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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Ano Novo

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Por enquanto é ano velho,
Não foi ano de pujanças,
Mas é fala de ano novo
Dizer novas esperanças.

Por enquanto é ano velho,
Os anos mandam avisos,
Vem aí o ano novo
Pondo viço nos sorrisos.

Por enquanto é ano velho,
Os nós cegos, o cansaço,
Rapidinho um novo ano
Alivia nosso laço.

Por enquanto é ano velho,
Lá se foram alguns amigos,
Aposto que um outro ano
Não faz mais isto comigo.

Por enquanto é ano velho,
Ele acaba e não faz mal:
Que seja bom o teu ano
Que vem. E o meu seja igual.

Por enquanto é ano velho,
O novo, então, fica assim:
Que Deus proteja vocês
E, se Lhe aprouver, a mim.

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Publicada a 30.12.2010, em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/

sábado, 25 de dezembro de 2010

O Ministério

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Dezembro, 2010

Finalmente está composto o ministério da presidente Dilma Rousseff. Fim da temporada de caça e das barganhas, sem que caiba censurar o toma-lá-dá-cá das composições ministeriais neste presidencialismo sinalagmático da nossa Carta de 88. Sem contratos não se governa. Negociar é preciso.

Até aí dá para entender. O que assusta, o moralmente censurável, é a audácia – fronteiriça da insolência – com que certas lideranças partidárias buscam impor “quadros” que a moralidade mínima repudia. Agora mesmo pipocou nos jornais deslizes pretéritos de um tal deputado Pedro Novais, indicado do PMDB para a pasta do Turismo.

Um nome que tinha tudo para ser barra limpíssima... Imaginem! Indicado pela legenda imaculada do PMDB, com amplo respaldo do grupo de cidadãos honrados que fazem política no Maranhão sob a liderança de José Sarney! Vá entender como pode alguém tão bem “recomendado” revelar-se vacilão! Sábia era minha mãe quando dizia que os dedos das mãos não são iguais...

Incrível como um sujeito com semelhante respaldo ético possa pisar na bola! Estão dizendo nos jornais (só pode ser calúnia!) que Pedro Novais apresentou à Câmara dos Deputados uma nota fiscal de R$ 2.156,00 do “Motel Caribe”, de São Luiz do Maranhão, em sua prestação de contas da verba indenizatória de junho. Isto não existe! Tenho certeza que um peemedebista não faz isto, nem autoriza secretária a fazê-lo.

Mas foi o que escreveu Leandro Colon, em matéria no “Estado de São Paulo”, transcrita no Blog do Noblat. O motel fica a 20 quilômetros do centro de São Luís. Lá, a suíte mais cara, que leva o nome "Bahamas", tem garagem dupla e custa de R$ 98 (três horas) a R$ 392 (24 horas). Segundo a gerente, o deputado alugou quarto para fazer uma festa.
- Viram? Nada demais! Só uma festinha no Motel, paga por nós, para ele aliviar o stress. Legítimos propósitos sexo-recreativos.

O parlamentar admitiu ao jornal que, de fato, pagou as despesas do motel com dinheiro da Câmara dos Deputados. Considerou, entretanto, o episódio como “um erro".
- Se avexe não, Novais. Erro nada. Só é erro quando descobrem; ficando no escuro o nome do troço é rotina de cabra arretado, mesmo!

A seriedade de Dilma talvez a leve a descartar a peça. A cúpula do PMDB, com toda razão, quedará indignadíssima. Afinal o indicado demonstra perfil ideal para um ministério que se sabe às voltas com denúncias de desvios de verba de emendas parlamentares destinadas a shows e eventos culturais. Aquela coisa!

Muito a propósito lembra ainda Leandro Colon que o Ministério do Turismo terá a seu mister a organização da Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Já pensou na pá de concorrências? The right man in the right place! Ou não?

São 37 ministérios e deve surgir mais um. Reuniões ministeriais plenas, só no Estádio Mané Garrincha. O PT comparece com 15 ministros; o PMDB, 6; o PSB, 2; PSB, PDT, PR, PP e PC do B, 1 cada; e os 8 restantes não têm mãe... partidária. Não foram indicados por legendas, entendem. Vai ver tem gente boa escondida aí.

Vendo nossa Presidente e os Governadores “escalarem” seus times, a conclusão inevitável é que a Seleção Brasileira de Futebol adota critérios meritórios mais seguros. Uma evidência de que o futebol é levado a sério neste país. A política, nem tanto. Só no futebol temos os melhores em suas respectivas funções. Na política tem sempre malandro disposto a brincar nas onze...
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(Publicado aos 23.12.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O Enterro do Libânio #

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Dezembro, 2010

Proparoxítonos esticados são meio confusos. Não custa lembrar que claustrófobo ou claustrofóbico é o indivíduo que tem pavor doentio por lugares fechados. Estamos falando do mal que sempre atormentou a vida do “guarda-livros” Libânio, carioca do Lins de Vasconcelos, de cuja morte aos noventa anos tive infausta notícia, recentemente. Expirou debruçado sobre a marmita de seu próprio almoço, à mesa de trabalho, num escritório da Rua da México, no Rio de Janeiro.

Não procurem por “guarda-livros” nas páginas amarelas. É como se denominavam os contabilistas antigos, encarregados da escrituração dos registros de comércio. Libânio, contador experiente e atualizado, sempre brincou com a curiosa designação.

Nossa amizade vinha dos anos 50, numa empresa de São Cristóvão, onde ingressei como “estafeta” (podem ler boy), ainda menor. Foi meu primeiro chefe. A luta pela vida nos separaria, mas a amizade ficou. Corri à Rua México quando soube de seu “passamento”, e foi duríssimo para mim vê-lo, também duro, esticado no chão do escritório com um catálogo telefônico sob a nuca.

Não imaginava que aquele quadro lamentável marcava apenas o início de uma tragédia macabra que o destino reservava ao meu velho chefe. Um filme de horror! Não houve um óbito na Rua México, naquela tarde de outubro. No linguajar médico, “Libânio fez um quadro de apoplexia” e foi dado como morto por seus funcionários e – fatalidade! – por um médico desavisado. Enterraram-no vivo!

A filha mais velha, Rita Santana, conta que esta sempre fora a grande neurose do pai. Ele era claustrofóbico – explica ela. Tinha pavor de, um dia, ser enterrado vivo. Tanto assim que firmou um pacto com o filho caçula, segundo o qual este colocaria, em seu caixão, um telefone celular, com a bateria carregada (insistia muito!) ao alcance da mão direita. Libânio era canhoto e só discava com a esquerda. Se ocorresse o problema lá embaixo...

Dizem os mais velhos, em Minas, que se pensamos ou falamos alguma coisa ruim, devemos ter muito cuidado: os anjos, naquele momento, podem estar cantando “amém”... Aí, ó! Nunca se sabe. Embora os anjos sejam nossos protetores.

Uma coisa é certa. Justo uma modernidade - o telefone celular – iria trair a confiança do atribulado Libânio. Logo a ele que sempre desconfiava de novidades tecnológicas, que jamais trocou sua velha máquina Remington por um computador... Caneta esferográfica até que usava, mas só “apunha” sua assinatura em documentos com a preciosa caneta-tinteiro, Parker-51, que o acompanhou por toda a vida. Cético, mas entre o desespero e a tecnologia suspeita, confiou num pré-pago.

Assim foi que o pavor inicial de acordar dentro de um estojo não o impediu de lembrar-se do trato com o filho. Tateou com a mão direita e lá estava o celular. A luzinha que se acendeu ao pegá-lo não deixava dúvida: bateria carregada.

Desafortunadamente, no entanto, ao ligar ecoa uma mensagem gravada:
- A Vivo informa que seus créditos acabaram... bip, bip, bip...
Maldição! Maldição! Hã? O que foi que eu disse?...

Libânio passou a ouvir impactos de martelos quebrando os tijolos da sepultura. Abriram o sepulcro! Arrastaram para fora o esquife. Abriram a tampa! Eram ladrões de cemitério, de alicates à mão, interessados no ouro das próteses dentárias do extinto. Acontece no Brasil...

Na delegacia, Libânio alegou não ter condições de descrever a fisionomia dos meliantes. Disse apenas que, ao sentar-se no caixão, quatro vultos se escafederam em desabalada carreira por entre os mausoléus, na velocidade que o diabo emprega para fugir da cruz.

O delegado compreende, mas acredita que Libânio possa estar mentindo por gratidão aos "enviados" que o libertaram...
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(Publicado em 16.12.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Chove em Minas #

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Dezembro, 2010

Como tem chovido em Minas Gerais, neste início de dezembro, meus amigos! Mesmo com céu limpo pela manhã é bom levar nadadeiras. É cada chuva d`água! À noite, na TV – já viu, né - aquelas imagens de pessoas sofridas, enxurrada arrastando carros e deixando o governo mal na fotografia. Tadim do governo! É sempre o culpado de tudo.

São chuvas de verão. Digo até que é Minas fazendo seu bom trabalho. Não entenderam? Eu explico. Em Minas estão as nascentes do Brasil e não apenas no sentido histórico de que por aqui medraram os primeiros suspiros da nacionalidade, os desconfortos anticoloniais mais relevantes. Falo de uma realidade bem mais concreta, terra-a-terra, como um olho-d`água, um merejo, um brejo, mananciais sinuosos riscando várzeas e desfiladeiros.

Nossas minas generalizadas não são apenas de ferro, ouro, alumínio ou água mineral. Minas é, também, um mundão de água doce. Sim, aquela molhada que despenca dos céus, entre estrondos e coriscos – Santa Bárbara! - desce pelas serras, transborda córregos, riachos, valões, e vai levando tudo para cumprir a sina mineira de ser a caixa d`água do país. Ai do Brasil se não chove em Minas. Querem conferir?

Na Serra da Mantiqueira, num lugarzinho bucólico chamado Bocaina de Minas, nasce o belo e caudaloso Rio Grande, responsável por fazer girar turbinas de uma dúzia de hidrelétricas mineiras. Este utilíssimo rio corre pelo sul de Minas, no sentido leste-oeste e, no Triângulo Mineiro, se presta ainda a separar Minas de São Paulo – só não segurando do lado de lá o sotaque paulista.

Lá na pontinha do Triângulo, se junta a outro grande rio mineiro, o Paranaíba, igualmente rico em hidrelétricas gigantescas, na divisa com Goiás. É verdade: o Paranaíba separa Minas de Goiás, mas também não consegue estancar nas terras do Anhanguera a febre das duplas sertanejas que se alastra pelo país.

Juntos, o Grande e o Paranaíba, formam o Rio Paraná, cujas águas vão girar as rotativas colossais de Itaipu para, bem depois, juntar-se com o Rio Uruguai, virar Rio da Prata e torcer para a Argentina.

Mas a responsabilidade de Minas não fica por aí. No centro do Estado, ali no Campo das Vertentes (região de Barbacena), além de afluentes do citado Rio Grande, de esticado destino para o sul, nascem contribuintes do Rio Doce, cujo destino é o leste do país, chegando ao mar no norte do Espírito Santo. Nasce o Rio Pomba, que é afluente do Rio Paraíba do Sul – este, paulista, nascido em Mogi das Cruzes - que corta toda a Zona da Mata Mineira, abastece a cidade do Rio de Janeiro e chega ao mar nas planícies de Campos dos Goitacazes, no norte do Estado do Rio. Todos eles gerando muita energia e viabilizando riquezas em seus vales históricos e fecundos.

Sempre fui apaixonado pela geografia do Campo das Vertentes. Dali se desce para os longes. Acho um prodígio que a gota de chuva caída à minha direita possa ir à bacia do Prata; a outra gotinha, caída à esquerda, viajará até a foz do São Francisco, no nordeste; caísse um pouquinho mais ao lado, iria ter às costas do Espírito Santo; se o vento tocá-la alguns centímetros, o destino já será o norte do Estado do Rio de Janeiro... Não é maravilhoso?

Convido o leitor a pensar nisto por ocasião do xixi em alguma lanchonete na região de Barbacena. Sinta-se um Napoleão no alto de sua pirâmide a contemplar quarenta séculos...

As chuvas de Minas mandam água ainda para o Rio Jequitinhonha que nasce na região de Diamantina e sai prestando serviço a todo o nordeste mineiro e ao sul da Bahia, indo ter ao mar em Canavieiras. Tem ainda o mineiro Mucuri, outro abastecedor de Minas e Bahia, onde deságua no Atlântico. Minas precisa continuar chovendo para abastecer a bacia do Itabapoana – um rio com compromissos do lado de cá, no Rio de Janeiro e no Espírito Santo.

E, por último, não esqueçamos o Velho Chico! Nasce quase no centro-sul do Estado, na Serra da Canastra, atravessa Minas no sentido sul-norte e seus importantíssimos afluentes mineiros são responsáveis por 75% das águas de sua vazão total. Atravessa a Bahia, faz girar, pelo caminho, cinco grandes hidrelétricas, abastece grande parte do nordeste brasileiro, e, muito contra sua vontade de prestar serviço, só entra no mar lá nos confins atlânticos da divisa de Sergipe com Alagoas. O Velho Chico é um milagre brasileiro.

Por isto, mineiro que é mineiro diz “benzo a Deus” à chuva. Não temos grandes problemas de seca, temos 21 das grandes hidrelétricas brasileiras e contamos com mais 252 quedas d`água passíveis de aproveitamento. Se assim é, “por mal não pergunto”:
- Mineiro pode esconjurar tromba d`água?
Ah, mas de jeito maneira, ô sô!
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(Publicado em 09.12.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)

sábado, 4 de dezembro de 2010

O Estado Chegou

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Dezembro, 2010


 Bom, se a invasão das duas maiores favelas do Rio virar fogo de palha e voltar tudo ao que era antes, o problema não será meu, por conta dos elogios que no momento tenho àquelas ações.

Dizem que o futuro a Deus pertence, mas no caso da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão, imagino pertencer também ao projeto político do governador Sérgio Cabral, que, aliás, não deve ter outra coisa em mente que realizar um governo sério no Estado do Rio. Com Lula e Aécio no horizonte federal − sem descartar a hipótese de sucesso do governo Dilma − o melhor que o governador do Rio tem a fazer, hoje, é ir dando o melhor de si para ver o que acontece lá na frente.

Deixemos, entretanto, o macro para focar o micro. Episódios que me emocionaram na ocupação dos dois enormes conglomerados humanos, do Rio, foram a entrega à polícia de dois bandidos pelos próprios pais. Aqueles gestos nos deram a medida exata do quanto é fundamental para as pessoas a presença da autoridade constituída, e, ao contrário, o desastre que representa a ausência dessa mesma autoridade num determinado local.

Palavras da mãe que, no Complexo do Alemão, primeiro entregou seu filho, traficante, à prisão:
 – Aproveitei a oportunidade porque nunca aceitei meu filho nessa vida!
Ou seja, ela aproveitou que o “império da lei” – que nunca estivera por ali - chegasse às imediações de sua casa para fazer o que sempre sonhou para o filho: tentar tirá-lo do inferno do tráfico.

O mesmo se daria no dia seguinte. Um homem trabalhador, bombeiro e eletricista, de 55 anos, também morador do Complexo do Alemão, pegou o filho de 25, que se alojara na casa de uma vizinha, e o entregou às autoridades. Disse à imprensa:
–Agradeço ao BOPE por ter pego meu filho vivo. Ele tem que pagar pelo que fez.

Pode-se duvidar de tudo, menos que esse rapaz tenha um pai. Difícil, até, compreender que filho de um homem com semelhantes princípios morais haja escolhido o caminho do erro. Só não se corrige se não quiser. Pai ele tem. 

Vejam que nem aquele pai, nem aquela mãe, jamais aceitaram os filhos no mundo do crime. Salvá-los, todavia, sempre esteve fora do alcance de suas mãos porque o Estado, que à educação e ao direito provê, mantinha-se distante e omisso.

De repente, eis que “a lei”, escoltada por tanques de guerra, chega às suas portas, sob aplausos e cooperação da comunidade! No coração daquela mãe, no coração daquele pai, dois moços incontroláveis, contumazes em decepcioná-los, voltam a ser crianças tomadas pelas mesmas mãos que, carinhosamente, os colocaram de pé. Pais acreditam, sempre. Basta uma chance mínima para que o desencanto logo ceda lugar à esperança.

A tomada do Complexo do Alemão, acompanhada ao vivo pela TV, foi um alívio para toda a enorme população da área, da cidade e do país. Vem sendo objetivo estratégico da Secretaria de Segurança do Rio conquistar territórios ao tráfico, sempre com o menor número possível de baixas inocentes e protagonistas.

Na ação desta semana o êxito foi total. Houve quem desejasse ver metralhados os marginais que escapavam pelo morro. Grande equívoco! Matar bandido não resolve. A sociedade licenciosa e o vácuo de autoridade providenciam outros. Polícia sempre matou bandido e isto nunca levou a lugar algum. Jovens desencaminhados são produtos de uma realidade complexa que reclama educação e presença estatal.

Tráfico, bandidos, usuários de drogas e pessoas de bem sempre existiram e sempre existirão. Faz sentido que neste tumultuado contexto inicial, quando já se vai colocando a casa em ordem, as forças do Estado, agindo sempre dentro da lei, deixem muito claro quem deve respeito a quem.

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(Publicado em 02.11.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)