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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Bar do Caçapa

s

***
As coisa acontece, os fato se passa, mas ninguém se toca,
Ninguém se apercebe, num bota sentido
E esse boteco abarrota !

*******
Magina que o Néca, foi daqui com uns pobrema, de ingerir carne assada,
Tá com azia, gastura, arrilia nos dente
E as ideia, completamente abalada.

*******
Falemos pra Glória, que tá ficando com ele, ela tá arrasada,
Diz que uns dias pra cá o Néca na cama, coitado,
Também num dá nada.

*******
Mas o culpado é o Caçapa, que num faz sepicía, jamais neste bar,
É ratazana, é mosquito, percevejo, barata,
Urubu vai baixar.

*******
Afora os micróbio, que a gente num enxerga mas sabe que existe,
Ninguém lava as mão, a cozinha é um lixão,
"W C", que fedô, coisa triste!

*******
Mas Caçapa faz graça, diz que certas doença, são coisas da vida:
-"Vaca veia a palito, muitas vez num combina
Com certas bebida..."

*******
Mas num falaram pra ele que as questã de saúde
Costuma dá cana,
A fofoca tem asa, eles fecham esse bar
E nóis, ó! , que se dana.

*******
Pe-la-môr-de-Deus, Caçapa, faz faxina semanária
Que eu trago sabão, aguarrás, creolina
E a água SOLITÁRIA ...

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JC, 29/12/99
Letra: josé do carmo
Música: roberto souza
Performance: roberto souza


Morar na Roça #

***
Setembro, 2010

É mesmo, amigo? Cansado de morar num grande centro? Violência, arrastões, engarrafamentos, pouca comunicabilidade entre as pessoas, custo de vida alto... Tem razão. Aliás, você sempre alimentou aquele sonho antigo de um dia voltar para sua terra, não é verdade? Reciclar antigas amizades, assuntar aquela arquitetura bonita do colégio onde você estudou e, quem sabe, até dar um pouco de si à província, à sua gente. Não é isto?

Pois bem, a hora é boa. Aposentado, com a vidinha nos trilhos, não vai querer ficar aí na metrópole jogando damas com a terceira idade na pracinha do bairro, vai? Nada disto! Sua terrinha está de braços abertos. É uma tranquilidade que só vendo! Você vai ganhar “anos” de vida lá na frente. E olha que, em nossa faixa etária, o “lá na frente” está cada vez menos “lá”...

Aqui no interior você anda tranquilamente pelas ruas com calças folgadas, bolsos largos, sem nenhum risco de virar “otário de trombadinha”. E não pisa em cocô de cachorro. Pouquíssimas pessoas levam totó pra passear na rua porque as casas têm quintais e os poucos moradores de apartamento - opção da alta classe média - costumam ter sítios onde os cães vivem soltos.

Venha pro mato, ô cara. Ar puro, noites calmas, plenilúnio! Temos noites, amigo, de céu tão limpo - mas tão limpo! - que o planeta vênus fica quase do tamanho da lua. Um pescador me disse que certa noite o viu duas vezes maior que a lua... Maravilha das maravilhas! E a constelação do Escorpião! Alguma vez, na cidade grande, você já viu a beleza que é a constelação do Escorpião, quase palpável, mística, pouco acima da sua cabeça?

Temos tudo no interior. Internet banda larga, TV a cabo, transporte rápido e confortável pra todo lado. Escute esta: Aqui no interior de Minas, a mais de duzentos quilômetros do Rio de Janeiro, tenho um vizinho que é comandante de Boeing. Faz o voo, Los Angeles - Tókio! Quando ele atravessa o Pacífico para lá e volta para cá, soma tantas horas de vôo que “é obrigado”, por lei, a ficar em casa uns vinte dias sem voar... Resultado: é nosso tecladista numa banda de Rock.

Não é que o interior também não tenha lá seus probleminhas. Ah, isso tem. Nada é perfeito, não é mesmo? Ao chegar aqui, vão insistir demais para você entrar para o Rotary, para o Lions ou para a Maçonaria. Será uma noite a menos na sua semana, mas uma boa oportunidade para você ser útil à comunidade e ainda conhecer pessoas interessantes.

Outro probleminha é o hábito interiorano do almoço às onze da manhã. Fecha tudo! Essa fome matinal dos conterrâneos faz com que nós, aposentados que temos “muito sono de manhã”, só tenhamos a parte da tarde disponível para ir ao comércio. Mas quem disse que viver “meio expediente” é ruim? É nada.

Agora, coisa muito chata é ver nossa idade estampada no rosto dos colegas. Acostumados com nossa imagem no espelho, mal viemos dando conta do estrago. A cara atual dos amigos da adolescência nos devolve essa incômoda realidade. Fazer o quê? É a vida.

Ah, sim! Por falar em vida, previna-se. A vida no interior é pródiga em velórios. Sabe como é, né, terra natal, todo mundo se conhece... Não há uma única semana sem o “passamento” de alguém.

Em minha cidade o cemitério fica numa colina visível de vários pontos. Olhou para lá, carros no estacionamento, não dá outra... Noventa por cento de chance de ser gente conhecida. Cadê meus óculos escuros?

Uma encrenca a mais é o “precinho” das coisas... No interior, preço é para ser discutido. No início pensei que fosse sovinice, pão-durismo. Depois me convenci de que é falta de assunto, mesmo. Ninguém diz: isto custa tanto. Preferem a fórmula: “Pra você, vou fazer por tanto”... Tudo bem, se ficasse por aí. Mas não fica porque há uma convenção não escrita segundo a qual aí deve começar a pechincha. Cuidado, pois, se estiver sem tempo ou sem saco para discutir preço: vão considerar você um “nouveau riche”, soberbo e exibicionista. Bata o pé. Diga que está caro! Peça “diferença”.

Ah, ia me esquecendo. Evite soberba quando for pagar com cheque. Peça ao comerciante para depositá-lo dois ou três meses à frente. É da praxe. Mais uma forma velada de demonstrar humildade, modéstia.

Mas não se assuste. Em pouco tempo é você que estará amarrado nessa vidinha. Imagine que, há dias, viajando ao Rio de Janeiro observei do alto de Teresópolis uma densa nuvem de gases e fuligem cobrindo toda a baixada fluminense e a Cidade Maravilhosa. Apenas o Cristo Redentor flutuava do Corcovado sobre o enorme lençol de névoa cinza. Pensei: - Meu Deus, o que vou eu fazer debaixo daquela estufa! A vontade  era voltar, mas já estava embicado serra abaixo e, como dizem, "para baixo todo santo ajuda".
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Publ. em 30.09.2010, em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/

domingo, 26 de setembro de 2010

Padre Antonio José Chamel

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Dezembro, 2005

De uma palestra para seminaristas diocesanos, proferida por Pe. Francisco Faus, Doutor em Direito Canônico pela Universidade de Barcelona, extraímos este prólogo:

“No dia da Ascensão, Cristo coloca os Apóstolos - os primeiros instrumentos vivos de Cristo sacerdote - em frente ao mundo, e os lança a ele, dizendo: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado [...] Os discípulos partiram e pregaram por toda a parte. O Senhor cooperava com eles e confirmava a sua palavra com os milagres que a acompanhavam.” (Marcos 16, 15-16.20).

Esta é, sobretudo, a vocação dos sacerdotes seculares. Não é a vocação do monge, afastado do mundo, vocação sem dúvida alguma necessária e admirável, mas diversa da nossa. Por isso, é importante que os sacerdotes seculares (e também, neste ponto, os religiosos de vida apostólica e missionária, que trabalham no século) vejamos o mundo − que é o nosso campo − como Cristo o vê, com os olhos de Cristo.”

Temos entre nós alguns desses homens particularmente especiais, lançados por Deus ao mundo, a espreitar e a edificar sobre a terra com os olhos do próprio Cristo. Um deles, sem dúvida, é o nosso muito querido e muito amado pelos leopoldinenses, Padre Antonio José Chamel.

No dia 8 de dezembro de 1956 o primeiro Bispo da Diocese de Leopoldina, o legendário Dom Delfim Ribeiro Guedes, ordenava Sacerdote àquele jovem religioso que viria a ser, hoje, o boníssimo Monsenhor Antonio Chamel.

Padre Chamel, como costuma ser carinhosamente tratado na cidade, é membro de uma família exemplar composta de pai, mãe e cinco filhos. Nasceu no dia 29.01.1934, na cidade de São Geraldo, MG. São seus pais o Sr. Chamel José e Da. Gurra Habibi José, sendo ele o irmão mais moço do inesquecível mestre em História (do antigo Colégio Leopoldinense), escritor, historiador e membro da Academia Mineira de Letras, Professor Oíliam José. Conta, ainda, o Padre Chamel, os irmãos Miguel, Judith e Júlia.

Criado em família muito católica, vieram de sua mãe e de seus irmãos os primeiros exemplos de vida religiosa, recebidos. Era hábito da família rezar o terço de Nossa Senhora todas as noites e, um dos marcos mais importantes de sua existência – ele afirma – foi a Primeira Comunhão, momento a partir do qual passou a comungar todos os dias, acompanhado de sua mãe, que tinha o hábito da comunhão diária.

O Curso Primário ele o fez em Visconde do Rio Branco e, com apenas onze anos de idade, iniciou seus estudos no Seminário Menor de Mariana. Naquele Seminário cursou o ginasial e o segundo grau. Também no Seminário Maior de Mariana, cursou Filosofia e Teologia ao longo dos seis anos.

O nosso querido Padre Chamel está em Leopoldina desde 09 de março de 1957 e aqui sempre residiu desde o ato de sua ordenação. Já em 1957, em seu primeiro ano de sacerdócio, iniciou sua carreira de educador, no Seminário Menor Nossa Senhora Aparecida, que funcionava no atual prédio do Centro Pastoral Dom Reis. Em março de 1967 passou a também lecionar na Escola Estadual Professor Botelho Reis, educandário em cujo corpo docente permaneceu até o final do ano de 1991, quando aposentou-se do magistério.

Conta o Padre Chamel 49 anos de exercício constante do sacerdócio, atendendo por vários anos a Paróquia de Piacatuba, à qual está ligado há 30 anos, trabalhando na Igreja sede e nas quatro capelas filiais.
Como capelão do Asilo Santo Antonio, de Leopoldina, ali celebra missas há 27 anos.

O Padre Chamel ama esta nossa Leopoldina, que também é muito dele – e não apenas de coração – porque desde 09 março de 1990 tornou-se portador do título de Cidadão Leopoldinense, em merecida homenagem que lhe outorgou a Câmara Municipal.

Em sua longa jornada sacerdotal nesta Diocese de São Sebastião o Padre Chamel trabalhou com os 6 (seis) Bispos que passaram por Leopoldina. Gostou, indistintamente, de todos eles.

Entre os vários cargos que ocupou destacam-se os de Reitor e Ecônomo do Seminário Menor Nossa Senhora Aparecida, Professor do Seminário Menor Nossa Senhora Aparecida, Professor na Escola Estadual Professor Botelho Reis, Chanceler e Ecônomo da Diocese de Leopoldina, Pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário em Leopoldina, Pároco de Piacatuba, Administrador Paroquial das Paróquias de Angustura e de Santo Antonio do Aventureiro.

Sacerdote piedoso e culto, o Padre Chamel enfatiza que o que mais gostaria que acontecesse em Leopoldina seria ver o triunfo da mensagem de Cristo aceita como caminho natural e vida dos cidadãos e que a fé cristã pudesse ser partilhada pela maioria do povo. Eleva suas orações a Deus para que todos possam encontrar trabalho e o pão de cada dia. E que a chaga do desemprego desapareça de nossas vidas, impondo-se, sob a vontade suprema do Criador, o fim do medo, da insegurança e do egoísmo.
Para nós, leopoldinenses, Padre Chamel é um autêntico Padre da Igreja, no sentido que se davam àqueles grandes homens da Igreja que firmaram os conceitos da nossa fé, e enfrentam, hoje, as muitas dificuldades de um mundo em vertiginosas transformações de costumes e que se mantém fiéis e responsáveis pelo que chamamos de Tradição da Igreja.
Um mestre e um soldado da fé a reafirmar-nos a cada dia, com sua postura simples, piedosa e dedicada, as mensagens que Jesus nos legou através dos Apóstolos.
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(Publicada no jornal LEOPOLDINENSE de dezembro de 2005)

sábado, 25 de setembro de 2010

Tomógrafo

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Maio, 2006

Nada mais desejável do que residir numa cidade onde se disponha de todos os recursos tecnológicos na área de saúde. Nessa ordem de idéias, tudo o que puder ser adquirido para equipar nosso Hospital, Clínicas, Consultórios Médicos, etc., é mais do que bem-vindo.

Esta é uma realidade que prevaleceria absoluta se, paralelamente, não se impusesse uma outra que se revela avassaladora: A VIABILIDADE. Ou seja, não adianta gastar-se dinheiro com o que é desejável quando o desejável não é viável. Qualquer administrador com alguma experiência sabe disto, até por intuição. Dito isto, gostaríamos de falar diretamente do Tomógrafo da Casa de Caridade Leopoldinense.

É claro que Leopoldina, por onde passa a BR-116, uma Rodovia Federal de alto tráfego e muitos acidentes precisaria dispor de um Hospital modernamente equipado para atender a acidentados em todos os graus, principalmente vítimas de traumatismo craniano, cuja urgência cirúrgica quase sempre equivale à própria chance de salvamento de vidas. E a excelência na área neurológica começa pela existência de um Tomógrafo. Nada há de errado, portanto, em desejarmos possuir um Tomógrafo na CCL.

Naturalmente, todavia, a propriedade e operacionalização deste sofisticado e caríssimo aparelho implica em despesas que precisam estar equacionadas. Há que contratar médico radiologista, especializado na emissão dos Laudos Tomográficos e há que contratar técnico radiologista especializado em operar Tomógrafo.

Mas isto ainda não é tudo. Pouco adiantam os laudos tomográficos se não houver neurologista que os possa avaliar e neurocirurgião, combinado com a existência de um Centro Cirúrgico devidamente equipado para cirurgia de maior complexidade, nos casos em que houver indicação de cirurgia neurológica.

Juntando-se a tudo isto os recursos financeiros que tal aparato demanda - disponibilidade de verbas consideráveis para a manutenção do sofisticado aparelho - a conclusão a que se chega é que a CCL simplesmente não tem como manter um Tomógrafo. Ele poderá levar o Hospital à ruína.

Um Hospital que nem sempre tem “caixa” para antibióticos e ataduras não tem condições mínimas de bancar a operação de um Tomógrafo, numa cidade onde não há “escala” de utilização compatível com o custo operacional do aparelho. Sem o credenciamento do SUS que, seguramente, não será solução, pior ainda.

Bem exemplificando, é como se, de uma hora para outra, alguém resolvesse adquirir um Boeing 747 (Jumbo), seus 580 lugares, para fazer vôos diários Leopoldina/Rio/Leopoldina. Seria uma maravilha! Faríamos a viagem em 16 minutos. Exatamente a soma dos 8 minutos da decolagem com os 8 minutos da aterrissagem.

– Quem não deseja que isto um dia ocorra? Todos desejamos. Só que ainda não há viabilidade. Infelizmente não temos demanda de passageiros que financie os custos operacionais daquela gigantesca aeronave. O Tomógrafo não chega a ser um Jumbo. Mas para que ele funcione alguém terá que dar a mão ao Hospital. Caso contrário o aparelho chegará à obsolescência PARADO por falta de reposição de peças e – o que é pior – levará nosso Hospital à total inadimplência.
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(Publicado no jornal LEOPOLDINENSE de maio de 2006)

Olyntho Gonçalves Netto

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2003 (?)

Por iniciativa de nossa egrégia Câmara Municipal, foi denominada Rua Olyntho Gonçalves Netto, uma via pública no Bairro Mina de Ouro. Olyntho Netto foi funcionário público estadual nesta cidade, membro do Partido Republicano Mineiro, liderado pelo ex-Presidente Artur Bernardes, e chefe de família exemplar.

Para registro dos dados biográficos do homenageado, transcrevemos adiante o discurso proferido por seu filho, o ex-vereador Ely Rodrigues Netto, por ocasião do descerramento da placa designativa da Rua, na confluência desta com a Rua Professor José Lintz.

“Desejaram os meus irmãos, Eloi e Elisa, que eu fosse o indicado para manifestar a gratidão da família ao Exmo. Sr. Vereador Darcy Luiz Vasconcelos Resende, autor do Projeto de Lei nº08/86, que deu origem à Lei Municipal nº1784/86, de 7/03/86, modificada por motivos técnicos, pela Lei nº 3.416, de 2002, denominando esta via pública, oficializando-a como Rua Olyntho Gonçalves Netto, uma consideração à família que nos honrou a todos, o que nesta oportunidade agradecemos ao autor da proposição, vereador citado, e por seu intermédio à Câmara Municipal de Leopoldina, que transformou a proposta em lei, sancionada pelo Exmo. Sr. Prefeito Municipal, Dr. José Roberto de Oliveira, a quem devotamos amizade e consideração e também dirigimos agradecimentos.

Esboçado, assim, nesta breve introdução, o principal motivo desta manifestação pública, a alegria e a gratidão da família aos que nos proporcionam a emoção desta homenagem póstuma à memória de Olyntho Gonçalves Netto, queremos reviver um pouco a vida do nosso saudoso pai, iniciando com uma expressão cristã de louvor a Deus que ele repetia com freqüência, com respeito e sentimento de oração gratulatória, exclamando: ‘Louvado seja Deus!’

Nosso pai tinha como hábito repetir com freqüência a expressão que parece ter escolhido para louvar a Deus em tudo: - ´Louvado seja Deus!`...

Tenho bem presente em minha lembrança essa curta e constante oração de louvor a Deus, que ele usava em qualquer circunstância como a querer agradecer a Deus por tudo, a partir da própria vida, esse dom maior do Criador, que tão bem soube amar e valorizar. Foi a primeira oração que com ele aprendi, ainda criança, sem mesmo saber avaliar a sutileza e a profundidade da frase-oração, que só mais tarde me foi possível entender, com a lição do apóstolo Paulo, que transcrevo para sublinhar a importância da fé e da vivência cristã de um homem, sobretudo quando ele é pai, chefe de família, líder e dirigente em qualquer setor da atividade humana. Se assim é para o homem, também vale em igual escala para a mulher-mãe. Vamos à lição do Apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos Tessalonicenses-5, 17-18: -‘Orai sem cessar em todas as circunstâncias, dai graças porque esta é a vontade de Deus em Jesus Cristo’.

Não há como negar que este é para nós, também, um momento de ação de graças e de exclamarmos como Olyntho Netto: -‘Louvado seja Deus!’. E o que é mais gratificante para nós, filhos, filha, noras, genro, netos e bisnetos, é verificarmos que após um século do seu nascimento, a vida e a memória de Olyntho Gonçalves Netto estejam sendo lembradas, reverenciadas, apresentadas como exemplo e imortalizadas, tornando-se o nome oficial desta via pública, sinal de que a sua vida e os seus 81 anos, não foram em vão, não foram vazios, não foram infrutíferos. Portanto, temos motivo para dar a essa breve manifestação de contentamento e gratidão, esse sentimento de louvor, repetindo São Paulo: ‘Em todas as circunstâncias, dai graças...’

No início do século passado, mais precisamente no dia 4 de março de 1901, nascia o nosso pai neste município, na região da Fazenda Constança, ‘Sítio Genipapo’, proximidades da Fazenda Boa Sorte, localidades em que ele viveu sua infância e juventude.

Desde a sua adolescência, manifestava alguma vocação para a música. E convivendo com os principais fundadores e integrantes da Banda de Música da Colônia da Boa Sorte foi, também ele, flautista e clarinetista da corporação, pelo menos até seu casamento, que ocorreu em 29 de janeiro de 1930, com Mariana Rodrigues Netto.

Ruralista desde criança, veio para a vida urbana só em 1947, quando a saúde já não lhe permitia grandes esforços físicos na atividade agrícola. Nesta cidade, com uma breve passagem pelo comércio, conquistou logo após, já quase aos 60 anos, sua nomeação como servidor público no Ministério da Educação, onde prestou serviços no Setor de Merenda Escolar, até a sua aposentadoria aos 71 anos de idade.

Desde muito jovem foi leitor diário do então prestigiado Correio da Manhã; e como manifestava formação política democrática e equilibrada, ele se filiou ao então PR - Partido Republicano - de Artur Bernardes, unindo-se aos saudosos amigos Enéas Lacerda França e ao seu irmão Liliu, a Pedro Brito Netto, a Manoel Lacerda, a Artur Leão, a Olivier Fajardo, a Colatino Barbosa de Castro, a Dr. Antônio de Oliveira Guimarães, a Dr. Jairo Salgado Gama e tantos outros de igual valor e tendências político-partidárias, coligando-se mais tarde com o PTB – Partido Trabalhista Brasileiro – de Getúlio Vargas, de Castelar Modesto Guimarães, Aracy César, Prof. Alziro Azevedo de Carvalho e muitos outros e, num embate político árduo e financeiramente desigual que durou anos de exercício democrático e popular, elegeram, finalmente (posse em 31/01/1959), um dos líderes do grupo, o Dr. Jairo Salgado Gama, Prefeito deste município, num mandato que marcou época, inaugurando a alternância do poder político no município e o início de um tempo novo em que a voz do povo e o clamor dos humildes, passaram a ser ouvidos nesta querida Leopoldina, em que os Almeidas, os Britos e os Nettos, plantaram a civilização, segundo o historiador Mauro Almeida, cujo saber, trabalho e gentileza no trato com as pessoas nos deixaram saudades.

No episódio da histórica vitória do Dr. Jairo Salgado Gama e das forças populares, Olyntho Gonçalves Netto estava lá, firme nas suas posições, intransigente na defesa de seus ideais, defensor da justiça para todos, prudente e ético, radical, tanto quanto o homem deve ser na defesa de seus princípios, sobretudo extremamente fiel ao Partido Republicano e ao seu grupo político, sempre dedicados, todos eles, ao bem comum e aos interesses maiores do município.

Que estas pinceladas da história política de uma fase áurea de Leopoldina, possam servir de resposta aos mais jovens que porventura queiram perguntar quem foi Olyntho Gonçalves Netto. Mas a minha resposta pessoal a tal pergunta é bem mais simples, curta e objetiva: Olyntho Gonçalves Netto foi simplesmente um homem!

Assim, sem brilho e sem poesia, termino a tarefa que me foi dada por meus irmãos, sabendo que não fui perfeito. Mas afirmo que usei a sinceridade, a lealdade, a firmeza e a radicalidade que herdei de meu pai.

Só para amenizar e dar um toque de leveza e reflexão neste simples trabalho, transcrevo de Jorge Roberto de Souza Barbosa, do seu ensaio O Anjo do Apocalipse, a página 19, com o título Um Canto de Amor à Liberdade, onde ele, entoando louvores a uma plêiade de homens que dedicaram as suas vidas em prol da LIBERDADE e do AMOR, tais como: MOISÉS, com sua FÉ e coragem inauditas; GHANDI, com a sua não-violência; SÓCRATES, com a sua idéia de união contra o paganismo; o Unigênito do Pai, JESUS, com seu ideal de verdade, justiça e perdão; LECK WALESSA, pela sua voz em favor dos oprimidos, e, ainda, outros, Aristóteles, Galileu Galilei, Luther King, Tereza de Calcutá, Joana D’Arc, filósofos, cientistas, gênios, santos e heróis, para, através deles, nos mostrar que a humanidade, hoje, está carente de dignidade, idealismo, solidariedade, de valores éticos e morais, não sendo por isso tão fácil, hoje, podermos dizer como cada um dos citados: EU SOU UM HOMEM!´

E acrescenta o autor: ‘... ser HOMEM,
é você gritar a verdade sem se importar com as conseqüências;
é você ser inimigo das injustiças;
é você pelo menos tentar construir um mundo onde reine fraternidade e amor;
é você questionar os ensinamentos recebidos;
é você se rebelar quando lhe ferem a dignidade;
é você não aceitar a tirania;
é não depender de uma posição para clamar por seus direitos...
Enfim, ser HOMEM é você ser infinito e viver continuamente cantando... UM CANTO DE AMOR À LIBERDADE!’
Conclui o autor a sua página e também eu a minha.

Por tudo e por todos, ‘Deus Seja Louvado’, como diria Olyntho Gonçalves Netto.”
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(Publicada no Jornal LEOPOLDINENSE)

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O Meu Cunhado, Roni



Foto: Roni, praia de Iriri - anos 80.

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Dezembro, 2003

Se este jornal fosse lido lá em cima, Roni iria adorar o título deste artigo porque uma das minhas certezas absolutas sobre o amigo Azevedo é que ele amava os de casa. Certamente abriria, lá dos celestiais recessos, um sorriso largo e conivente para este enfático “meu cunhado” do título.

Todos na minha família sabem. Perdemos, no dia 27 de agosto, nosso querido Roni. Lembrar aqui que ele não cuidava muito do diabetes, que poderia ter sido diferente, deixa de vir ao caso. Sob perspectiva divina certamente não faça diferença alguns anos a mais, alguns anos a menos, ante o incomensurável privilégio da vida. Por si só - diz Bandeira - a vida é o milagre.

Além de pai do meu maravilhoso sobrinho Andrei, Roni era neto do teatrólogo Artur Azevedo, autor de mais de 70 peças teatrais (O Mambembe, O Dote, etc.), homem que consolidou a Comédia de Costumes no Brasil e, ao lado de Martins Pena, considerado o fundador da dramaturgia nacional.
Neto de Artur, logo, sobrinho-neto do romancista Aluísio Azevedo (O Cortiço, Casa de Pensão, O Homem, etc.).

Herança de família, portanto, aquele discernimento fácil, a lucidez solar, aquela vocação cultural aguda, o banco-de-dados que era o cérebro do Roni. Cinéfilo, falava de filmes com a autoridade de um crítico. Lia tudo. Um dia, em nossa casa de Iriri, ES, não encontrando em casa livro ou revista, esticou-se no sofá e começou a ler a lista telefônica do Espírito Santo.

Não desfrutou completamente de um lar, na juventude. Perdeu o pai antes dos dois anos de idade e, sem melhor relacionamento com o padrasto, passou por internatos e hotéis.

Com o irmão recentemente falecido, e com a meia-irmã que o sobrevive, seu relacionamento não era diário. Talvez por isto, ao casar-se adotou a família da esposa, Leísa. Seu coração brando, generoso e companheiro, deixava claro que ele nos elegera, assim, também seus irmãos. Nós os genros, filhos e noras de seus sogros, Dr. Lélio e de Da. Laura.

Esta a minha percepção desde os bons tempos do campo de vôlei no quintal da rua Aristides Duarte, em Belo Horizonte, das festas anuais do Natal, das férias em Iriri e de cada churrasco regado, do Bar do Veio.

-Tanto penso assim, querido Roni, que até me preocupa se não lhe teríamos faltado com reciprocidade mínima. Se isto aconteceu, queira nos perdoar. A vida é desatenta e estrábica, leva a gente de roldão sem que mal atinemos com a realidade sob nossos olhos. Mas esteja certo de que, à maneira de cada um, foi enorme o carinho que todos tínhamos por você.

De minha parte confesso também uma admiração que beirava a inveja. Uma inveja benigna do seu inglês (o danado fluía também no francês, no italiano e no espanhol), da sua postura de otimismo diante dos problemas, do seu fair-play e, acima de tudo, daquele seu dom de sorrir tão prodigamente.


-Você ria até de piada sem graça, Roni!

Ainda ouço suas gargalhadas do dia em que lhe expliquei a palhaçada de um jogo de baralho chamado Caxanga, que um pilantra mexicano levou aos cassinos de Tegucigalpa. (Piada do José Vasconcelos) Nunca vi ninguém rir tanto! “Tegucigalpa” entrou para o seu ideário cômico.

Claro que aquele seu sorriso largo, sempre esticado para além do que merecia o dito, era seu artifício inconsciente de repartir coração com os amigos.

Nunca me esquecerei, Roni, daquela noite, lá no meu sítio de Leopoldina, quando você e meu irmão, Ladinho, abriram disputa sobre qual dos dois teria passado por maiores tropeços na vida. Com um pouco de exagero de lado a lado, a contenda ficou muito divertida.

Ladinho deu a partida dizendo que, na juventude, engraxara sapatos; você retrucou com equivalente agrura da infância; Ladinho devolveu lembrando que, quando jovem, fora empregado num boteco onde se escrevia jogo do bicho; você empatou a peleja dizendo que tinha experiência de crupiê em cassino europeu; Ladinho alegou ter colaborado num escritório de contabilista pilantra; você lembrou sua feirinha de legumes onde se passavam tomates amassados; Ladinho perdera uma beneficiadora de arroz; você se deu mal com engarrafamento de cachaça em noz de coco; Ladinho arriscou construir casas populares; você arriscou fazer, com fibra de vidro, barcos e orelhões de telefone...

A brincadeira ia longe, muito engraçada, até que você deu o xeque-mate:


-Eu já lavei prato em restaurante de Londres.


Aí o Ladinho, que nunca saíra do Brasil, jogou a toalha.

Só não sei se no desdobramento da vida, Roni, depois daquele dia inesquecível, meu mano não terá vencido, às avessas, nos trágicos desafios que vocês dois viveram. Você se foi aos 60 anos, de morte natural, como funcionário da Prefeitura de Belo Horizonte, depois de fechar uma pequena indústria metalúrgica. Ladinho já havia sido assassinado, aos 42 anos, como advogado de posseiros numa região primitiva do Mato Grosso, depois de deixar o cargo de Delegado de Polícia.

De uma forma e de outra, vocês dois foram meus irmãos muito queridos que, embora distantes, também foram irmãos entre si, nos muitos percalços de suas existências breves, porém corajosas.

Há quem morra por nada; há quem morra pelo país; há quem morra por uma ideia. Vocês morreram pela ideia de não ter medo, pela idéia de deixar os sonhos irem dando cordas à vida.

Por último, Roni, vou registrar aqui, para o pessoal, sua viagem de solteiro à Europa.
Já noivo e contrariando todas as expectativas de casamento breve, você, um durango kid sem vintém no bolso, entendeu de ir ganhar a vida na Inglaterra. Torrou seu único patrimônio, um fusquinha maneiro e comprou as passagens.

Cabendo a mim levá-lo ao Aeroporto Internacional do Rio, você apareceu lá em casa no dia do embarque, quando Leila e eu ainda morávamos num apartamentinho de Santa Tereza, abraçado a uma velha mala, puída, esfolada e sem fechos. Para obrigar a tampa da mala a permanecer fechada você a amarrou com um fio elétrico, parcialmente desencapado, que dava duas voltas no volume.

Nossa intimidade, na época, era pouca, mas não contive o espanto e perguntei:
- Vais tomar um vôo internacional, para Londres, com esta mala?
Ao que você retrucou:
- Qual o problema?
E eu contra-ataquei:
-Vá ter personalidade assim na puta que o pariu!

Pois é, você viajou, deu uma cubada no submundo londrino, voltou, casou-se e veio a ser, por todos esses anos, o adorável Roni que acabamos de perder. Se é perda para sempre, só Deus sabe, amigo. Até porque, sobre a morte há deste nosso lado de cá muito mais dúvidas do que certezas.

Perdão por interferir no seu silêncio. Sei que você está com Deus.
Quanto a nós, vamos seguindo por aqui na esperança de que, quando também virarmos lembranças gratas, alguém possa até sorrir e puxar por lembranças felizes como estas tantas que você deixou para nós, inesquecível companheiro Ronaldo Azevedo. Roni, para os amigos... Ou seja, pra todo mundo.
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(Publicada no jornalzinho CHAMA de dezembro de 2003)

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Galo de Rinha

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Setembro, 2010

Há na política brasileira de hoje um encarte que tanto se aproxima do paradoxo do ovo e da galinha quanto do dilema daquele biscoito que “vende mais porque é fresquinho, ou fresquinho porque vende mais”. O país dá tratos à bola para saber se a corrupção aumentou porque aumentou mesmo, ou se aumentou porque ganhou mais visibilidade.

Há quem diga que nem uma coisa nem outra. A corrupção seria a de sempre. Apenas o hábito de investigá-la para fins políticos ganhou mais adeptos, no governo e na oposição. O país viria se beneficiando, obliquamente, de uma vigilância a serviço da instrumentação de dossiês.

Se já não havia consenso de que a corrupção passou a ser mais combatida no atual governo, bem mais complicado ficou agora diante dos escândalos da Casa Civil, a poucos metros do gabinete presidencial.

Longe de sugerir inclusão ou responsabilidade da mais alta autoridade do executivo nacional, causa apreensão constatar a quão próximo do poder central chegaram os valores morais decompostos, muito embora o governo tenha a seu crédito a liberdade que dá à Polícia Federal.

Mas quando se vê a segunda autoridade do Governo exonerar-se de seu honroso cargo para, em seguida, solicitar demissão das várias outras funções públicas que paralelamente exercia – ao que se supõe, numa considerável soma de vencimentos e vantagens – fica difícil entender o “para quê” de tantas incursões no erro. Se valores éticos a não dissuadiam, notáveis eram os interesses materiais postos em risco! Um mau negócio, portanto.

Será que Maquiavel acertou mais uma vez quando disse que a ambição do homem é tão grande que a vontade presente não lhe permite avaliar o mal que virá depois? Bons tempos quando aos bem situados na vida pública bastava cavar um empreguinho para os filhos. Hoje se concebem catapultas mirabolantes para torná-los milionários. Ainda bem que nem sempre dá certo.

Investigação existe e nossa PF é de fato eficiente. Só uma coisinha ainda pega: é o bom número de casos em que o proveito político pareceu atuar. Suspeitou-se disto no caso Roseana, que teria visado tirá-la (ainda bem!) da disputa presidencial de 2002.

Não ficou claro se, na ausência dos interesses políticos então existentes, aqueles R$1,34 milhões em espécie teriam deixado as gavetas da Lunus. Do mesmo modo como a luta partidária nos presenteou a seu tempo com as demolições do Mensalão, do Escândalo dos Correios, do Mensalão do DEM, do Dossiê dos Petistas, do Boi Barrica e do diabo a quatro.

O ideal, entretanto, seria que o normal funcionamento do Estado de Direito atuasse como inspiração única e suficiente na coibição do erro. Que a justiça não dependesse tanto dessa briga de pescador pelo trecho mais piscoso do rio.

É muito pouco para este Brasil que se moderniza crescer à noite enquanto a pilantragem dorme e crescer só mais um pouquinho ao dia quando eles brigam e escancaram escabrosidades recíprocas.

Galo que morre na rinha sempre melhora a sopa dos pobres. Mas nós merecemos mais.
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(Publ. em 23.09.2010, em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Juiz Homologa Acordo – Hospital/Prefeitura

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Junho, 2008

Finalmente um acordo homologado em Juízo pode dar fim às agruras da Casa de Caridade Leopoldinense. O Juiz da Primeira Vara de Leopoldina levou Hospital e Prefeitura, no último dia 18 de março, a um entendimento quanto à manutenção do Pronto Socorro.

A Prefeitura passa a pagar ao Hospital cento e dois salários mínimos, mensais, para o funcionamento do PS. A briga, que se arrastava por mais de dois anos, era porque a Prefeitura insistia em continuar pagando apenas 60 SALÁRIOS...

Os números a que chegaram as partes, nos autos dessa Ação Cível Cominatória, Processo nº384.03.018139-8, demonstraram que eram procedentes as alegações da Casa de Caridade quanto à insuficiência dos 60 salários pactuados a cerca de uma década.

Desde o segundo ano do nosso mandato de Provedor, a Casa de Caridade vinha tentando acertar com a Prefeitura essas contas do Pronto Socorro. Dois meses antes de terminar aquele mandato, decepcionadíssimos, denunciamos, via Cartório, o Convênio do PS (“Denunciar”, no caso, é expressão jurídica, técnica, que apenas significa declarar que, a seu término, o contrato não seria renovado).

Um dos argumentos da Prefeitura era de que as verbas do SUS estavam corretamente aplicadas e que não dispunha de recursos. Ora, para o Hospital não vinha ao caso saber se a Prefeitura estava aplicando corretamente, ou não, as verbas da Saúde. Importava, sim, saber se os repasses que a ele chegavam cobriam ou não suas despesas com o PS Municipal. Se não cobriam, que a Prefeitura recebesse de volta seu serviço de Pronto Atendimento, um serviço tão pertencente à municipalidade como a coleta do lixo e a capina das ruas.

Deu-se que os Srs. Prefeitos sempre se recusaram a receber de volta o ônus daquele serviço. Ora, aquilo vinha descapitalizando a Casa de Caridade, à qual só restou a saída de obter a devolução via judicial.

Felizmente, prevaleceu o bom senso e, no último dia 18 de março, chegou-se a um acordo no processo. Saem ganhando, o Hospital que – por determinação do Juiz - recebe seus atrasados e passa a reembolsar-se, mensalmente, daquilo que gasta no PS; a Prefeitura, porque assegura à população um bom serviço com o PS funcionando dentro do Hospital; e ganha a população que tem a continuidade no atendimento ao qual sempre se vale nas horas incertas.

E que todos, doravante, tenhamos um pouco mais de respeito para com a saúde da nossa gente pobre, gritando bem alto que nosso Hospital não está “falido”. Está, apenas, inadimplente como inadimplente estão todos os Hospitais Filantrópicos do Brasil. De Leopoldina, Muriaé, Ubá, Juiz de Fora, Belo Horizonte, Londrina, Manaus, todos, todos, todos, com raríssimas exceções as quais, aliás, desconhecemos.

- Por quê? Porque são necessários 30% de pacientes particulares (contra 70% de pacientes de SUS) para equilibrar as contas de um Hospital. Trata-se de cálculo comprovado há muito tempo, feito que foi pela Fundação Getúlio Vargas e pelo Ministério da Saúde.

Ora, a CCL chega a trabalhar com 90% de atendimentos pelo SUS! Ninguém tem culpa disto. A Constituição de 88 determina que todos têm direito à saúde e o Estado o dever de provê-la. O problema que estoura nas pontas (os Hospitais ficam na ponta do problema) é quem pagará a conta.

Subentende-se que seriam os cidadãos com seus impostos.
- Mas haverá impostos – e quem os pague – suficientes para dar saúde de boa qualidade a quase 200 milhões de brasileiros?

Aí, não vale o argumento simplório de que há roubos, furtos, etc. Desvios existem, sim, mas são gota d’água no que falta para dar saúde aos brasileiros. Todas as soluções que se preconizam são de longo prazo.

O que nós precisamos é viver em paz em nossa cidade e tentar, de uma forma ou de outra, tapar esse furo constante nas contas do Hospital com nossa solidariedade e nossa boa-fé. Sem dúvida, tem faltado boa-fé. Tem faltado lealdade política com a Casa de Caridade.
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(Publicado no jornal LEOPOLDINENSE de junho de 2008)

Intervenção no Hospital - Entrevista

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Outubro, 2003

GAZETA DE LEOPOLDINA - ENTREVISTA COM CONSELHEIRO DA C.C.L. JOSÉ DO CARMO SOBRE O DESATE DA PENDÊNCIA JUDICIAL, HOSPITAL / PREFEITURA, QUE TERMINOU COM A DESTITUIÇÃO DO PROVEDOR.

Gazeta - José do Carmo, o Prefeito de Leopoldina requereu ao Judiciário a destituição do Provedor da CCL. Sabemos que você, logo em seguida, se demitiu do Supremo Conselho do Hospital. Sua atitude decorre de discordância com a administração que entra.

JCR - Jamais. Minha atitude foi apenas de coerência e manutenção de um ponto de vista do que considero ser o melhor para a CCL: a Prefeitura na condução da CCL. Desde a gestão anterior, da qual tive a honra de estar à frente, o Hospital vem tentando, administrativamente e via judicial, devolver o Pronto Socorro à Prefeitura, para que ela assuma sua responsabilidade legal de dar atendimento condigno à população. Há quase três anos vimos buscando isto, sem sucesso. De repente é a Prefeitura que vai ao Judiciário e solicita tutela jurisdicional no sentido de destituir o Provedor e obter a indicação de outro, da confiança do Prefeito. O judiciário defere o pedido! A partir de então, já não é apenas o Pronto Socorro que passa à responsabilidade do Sr. Prefeito; é todo o Hospital! Acho bom. Nós vínhamos pedindo isto. Falta apenas consumar a pacífica transição administrativa à Prefeitura, mediante afastamento do Conselho. Fiz minha parte.
- O episódio só me entristece sob o ponto de vista do José Valverde, um homem honestíssimo, dedicadíssimo ao Hospital, que há ano e meio vinha dando, inteiramente de graça e por puro diletantismo, sua alma, sua paz, sua vida e até sua saúde que não é boa, em prol de uma causa justa, e se vê, de uma hora para outra, deixando o posto em circunstâncias tão imerecidas.
Gazeta - Você vê, então, a Administração Pública Municipal como boa gestora do Hospital?

JCR - Nem tanto. Sempre há o critério populista, nunca meritocrático inclusive porque o político sempre teme ser tachado de elitista. Privilegia o IBOPE escalando segundo time. Mas a verdade é que o atual modelo administrativo do Hospital tem 109 anos e ficou inteiramente anacrônico. Abandoná-lo agora, no meu modo de ver, pode ser o mal menor.

Gazeta - Como assim?

JCR - Os Conselheiros, que vinham escolhendo o Provedor, equivalem a “substitutos” dos fundadores do Hospital, ou seja, daqueles senhores que, um dia, puderam construir e manter a Casa de Caridade. A diferença é que esses substitutos, de hoje, não dispõem de meios para atender à enorme demanda de recursos que o funcionamento de um Hospital como o nosso exige. - Quem dispõe desses recursos? A Prefeitura, que é a quem a lei atribui função de gestora dos recursos públicos destinados à Saúde. Portanto, mudaram-se as circunstâncias, mudou a realidade. Um Hospital, como este de Leopoldina, que atende a mais de 90% de Segurados do SUS, tornou-se, diante dos fatos e do direito, uma “Instituição de Interesse Público”, sob fiscalização do Ministério Público e sob provimento da Municipalidade.
Deixou de ser particular. Saiu da esfera do Direito Privado. Tentar negar essa realidade é perpetuar o clima de animosidade – do qual a população não agüenta mais nem ouvir falar – entre Prefeitos e Provedores, ou seja, entre o Responsável que deve pagar a conta e quem está administrador por equívoco.

Gazeta - Mas você que deu tanto ao Hospital e foi tão entusiasmado por ele, agora fica fora?

JCR - Nunca. Como Leopoldinense, como ex-Provedor e como quem aprendeu a amar nossa centenária Instituição de Caridade, estarei sempre disponível para as pessoas honestas que realmente fazem a diferença ali dentro do Hospital, fazendo tudo que estiver ao meu alcance para que ele melhore cada dia mais. No que, aliás, não sou diferente de ninguém. A CCL é a menina dos olhos de todos os leopoldinenses.
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(Entrevista publicada na Gazeta de Leopoldina de outubro de 2003)

Rotary e a Poliomielite

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Junho, 2002

A um ouvinte menos avisado poderá parecer frívola a afirmativa de que Leopoldina tenha importância na erradicação mundial da pólio. Mas é verdade. Vinte leopoldinenses, operários do bem-estar social, trabalham para que em 2005 a Poliomielite esteja erradicada do Planeta Terra. São eles os vinte rotarianos da cidade.

Vem, pois, muito a propósito a notícia de que a Fundação Rotária do Rotary Internacional foi escolhida para receber o “Prêmio Gates de Saúde Global – 2002” conferido pela FUNDAÇÃO BILL & MELINDA GATES, no valor de US$1 milhão de dólares, em reconhecimento à extraordinária atuação de Rotary na área da saúde pública, mais especificamente pelos esforços envidados no programa rotário de erradicação da poliomielite.

Rotary Clube Internacional, do qual o Rotary Clube de Leopoldina é membro, já contribuiu com cerca de US$462 milhões para combate a essa terrível moléstia e mais de um milhão de rotarianos no mundo todo prestaram, e prestam, serviços voluntários empenhando recursos para imunizar cerca de dois bilhões de crianças em 122 países. Na América, a doença está vencida. Infelizmente, ainda incide em alguns países da África mas, decorridos os próximos três anos, não haverá criança sofrendo contágio em qualquer país do globo.

O prêmio da Fundação Gates não apenas reconhece esta nobre cruzada de Rotary contra a pólio, como também consagra outros projetos comunitários do Clube, empreendidos para a melhoria da vida e da saúde de pessoas em todos os países, sobretudo países pobres, seja apoiando programa de empréstimo rotativo a mulheres de Uganda; seja viabilizando projeto para diagnóstico e tratamento da tuberculose nas Filipinas; ou patrocinando o fornecimento de água potável em El Salvador.

Os sócios de Rotary recebem esse prêmio com grande humildade, mas orgulhosos do que ele representa em reconhecimento da importância crucial do Clube em ações de saúde pública em áreas carentes do mundo. Com muita honra para eles, o prêmio lhes foi entregue por William H. Gates (Bill Gates), no último dia 30 de maio, durante a 29ª Conferência Internacional, organizada pelo Global Health Council, em Washington, DC.

O que encanta em Rotary é que ninguém precisa possuir recursos materiais abundantes para entrar no Clube. Existem muitas formas de ajudar nossos semelhantes. No ano rotário 2001/2002, os sócios do Clube proclamam que “a humanidade é a nossa missão”, transmitindo encanto humanístico a todos aqueles que pensam um dia transformar suas vidas distribuindo o bem.

Dizem os rotarianos esperar que as pessoas de bem se acheguem a Rotary para que jamais se frustrem por ações humanitárias não concretizadas.
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(Publicada sob o título “Leopoldinenses Extirpam a Pólio no Mundo” no jornal LEOPOLDINENSE de 30.06.2002)

sábado, 18 de setembro de 2010

Um dado da fé

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Setembro, 2010

Percebe-se na imprensa, ultimamente, um clima meio borocochô em relação ao momento político. Aliás, não apenas na imprensa. Sem que se possa falar exatamente numa atmosfera de velório, o certo é que pra todo lado as pessoas estão, no mínimo, dando farol baixo. O instante é de apreensão.

Dilma como fato consumado para os próximos quatro anos é névoa seca que ofusca o ambiente. Sente-se uma irritação subterrânea com o eleitorado “zé mané”. A palavra não é decepção, é irritação mesmo, porque ninguém se decepciona com cincada previsível. Podia dar nisto e parece que vai dar.

Na verdade as pessoas até aprovam o governo do Lula e não negam a ele o direito de ter sua candidata. Difícil é entender a mágica avassaladora com que ele vendeu sua canhestra invenção à massa ignara.

Deus do céu!, ninguém conhece a Dilma! Se era para eleger um clone e seguir manobrando na sombra, porque não alguém com alguma disponibilidade empática? Dilma não é comunicativa, pisa duro, tem “gênio difícil” e fala muito mal. É desprovida de experiência política e não consta possuir flexibilidade para negociar. (Precisaria orientações minhas, mas eu não pretendo abandonar o Blog da Maria Helena…rá, rá, rá…)

A única virtude que não se negava a ela, para o exercício do cargo, que seria a austeridade, ficou arranhada a partir desse episódio Erenice.
É claro que mãe ministra sabe quando o filho pratica tráfico de influência no âmbito de sua jurisdição. E não menos claro que a chefe dessa mãe, amiga íntima trabalhando na mesma sala, também sabe. Uma sem-cerimônia alegar distância do que fez “o filho da amiga”… Ora, ora!

Ninguém está aqui para defender superioridade pessoal no candidato do PSDB, nem Serra é a ameaça da vez. Quem ameaça ser nossa presidente é Dilma. Portanto é nela que recaem os cuidados do eleitor consciente.
-Quem é dona Dilma? A propaganda omite, contorna, não esclarece.

Temos o direito de saber. Nascemos e nos criamos no país que Lula está “endossando no verso” para ela contabilizar. Não é que uma mulher não possa pilotar um Jumbo. Até que pode. Mas sem experiência mínima de duas horas de voo!

Não se trata também de insegurança fundada no passado dela, em suas escolhas de jovem militante. Pessoas destemidas são admiráveis. Ela colocava a vida em risco na mesma época em que nós, muitos de seus contemporâneos, defecávamos para uma ditadura militar impostora e comprávamos, a prestações, fuscas de calotas cromadas para impressionar garotas com o mesmo charme que ela perdia encafuada nos aparelhos.

O problema não é este. O problema é com a respeitável senhora Dilma de hoje, esta candidata cuja personalidade e preparo não se abrem com clareza em suas mensagens e exteriorizações. Como eleitores, ficamos à mingua de dados que nos permitam avaliá-la.

Dilma vem sendo assimilada pelos brasileiros como um dado da fé, a fé dogmática que seguramente só é professada por uma pessoa neste país: o presidente Lula. Ele fez o PT engolir Dilma goela abaixo e caminha para conseguir o mesmo dos brasileiros. Vamos precisar de sorte.
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Publ. em 16.09.2010, em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/

Antonio Nilo de Almeida Ramos

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Setembro, 2005



Em setembro de 1999, logo após o sepultamento de Antonio Nilo de Almeida, na condição de colaborador eventual da Gazeta de Leopoldina, publicamos um desabafo de saudade, sob o impacto da emoção e do grande sentimento de perda que aquele momento nos trazia. Dissemos que a vida às vezes é injusta. Que acabávamos de levar à sepultura, em Tebas, na terça-feira, 14 de setembro, nosso dileto amigo, vereador Nilo Ramos, como era conhecido.

Nilo, ou o Nilão que venerávamos, era uma pessoa extraordinária que teria merecido viver muitos anos mais. Homem bom, solidário, esposo exemplar, pai amoroso, vocação pública retilínea e grande caráter. O câncer o surpreendeu na plenitude da capacidade intelectual e criadora.

Por familiares, soubemos que Nilo lutou muito contra a doença. Lutou com muita coragem e fé. Mas Deus tem critérios - para nós, insondáveis - e decidiu mesmo por chamá-lo aos 66 anos de idade. Leopoldina perdeu um valor insubstituível, uma autêntica reserva moral em sua Câmara de Vereadores. Foi enorme a dimensão do desfalque.

Como vereador, Nilo praticava a política pelo lado único da virtude, da exação atávica herdada do pai, o também ex-vereador e ex-vice prefeito Jacyr Ramos. Personificava a lucidez e o espírito conciliatório. Um virtuose do convencimento pela via do diálogo.

Conheci-o ainda criança, meado dos anos 50, fazendo política estudantil no Colégio Leopoldinense. Lembro-me de uma eleição para o Grêmio Estudantil de Colégio Leopoldinense e o jovem Nilo se desdobrando no esforço de levar o companheiro José Laênio Loche à presidência. Ele, um rapazinho loiro, alto, magro, voz inconfundível, meio anasalada, empolgando o microfone da ZYK-5, Rádio Sociedade Leopoldina (que na época funcionava no prédio do Clube Leopoldina) concitando as massas, da sacada do prédio: - "Colegas, votemos em José Laênio Loche !..."

Depois, em 1958, terminado o Ginásio, segui para o Rio de Janeiro já matriculado num cursinho pré-vestibular. Ao descer de um ônibus da velha TAVIL na rodoviária da Praça Mauá, quem estava lá para conduzir-me à primeira morada e introduzir-me na camaradagem da turma de estudantes leopoldinenses residentes no Rio? Ele, o amigo Nilo.

Pela lateral aberta do bonde - os bondes ainda circulavam por aqueles pedaços de história - Nilo apresentou-me a Av. Rio Branco, o Tabuleiro da Baiana, o Passeio Público, os Arcos da Lapa, a Praça Paris e o Restaurante Central dos Estudantes, na Ponta do Calabouço (mais ou menos em frente ao local onde, depois, construiriam o MAM), referencial de sobrevivência dos estudantes pobres chegados ao Rio de Janeiro.

Com ajuda do Nilo, tive meu primeiro passaporte pro Restaurante do Calabouço (Um cartãozinho da UME – União Metropolitana dos Estudantes, que dava direito a duas refeições por dia no Restaurante). Ele conhecia as pessoas certas.

Nossa residência era na Rua Cândido Mendes, 235, no Bairro da Glória. Integrávamos um grupo de jovens determinados que trabalhava, estudava e ainda atiçava a fogueira estudantil que se alastrava da UNE, na Praia do Flamengo, à Av. Beira Mar, endereço do Calabouço, antes e depois do Governo João Goulart. Anos arriscados, de passeatas, detenções, balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo, mas de intensa participação estudantil na vida pública nacional.

Certamente que a influência paterna e o caldo cultural daquele início de anos 60, nutriam o futuro homem público Nilo Ramos, sedimentando nele o democrata irredutível. No início, o udenismo o seduzia. A escarlatina comunista que nos avermelhava a todos - no ambiente estudantil da UNE - não contagiava o Nilo. Pontificavam lideranças de esquerda nos Diretórios Acadêmicos de todas as faculdades. Ele estudava direito no Catete e era lacerdista... (portanto anti-comunista)

O arguto jornalista, deputado e primeiro governador eleito do ex-Estado da Guanabara, Carlos Werneck de Lacerda, senhor de retórica prodigiosa, eloqüente e persuasiva, era quem realmente cativava o Nilo. Foi Lacerda, sem dúvida, a influência mais efetiva em sua formação política.

Como prevalecesse entre nós, outros, a natural simpatia juvenil pela esquerda, fazíamos desse desalinhamento do Nilo o mote para acaloradas polêmicas, em casa, nos espaços estudantis e nas ruas. Controvérsias de faz-de-conta que podiam terminar numa repetida calúnia dos comunistas ao Lacerda: "Teu líder deixou o "PCB" pra fugir com a mala do Comitê!" Vinha aquela gargalhada gostosa do Nilo pra gente também logo embarcar no riso e congelar as desavenças em alguns chopinhos inocentes num bar da Glória ou no Spaghettilândia da Rua Álvaro Alvim, na Cinelândia.

Era assim, o meu companheiro de bons tempos, Antonio Nilo de Almeida, o Nilão, de carinhosa memória. Tempos na verdade difíceis, da luta árdua por um lugar ao sol, da afirmação pessoal, dos vestibulares com questões descritivas, dos comícios no Automóvel Clube; das passeatas na Rio Branco e no Passeio Público; da revolução cubana de 59; da guerra fria.

Mas tempos também de participação e alegria, com os meninos que éramos correndo atrás do caminhão dos bombeiros que trazia, do Galeão, a Seleção de 58; do JK abraçando Garrincha, Didi & Cia. num palanque em frente ao Palácio do Catete; dos primeiros carros nacionais; dos vôos espaciais; do Yuri Gagarin acenando pra gente da sacada da UNE, na praia do Flamengo; da Bossa Nova nascendo em Copacabana, no Beco das Garrafas; do Cinema Novo; dos filmes da Atlândida; da Banda de Ipanema; da crise que foi dar no golpe militar de 64.

E bons tempos também dos bailes da vida; dos anos dourados; do rock 'n roll; dos festivais na TV; do footing na Cinelândia; dos leopoldinenses reunidos na praia, ao sol do Posto-2; das muitas festas de formatura nos salões do Hotel Glória.

O Nilo dessa época, porém, apaixonado por aquela que viria a ser a mãe de seus filhos, já andava disposto a trocar nossa festa carioca pelo amor de sua vida, uma moça linda e inteligente, nascida em Tebas, a Creusa Ávila.

A paixão chegou a fazer dele o nosso seresteiro. Boleros e samba-canções intermináveis, em português e espanhol, cantados pelo Nilo dominavam um pequeno quarto, repleto de estudantes sonhadores, numa ladeira de Santa Tereza, mas a destinatária das canções, a gente sabia que morava em Tebas.

Num outro canto do quarto, equilibrando conceitos apostilados de biologia e química orgânica numa mesinha estreita, o futuro médico Celso Pereira Ávila, o constrangido irmão da moça, compenetrava-se no estudo e devia matutar em silêncio: "Isto é com a minha irmã!"...

Antonio Nilo formou-se em direito pela Faculdade do Catete, casou-se, foi gerente de Banco e ao voltar às origens, aposentado, imaginou que vocação política e amor a Tebas dariam um apostolado. E deu. É dele a assertiva: "Ninguém ama sua terra pelo que ela é, mas sim porque ela é sua".

Duas vezes vereador, tornava-se emblemático mercê de sua dimensão pessoal excedente ao cargo. Sobrando em valores morais e estatura, alcançava aqueles que tanto dignificaram nossa Câmara, inscrevendo seus nomes ilustres na história do legislativo municipal leopoldinense: Carlos Luz, Chico Bastos, Olivier Fajardo, Lolô Vieira, Durval Bastos, Ely Rodrigues Neto, Justiniano Fonseca, Jacyr Ramos, Eloy Rodrigues Neto e tantos outros... Agora também, com toda justiça, seu próprio filho, Ricardo Ávila.

- Companheiro Nilo, você foi um irmão. Obrigado por sua amizade. Obrigado pelo privilégio das experiências e do aprendizado recíproco no pedaço mais bonito de nossas vidas. Como disse, você mereceria ter continuado a viver. Mas se é desígnio do alto, você mereceu também conhecer a Deus. Sempre sentiremos sua falta. Tebas inteira sentirá. Leopoldina sentirá. Sua esposa, seus filhos, os amigos...

Guarde para sempre o meu abraço comovido. Alguém disse, Nilo, que o casulo que serve de túmulo à lagarta é também o berço de uma linda borboleta transformada. Você partiu, interrompendo uma carreira promissora, frustrando sonhos, ideais acalentados, produzindo saudade. Mas quem garante, amigo, que tudo isto não passe de simples renascimento para vôos ainda mais altos? Você passou a trilhar, desde o dia de sua partida, o caminho da resposta.
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(Publicada jornal LEOPOLDINENSE de 15.09.2005)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Um Fastio

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Dezembro, 2006


Preocupa o quadro mórbido-depressivo do cidadão J. Fastídio. Justo ele que jamais havia denotado nó psicopático hereditário a demandar alienísticos, contenção ou eletrochoque!

De verdade, os incômodos que lhe mortificam o espírito seriam entulhos do quotidiano de quem simplesmente está vivo quando, com toda razão, preferiria estar morto. Viver no mundo de hoje parece ser o grande problema do potencial suicida.

É certo que o vereador/médico que o assiste em consultas pelo SUS, ou seja, sem colocar o ouvido nas costas dele e mandar dizer "trinta e três", não cansa de diagnosticar-lhe piti. O “dado concreto”, porém, para usar expressão erudita de conhecido filósofo do ABC paulista, é que J. Fastídio anda de saco cheio com a própria existência e deseja passar para o lado de lá. Morrer. Regressar ao éter da vastidão sideral, num salto espetacular pelas laterais do planeta.

No toalete de rodoviária onde talvez rabisque seu derradeiro bilhete, haverá de declarar-se rompido com os estorvos da vida civilizada que tanto lhe molestam a existência:

Fundo musical de vídeo game; música baiana; ligações de telemarketing; novela das sete, com atores sem camisa; cocô de cachorro na praia e na rua; favor concedido a quem não larga mais do seu pé; check in feito uma hora antes do atraso de quatro horas nos aeroportos; empurrômetro de Seguro na gerência dos Bancos; processo judicial pra receber sinistro das Seguradoras; controle de araque, da Anatel, sobre as empresas de telefonia; saber que todas essas Agências Controladoras não passam de autarquias de caracacá mantidas pelas próprias empresas controladas; reportagens fotográficas da Revista Caras; anuidades de Conselhos Regionais disto e daquilo, na verdade sinecuras malandras sem nenhuma atuação prática em favor das pessoas e das empresas das quais vivem a extorquir anuidades; voto vendido por eleitor semi-analfa; ética de empreiteiras; DNA de 80% dos brasileiros, portadores da sina atávica da corrupção e do furto (quem achar alto o percentual, esqueça por cinco minutos qualquer objeto na soleira de uma janela baixa); falta de profissionalismo e de respeito no atendimento ao contribuinte em balcões de órgãos públicos; morosidade da justiça; arrogância de quem se supõe superior; moscas ou cheiro de barata no restaurante eleito para o almoço do domingo; gente que não consegue ficar calada, vertendo perdigotos sobre a comida no self service; horário político na TV; habeas corpus para bandido de colarinho branco; pilantra mau-pagador requerendo danos morais em juizado especial contra quem simplesmente lhe cobrou uma dívida; povão andando acintosamente na frente dos carros no intento de descolar uma invalidez permanente; correntes, enviadas por carta ou por e-mail com ameaça de castigo divino; pedidos de colaboração para obra caritativa lá no raio-que-os-parta; notícia de recrudescimento do conflito no Oriente Médio; notícia de novo escândalo político e nome da correspondente operação da Polícia Federal; promessa de rigoroso inquérito; vinhetas do próximo Big Brother; locutor de microfone à mão, com voz pastosa, anunciando produtos na porta de loja comercial; ouvir comerciante dizer que “vai ficar te devendo” o que você foi comprar e ele não tem...

Não sei se suicídio resolve. A informação que tenho é que J. Fastídio está decidido a morrer por todos nós.


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(Publicada no jornal LEOPOLDINENSE de 15 dezembro de 2006)

sábado, 11 de setembro de 2010

Frei Beto – Deus é Amor


(Foto: Internet)

Março, 2006

Com o falecimento do Papa João Paulo II, o Colégio Cardinalício, composto por dezenas de religiosos que dedicaram suas vidas ao estudo das questões da fé – alguns, verdadeiros gênios; outros, quase santos – escolheu, com folgada maioria, o Cardeal Joseph Ratzinger para ser o novo Papa. Reações pouco simpáticas pipocaram pelo mundo.

Tudo porque o ex-cardeal Ratzinger, à frente da Congregação para a Doutrina da Fé, função em que esteve por 24 anos, revelou-se muito leal à teologia da Igreja Católica. Consideravam-no “demasiado ortodoxo”, não alcançando as razões do Arcebispo de Munique, ali onde ele dissera que, às vezes, “a bondade implica também na capacidade de dizer não”.

Esqueciam-se que Ratzinger fora o grande teólogo liberal do Concílio Vaticano II e que o religioso culto e superior que, aos 78 anos, aceitava o desafio transcendente daquela escolha certamente nos reservava um pontificado de paz muito atenta à compreensão e à aproximação entre os povos.

Com efeito, sai agora a Primeira Encíclica de Bento XVI, Deus é Amor. Por respeito aos nossos poucos leitores não ousaremos comentá-la. Quando a seriedade de um assunto esbarra em nossas limitações, a transcrição é mais prudente. Vejam o que sobre a Encíclica escreveu Frei Betto:

“A Encíclica Deus é Amor, a primeira do novo Papa, surpreende positivamente em muitos aspectos, malgrado a linguagem requintada, de difícil comunicação com o público jovem. Bento XVI rompe a retórica majestática, tão ao gosto de papas e cardeais, para falar na primeira pessoa: “Na minha primeira encíclica desejo falar do amor”. E o faz recorrendo não só a autores cristãos, mas também a clássicos pagãos e outros que tiveram suas obras proibidas pela Igreja: Platão, Aristóteles, Virgílio, Gassendi, Descartes e Nietzsche.

O Papado pronuncia-se com novo sotaque. Nada de condenações, escrúpulos, moralismos. O amor é encarado em sua dimensão totalizante, de inter-relação com Deus, o próximo, a coletividade. Não se retrai o autor frente a arroubos poéticos, superando dualismos entranhados na tradição eclesiástica: “O amor entre o homem e a mulher, no qual concorrem indivisivelmente corpo e alma, e se abre ao ser humano uma promessa de felicidade que parece irresistível, sobressai como arquétipo de amor por excelência, de tal modo que, comparados com ele, à primeira vista, todos os demais tipos de amor se ofuscam”. E exalta as “arrojadas imagens eróticas” dos profetas Oséias e Ezequiel e do Cântico dos Cânticos.

Ao criticar a visão platônica, tão freqüente na tradição da Igreja, o Papa faz mea-culpa: “Hoje não é raro ouvir censurar o cristianismo do passado por ter sido adversário da corporeidade; a realidade é que sempre houve tendências neste sentido”. E sublinha: “Nem o espírito ama sozinho, nem o corpo: é o homem, a pessoa, que ama como criatura unitária, de que fazem parte o corpo e a alma. Somente quando ambos se fundem verdadeiramente numa unidade é que o homem se torna plenamente ele próprio. Só deste modo é que o amor - o eros -pode amadurecer até à sua verdadeira grandeza”.

Bento XVI evoca a didática grega para traduzir as dimensões do amor: o eros, a atração arrebatadora que subjuga a razão; a philia, o amor entre amigos; e o ágape, o cuidado do outro, o sacrifício de si, a abertura ao transcendente. Este último plenifica o amor e instaura, não “a imersão no inebriamento da felicidade”, mas o bem do amado. “Sim, o amor é êxtase; êxtase, não no sentido de um instante de inebriamento, mas como caminho, como êxodo permanente do eu fechado em si mesmo para a sua libertação no dom de si e, precisamente dessa forma, para o reencontro de si mesmo, mais ainda para a descoberta de Deus”. Bento XVI poderia incluir uma quarta dimensão, a mais aviltante: porno, o prazer de um resultando na degradação do outro.

O pontífice recusa a antinomia entre eros e ágape: “Se se quisesse levar ao extremo esta antítese, a essência do cristianismo terminaria desarticulada das relações básicas e vitais da existência humana e constituiria um mundo independente, considerado talvez admirável, mas decididamente separado do conjunto da existência humana”. E enfatiza: “No fundo, o amor é uma única realidade, embora com distintas dimensões; caso a caso, pode uma ou outra dimensão sobressair mais. Mas, quando as duas dimensões se separam completamente uma da outra, surge uma caricatura ou, de qualquer modo, uma forma redutiva do amor”.

A encíclica sublinha a dimensão acentuada pela teologia da libertação: “Jesus identifica-Se com os necessitados: famintos, sedentos, forasteiros, nus, enfermos, encarcerados. Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes (Mt 25, 40). Amor a Deus e amor ao próximo fundem-se num todo: no mais pequenino, encontramos o próprio Jesus e, em Jesus, encontramos Deus”.

Numa definição primorosa, o papa afirma que “a natureza íntima da Igreja exprime-se num tríplice dever: anúncio da Palavra de Deus (kerygma-martyria), celebração dos Sacramentos (liturgia), serviço da caridade (diakonia)”. Pois “a Igreja é a família de Deus no mundo. Nesta família, não deve haver ninguém que sofra por falta do necessário”.

Nessa linha, o documento papal reconhece a pertinência da crítica marxista, que contém “algo de verdade”: “Forçoso é admitir que os representantes da Igreja só lentamente se foram dando conta de que se colocava em moldes novos o problema da justa estrutura da sociedade”. Assim, numa defesa intransigente da autonomia da política e da laicidade do Estado, Bento XVI sinaliza que, na busca da Justiça, “política e fé tocam-se” e deixa claro que “não pretende conferir à Igreja poder sobre o Estado; nem quer impor àqueles que não compartilham a fé, perspectivas e formas de comportamento que pertencem a esta”.

A Igreja não pode pretender confessionalizar o mundo da política, nem este querer reduzir a religião ao âmbito da sacristia: “A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a sociedade mais justa possível. Não pode nem deve colocar-se no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem da luta pela justiça”. Não se faça do exercício da caridade uma tática de proselitismo: “Quem realiza a caridade em nome da Igreja nunca procurará impor aos outros a fé da Igreja. Sabe que o amor, na sua pureza e gratuidade, é o melhor testemunho do Deus em quem acreditamos e pelo qual somos impelidos a amar”.

A encíclica do amor estaria mais completa se contextualizada na atual conjuntura mundial, retomando a crítica contundente que João Paulo II fez do neoliberalismo, da invasão do Iraque, do neocolonialismo consubstanciado no escorchante endividamento dos países pobres, empecilhos à “civilização do amor” sonhada por Paulo VI.”
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(Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, é religioso, escritor e assessor de movimentos sociais. Autor de “Típicos Tipos” (A Girafa), prêmio Jabuti 2005, entre outros livros, foi assessor especial da Presidência da República (2003-2004))

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

E agora, José?

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A oposição precisava, com urgência, de um fato com que tentar mudar o jogo diante do surpreendente avanço da candidata Dilma nas pesquisas. Por um momento pareceu que o oportuno escândalo da quebra de sigilos na Receita Federal renderia dividendos. Evidências de ação criminosa de petistas “aloprados” no imbróglio eram reais e o filão prometia.

Infelizmente, parece que a agulha se revelará fina demais para romper o duro casco da tartaruga lulista. O povo não dá sinais de reagir ao que vê. Na verdade o povo não está entendendo lhufas, não está nem aí pra essa história enrolada de sigilo quebrado.

Neste país – ó meu fortuito e heróico leitor – pouca gente além de nós dois tem noção do que representem valores como privacidade e sigilo fiscal. São abstrações que escapam ao imaginário popular.

Não é pro bico de qualquer um avaliar a natureza e a extensão do dano causado por uma quebra de sigilo fiscal. Mais complicado ainda seria esse mesmo indivíduo colocar em prática valores éticos – hauridos lá longe, na escola ou no berço - para, uma vez entendida a transgressão, vir a posicionar-se contra ela.

Falta ao nosso Brasil brasileiro lucidez para julgar situações minimamente complexas. Estamos ainda a uma boa distância daquele eleitor sujeito da história, com visão do entorno social em que vive, com noção da amplitude e da repercussão dos fatos.

Nossa realidade é de uma cidadania manipulável pelo estômago e pelos sonhos de consumo, na qual os apelos classistas mais primitivos, como oposição dos interesses dos pobres aos interesses dos ricos, ainda repercutem positivamente com retorno eleitoral bobalhão.

Que ninguém se assuste ao ouvir manifestações positivas à violação sistemática do sigilo bancário e fiscal dos ricos, como justo antídoto a que “os bacanos não tenham como esconder dinheiro roubado”... Garantia ao sigilo bancário e fiscal, para significativo contingente da população brasileira, não passa de mero expediente de acobertar falcatruas.

Por essas e por outras, quando o PSDB põe a boca no mundo para verberar a quebra de sigilo fiscal de seus caciques, realizada por aloprado (autorizados ou desautorizados), pode estar apenas atirando para o alto. Não vai acertar ninguém e o barulho faz vibrar tão somente suas próprias janelas. O Lula investiu pesado no social e manobra, hoje, com a quase unanimidade do eleitorado brasileiro.

É uma situação delicada esta a que chegou a oposição brasileira, com o Serra. Precisa convencer o povo de que está tudo errado, mas com o cuidado de não desagradar este mesmo povo dizendo que está tudo errado...

Cabe a perplexidade do poeta itabirano:
- E agora, José?
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(Publicada aos 09.09.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)

sábado, 4 de setembro de 2010

Empresários, Homens Fundamentais - II

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Em crônica anterior relacionamos nomes de empreendedores leopoldinenses, homens que com seu trabalho, inteligência e sacrifício, fazem a diferença entre desenvolver e estagnar, gerando empregos, impostos, recursos e melhoria de vida em nossa terra.

Claro que a relação não caberia no espaço de uma página. Nem de duas. Sem pretender portanto exaurir a lista, mas tentando ser o menos omisso possível, vão aqui mais alguns nomes desses homens e mulheres fundamentais, heróis da realização nesta Leopoldina carente de esforço empreendedor:

Adauto Resende Lima e seu filho Carlos Henrique Gonçalves Lima (STº. ANTONIO PARQUE HOTEL); Afonso Rodrigues (HOTEL ALVORADA); Anderson Ramalho (TYRESOLES); Antonio Santos e esposa Fátima (CASA DA COSTUREIRA); Aylton Galito (Coleguinha) – Indústria de Jeans CICATRIZ; Bonifácio de Andrada (Faculdades UNIPAC); Carlos Henrique Barbosa Pacheco – Cacá (DECORART); Cláudio Leitão (Faculdade de Direito DOCTUM); Ecyr de Angelis e Eliane (TEBAS Armarinho); Edulce Maria do Vale e filhos (Casa NADINHO de tecidos, Casa NADINHO Boutique e MUNDIAL TOUR); Fábia Provensi (SETA); Flora Bousada de Mello (O BOTICÁRIO e FLORITA PRESENTES); Eugênio Siqueira Costa Reis (CASA NADINHO Armarinho); Fernando Martins Brandão e filhos (Indústria de Sorvetes SOL & NEVE); João Batista Tassari e Carmem Santos Tassari (BOM GOSTO PRESENTES); Francisco José Barbosa (ABC – Atacado Brasileiro da Construção); Giovani de Angelis (Lanchonete CALÇADÃO); Heloisa Junqueira (Auto Escola TOP CAR); Irmãos Fajardo (Churrascaria da SERRA); João Anzolin (Postos: NOVO MILÊNIO e PURIS); Joãozinho de Castro Barbosa (Leoplastic); Joe Lopes Reis (SOTEL); José Antonio Almeida, Mª Cândida e filhos (Confecção e Lojas IÊMAN e TOK & RETOK); José Carlos e Ronaldo (VIEIRA & RAPOSO); José Eduardo Resende e esposa (MERCEARIA e AÇOUGUE SEMINÁRIO); Hely e filhos (BAR TIRISQUEI); José Onofre de Almeida (CALCEBEM); José Ricardo Vasconcelos Marques (KTÁ TECIDOS); José Roberto Almeida Salles e irmãos Jair, Arlinho e Marcelo (SALLES & FILHOS); Ana Paula Luquini (Confecção e Boutique APUS); Mauro Tavares Ladeira, Mozart e Geraldo (GRÁFICA LEOPOLDINA); Márcio Antonio Alves Lacerda e Sebastião Águido Lacerda (SUPER NUTRI); Luzia Sleiman (LOJA DO BRAHIM); Marcinho, Cássio e Roberto (Bambu) (SHOP CAR Automóveis); Marcelus de Souza (QUERO MAIS - Materiais de Construção); Maria de Lourdes Brandão Silveira (CASA DULAR); Mariano e Danilo (Centro de Formação de Condutores PIT STOP); Mário Costa (Marinho), esposa Maria Dalva e filho Emerson (MERCADO SÃO JOSÉ); Ocione Tavares (Restaurante CHEIRO VERDE); Oswaldo Vieira “Beira Rio”, esposa Nelma e filho Ângelo (NETO & VIEIRA); Paulo Afonso, Fernando Henrique P. Fernandes e Pedro (LEVEL); Paulinho Monteiro, Leda e Pedro Paulo Zaquini Monteiro (ELÉTRICA LEOPOLDINENSE); Renata Neto Cezar e Flávio Neder (CENATE Eletrônica); Roberta Fajardo Neto (SALÃO VISION); Rogério Zambrano (POSTO SOLAR); Rodolfo Tomé (RODOLFO TOMÉ SEGUROS); Rosana Machado Schetino (BELA VISTA Materiais de Construção); Rubens Costa Maia (FERRAGENS MAIA); Sebastião Eduardo Alves Lacerda (FISIOLABOR E CORPO & FORMA); Sebastião Heitor L. Valverde (Revista HORA H); Sebastião Heleno Moreira - Leninho (LM FERRAGENS); Toninho Zaquini e seu filho Alex Zangali Zaquini (AUTO PEÇAS ZZ); Vanilde do Bem (TERPLANOS); e muitos outros que, embora não lembrados aqui, merecem igualmente nossa homenagem e nossa gratidão.

Leopoldina será sempre reconhecida a estes homens e mulheres fundamentais, a estes cidadãos socialmente indispensáveis e insubstituíveis, com mãos ocupadas no presente e olhos voltados para o futuro.
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(Publicada no jornal LEOPOLDINENSE em janeiro de 2004)

Empresários, Homens Fundamentais - I

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Às vezes a gente bronqueia com as coisas que vê acontecer na Cidade, fica inconformado com o andar da carruagem e até atribui culpa a certos (maus) hábitos nossos. É a vontade desesperada de encontrarmos um caminho de desenvolvimento e da tranqüilidade que Leopoldina merece.

Mas uma ressalva precisa ser feita. Podem faltar muitas coisas a Leopoldina - mercado, emprego, lazer, talvez uma vocação econômica melhor explorada - mas não faltam excelentes empreendedores, homens de visão, empresários competentes e trabalhadores.

Quando observamos a saga de homens como um André Fernandes, erguendo aquele maravilhoso hotel que tanto conteúdo agregará à nossa imagem, logo nos vem à mente outros nomes do empreendimento nesta terra, heróis de uma época francamente adversa.

Contra tudo e contra todos, contra uma carga tributária recordista no mundo, contra uma legislação trabalhista impiedosa com o patronato, contra a burocracia e a corrupção, a sociedade deve muito à luta desses bravos: Dr. Antonio José Medina (CLÍNICA SÃO JOSÉ); Arlen e Helmar Fontes Freire (SECOL); Casé Fajardo (LAFA e LOKAL ); Casé Schettino (CRE Engenharia); Chiquinho Rezende, e sua sobrinha Ana Paula (GRUPO IMPERIAL); Cláudio Cuco (CLAUDCAR); Cláudio Moura (MOURAGRO); Darcy Resende e o José Creso (RITSON HOTEL); Euds Furtado, Sebastião Valentim, Ségio Costa Reis e Odilon P. Júnior (ATHENAS/RÓTULA); José Braz Ferreira e seus filhos (LEOPOLDINA TURISMO); José Carlos Calil e Ney Ribeiro (BRAHMA); José Henrique Abreu (LAR MÓVEIS); José Maria Dutra (OFICINA DUTRA); José Nilton G. Barbosa (LAC); José Ramalho e Anderson Ramalho (TYRESOLES e ARAMIL); Júlio Carraro e José Rocha (SUPERMAIS); Lalado Coutinho (MERCADO CANADÁ); Luciano Andries (LEOPODINA-NET); Luiz Otávio Meneghite (Grupo LEOPOLDINENSE de Notícias); Dr. Mário Jorge (MEDCLIN); Odilon Machado (PREARCON); Ricardo Salgado (BAZAR RENÉ); Roberto e Pedrinho (ELETRO-HIDRO); Rodolfo Carvalho (ANTARTICA); Rafael Alves Ladeira (ESTÚDIO VIRTUAL); Vitor P. Andrade (V.P.A. Construções).

A relação continua no próximo número deste jornal. Não é pequena a fina estirpe do esforço empreendedor leopoldinense, lutadores incansáveis, sempre disponíveis a perder o sono e até a saúde pela sobrevivência de suas empresas, pela vocação de vencer, pelo ganha-pão dos seus empregados, pela paz e pelo bem-estar de toda a comunidade.

Como escreveu Elbert Hubbard em sua clássica “Mensagem a Garcia”, ao mesmo tempo em que louvamos os trabalhadores que se dizem oprimidos, os mais pobres e os desempregados, “vamos derramar também uma lágrima pelos homens que estão empenhados em promover um empreendimento, cujas horas de trabalho não são limitadas pelo apito da fábrica e cujos cabelos embranquecem rapidamente em decorrência da luta para manter na linha a indiferença desleixada, a imbecilidade total e a ingratidão insensível de todos os que estariam passando fome e desabrigados, não fosse a iniciativa deles.”

Empresários geram empregos, impostos, desenvolvimento, saúde, alimento, conforto, equilíbrio social. São homens fundamentais, indispensáveis em cada metro quadrado do planeta terra.
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(Publicada no jornal LEOPOLDINENSE em dezembro de 2003)

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O Silêncio

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O mundo moderno perdeu o privilégio do silêncio. Desde que a sociedade industrial implantou a barafunda das máquinas com suas engrenagens e descargas, o pandemônio urbano só vem crescendo.

Não faz muito, porém, os jornais da TV nos deram conta de que há novidade na Ásia. No avançadíssimo Japão o silêncio urbano começou a causar problemas!

Vejam só, carros movidos a eletricidade, em progressiva substituição aos movidos por ruidosos motores a explosão, começam a ser vistos como ameaça de atropelamento para pessoas distraídas, deficientes auditivas ou visuais, com dificuldade para perceber sua aproximação.

O paradoxal é que a solução cogitada estaria num equipamento eletrônico, “inteligente”, destinado a produzir barulho quando percebe que há ser humano por perto... Ou seja, um ruído artificial é instado a substituir o ruído natural que o progresso buscou afastar.

No Japão, os motoristas quase não buzinam. Não se ouvindo também sirenes, já que os policiais se deslocam de bicicleta. “O único barulho insuportável por lá, vem da natureza: o canto das cigarras que infestam as árvores no verão”– explica o repórter da TV.

Na verdade, por aqui também se buzina cada vez menos e as cigarras, seresteiras de fim de ano, cantam até rachar aquele canto ambíguo das cigarras – melancólico, para quem está triste; festivo, para quem está feliz.

Já as sirenes da polícia e das ambulâncias, continuam chatinhas ao pedir caminho. Não tanto, claro, para quem pediu socorro às primeiras ou está enfartado dentro das segundas.

A impressão é que não se vive muito diferente aqui e no outro lado do mundo. E isto é bom. Mesmo que assim não entendam os fundamentalistas retrógrados, que veem na comunicabilidade dos costumes uma razão para ódio e terror.

Claro que ainda podemos progredir, abolindo hábitos indesejáveis como dar aquela buzinadinha, ou acelerar fundo, para avisar que o sinal abriu. E, se não for pedir muito, quem sabe alguma colaboração dos frequentadores de botecos, situados em área residencial, diminuindo a zoada com bateção de caixa, à noite?


A bronca é livre. Mas quem diz que não vai dar saudade quando acabar? Ou, até, trazer problemas, como no Japão? Não deixa de ser contraditório admitir que o pandemônio das cidades possa, em certos casos, exigir moderação em seu corte. 
A gente mal percebe o quanto já se acostumou a tudo isto.


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(Publicada a 02.09.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)