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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Colégio Leopoldinense - II Encontro de ex-Alunos

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Julho, 1981

Lá se foram 20 anos, meu velho Colégio Leopoldinense, a garotada crescida com sestro de gente grande, e a comemoração dos teus 75 anos, oferecendo-nos, por empréstimo, dois dias de adolescência. Muito ligados na tua, a turma de meu tempo com a turma de outros tempos, recentes e remotos, andou pela cidade sorrindo, cantando, chorando, brincando de antigamente.

Espiar tudo aquilo, meu “Gymnasio” dos mais velhos, valeu o desarquivamento delicioso de incontáveis reminiscências. Algo tão aliciante e terno que o dever de casa, como sempre teve que ficar pra depois: só abracei (fisicamente) a cada um de minha turma no baile do Clube Moinho.

Primeiro, pelo ângulo do expectador apaixonado, experimentei minha saudade depurada dos tempos reais. Como o poeta Han Fook do conto de Hesse, permiti que um sonho providencial me passasse à outra margem onde, partícipe solitário, não me somasse na grande festa das lâmpadas, para contemplá-la, incrivelmente mais bela, refletida no espelho do rio.

Maravilha, meu Colégio. A um só tempo tudo ver e com todos estar, eu, no alto da Catedral ou no Morro dos Pirineus, eles todos lá em baixo... Aqueles marotos, agora marmanjos. Ontem mesmo “queimando as pestanas” no Estudo-1, a maleta de livros afivelada ao pé da carteira, o pavor de uma prova oral atazanando o espírito.

Vez por outra podiam espalhar gás sulfídrico no Gabinete (puleiro) de Química, mas sempre compenetrados na sala-5 (o Machado era “fogo”). Estudiosos quando necessário, irreverentes – quase sempre.
- Sacripantas! (No limite da paciência, o adjetivo novo do mestre Leitão)

Ei-los, fedelhos, espalhados pela pracinha, um “cano” inocente nas cocadas do Botelho (bom coração que esquecia e se fingia não ver), nas tangerinas e bananas do boteco do Nestor (nosso bondoso Nestor), nas filas do Cine Alencar, ávidos de pastelões e das pernas da Brigitte Bardot.

Com indizível felicidade, meu hoje “Botelho Reis”, só às vezes surpreendida por uma fisionomia sensivelmente mais mudada, eu devolvia a cada um seu pedacinho de “bons tempos” guardado no meu bolso. Meus velhos brinquedos de sonho, como na Ode de pessoa, caíam por dentro de mim, em monte, qual conteúdo de gaveta despejada no chão. Queria apertá-los ao peito, senti-los bem e repartir como bolo: aula das seis e cinqüenta, campo do arranca-toco, meninas de azul e branco. O verbo nas “cinco” formas, o teorema na lousa, os bebedores de esguicho, aqueles vasos de “agacho”, um cheiro de carne assada das bandas do refeitório.

A serenata “pra ela”, o pomar do Dom Delfim, o violão milagroso do “incrível” Bianor. A gente ficando “um espicho”, a calça “pegando frango”, um sonho: jogar na liga, mais um “zerrô” em francês, que “mens” agitada e mole!

O quebra-queixo de côco, a Coquita geladinha, o picolé do Leopoldo. Aquela foto do Jarbas, o “footing” depois das oito, a chama braba dos moços pras bandas do Cemitério.

Passavam meus camaradas de coloridas memórias e fluía lento o transe quando um zunido de vento brincalhão cantou-me dos longes a ladainha daqueles apelidos inesquecíveis, curiosos, acachapantes: eh-eh-eh...Piacatuuubaaa; eh-eh-eh...Burneeetiii; eh-eh-eh...Jumeeentooo; eh-eh-eh...zabulããooo...eh-eh-eh...

Colégio Leopoldinense de todos nós. O coração meio querendo esboroar-se, abracei com saudade doída a meninada alegre, estudiosa e sonhadora que cruzou teu pórtico na década cinqüenta. Uma turma que se fez rara – companheiros de uma juventude aos pouquinhos ficada pra longe, no tempo e na lembrança, unida sob tua égide, meninada sentimental que te ama e não te perde de vista.
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(Publicada no jornal REENCONTRO de julho de 1981)

O Pau d´Alho da Onça #

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Setembro, 1983

À margem da Rio/Bahia, na segunda curva a meio caminho entre a Capelinha de Santo Antônio e o acesso à Boa Sorte, vai desaparecendo uma árvore secular. Um Pau d´Alho. O velho Pau d´Alho da Onça, tão avançado em anos que ninguém entre os vivos afirma tê-lo visto nascer ou crescer.

Também eu já o conheci idoso, imponente, ufano, mas franzido nas cascas, a braços com aquela perda de substância no tronco, moléstia que durante uns prováveis cem anos conspirou contra sua vida. Tão grande era o buraco brocado que servia de abrigo e maloca aos retirantes da poeirenta BR-4.

Ali armaram pouso providencial, através dos anos, andarilhos, mendigos, viandantes e erradios das mais variadas origens.
- Teria vindo de onde a moreninha infeliz que, por lá, também vacilou breve paradeiro nos idos dos primeiros anos 50? Nós, crianças, mal dávamos trato então à zoada de pé de ouvido, no meio da peãozada:
-Tá pondo incômodo nos home...

Quantas histórias, meu Pau d’Alho!
Você, estacado bem a meio dos meus sete quilômetros de ir ao Ginásio, foi o resfolgo do meu cavalinho Guarany, a sombra fresquinha, o perfume da floração sentido de longe, como se você quisesse vir correndo encontrar com a gente. Um troço que ardia nos olhos, aquele acerbo silvestre de floração, sabendo ao alho do seu sobrenome.

Impossível esquecer! O Pau d´Alho foi também pátio do meu recreio. Quando mamãe, a professora rural, soltava a criançada no fim da classe, era aquela correria. Tua sombra afável nos recebia com zelo de fada protetora e, do alto de sua fronde, nos descia uma cantiga de ninar com os solos das cigarras, zumbido das abelhas e trinados de pássaros miudinhos.

No chão, a terra batida, lisinha, na conta certa para se deitar e rolar. Não sabíamos, companheiro, que nossos sentidos haveriam de ficar, para sempre, contaminados pelo gesto mágico dos seus galhos. E por falar neles, um dia carreguei de presente um galho seu, bem fininho, para cabo de meu arco... As crianças ainda brincavam de rodar arco.

São muitas lembranças, centenário amigo. Não tenho como agradecê-las. Mas o pior é não ter como socorrê-lo, agora. Há dias, chegando por aqui, deparei-me com você estirado morro abaixo. Parei o carro, dei ré, desci e apalpei com a sola dos sapatos suas raízes chochas, humilhadas pelas orelhas dos fungos.

Subiu-me à garganta uma bucha de dó e de saudade. Meio estúpido, num gesto automático, cheguei a erguer os olhos à procura de seus ramos.
Claro que não podiam estar lá em cima.

Cabeça baixa, dei então de contemplar ao redor naquelas coisas todas que há muito se foram e, por um instante, experimentei a sensação de revê-las. Sonho de homem acordado.

O velho Pau d´Alho está irremediavelmente extinto. Mas todo mundo, nas redondezas da Onça, sabe da sua luta pela vida, do silêncio com que foi útil e foi belo, e da dignidade com que se entrega, só agora, neste ano da graça de mil novecentos e oitenta e três.
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(Publicada na FOLHA DE LEOPOLDINA, 2ª quinzena, setembro, 1983)

Lydio Machado Bandeira de Mello (Prof.)

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Setembro, 1983
(Foto: Internet)

O doutor e professor Lydio Machado Bandeira de Mello foi ex-diretor do Colégio Leopoldinense por algum tempo, e, seguramente, um de seus mais notáveis professores em todos os tempos. Em Leopoldina, lecionou também no Colégio Imaculada Conceição, tal como registrado neste Blog na biografia de Maria Machado Rodrigues, em cuja formatura, no ano de 1933, foi o professor Lydio o orador que procedeu ao encerramento da cerimônia de diplomação das formandas.

Detentor de vasta e consagrada bibliografia, grande filósofo e jurista, foi também professor universitário em Belo Horizonte. Empresta ele nome à "Biblioteca Lydio Bandeira de Mello", na Faculdade de Direito - UFMG, sita à Av. João Pinheiro, 100 - Centro, Belo Horizonte / MG.

Em 1950, quando ingressamos no primeiro ano ginasial, no Colégio Leopoldinense, o Prof. Lydio cumpria, possivelmente, seu último ano de magistério em Leopoldina. Não tive, pois, a felicidade de ser seu aluno. Minha mãe, formada normalista em 1930, para quem ele lecionara Português no Colégio Imaculada Conceição, guardou com cuidado e me passou a terceira obra do grande mestre, "No Templo da Sabedoria".

Numa livraria da Rua da Carioca, no Rio de Janeiro, encontrei a "Teoria do Destino", de 1944; e o advogado cataguasense, Dr. Galba Ferraz, ofertou-me, recentemente, a "Prova Matemática da Existência de Deus", uma edição da Gazeta de Leopoldina, de 1942. Faltam-me "O Problema do Mal", "Minutos de Meditação", "Responsabilidade Penal" e "A Procura de Deus".

Mestre do Direito ser ser exatamente um literato, Lydio foi acima de tudo um pensador vigoroso. Em Muriaé existe uma rua com seu nome. Em Leopoldina, nem rua nem praça.

Observem a alta ideia de Deus contida na alegoria que propõe para a gênese humana, na "Teoria do Destino", p. 55:

"A queda não foi um pecado, no sentido de ofensa pensada e voluntária a Deus: foi um ato de liberdade facultado por Deus. Deus deu a Adão e Eva a faculdade de escolher (reflexão e liberdade) e a possibilidade de escolher entre o Paraíso e a Terra. Escolhendo o Paraíso, o Homem teria escolhido o dom inferior da perfeição gratuita, adquirido sem esforço e, pois, sem merecimento; tendo escolhido a terra, o Homem caiu (degradou-se e degredou-se, temporariamente), porém não pecou; não ofendeu voluntariamente a Deus. Preferiu a miséria vencível das coisas imperfeitas unida à possibilidade de adquirir por si mesmo (isto é, pelo exercício da reflexão e da liberdade) a perfeição (e o Paraíso). Tornou-se, em verdade, o Filho Pródigo, a quem o Pai deixou que partisse e, depois, recebeu de braços abertos, com o mesmo infinito e inalterável amor."

Convenhamos, tranquiliza e é muito bonito!

Os dados biográficos que se seguem nós os extraímos da coluna “Ex-Diretores”, do jornal REENCONTRO, em sua edição de setembro de 1993.

Nasceu, o Prof. Lydio, em Abaeté em 19 de julho de 1901. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, em 1927. Iniciou a advocacia em Muzambinho (Sul de Minas), Professor Catedrático de Direito Penal na UFMG, professor de Aritmética, Álgebra, Geometria, Trigonometria, Matemática, Português, Direito Constitucional, Direito Civil, Técnica Comercial, Estatística, História Econômica e Administrativa do Brasil e Legislação Fiscal. Filósofo, autor do ensaio “The Biology of war and the Law of the peace”, considerado por americanos como o melhor texto filosófico de 1969, um dos brasileiros a figurar no “The International Who´s Who”, edição de 69/70, autor de 70 livros com 44 publicados e espalhados por 800 universidades do mundo.

Compõe um sistema filosófico que procura provar serem ontológicas as leis da Matemática pura “que, por conseguinte, nos levam (em sintonia com as leis da lógica formal) a um conhecimento do universo”. Nunca foi reconhecido no Brasil.

Em 1969 ele resolveu, por correspondência, um problema matemático sem solução no Japão. Nas aulas não admitia interpelações; aplaudia, na sala, sua linha filosófica, Platô e Visconde de Araguaia.

Foi professor e Diretor Técnico do Ginásio Leopoldinense, de 01.03.46 a 01.03.47. Iniciou em 06.05.42 uma série de artigos filosóficos, “Novos Minutos de Meditação, publicados no jornal quinzenal do Ginásio, o “Três de Junho”.

Por ocasião do lançamento de seu novo livro “Prova Matemática da Existência de Deus” dirigindo-se aos alunos do Ginásio, em outubro de 1942... “E, se alguém vos disser que Deus é apenas um sonho de nossa alma o qual não tem cabida na Ciência, respondei, com esse livrinho, que Deus é Quem dá existência e leis à nossa razão; que todas as ciências conduzem a Deus pela via direta de seus corpos de doutrina; que a afirmação provada da existência de Deus é o teorema supremo das ciências matemáticas”.

Faleceu em 30.09.84, vítima de insuficiência cardíaca congestiva, no Hospital das Clínicas em Belo Horizonte, tão desconhecido quanto sua obra filosófica.
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(Publicada no jornal REENCONTRO, de setembro de 1983)

Eloy é a melhor opção

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Setembro, 1982

Conterrâneos,
Certamente Eloy Rodrigues Neto já é seu conhecido. Aqui educou-se e sempre viveu. Trabalhador incansável, chefe de família, esse autodidata talentoso é, hoje, bem mais que um simples nome na extensa lista de candidatos a Prefeito.

Ele é nossa única opção de dar à cidade uma administração nova, moderna, planejada, sem repetir experiências que já não deram certo.
Escolhendo Eloy você oferece a Leopoldina rigoroso controle do dinheiro público; fim dos favorecimentos pessoais; inteligência na defesa dos interesses municipais; um homem de espírito público com disposição para o trabalho.

Eloy é contador e funcionário municipal; vereador em diferentes legislaturas; ex-secretário da Câmara Municipal; fundador da A.P.P.L.; um dos diretores do Leopoldina Malha Clube.
Homem bom, acostumado a conquistar seus espaços à custa de muito suor e sacrifício. Eloy pede nosso apoio sem o constrangimento daqueles que são os tradicionais “amigos da época de eleição”.

A crônica econômica e a história da Zona da Mata, situa Leopoldina entre aquelas áreas ainda ressentidas do declínio do ciclo cafeeiro ocorrido no início do século. É urgente rompermos esse marasmo! Mas só o faremos com gente disposta a trabalhar. Jamais com homens acomodados nos louros de suas conquistas pessoais, inteiramente desinteressados do mínimo que falta a outros conquistar.

Na pouca substância e baixa qualidade de certos políticos, perdemos a hegemonia da região. Perdemos uma fábrica de tecidos que empregava mil operários, com cerca de cinco mil dependentes; perdemos empregos indiretos que a indústria gerava; tivemos o comércio esvaziado. Deixamos de sediar indústrias; ficamos todos, enfim, a pagar pela falta de competência e imaginação de nossos dirigentes.

Eloy, com uma equipe de colaboradores competentes, devolverá a Leopoldina seus ideais de grande cidade. Assume o COMPROMISSO DE HONRA de perseguir, em todos os minutos de sua administração, os seguintes objetivos:
1- Criar maiores oportunidades de trabalho para o povo, mobilizando estímulos à instalação de pequenas e médias empresas que transfiram às famílias leopoldinenses, pela via do emprego, benefícios fiscais e das linhas crédito bancários específicos;
2- Tratar, em regime de prioridade absoluta, os problemas ligados a ESTRADAS e às ESCOLAS MUNICIPAIS;
3- Obter do governo estadual solução junto ao B.D.M.G. para o vergonhoso problema da ex-Fábrica de Tecidos, hoje INTERTEX, ainda que essa solução reclame providências judiciais drásticas;
4- Instalar rede de esgotos e água nos bairros carentes como Quinta Residência, Bela Vista, Bandeirantes, Três Cruzes, Pinguda e outros, onde a falta de esgotos expõe a população ao risco do Tifo e da Xistossomose.

Este é o desafio que ELOY RODRIGUES NETO assume com firmeza inabalável de quem jamais fracassou. Metas para o trabalho de quem não quer a Prefeitura como prêmio, mas como contrato de prestação de serviços ao eleitor.
Um contrato que se pretende honrar sem o favor da segunda chance e sem a humilhação da “repetência”. Conterrâneo, fique com o mais capaz.
ELOY PARA PREFEITO!
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Publicada na FOLHA DE LEOPOLDINA, 1ª quinzena, setembro, 1982.

“Inside my mind...”

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Abril, 2011

O fantasma da ópera brasileira é a inflação. Quando o presidente do Banco Central confessa que este é o assunto recorrente nos encontros de banqueiros e centrais, o sinal é de que a coisa realmente anda assustando. O ministro Guido Mantega não nega o perigo, entendendo que “devemos usar todas as armas possíveis contra a inflação, sejam monetárias ou fiscais", mas vê no fenômeno do aumento dos preços uma tendência internacional, perfeitamente identificável em países importantes como, Reino Unido, Índia e China.

Ou seja, em outras importantes “Operas House” há também espectros nos bastidores. Pessoas entendidas acham que nosso medo não deve ser menor por isto. Elas podem estar certas. Reincidência inflacionária no Brasil apavora tanto como reincidência na dengue; periga vir agravada na forma hemorrágica. Principalmente porque nossa cultura de pouca fé na moeda ainda é muito presente. Exemplo diuturno dessa desconfiança está em que, passados dezessete anos de saúde monetária com o Plano Real, ainda não se escreve neste país um único contrato de locação de imóvel, residencial ou comercial, onde não apareça o valor do aluguel vinculado a índices oficiais.

A coisa é feia. Nem psicanalista dá jeito no pavor que brasileiro tem de ver o dinheiro virar pó em seu bolso. Foram longos anos de condicionamento inflacionário: inflação de custos, de demanda, inflação inercial. Tudo junto! Difícil esquecer, por exemplo, que entre fevereiro de 1989 e março de 1990 a desvalorização do dinheiro alcançou a estratosfera de 86% ao mês, equivalentes a 2.751% ao ano. Dá pra imaginar o trabalhador chegando ao fim do mês com o poder de compra de seu salário reduzido a 14% do que representava trinta dias antes?

Antes de esvair-se no bolso das pessoas, a moeda vira batata quente. Começa a ser trocada por tudo que aparece pela frente: moeda estrangeira, boi, lote, casa, apartamento, sítio, automóvel, títulos públicos indexados, certificados de depósitos indexados, ações da “Merposa”... Sem falar, mas já falando, das letras de câmbio, nas financeiras dos pilantras chegados a fugir com a mala.

Na realidade, as condições de hoje não são aquelas. Demanda inflada em bens e serviços não será algo assim tão maligno, e nós precisamos acreditar na vigilância do governo. Não dá para pensar naquela coisa horrorosa de comprar dólar no câmbio negro para guardar em casa e em toda aquela loucura. Menos ainda quando se sabe que a turbulência é mundial. O planeta se acomoda às adaptações e retoques que a presença incisiva da China impõe à ordem econômica. Exorcizemos o pessimismo.

Mas, pelo amor de Deus, presidenta Dilma! Ministro Guido Mantega! Presidente do BACEN, Alexandre Tombini! O Brasil seria um paciente grave na doença inflacionária – claro que vocês sabem. Já sofreu desse distúrbio, ficou péssimo, submeteu-se a transplantes de papel, colocou ponte de URV. É cachorro “ofendido” de cobra. Escondam as linguiças para não tresloucar o Fila inconfiável.

Podendo, arranquem do economês um bom sinônimo para “inflação”. Ninguém, neste país, tem condição psicológica de, sequer, ouvir tal palavra. O fantasma inercial oprime nossas mentes.

Se existem países importantes que suportam, de forma tranquila, alguma desvalorização em suas moedas, não nos servem de exemplo. Nosso caso é de grave predisposição psicológica ao pânico. Temos que defender, se preciso na porrada, as metas inflacionárias. Nem que seja preciso escalar zagueiros e goleiros para todas as diretorias do Banco Central.
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(Publicada em 28.04.2011 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Corte de Cabelo em Muriaé

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1962

A história é de um menino de doze anos que, criado na roça, desconhecendo a maior parte dos hábitos e coisas da cidade, vai vencendo a duras penas as dificuldades de seu novo habitat, quando atirado à vida urbana. No caso, uma justificativa esfarrapada para uma pequena gafe.

Aconteceu na primeira vez que procurei um barbeiro na cidade. Não sei da boca de quem teria eu ouvido a palavra “desbastar”, significando o rebaixamento do cabelo sobre a cabeça. O certo é que não a ouvi direito.

Deu-se assim que, estando a passar férias na casa de minha tia na cidade de Muriaé, recebi ordem de cortar o cabelo. Até então, só o fizera na barbearia do Bonin, na Boa Sorte, da forma mais simples imaginável, tendo muitas vezes gritado de dor em minha cadeira, em momentos em que o corte parecia assumir a forma de tortura por parte do barbeiro. A máquina velha – do bondoso Antonio Bonin - embolava o cabelo, arrancando-o impiedosamente e sua velha navalha de “fazer o pé” do cabelo, bastante cega, abria atrás de minhas orelhas doloridas incisões a frio...

Agora estava em Muriaé. A barbearia ficava no Largo da Barra, a pouca distância da casa de minha tia, de sorte que o barbeiro era conhecido do meu tio, sabia que eu era da cidade vizinha, de Leopoldina, e decidiu puxar assunto.

- “Como é? Aquele timezinho ruim lá da tua cidade, que vergonha, hem! Veio aqui e levou de quatro a zero do Paulistano.
Não sabia não senhor...
- Como não sabia? Querendo negar a raça?
Não senhor. Eu não sabia mesmo. Aliás, nem conheço o time que aqui esteve. Nunca vi o RJ, de Leopoldina, jogar. Moro na roça...

-Hã, muito bem...e o cabelo, como vai querer?
“Príncipe Danilo”, mas o senhor pode “abastecer” bem aqui em cima.
-Abastecer?
Isso mesmo. Eu gosto do cabelo bem “abastecido” em cima.
-Meu filho, penso que você está querendo dizer “desbastar”. O que abastece é automóvel. Chega na bomba de gasolina e diz: “Abastece aí!” É quando abastecem, colocam gasolina no tanque... Cabelo não abastece. Cabelo se desbasta, rebaixa, entende?

Bom, talvez o senhor tenha razão, aqui em Muriaé; porque em Leopoldina todo mundo pede para abastecer o cabelo.
Pode acreditar. Lá nós falamos ABASTECER.

Era natural que, àquela altura, os dois fregueses à espera estivessem segurando o riso para não encabular o garoto. Ele já estava encabulado. Ao final do corte dispensei a escova derradeira dizendo que pronto tomaria um banho e, sem olhar para trás, procurei ganhar distância do local.

Sem dúvida que meu “fora” provocaria risos às minhas costas e eu estava longe de desejar ouvi-los. Nas muitas férias seguintes, sempre passadas na casa de minha tia, em Muriaé, não me lembro de ter voltado àquela barbearia da Barra.
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quinta-feira, 21 de abril de 2011

Passas ao Rum

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Abril, 2011


Quando o calor do Rio de Janeiro se fizer insuportável, peçam sorvete de “Passas ao Rum” em minha homenagem. Estou, sim, parodiando súplica de um famoso maestro quando pediu, para suas exéquias, tocassem Mozart em sua homenagem. A combinação não é má. Mozart e “Passas ao Rum” sempre me caíram bem, em conjunto ou separadamente.

Só não dava para imaginar que o delicioso sorvete, tão caro ao meu paladar, pudesse um dia enredar alguém com agentes da “Lei Seca”, no Rio de Janeiro. É o que acredito tenha acontecido com meu querido ex-governador e senador, Aécio Neves. Foi o que, no último fim de semana – deu nos jornais.

Fazia madrugada alta no Leblon − horário em que por aquelas risonhas paragens só os muito virtuosos soem exalar hálitos edificantes − quando os agentes da lei, postados na Av. Bartolomeu Mitre, entenderam de solicitar ao senador Aécio uma assopradinha no, lá deles, “bafômetro”. (Quem terá cometido o despropósito inaugural, meu Deus, de escrever este palavrão sem aspas!)

Ora, o bom mineiro, encantoado, garrou a maginá com seus botões:
– Essa geringonça não mede bafo coisa nenhuma; mede é “o que vai” no bafo, e eu acabei de tomar um sorvete de “Passas ao Rum” com minha gata; se assopro esse treco pode acusar apenas o rum, omitindo as passas. Comprometo não apenas minha imagem de político, mas minha imagem de político jovem. Vão espalhar que fui pego sob efeito daquele coquetel antiquíssimo chamado Cuba Libre... Perderei votos jovens, por careta, e votos circunspetos, por irresponsável. Tudo por obra de uma casquinha de sorvete! É injusto.

Foi quando o sóbrio herdeiro de Tancredo optou por não soprar naquele trem, saindo com a desculpa que primeiro lhe acorreu, “da justa recusa uma vez constatado o vencimento do documento de habilitação e providenciado outro motorista para condução do veículo"...

Infelizmente é assim: no afogadilho da abordagem súbita, a pessoa mal percebe que a verdade-verdadeira seria a melhor escolha.

– Sr. Guarda, a vida, ultimamente, tem me levado a servir-me de motoristas contratados, pelo que a pouca serventia de minha habilitação levou-me ao descuido com seu vencimento. Quanto à prova que o senhor me pede, desejo prevalecer-me do direito de não fazê-la, pois acabo de tomar – com minha namorada, aqui presente − um sorvete de “Passas ao Rum”, o que, inofensivamente, nos deixa com  hálitos suspeitosos.

Ou ainda:

– Sr. Guarda, há três minutos atrás, tomamos um drinkezinho ali no Bracarense, aqui mesmo no bairro, e, inteiramente seguro dos meus sentidos, tomei a direção do carro. Sei que é ilegal, mas meu prédio fica tão próximo que resolvi assumir a responsabilidade. O senhor pode cumprir o seu dever.

Em suma, o senador procurou afeiçoar a verdade à circunstância imprevista, mas não é o caso de crucificá-lo por isto. Os próprios policiais foram claros ao dizer que o “condutor da viatura” não apresentava sintomas de embriaguez. Ora, sempre foi a suspeita de embriaguez que autorizou o teste de alcoolemia, segundo o Código Nacional de Trânsito. Se não havia tal suspeita, o teste nem teria o que os advogados chamam de “conforto legal”. 

O fato é que o senador se submeteu à abordagem como qualquer cidadão humilde, em momento algum procurando valer-se de sua condição para subornar ou intimidar os agentes do trânsito. Pagará a multa devida e pagará, certamente, dividendos à maledicência.

Acontece às melhores pessoas.


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(Publicada em 21.04.2011 no Globo Online, Blog do Noblat/Maria Helena/)

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Realengo nosso de cada dia

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Abril, 2011


Muito do que poderia ser dito sobre a tragédia do Realengo já o foi. Como seria natural, não resultaram poucas propostas emocionadas de medidas para que a situação não se repita. Compreende-se. O episódio deixou o país em estado de choque.

Ocorrem, entretanto, a todo momento, outros tipos de chacinas igualmente covardes contra crianças, no Rio, em São Paulo, em Belo Horizonte, em cada grande cidade e até nos pequenos arraiais deste imenso Brasil. São as chacinas perpetradas por traficantes, com a venda do crack a menores. Eles estão matando meninos e meninas da mesma idade das que morreram pelos dois revólveres do louco de Realengo. A diferença é que as mortes pelo crack, embora em maior número, são lentas e dispersas no espaço geográfico do país, não produzindo impacto emocional.

Nosso bom Ministro da Justiça pensa numa campanha pelo desarmamento para tirar armas de fogo das mãos dos perturbados. Tenho dúvida. Nos Estados Unidos, onde esse tipo de crime é mais comum, ainda não tocaram na tal Emenda nº2 da Constituição deles, que permite a todo cidadão possuir arma de fogo.

Além do que é muito duvidoso que um doido, capaz de premeditar seu crime com a minuciosa antecedência que o ex-aluno Wellington, da Escola Municipal Tasso da Silveira, premeditou, vá abortar o desatino por falta de arma. Com ou sem proibição ele conseguirá a arma. Não há como obstar, em medidas prévias, a ação de um louco imanifesto.

A brutalidade do crime do Realengo nos atordoa e até nos diminui como seres humanos. Não podemos, todavia, deixar de considerar que todos os dias, a cada instante do dia e da noite, aquele outro tipo de aniquilação física e morte é imposto às nossas crianças, nas imediações dos colégios, nas conduções, nas esquinas, e até nos passeios organizados pelos Colégios.

Um rapaz de 30 anos, do Rio de Janeiro, revelou-me que sua primeira experiência com droga, aos 15 anos, foi numa excursão a São Paulo, quando o time de vôlei do colégio dele, foi jogar contra colégio de lá. Rolou droga, à noite, no alojamento dos visitantes.

Penso como o Governador do Rio quando considera o Sargento Márcio Alves, autor do disparo que atingiu Wellington, um herói. Principalmente porque, no momento crítico, ele escolheu atirar nas pernas do assassino, não atirando para matar. Agiu assim no estrito limite de seu dever legal, com absoluta eficiência, inteligência e equilíbrio.

Só lamento que nossas leis não estimulem a ação de outros heróis, do porte de um Sargento Márcio, atuar com igual empenho e desenvoltura nas bocas-de-fumo assassinas, espalhadas por todos os recantos deste país. Nelas são todos assassinos cruéis, com nomes conhecidos, endereços, “locais de trabalho” fixos e bem divulgados – pois se assim não fosse os viciados não teriam como chegar ao “bagulho”.

Arrisco até um conselho ao respeitável Sr. Ministro da Justiça – imaginem a insolência! Não alcanço os calcanhares do Dr. José Eduardo Cardozo, homem de notável experiência e preparo.

Nós precisamos arrancar do Legislativo uma lei séria, exemplar, incisiva, que faça do tráfico de drogas um “péssimo negócio”. Sim, porque enquanto for “bom negócio” não vai acabar. Tenho convicção de que uma boa lei possa tornar esse crime não compensador.

Com todo respeito às famílias das vítimas recentes, descreio de remédios legislativos para dissuadir doentes mentais. Já com os negociantes de drogas é diferente. São “negociantes” que investem numa atividade ilícita e terrivelmente danosa. Contarão até dez quando já não tiverem impunidade assegurada.

O país compreenderá a oportunidade e a pertinência de uma lei severa em tal sentido. Enquanto a lei não vem, busquemos junto ao SUS tratamento específico para dependentes químicos, proporcionando-lhes internações, inclusive de caráter involuntário, de sorte a que famílias pobres tenham como evitar a morte de seus jovens adoecidos. Sem internação involuntária (Instituição fechada) e tratamento especializado, é impossível salvar viciados em crack.


Isto é muito sério e urgente!

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(Publicada em 14.04.2011 no Globo Online, Blog do Noblat/Maria Helena/)


sexta-feira, 8 de abril de 2011

Pais e Filhos

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Abril, 2011

O noticiário desses dias registrou um caso incomum. Lauro Borges, cidadão de Botucatu, SP, ligou para o serviço de emergência da Polícia Militar de sua cidade pedindo para ser preso. A polícia, que não existe para efetuar prisões a pedido, informou que Lauro Borges carrega antecedentes criminais, mas “queria ir para a cadeia para ficar com seu filho, detido na semana anterior por extorsão e roubo de celular”. Ou seja, conhecedor das indignidades carcerárias o pai desejava ir para lá proteger o filho.


Tanto assim que, diante da recusa da polícia a prendê-lo sem motivo legal, tratou logo de fornecer um. Pegou o automóvel, saiu para rua, e o arremessou contra a primeira viatura policial que viu estacionada. Levado à delegacia, procurou garantir ainda mais sua prisão dirigindo palavrões aos policiais. Conseguiu o que queria: foi preso em flagrante delito por embriaguez ao volante, dano ao patrimônio público e desacato.

Se a polícia não fizer o favor de levá-lo para casa de detenção diversa daquela em que está seu filho, o moço estará a salvo de estupro e outras violências.

Este drama real me chamou a atenção porque a vida já me oferecera uma edição inversa da mesma situação. Ou seja, um filho extremoso engendrando fórmula – no caso, lícita – de estar no presídio na companhia do pai, condenado. Vejam só.

Na localidade mineira de Cruz da Ponte – lá se vão uns quarenta anos – certo chefe de família, trabalhador e honrado, teve a infelicidade de ver-se responsabilizado pela morte de outro ser humano que o destino, aleatoriamente, lhe colocou no caminho. Trocando em miúdos, um homem bom teve a desventura de tornar-se assassino de um homem mau. As circunstâncias que levaram o homicida ao homicídio não vêm ao caso.

Sentado ao lado da mãe no Tribunal do Júri, o filho do réu, rapazinho de 16 anos, ouviu os duros – embora justos – termos da sentença que privaria seu pai da liberdade por longo tempo. Terminado o julgamento, ainda com a mãe, seguiu a escolta do preso pelas ruas do pequeno lugarejo até o presídio onde o carcereiro trancafiou seu pai numa cela.

Observou o rapaz que naquele momento os detentos almoçavam e outro jovem, que prontamente reconheceu, aguardava num banco do corredor a devolução das marmitas vazias. Concluiu, num átimo, que a pensão de Da. Júlia, mãe do garoto, fornecia as refeições dos presos. 

No dia seguinte, bem cedo, o filho do condenado da véspera, dirigia-se à pensão de Da. Júlia para oferecer-se, gratuitamente, a levar as marmitas dos presos. Nada escondeu da boa senhora: seria aquela uma maneira de estar com seu pai todos os dias... Ela nada precisaria pagar.
– E suas aulas, meu filho, como ficam?
– Hora do almoço, Da. Júlia, haverá tempo de sobra e eu tenho uma bicicleta.

Assim aconteceu. Durante todo tempo de custódia do pai, raro foi o dia em que o filho com ele não estivesse, levando-lhe as refeições.

Deu-se, ao mesmo tempo, que muito simpático e prestativo o “menino das marmitas” acabou por fazer amizade com os funcionários da detenção, os quais passaram a solicitar-lhe pequenos serviços burocráticos nas horas vagas. Aprendeu a lidar com processos, datilografar, ir a Cartórios, frequentar o Foro etc. Tomou gosto por tudo aquilo e, na vez de optar por um curso superior, não teve dúvida: seria advogado.

É como a história termina. Graduado em direito, a inteligência e o estudo fizeram dele um grande jurista, um autor respeitável. Não o vejo há anos, senão pelos livros que publica. Tenho dúvida se o pai ainda vive, mas certamente terá cumprido uma pena bem menos sofrida que a prevista na sentença. 

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(Publicada em 31.03.2011 no Globo Online, Blog do Noblat/Maria Helena/)

terça-feira, 5 de abril de 2011

José Alencar

*** Março, 2011

Sob pena disto aqui nada ter a ver com Conversa Mineira, convém falar da morte do mineiro José Alencar Gomes da Silva. Claro que, tendo desconfiômetro, devo falar pouca coisa, pois o homem foi vice-presidente da República por dois mandatos consecutivos e tudo que pudesse ser dito sobre ele a grande imprensa do país já registrou.

Falo então da minha admiração pessoal pelo homem de negócios e depois político, José Alencar, nascido pertinho da minha Leopoldina, MG, num pequenino arraial denominado Itamuri, pertencente ao município de Muriaé, Zona da Mata Mineira. Um cidadão simples de uma singela localidade interiorana que acaba de dar aos brasileiros um verdadeiro curso intensivo de como morrer com dignidade, sem medo e quase com alegria.

Alencar começou a trabalhar aos sete anos de idade, na loja do pai. Logo depois foi ser balconista, como empregado em casa comercial de Muriaé e, aos dezoito anos, já abria seu primeiro negócio em Caratinga, cidade 170 km acima de Muriaé, com promissoras condições de desenvolvimento na época. Sua primeira loja em Caratinga se denominou “A Queimadeira”.

Alguns homens desde cedo revelam faro para os espaços onde o dinheiro corre ou passará a correr. Por aqueles tempos a região de Caratinga ostentava um comércio em ascensão, sobretudo na produção de feijão e milho, passando ainda por um importante ciclo do café. O moço do comércio, José Alencar, deve ter visto que o lugar de ganhar dinheiro seria aquele.

Mas eis que, no fim dos anos 50, com o falecimento de um irmão, as melhores oportunidades já estariam em Ubá, MG, para onde se mudou e assumiu a direção da “União dos Cometas”, empresa atacadista de tecidos. Criou a marca de camisas, Wimbledon, com a qual pretendeu homenagear a tenista, Maria Ester Bueno. Todavia, depois de assistir à Copa do Mundo da Inglaterra, optou pela denominação do portentoso Estádio de Wembley – conforme explica seu sócio ubaense, Antonio Luciano da Costa. Ficariam famosas no país as camisas da marca Wembley.

José de Alencar tornou-se, definitivamente, um vencedor no campo dos negócios em Minas, construindo um verdadeiro império no ramo têxtil, liderado pela gigante Coteminas, em Montes Claros, município incluído no chamado Polígono das Secas.

Sua trajetória na vida pública inicia-se pela presidência da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais – FIEMG e vice-presidência da Confederação Nacional da Indústria. Foi senador por Minas em 1998, vice-presidente da República em 2003, reeleito para o mesmo cargo em 2006. A partir de novembro de 2004, e até março de 2006, acumulou a vice-presidência com o Ministério da Defesa.

O convite a Alencar para compor a chapa petista à presidência da república, em 2003, visou, como se sabe, agregar aceitabilidade à figura ainda pouco confiável do sindicalista Lula, no meio empresarial e nas classes mais conservadoras. Coincidentemente, o abastado empresário a avalizar o operário carregava uma história de vida quase tão heróica quanto a do torneiro mecânico.

Também Alencar não procedia das elites nem primava por grande cultura formal. Lula foi um operário que chegou à presidência da república sem jamais ter sido patrão. José Alencar foi menino de arraial, balconista, dono de loja, dono de atacado, dono de indústria, senador e vice-presidente da República. Um homem simples, comunicativo, alegre, mineiro típico, um cidadão exemplar. Na observação perfeita do ministro Ayres Britto, “um homem que ganhou o mundo sem perder a alma”. Diríamos, um homem fadado a não morrer completamente.

Nossos sentimentos à família Alencar.

₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪ (Publicada em 31.03.2011 no Globo Online, Blog do Noblat/Maria Helena/)