunha sobre a divisão administrativa do Estado e que, se aprovado, desfalcaria Barbacena de grande parte de seu território, que seria incorporado a municípios vizinhos.
Em 1900 é eleito Vice-Presidente do senado mineiro. Grande colaborador e amigo do então Presidente do Estado de Minas, tornou-se um dos mentores da lei nº 290 que criou a assistência a alienados em Minas Gerais, promulgada em 16.08.1900 pelo Dr. Francisco Silviano Brandão.
Não obstante, em 1902, segundo o relatório da Casa de Caridade de Leopoldina, ele ainda era seu diretor.

João Baptista Magro Filho, em “A Tradição da Lavoura”, p. 28, dá notícia de que “o projeto de criação da Assistência a Alienados e depois sua regulamentação através do decreto nº. 1579-A, de 21.02.1903, foi elaborado pelo médico e senador Joaquim Dutra, que acabou designando a cidade de Barbacena como local para ser instalada a Assistência aos Alienados.” E na página seguinte desta mesma obra, o autor esclarece que a criação do Hospital Psiquiátrico de Barbacena está ligada à dinâmica da singular política mineira, dinâmica da qual faz parte a designação do Dr. Joaquim Dutra para chefiar a assistência.

Astolfo Dutra Nicácio conta, na Biografia de Astolfo Dutra, à pág. 135, que, em 1903, após a morte de Silviano Brandão (Presidente do Estado de Minas), agravaram-se os problemas políticos do deputado Astolfo Dutra em Leopoldina. Naquele ano o Dr. Joaquim Dutra, seu primo e cunhado, prestigioso político naquela cidade, abandonou a política indo dedicar-se exclusivamente à medicina. Portanto foi no ano de 1903 que Dutra deixou a política e deixou Leopoldina para ir dedicar-se inteiramente à psiquiatria, em Barbacena.

Para o jornal O Novo Movimento, editado em Leopoldina em 28.08.1910, “o Dr. Joaquim Antonio Dutra era o ilustre diretor da assistência a alienados de Barbacena que, em Leopoldina, prestou relevantes serviços, deixou muitos amigos e admiradores de suas belas qualidades.”

Em 1931, quando da última sessão da Sociedade Médico-Cirúrgica de Belo Horizonte, foi apresentada a plenário, e aprovada por unanimidade, a seguinte moção:
- “Fazem hoje 30 anos que foi decretada a primeira lei de assistência a alienados no Estado de Minas. Um acontecimento de relevante significação nos anais da medicina brasileira, está a se aproximar, envolto em sufrágios que prometem a comemoração do silêncio. Completará trinta anos à frente dos serviços da assistência a alienados na Colônia de Alienados, o Dr. Joaquim Dutra.
Um dos maiores mentalistas da Rússia, P.J. Kovalevsky, professor de Psiquiatria da Universidade de Kharkoff, afirmou que todo médico que permanecesse durante dez anos à frente de um estabelecimento de doentes mentais, deveria ser condecorado com a Cruz de São Jorge. O endosso de tal asserção não cabe apenas ao preposto egrégio de tão alto magistério, mas a um didata que logrou enorme renome na ciência mundial repercutindo em cenáculos de sábios com o hononariato da Sociedade Médico-Psicológica de Paris, a Sociedade de Freniatria da Itália, a American Assossiation for the Cure Inebriates, a Sociedade de Medicina Legal de Nova York. Dez anos valem, pois, no referido posto, a Cruz de Ferro do Martírio Moscovita, assim o entende a meditada experiência daquele eminente freniatra.”

Em outro trecho da moção e reconhecendo o emérito valor daquele que se queria homenagear, diz o proponente:
- “Na fria Rússia, cingir-lhe-iam ao peito três cruzes simbólicas do martírio moscovita; entre outras gentes, a gratidão médica lhe faria repercutir para a posteridade, os ecos de um escopo na heráldica de um cinzel; entre nós, neste século de surpresas e de simulações, em que se plasmam gênios, se decretam competências e se improvisam apóstolos, seria necessário que a Associação Médico-Cirúrgica de Minas Gerais resolvesse comemorar a data do trigésimo aniversário de Joaquim Dutra à altura dos estilos à antiga, senão pelos méritos dele, por memoreação ao fagedenismo moral que nos assola, com o seu cortejo de vergonhas e dissabores”.

Como justa e reconhecida homenagem ao seu verdadeiro valor e capacidade, a municipalidade barbacenense, em 1932, deu o seu nome a uma via pública da cidade e, em 17.10.1936, após 33 anos como diretor do Hospital Colônia, em Barbacena, Dr. Dutra aposentou-se.

Ainda em 36, foi eleito Juiz de Paz naquela cidade. Aos 16.10.1943, para a consternação geral de seus parentes e amigos, falece em Barbacena, poucos meses depois de completar 90 anos de idade.

Joaquim Antonio Dutra e sua esposa Eugênia Murgel tiveram doze filhos: Eugênia, Dulce, Waldemar, Omar, Joaquim, Consuelo, Graziela, Agmar, Maurício, Margarida, Beatriz e Orôncio.

Com estas notas, rendemos nosso culto e homenagem a esse grande político que tanto serviu Leopoldina no fim do Século IXX e início do Século XX, e cuja expressão e notoriedade não se compadecem com o injusto ostracismo a que, por aqui, vem sendo relegado através dos anos.
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NOTA: Todos os conteúdos biográficos utilizados neste trabalho são frutos exclusivos de pesquisas da historiadora e genealogista, Nilza Cantoni, a quem agradecemos. Consigna ela agradecimentos pela documentação disponibilizada ao Dr. Eugênio Klein Dutra, advogado, oficial do 6º Ofício do Registro de Imóveis de Belo Horizonte e neto do Dr. Joaquim Antonio Dutra.

O trabalho original de Nilza Cantoni está disponível em:
http://www.cantoni.pro.br/ArtigosPapel/JADutra.htm
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domingo, 21 de fevereiro de 2010

Bianor

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Foto: Jornal LEOPOLDINENSE

(Texto publicado no jornal LEOPOLDINENSE de 31.10.2006)


Outubro, 2006

Sei que muitos leopoldinenses, principalmente o pessoal da velha guarda que hoje mora fora de Leopoldina, costuma transitar por esta página em busca de notícias da terrinha. Detesto falar de coisas tristes, mas trago hoje uma péssima notícia.

Disse o poeta Mario Quintana, que há pessoas que passam e há pessoas que “passarinho”. Meu fraternal amigo, Bianor, virou passarinho.

Leopoldina acaba de perder um de seus filhos mais queridos. Isto mesmo, faleceu às 6:30h, da última segunda-feira, 23 de outubro, o músico, ex-sapateiro, e professor de violão, Bianor Vitor de Campos

Foi sepultado na terça-feira, às 8 horas, no cemitério local.

Bianor vinha sofrendo do mal de Alzheimer, mostrava-se fisicamente bastante abatido nas últimas semanas, vindo a falecer em casa durante o sono. No dia anterior, domingo, saíra para caminhar um pouco com a filha Norma mas, sem força nas pernas, regressou logo. À noite, recolheu-se como de costume e não mais despertou.

Como Leopoldina inteira sabe, Bianor sempre foi pessoa amplamente conhecida e estimada na cidade por seu boníssimo coração, sempre alegre, simpático, comunicativo, espiritualista, solidário com os que o procuravam em busca de ajuda − principalmente ajuda espiritual. Pessoa de finíssimo trato, pai de família extremoso, professor de violão de várias gerações de leopoldinenses e violonista emérito.

Figurou como um dos membros da famosa “Leopoldina Orquestra”, que fez a alegria dos Clubes Sociais leopoldinenses e de cidades vizinhas, nos chamados Anos Dourados.

Era natural do Distrito de Piacatuba, onde nasceu aos 10 de julho de 1924, filho de Gabriel Vitor de Campos e Rita Catarina de Cássia. Desaparece aos 82 anos.

Bianor sempre viveu em Leopoldina, mas prestou serviço militar no Rio de Janeiro, no quartel de Deodoro, onde serviu como ordenança de um Oficial que viria tornar-se Presidente da República – o General João Baptista de Figueiredo.

De regresso à nossa terra casou-se, em 22 de dezembro de 1949, com Da. Hilda Vitório de Campos, com quem teve os filhos: Norma, solteira, residente em Leopoldina; Flávio (falecido); Beatriz, solteira, residente em Leopoldina; Ione (falecida); e Euza, casada, residente em Brasília. Deixa, ainda, a neta Flávia Rosália de Campos, filha de Flávio.

Já saudoso dos abraços e do sorriso bom do amigo Bianor, desejo manifestar à Da. Hilda e filhos sentimento de grande pesar por tão sentida perda, certamente tida na conta de irreparável por todos os corações leopoldinenses.
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(Publicada no jornal LEOPOLDINENSE de 31 de outubro de 2006)

Átila Lacerda da Cruz Machado

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(Publicada como crônica no jornal LEOPOLDINENSE)
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O estimado e culto cidadão leopoldinense Átila Lacerda da Cruz Machado nasceu, na verdade, em Barbacena, no dia 22 de dezembro de 1911. Filho do Dr. Áttila Brandão da Cruz Machado e de Da. Clariêta Lacerda da Cruz Machado.

Iniciou e completou seus estudos em Barbacena, vindo a obter, mais tarde, a “Carteira Oficial e Internacional de Radiotelegrafista da República dos Estados Unidos do Brasil”, no Departamento de Correios e Telégrafos do Distrito Federal.

Chegou a Leopoldina no dia 31 de maio de 1931 com incumbência de montar a Estação Radiotelegráfica do Estado de Minas Gerais. Nela exerceu sua profissão até aposentar-se.

Em 27.2.1935, casou-se com Herondina Domingues da Cruz Machado, leopoldinense, filha de Raphael Domingues e de Da. Idalina Gomes Domingues, com quem teve cinco filhos: Helenice, Lincoln, Maria, Raphael e Míriam.

Espírita convicto, ajudou na reestruturação do Centro Espírita “Amor ao Próximo”, elaborando seus novos Estatutos, a partir de 5.9.1937, tornando-se seu presidente por várias gestões, vice-presidente e secretário. Durante sua administração naquela Casa, Átila criou a Escola de Evangelização “Bezerra de Menezes”, para crianças, e a Mocidade Espírita “Dias da Cruz”, para jovens.

Fundou, com outros abnegados irmãos de crença, o Albergue Noturno “Major Zeferino”, notável obra social que se localiza na rua Santa Filomena.

Durante 49 anos dedicou-se à causa do Espiritismo com Jesus, levando a todos que o buscavam a palavra esclarecedora, o conselho amigo, exercendo, incansavelmente, a caridade moral e material, sem alarde ou ostentação, além de usar a tribuna espírita para exposições da Doutrina, tanto em Leopoldina quanto em cidades vizinhas.

Muito atuante, Àtila sempre foi solidário com a dor e os problemas do próximo, demonstrando no seu dia-a-dia coerência com a crença abraçada. Sempre íntegro e digno, cativava o respeito e a admiração dos que passavam a conhecê-lo de perto.

Ajudou a fundar o Rotary Clube de Leopoldina e, rotariano entusiasta, realizou, durante 27 anos, várias conferências rotárias, nacionais e internacionais, no próprio Clube e em diversos outros. Recebeu o título de “Sócio Honorário de Rotary”.

Oriundo da Loja Maçônica “Regeneração Barbacenense”, fundou a Loja Maçônica “27 de Abril” de Leopoldina, na qual foi Venerável durante os três primeiros anos e onde ocupou, mais tarde, outros postos. Recebeu do Grande Oriente do Brasil o título de “Maçon Emérito”.

Em 1958, eleito vereador e líder da Câmara Municipal de Leopoldina, na administração do Dr. Jairo Salgado Gama, teve oportunidade de prestar vários serviços à cidade.

Em 1977, foi-lhe outorgado o título de “Cidadão Leopoldinense”. Autodidata, publicou trabalhos de cunho rotário, político, poético e religioso na Gazeta de Leopoldina, jornal “Ilustração”, O Roteiro, Revista Rotária, Jornal do Rotary Clube de Leopoldina.
Publicou, na revista Acaiaca, de Belo Horizonte, em número especial, o poema “Cidade Menina”, de sua autoria, por ocasião do Centenário de Leopoldina, em 1954 - mês de março, pág. 81. Na revista rotária, Anais da Conferência do Jubileu de Ouro do Distrito 118, escreveu “A Luta Pelas Posições Chave” - pág. 126.

Idealista, simples, sensível às necessidades humanas e sociais, Átila Lacerda da Cruz Machado, apelidado pelo rotarianos “A Patativa de Caxambu”, em virtude de memorável alocução sua naquela cidade, escreveu com o coração, deixando espelhar em sua obra, um vida marcada pela preocupação com a elevação espiritual do ser humano, o amor a Deus e ao próximo.

Seu desenlace ocorreu em sua residência, de maneira tranqüila, na manhã do dia 26 de dezembro de 1980, aos 69 anos, rodeado pelo amor e o carinho da esposa, filhas, genros e netos. Na verdade, sua vida foi, sem sombra de dúvida, a vida de um justo, de um verdadeiro espírita cristão. A vida de um grande leopoldinense e, pela unanimidade dos que o conheceram, a vida de um homem exemplar.

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sábado, 20 de fevereiro de 2010

Carlos Coimbra da Luz

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Setembro, 2002

Dizer que conheci, pessoalmente, o deputado e ex-presidente, Carlos Luz, seria pretensioso. Apenas o via esparsas ocasiões, quando estudante. Em Leopoldina dos anos 50 era possível encontrá-lo caminhando com algum amigo em torno da arena central do Parque de Exposições, nas festas de meio de ano. Um desses amigos, algumas vezes, foi certamente o Sr. Francisco Gama de Oliveira, ex-secretário da Câmara Municipal em seu tempo de vereança.

No Rio de Janeiro, onde passei a residir a partir de 1958, cruzei com ele em duas ou três ocasiões na Rua da Quitanda. Por ali ficava seu escritório e uma filial do Banco Ribeiro Junqueira, do qual era diretor. Na época, mencionavam certo hábito que ele teria de freqüentar a Estação da Estrada de Ferro Leopoldina, na Av. Francisco Bicalho, para contatar correligionários vindos de trem, à Capital. Em 58, entretanto, por obra das estrada Rio-Bahia, a hoje BR-116, o trem já deixara de ser opção de transporte de passageiros para os habitantes da Mata Mineira.

Uma única vez realmente “estive” com o Dr. Carlos Luz e até recebi dele um abraço. Permitam-me lembrar a honrosa circunstância com cuidados de Cecília Meireles, no seu Mar Absoluto: “Não digas aos que encontrares que fui conhecida tua. - Quando houve, nos largos mares, desenho certo de rua? E de teres visto luares, que ousarás contar da lua?”

Foi na manhã de 7 de setembro de 1957. Comemorávamos o feriado nacional em Leopoldina com o estrépito habitual. Burburinho de gente pela Cotegipe, colégios secundários em uniforme de gala, grupos escolares, bandas de música e o nosso Tiro de Guerra alardeando metralhadoras nos tarois e canhonaços de bumbo. Esticava-se o cortejo pela rua principal indo desaguar na Félix Martins onde outra multidão se aglomerava em torno do palanque das autoridades, um ripado erguido em frente ao Forum.

Soldado “caçador de rolinhas” (era como jocosamente se referiam aos atiradores), equilibrando na quina do ombro um “fuzil mauser modelo brasileiro 1908”, caprichava eu no impacto seco do calcanhar contra as pedras quando soou o “alto”, bem em frente ao estrado de madeira onde pontificavam, o Prefeito Zequinha Reis e o Deputado e ex-Presidente, Carlos Coimbra da Luz. O parque entupido de gente.

Sendo eu o “homem da tropa” designado a pronunciar o discurso sobre o Dia da Pátria, estava tenso, porém preparado. Com orientação de minha mãe, professora, estudara com atenção o que constava no livro do Rocha Pombo sobre o Sete de Setembro. Tanto assim que, anunciado meu nome, galguei de um salto o palanque sem contornar pela escada (Pelas instruções do nosso Sargento comandante do TG, o soldado devia avançar sempre em linha reta) e, fazendo das palavras do mestre as minhas palavras, devo ter dado razoável conta do recado porque, generoso, o Dr. Carlos Luz parabenizou-me com um efusivo abraço para, em seguida, abonar minha fala com alusão em seu discurso a certa passagem “aqui tão bem lembrada pelo bravo soldado que me antecedeu...”

A Gazeta de Leopoldina, de 5/09/57, registrou o encontro com pormenores. Na home page do provedor CEFETLEO, há um repertório de imagens antigas de Leopoldina onde se vê a foto do referido palanque, exatamente sob a rubrica “palanque”.

Um moço de dezenove anos viveu ali seus quinze minutos de glória. Ao historiador e acadêmico da ABL, Rocha Pombo, toda a honra e toda a glória!

BIOGRAFIA

Advogado, político, jornalista e banqueiro, Carlos Coimbra da Luz, o homem público de maior projeção do município de Leopoldina, em todos os tempos, nasceu na cidade de Três Corações, MG, a 4/8/1894, tendo falecido no Rio de Janeiro, em 9/2/1961.

Era filho do Desembargador Alberto Ribeiro da Luz e de Da. Augusta Coimbra da Luz. Passou a infância na cidade de Lavras, onde completou humanidades no Instituto Gamon, recebendo o grau de Bacharel em Ciências e Letras em 1911, quando ingressou, como praticante, na Secretaria do Interior de Minas.

Em 1915 colou grau em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Faculdade Livre de Direito de Minas Gerais e foi nomeado Secretário do Conselho Superior de Instrução Pública. Chegou a Leopoldina, onde faria sua vida pública, no ano de 1916, no cargo de Delegado de Polícia.

Casou-se em 19/1/1920 com Da. Maria José Dantas Luz, filha do engenheiro José Dantas e de Da. Lydia de Rezende Dantas. De 1918 a 1923 ocupou a Promotoria Pública de Leopoldina e, de 1920 a 1923 dirigiu a “Gazeta de Leopoldina”.

Em 1923, eleito Presidente da Câmara Municipal, torna-se o Prefeito de Leopoldina, de 1923 a 1926. Em 1927 é reeleito Prefeito, realizando várias obras importantes na cidade.

Com o falecimento de sua esposa em 28/8/1924, contrai novas núpcias, em 30/6/1927, com Da. Graciema Junqueira da Luz, filha do Dr. Custódio Monteiro Ribeiro Junqueira e de Da. Emereciana Botelho Reis Junqueira. No final dos anos 20 dirige o Movimento da Aliança Libertadora, em Leopoldina, articulado com o Cel. Cristóvão Barcelos, com quartel-general instalado em Recreio.

A Revolução de 1930 o reconduz à Prefeitura de Leopoldina em 1931. Em 1932 é nomeado Secretário de Agricultura, Viação e Obras Públicas do Governador de Minas, Olegário Maciel e, com a morte deste, do governo interino de Gustavo Capanema. Deixa o cargo somente em 1933, quando se torna Secretário do Interior, na interventoria de Benedito Valadares, função em que vem a exercer o comando da Força Pública do Estado por diversas vezes.

Em 1934 é eleito Deputado Federal elegendo-se, na Câmara, Delegado Representante na Junta de Investigação dos Crimes do Presidente da República e Membro da Comissão de Finanças e Orçamento. Em 1937 é o líder da maioria mas advém o fechamento do Congresso.

Na ditadura ocupa o Conselho Administrativo da Caixa Econômica do Rio de Janeiro, a partir de novembro de 1937. Em 1938 torna-se Vice-Presidente da instituição e, em julho de 1939, seu Presidente, cargo em que permanece até 1942.

Elegeu-se Deputado Federal pelo PSD mineiro à Constituinte de 1945. Não tomou posse, entretanto, por ter sido nomeado Ministro da Justiça do Governo de Eurico Gaspar Dutra.

Em 1946 é escolhido Embaixador Especial à posse do Presidente eleito da Argentina, ocasião em que inaugura, em Buenos Aires, o busto de Tiradentes. Candidato ao governo de Minas em 1946, retira seu nome em favor de Wenceslau Bráz.

Em 1947, é eleito Deputado Federal com a maior votação jamais obtida no Brasil, por um deputado: 327.000 votos. Novamente eleito para a Câmara Federal em 1950, permanece como Relator do Orçamento da Fazenda, na Comissão de Finanças, de 1951 a 1954, quando é reeleito para a legislatura seguinte.

Escolhido Presidente da Câmara dos Deputados, é empossado no dia 3/2/1955. Entre 19 e 29 de abril de 55, substitui o Presidente Café Filho em visita de 11 dias a Portugal. Aos 8 de novembro desse mesmo ano, sob forte tensão política, vem a assumir novamente a Presidência da República, como substituto constitucional do titular, Café Filho, acometido de súbito distúrbio cardiovascular.

Nesta segunda ocasião em que assume a Presidência da República é deposto por um movimento militar, aos 11/11/1955, e declarado impedido para o exercício da Presidência, pelo Congresso.

Em entrevista à revista "O Cruzeiro", de 3 de dezembro de 1955, afirmou: -"Fui Presidente da República por 48 horas, mas guardarei para sempre os momentos emocionantes que vivi no exercício do cargo nesse curto espaço de tempo."

O FATO HISTÓRICO

Tudo começou quando nas primeiras horas do dia 24/8/1954, no desfecho de uma aguda crise político-militar, após receber um ultimato de oficiais das Forças Armadas para que renunciasse, Getúlio Vargas suicidou-se. A insidiosa trama golpista que levou Getúlio à morte não logrou, entretanto, viabilizar seu projeto de tomada direta do poder pelos militares. Grande mobilização popular em contrário ocorrida no Rio, São Paulo e Porto Alegre garantiu a posse do Vice, Café Filho, no mesmo dia do suicídio.

Deu-se, todavia, que Café muito identificado com as posições anti-getulistas da UDN (partido que, liderado por Carlos Lacerda, encabeçava o golpe), veio a compor primeiro e segundo escalão de seu governo com maioria de políticos e militares de oposição ao governo Vargas. Dir-se-ia até, naquele momento, que a UDN derrotara Getúlio Vargas. Mas o tempo demonstraria que mesmo morto Vargas continuaria a influir poderosamente.

Tanto que para as eleições de outubro daquele ano os trabalhistas já haviam lançado, em abril, a candidatura de Jango na chapa de Juscelino Kubitschek, reeditando a aliança PSD/PTB para reconduzir ao poder as forças dele alijadas com o desaparecimento de Getúlio.

Foi afrontando oposição militar às suas candidaturas que Juscelino e João Goulart venceram as eleições contra Juarez Távora (UDN, o ex-tenente "Vice-rei do Norte"), Ademar de Barros (Partido Social Progressista de São Paulo, legenda pela qual o vice de Vargas, Café Filho, se elegera) e Plínio Salgado (ex-AIB, então PRD).

Derrotada, a UDN levantou óbice à posse dos eleitos por não terem alcançado a maioria absoluta dos votos... condição, aliás, não prevista na Constituição. Dissuadida mais tarde a reconhecer inconsistência no argumento, passou a conclamar setores mais conservadores da Forças Armadas a impedir a posse de JK e Jango, já sob alegação de que ambos estavam ligados ao populismo getulista (o que era, em parte, verdadeiro) com risco de fazer o país “retornar ao caos de 1954”.

Carlos Lacerda, grande tribuno, jornalista e deputado pela UDN era o principal mentor das manobras oposicionistas. Valorizava bordões anticomunistas dirigidos a militares e à opinião pública conservadora, argumentando que "os eleitos tiveram apoio dos comunistas", havendo necessidade imperiosa de se "defender a democracia".

Eis que, acometido de um distúrbio cardiovascular na manhã do dia 3 de novembro, Café Filho é internado no Hospital dos Servidores do Estado. Terceiro na linha sucessória, assume o governo o Presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Coimbra da Luz, eleito pelo PSD, mas um dissidente, identificado com as posições udenistas.

Agrava-se, então, a crise sob forma de uma "questão de disciplina militar". O Coronel de Infantaria, Jurandir de Bizarria Mamede, na época lotado na ESG (Escola Superior de Guerra), pronunciara, à beira do túmulo do Gal. Canrobert Pereira da Costa, um discurso considerado “atentatório à disciplina das Forças Armadas”, no qual posicionava-se, como porta-voz da Diretoria do Clube Militar, abertamente contra a posse dos eleitos.

Não obstante estivesse o Cel. Mamede subordinado à ESG, sendo a ESG subordinada ao EMFA (Estado Maior das Forças Armadas), e este por sua vez devesse subordinação exclusiva ao Presidente da República, o Ministro da Guerra, Teixeira Lott, passou a exigir punição para o Coronel, com pronto retorno do Oficial ao âmbito do Ministério da Guerra, fazendo tábula rasa da autoridade do Presidente da República.

Entendendo o fato como uma subversão de valores, Carlos Luz, que ao assumir, no dia 8, havia manifestado a intenção de manter o gabinete de Café Filho, não se submete à vontade do Ministro, proferindo a 10 de novembro sua decisão final sobre o caso Mamede, negando a transferência do Coronel - exigida por Lott.

Vendo-se desprestigiado, naquele mesmo dia Lott se demite do Ministério da Guerra. O Presidente nomeia, então, para a pasta da guerra o Gal. Álvaro Fiúza de Castro, um militar favorável a solução golpista para a crise.

Retornando à sede do Ministério da Guerra para preparar a transmissão do cargo, Lott é convencido por vários generais, especialmente por Odílio Denis (Comandante da Zona Militar do Leste) a permanecer em suas funções e depor o presidente em exercício.

Assim, na madrugada daquele dia 11, a capital federal foi ocupada pelo Exército, com prisão do Chefe de Polícia e imediata rendição da Polícia Militar aos insurretos, forçando Carlos Luz e outras autoridades civis e militares a buscarem abrigo no prédio do Ministério da Marinha, de onde embarcariam, horas depois, no Cruzador Tamandaré, rumo a Santos.

Ainda no correr do dia 11 o Congresso Nacional se reuniu em sessão extraordinária e aprovou o impedimento de Carlos Luz, por 228 votos contra 81, empossando Nereu Ramos, vice-presidente do Senado, em exercício, na presidência da República.

Lott foi reconduzido à pasta da Guerra e, no dia 22 de novembro, o Congresso – ante disposição de Café Filho, restabelecido, de reassumir a presidência, aprovou também o seu impedimento por 208 votos contra 109, confirmando Nereu Ramos como presidente até a posse de Juscelino, em 31 de janeiro de 1956.

O PONTO DE VISTA DO PRESIDENTE DEPOSTO

Relatando o episódio do golpe sob seu ponto de vista, Luz conta que, avisado da anormalidade da situação às 2 horas da madrugada, dirigiu-se ao Palácio do Catete, onde chegou junto como o Ministro Prado Kelly.

Considerando eles que a Guarda do Palácio do Catete não estaria apta a proteger a pessoa do Presidente, encaminharam-se ao Ministério da Marinha, por volta das 3 horas da madrugada, seguindo num mesmo carro o Presidente, o Ministro da Justiça, Prado Kelly, o Ministro da Viação e Obras Públicas, Marcondes Ferraz, e José Monteiro de Castro, do Gabinete Civil.

Já no Ministério da Marinha, informados de que São Paulo não havia caído, deliberaram tomar o "Cruzador Tamandaré" e, nele seguirem para Santos, com objetivo de preservar a autoridade do governo e reinstalá-lo em terra firme. O deslocamento a Santos não seria tranqüilo.

Na saída da Baía de Guanabara o “Tamandaré” foi alvejado, após cruzar a barra, pelos canhões do Forte Duque de Caxias e, depois, pelos do Forte de Copacabana. No relato do comandante do vaso de guerra, o Comandante-Chefe da Esquadra de Alto Mar, Almte. Carlos Penna Boto, também da Fortaleza de Santa Cruz e do Forte de São João, partiram balaços na direção do “Tamandaré” sem que nenhum dos disparos, felizmente, tenha alcançado o navio.

Em Santos o desembarque, inicialmente previsto e com hospedagem preparada, veio a tornar-se inviável à tarde, antes da chegada ao Porto, quando se soube que os fortes e as guarnições militares paulistas haviam aderido ao movimento golpista.

Assim, inobstante o apoio velado do Governador de São Paulo, Jânio Quadros, que reconhecia o Governo que se preservava à bordo do “Tamandaré”, sabendo-se que o Gal. Tasso Tinoco, comandante da 2ª Região Militar estava subjugado, outra saída não havia que cessar a resistência, regressando ao Rio de Janeiro.

Em verdade, àquela altura outro governo estava constituído, reconhecido por todas as tropas do Exército, pela Câmara e pelo Senado. Tratava-se de uma situação de fato, irreversível.

Às 7:15 horas da manhã de 12 de novembro, estando o “Tamandaré” a 130 milhas ao largo do litoral paulista, retomou ele muito a contragosto de seu Comandante, o rumo do Porto do Rio de Janeiro, onde encerraria sua peregrinação de 48 horas por águas territoriais brasileiras.

Em mensagem final aos ministros militares assim se pronunciou o Presidente Carlos Luz:

"No exercício da Presidência da República, comandante supremo das Forças Armadas, ante a rebelião que hoje surpreendeu o País, deliberei defender a autoridade e a lei por todos os meios legítimos ao meu alcance. Recomendo, entretanto, aos meus leais Ministros, auxiliares, comandados e amigos, cessarem qualquer resistência, dada a situação de fato instaurada no País."

O GRADE BRASILEIRO E SEU LUGAR NA HISTÓRIA

Prevaleceu, portanto, o bom senso e a decisão do grande homem público diante das responsabilidades que a lei e a dignidade de seu cargo exigiam, menos a de derramar sangue de brasileiros e permitir fossem lançadas, umas contra as outras, as Forças Armadas do seu país.

Às 11 horas da manhã do dia 13 de novembro o “Tamandaré” chegou ao Porto do Rio de Janeiro, onde fundeou 11:20 horas. No dizer do Comandante Penna Boto, “era um domingo, um melancólico domingo, pelo que as praias do Leblon, Ipanema e Copacabana apresentavam pequena animação. Mas aqueles que lá se encontravam presenciaram a passagem de uma briosa unidade da esquadra brasileira, que havia galhardamente cumprido o seu dever e mantido bem altas as tradições da Marinha do Brasil.”

Vencidos estavam os óbices à posse de Juscelino Kubitschek.

Por muito que se possa dele politicamente divergir, sua história é a de um íntegro homem público mineiro, o mais expressivo vulto político de Leopoldina, o presidente constitucional da república por um curtíssimo espaço de tempo, que, deposto, exorcizou inclusive a idéia de regresso à Presidência da Câmara do Deputados. Ainda no dia 11, a bordo do “Tamandaré”, comunicava a todos os deputados que não mais poderia presidir à Casa Legislativa que o destituíra.
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Bibliografia:
- CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas
- Biblioteca da Câmara dos Deputados
- Arquivos, Gov. de Minas Gerais (site)
- Arquivos, Pres. da República (site)
- Revista “O Cruzeiro”, de 3/12/55, entrevistas de Carlos Luz,
Alm. Penna Boto e Jânio Quadros, aos repórteres, Arlindo Silva
e Jorge Ferreira.
- Gazeta de Leopoldina, nº234, de 15/9/57.
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(Publicado como crônica, dividida em duas edições, na Gazeta de Leopoldina - GLN – 20.09.2002)