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sexta-feira, 21 de maio de 2010

Brasil Protagonista

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Vamos pelas conclusões positivas. Se a política externa brasileira parece biruta, não custa tentar entender que ela sinaliza bons ventos. O país onde nasci, cresci e - sem repulsa ao verbo no passado - vivi, não é este do protagonismo internacional com as grandes nações. Mamãe me trouxe à luz em plena república de bananas do caudilho Vargas e cheguei a brasileiro maduro medindo palavras e calando sentimentos durante vinte anos tristes de obscurantismo ditatorial militar. O mundo que escovava os dentes, tomava banho, lavava as orelhas e tinha endereço certo, ficava todo ao norte do equador.

De repente, não mais que de repente, aquele Brasil barrado no baile “adentra” os salões da corte mundial livre de sua calça pega-frango! Eu sei que a realidade não é bem esta, que há muito de “faz de conta” nesse jogo. Mas participar dos vexames da elite também é frequentar.

Tinha razão, agora sabemos, quem avisava que o brinquedo no Oriente Médio era arriscado, que aquele imbróglio é obra de micro-relojoaria, pouco afeita a que curiosos ali se metam de alicate e martelo na mão. Mas é bom não esquecer que os próprios agentes autorizados do conflito, mesmo externando pessimismo, não excluíram o empenho conciliatório a que a diplomacia brasileira se propunha. O esforço foi previamente aceito - com pessimismo, sim - mas de bom grado.

Não morro de amores por Lula nem sou entusiasta da política externa brasileira. Bem ao contrário. Não consigo, porém, concordar com quem entende que o Brasil tenha saído ou vá sair-se mal do episódio. Naquela área tudo costuma dar errado e a culpa nunca pode ser atribuída a mediadores.

O Irã busca alcançar hegemonia política na região e, claro, capacitar-se de poder militar dissuasório de inimigos reais à sua volta. Por conta deste segundo desiderato entrariam suas ambições nucleares e, a serviço do primeiro, seu discurso hostil a Israel.

Não é segredo para ninguém que o governo brasileiro, a partir do momento em que se mostrou imune à última crise econômica internacional, enfiou na cabeça que era hora de exibir ao mundo seu físico de país sarado. Ao contrário da China milenar que prefere ir, discretamente, enfiando seu crescimento avassalador pela goela do planeta via rotas do contrabando, câmbio manipulado e mão de obra servil, o Brasil, talvez ávido de desafronto a seu passado colonial recente, é meio afobado de ver-se reconhecido como grande nação.

Tínhamos chance de dar com os burros n´água? Claro. Alemanha e membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, os mesmos que agora fazem tábula rasa do malsinado acordo Irã/Brasil/Turquia, também já se frustraram.

Se é verdade que o pacto apresenta lacunas quanto ao estoque de urânio a ser enviado ao exterior pelo Irã, se faltou menção à fiscalização internacional e outros pormenores, que a reação dos membros do Conselho de Segurança viesse rápida no sentido de aperfeiçoar o acordo, não de desmoralizá-lo.

Nada diplomática - para não dizer “uma grossura” - a rejeição imediata (e sem sugestões construtivas) ao singular drawback contratado por Irã e Turquia, pela forma como a verbalizou Hillary Clinton, sob pretexto de que não garante por inteiro a tranqüilidade almejada.

O Conselho de Segurança apreciará novas restrições. Das duas, uma: ou o Irã se curvará diante de tais sanções ou não se curvará. Não se curvando, talvez considerem a hipóteses de bombardeio às instalações nucleares iranianas ou diatribes militares mais cruentas. Um caminho que ninguém sabe onde vai dar...

Ao Brasil restará incrementar seus negócios com o Irã. Sim, porque a partir de então deixa de fazer sentido nossa participação em sanções! Quanto à liderança do mundo islâmico - tão grata a Ahmadinejad - EUA, Alemanha e membros do Conselho terão ajudado a fomentar.
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(Publicada a 20.05.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)

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