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sábado, 26 de setembro de 2009

Augusto dos Anjos – Concurso de Poesias


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Setembro, 2009

Venho notando a presença de poetas e poetisas aqui no Blog da Maria Helena. Hoje trago uma boa notícia para eles. Há um concurso de poesia aqui na minha terrinha mineira, bem na medida para versejadores perseverantes ou bissextos.

Trata-se do “18º Concurso Nacional de Poesia Augusto dos Anjos”, que a Secretaria Municipal de Cultura da cidade de Leopoldina, MG, está realizando. Só vale poesia inédita. A temática e o gênero são livres. Cada candidato concorrerá com apenas duas obras.

O prêmio para o primeiro colocado é maravilhoso: R$1.800,00. Avalie bem que, sem incluir hospedagem e refeições, não há lugar no Brasil para onde você não possa viajar - de ônibus, claro - com esse dinheirão todo. O segundo colocado levará R$1.000,00 e, o terceiro, oitocentas pratas.

Não sei onde estava minha cabeça, que não avisei antes. As inscrições terminam agora, dia 30 de setembro. Portanto corra lá, escreva sua obra prima em cinco vias e mande, numa carta registrada AR, para a Coordenação do Concurso.


Não vou fornecer aqui o endereço de remessa para convidar o candidato a ir pegá-lo no site do “Jornal Leopoldinense”, www.leopoldinense.com.br, onde estão o Edital e o Regulamento do Concurso. Para concorrer certinho tem que ler o que está lá. Quando abrir a página, clique em “Inscrições Aqui”; na janela que se oferecerá, clique em “Edital” e “Regulamento”. Mamão com açúcar!

Como dizem os gozadores aqui no Blog da Maria Helena, e lá no do Noblat, só não posso é “desenhar”. Explicar, está explicado.

Todos sabem, o poeta Augusto dos Anjos, autor do “Eu e Outras Poesias”, era paraibano. Lecionava, porém, na cidade de Leopoldina, em Minas, onde faleceu aos 12 de novembro de 1914 e onde está sepultado.

Este concurso de poesia é apenas uma das homenagens que a cidade mineira sempre presta ao notável poeta brasileiro.

Na rua principal de nossa cidade, tombada pelo patrimônio municipal, pode-se visitar (agora, provisoriamente fechada para reforma) a casa em que viveu o poeta e onde é mantido o acervo de Augusto dos Anjos. Nele, parte de sua história e de sua arte estão preservadas.

Também os restos mortais de Augusto repousam em Mausoléu que o governo brasileiro, pelo empenho do ex-Embaixador Paschoal Carlos Magno, mandou erigir no Cemitério Nossa Senhora do Carmo, em Leopoldina. O monumento, todo branco, ostenta uma bela representação de Euterpe, a musa da poesia, esculpida em mármore de Carrara.

Acima, para deleite de meus indulgentes leitores, remeto uma foto da casa onde viveu Augusto dos Anjos, situada na Rua Barão de Cotegipe, 386, Centro, Leopoldina, Minas. Uma linda casa com janelas azuis.
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(Publicada em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/ em setembro de 2009)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Leopoldina é uma Princesa


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Foto: Princesa Leopoldina, Duquesa de Saxe-Cobugo-Gota (Internet)
(Crônica publicada no jornal LEOPOLDINENSE, edição de maio/97)

Maio, 1997

A administração municipal neste ano de 1997, por sua Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer, proporcionou aos leopoldinenses um inesquecível 27 de abril.

Na grande festa da municipalidade, aniversário da emancipação político-administrativa de Leopoldina, completando então 143 anos, fundada que foi aos 27 de Abril de 1854, esteve entre nós Suas Altezas Imperiais, o Príncipe Dom Antonio de Orleans e Bragança (Dom Antonio João Maria de Bourbon Habsburgo Duas Sicílias de Orleans Bragança e Wittelsbach) e seu filho, Dom Pedro Luiz.

Hospedaram-se na Fazenda Niagara, pertencente à família Müller Botelho e, na noite do dia 26, foram recebidos na residência do líder regional, Deputado e Secretário de Estado, Bené Guedes e esposa, Nilma Rennó Guedes, em festivo jantar de boas vindas, do qual participaram também, como convidados, o Prefeito Márcio Freire, o Vice, Darcy Resende e algumas lideranças da cidade.

Na manhã do dia 27, após a formal solenidade cívica em frente à Prefeitura, seguiram os ilustres convidados em cortejo a pé, pela Rua Barão de Cotegipe, Rua Dr. Custódio Junqueira e Gabriel de Andrade, até o Parque de Exposições, aberto ao público para uma festiva recepção.

Para quem valoriza curiosidades históricas, cumpre anotar que D. Antonio e D. Pedro Luiz, que aqui estiveram, descendem em linha direta da Princesa Isabel, a Redentora, e não de sua irmã, a “nossa” Princesa Leopoldina, que emprestou nome ao antigo Arraial do Feijão Cru.

E já que o designativo da cidade nos vincula à corte pelo nome de uma Princesa, não custa conhecer melhor a família Imperial. Os pais da Princesa Leopoldina foram, o Imperador D. Pedro II e sua esposa, D. Thereza Christina de Bourbon. O primeiro filho do casal chamava-se Affonso, mas faleceu com 2 anos de idade; a Princesa Isabel veio a ser a segunda filha do Imperador; D. Leopoldina, a terceira; e Pedro, que também faleceu jovem, o quarto e último.

A Princesa Isabel casou-se com Gastão de Orleans, o Conde D’Eu, que era neto de Luiz Felipe, o 10º Rei de França; e a Princesa Leopoldina, casou-se com Luis Augusto, o Conde de Saxe, irmão de Fernando I, Rei da Bulgária. Portanto, Isabel a filha mais velha, herdaria o trono.

Teve três filhos, a Princesa Isabel: Pedro de Alcântara Orleans e Bragança, que renunciou ao trono, em 30.10.908, e casou-se com outra Isabel, a Condessa de Dobrezenicz, da Boêmia; Luiz de Orleans e Bragança, que se casou com a prima, Maria Pia de Bourbon Sicilia, filha do Conde de Caserta; e Antonio, ferido e morto na 1ª Guerra Mundial.
D. Luiz de Orleans e Bragança assumiu, assim, a herança presuntiva do trono do Brasil. Também ele teve 3 filhos: D. Pedro Henrique, que se casou com a Princesa Da. Maria Elizabeth Wittelsbach, da Baviera; Luiz e Maria Pia.

Dá-se então que o casal D. Pedro Henrique e D. Maria Elizabeth, são os pais de nosso ilustre visitante, D. Antonio e, este, pai de Pedro Luiz, que o acompanhou.

Entre nós o Príncipe D. Antonio revelou-se simpático, culto, participante e muito bem informado da atualidade brasileira. Ao saber do empenho do Prefeito Márcio Freire em criar empregos para a população, manifestou-se pessoalmente receptivo a associar-se a projetos locais (não excluindo, até, envolvimento político), pois gosta de Minas, de nossa inserção histórica, de nosso culto às tradições.

Gostou de ver a comenda da “Imperial Ordem da Rosa” que Lília Arantes ostentava. -“É autêntica”, disse ele. Trata-se de uma distinção de ordem honorífica criada por D. Pedro I para assinalar a chegada ao Rio de sua segunda esposa, Da. Amélia Napoleão de Listenberg, sobrinha-neta do Bonaparte.

Moça lindíssima, trajava no momento do desembarque um onírico vestido cor de rosa. D. Pedro I, amante histórico, ao vê-la deixar o navio e acomodar-se, graciosa, no escaler que a levaria ao porto, apaixonou-se à primeira vista. Aquilo merecia insígnia imperial! A encomenda foi dirigida a Jean Baptiste Debret, o mesmo que desenhou a bandeira nacional: uma rosa estilizada, de seis pétalas, cingindo a letra “A” (de Amélia) entrelaçada ao “P” (de Pedro), ornadas pela divisa, “Amor e Fidelidade”.

A honraria seria destinada a quem demonstrasse amor e fidelidade à Coroa. No caso de nossa amiga Lília Arantes, a comenda pertenceu-lhe ao bisavô, José Wenceslau Arantes.

Bons momentos, bela comemoração. Depois, como diria o Beatle John Lennon, o sonho acabou. Ficou, entretanto, mais amena a realidade desta terrinha feliz com suas heranças, sua história e seu povo bom.

Gratas saudações aos augustos visitantes, parabéns ao Bené Guedes e à Nilma pela fidalga recepção a suas Altezas Imperiais, ao prefeito Márcio Freire, por seu ímpeto construtivo, que é pura paixão leopoldinense. Aplausos também para o Serginho França, por seu bom trabalho na Secretaria de Turismo.

Leopoldina é uma Princesa.
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(Publicada na Gazeta de Leopoldina de maio de 1997)

domingo, 20 de setembro de 2009

Um Gesto Voluntário

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Ano, 2005

Na cidade de Minas onde resido o único hospital que atende o grande público é uma “Casa de Caridade” que, como todas as outras pelo Brasil, vive em dificuldade. Precisa, desesperadamente, de ajuda da sociedade local para disponibilizar saúde mínima aos pobres que a ela recorrem. Os recursos do SUS são limitados. O buraco é enorme. Costuma faltar antibiótico no CTI, ataduras no Pronto Socorro, vagas para cirurgias urgentes.

Indivíduos que generosamente colocam mãos à obra para tentar sanar a situação nem sempre são compreendidos. Mas não se pode é desistir. Toco no problema porque sei que ele é nacional.

Lembro-me de uma palestra de José Serra, quando Ministro da Saúde, abordando a importância do voluntariado. Parecia a ele ocorrer, entre as pessoas, uma exacerbação do mercantilismo, um recrudescimento do personalismo, acompanhados de uma espécie de dissolução dos laços de solidariedade social. Afirmava: "Passou-se a transferir para o Estado quase toda a responsabilidade de atender às demandas da população carente".

Esta é, a nosso ver, uma avaliação correta do que se passa em muitas cabeças. Há meses, participando de uma reunião com profissionais e empresários da minha região de Minas, procurávamos expor os problemas cruciais do nosso Hospital, enfatizando a franca insuficiência dos recursos oficiais para mantê-lo, e, portanto, a necessidade imperiosa da intervenção de forças atuantes da sociedade local no processo. Discorríamos sobre a efetiva incapacidade de o Estado prover integralmente a saúde, quando um respeitável empresário, sentindo-se incomodado, retrucou: "Não seria mais razoável que o Provedor do Hospital, cuidasse do seu negócio enquanto eu cuido do meu? Eu já pago imposto!"

Não vinha ao caso esclarecer que a função dativa do Provedor da Casa de Caridade (um homem que trabalha de graça) jamais seria "negócio". Meu interlocutor não tinha dúvida disto. Ele apenas entendia que as pessoas não precisam ajudar um hospital filantrópico porque isto é obrigação do Governo. Ele escolheu mal as palavras. Gafe perdoável. Mas um fato se comprovava: o Ministro Serra, conhece nossa gente e sabia do que estava falando.

As pessoas não se dão conta de que se adoecerem de repente, em muitíssimos casos, serão socorridas num Hospital nascido exatamente da iniciativa voluntária de nossos antepassados, homens de responsabilidade social ativa que não descuraram da atenção à saúde. Ou seja, se aquele ilustre empresário baixar hospital amanhã irá beneficiar-se dos cuidados de empresários de ontem, iguais a ele. O melhor, quase iguais a ele...

Nem todos dão conta de que a totalidade das Santas Casas, por este Brasil a fora, foram construídas, equipadas e, durante anos, mantidas por contribuições espontâneas da sociedade a que servem. Inclusive por comunidades de imigrantes, como portugueses, italianos, sírios, libaneses, espanhóis, etc, gente humilde e honesta que veio para este país trabalhar duro e vencer, sempre com suor e sacrifício.

Rematava José Serra: "A doação voluntária de recursos e a prestação gratuita de serviços continuam indispensáveis. Primeiro porque o Estado não pode tudo. A União, os Estados e os Municípios não teriam como cobrir, apenas com impostos, os gastos crescentes com a ampliação e a melhoria dos serviços de saúde".

Ninguém duvida também que o toque de humanidade implícito num gesto de desprendimento pessoal, marca indelével do trabalho voluntário, pode ser muito mais importante para o doente que o próprio remédio. A vida em sociedade pressupõe essa troca de calor humano.

Os jornalistas, Taísa Ferreira, Lúcia Leão e João Paulo Tupynambá, relacionam em seu livro Crônicas de um Gesto Voluntário, casos emocionantes como o de Orestes Golanovski, de Canoinhas, Santa Catarina, possivelmente o maior doador mundial de sangue. Aos 60 anos doara 90 litros. Também o caso de Teresa Corrêa, levantando cedinho em São José dos Pinhais, para percorrer as enfermarias do Hospital Erasto Gaertner, de Curitiba, só para anotar recados dos internos e passá-los a entes queridos. Cita o voluntariado da arquiteta Veridiana Tambinus, de Ribeirão Preto, SP, também madrugadora para ser motorista da Associação Brasileira de Combate ao Câncer Infantil. Ah, sim, usando o próprio carro. Lembram ainda Da. Ester Souto, a mais velha voluntária do Brasil, que criou, em 1945, a Sociedade Pernambucana de Assistência a Indigentes. Citam, no Rio, o cantor Ney Matogrosso e o ator Ney Latorraca, envolvidos com o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase... E outros, e outros mais.

Anote-se aqui o exemplo edificante do empresário Antonio Ermírio de Morais que não se considera um homem ocupado e doa, há vários anos, parte de seu tempo para gerir a Beneficência Portuguesa, de São Paulo. E do engenheiro Egydio Bianchi, que fundou, em São Paulo, há cerca de 20 anos, o CORA - Centro Oncológico de Recuperação e Apoio, para prestar suporte psicológico a pacientes de câncer e a seus familiares.

Por estas e por outras, percebe-se que nem tudo está perdido. Ainda existem pessoas que, sem prejuízo de compromissos pessoais, encontram tempo e humanidade para cuidar dos negócios dos seus semelhantes. Não é bonito?
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(Publicado no jornal LEOPOLDINENSE)

sábado, 19 de setembro de 2009

Promessa do Secretário de Saúde de Minas


Foto: Em primeiro plano, Dep. Bené Guedes e o Secretário de Saúde do governo estadual de Itamar Franco, Gal Carlos Patrício - Ano 2000

(Crônica publicada na Gazeta de Leopoldina)


Convidados a falar, numa emissora local de rádio, sobre a perspectiva aberta pelo Secretário de Saúde do Estado de Minas Gerais, de reconsideração dos limites nas internações abonáveis pelo SUS à CCL - Casa de Caridade Leopoldinense, na condição de Provedor do Hospital procuramos esclarecer a questão que naquele momento se punha.

Apontamos o estreitíssimo gargalo da cota mensal de AIHs (Autorização de Internações Hospitalares) como o principal ponto de estrangulamento das finanças do Hospital, a par de atuar, nesse estrangulamento, um aspecto de cruel insensibilidade: O SUS não toma conhecimento daquilo que a Casa de Caridade gasta a mais, no atendimento à população.

É que o sistema informático das DRS (Delegacias Regionais de Saúde) é programado para aceitar implantação, apenas, de despesas até o limite regulamentar estabelecido! Vale dizer, o prejuízo que os Hospitais conveniados tomam deve permanecer IGNORADO. Não adianta digitar porque o sistema não registra.

Daí a necessidade que a Provedoria tem de procurar, pessoalmente, as autoridades estaduais de saúde para conversar, para fazê-las cientes do que ocorre. Foi o que fizemos, mais uma vez, na semana passada, graças à intervenção decisiva do Deputado Bené Guedes, que obteve do Secretário de Saúde, em Belo Horizonte, uma oportuníssima entrevista na qual expusemos as dificuldades da CCL, a importância dela para a população de Leopoldina e cidades adjacentes a nós referenciadas, dando ênfase aos parcos limites orçamentários a que ficamos jungidos após algumas administrações "não-leopoldinenses" na DRS local.

Nessa reunião obtivemos o compromisso do Sr. Secretário de elevação de nosso teto de AIHs para R$25.000,00/mês e, ainda, um acordo de reembolso de 300 contas de internações extra-limite não abonadas pelo SUS no ano 2000, o que acrescentará, quando efetivado, um aporte da ordem de R$150.000,00 a favor do Hospital. Se honrados esses dois compromissos pelo Sr. Secretário, Gal. Carlos Patrício de Freitas – que esperamos que ocorra - nosso Hospital experimentará um efetivo desafogo em suas contas.

Cabe, então, deixar consignado o agradecimento da administração e de toda a equipe de servidores da Casa de Caridade ao Deputado Bené Guedes por mais este gesto de amizade e apoio.

Felizmente temos conseguindo unir conterrâneos ilustres no esforço de salvar a CCL. Nosso fraternal amigo, Deputado Bené, que já obtivera uma doação de 80 cobertores à Casa de Caridade no ano passado, vem de patrocinar agora esta reunião decisiva com o Secretário de Saúde. A ele nossos agradecimentos.
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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O Sequestro de Goânia

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Dezembro, 2002

No país não se fala de outra coisa, neste fim de 2002, e a abrangência restrita de nossa Gazeta de Leopoldina, MG, em território geográfico muito remoto em relação ao foro por onde corre o processo respectivo, permite que um advogado aborde, sem importunos à ética, um caso judicial sob condução de outros profissionais. Falo do seqüestro em Goiânia, pela “mãe” que o criou, de um recém nato (hoje com 17 anos).

O assunto ganhou o noticiário da TV provocando indignação e clamor por justiça. Produziu-se uma expectativa nacional, sobretudo expectativa leiga, de pronta resposta do judiciário à opinião pública, punindo de maneira exemplar a autora daquele que é, na opinião de muitos, um crime moralmente hediondo, qual seja subtrair criança à mãe que o deu à luz.

Lamentavelmente, não nos parece seguro que essa satisfação ao país venha a ser dada pela justiça brasileira. A análise do fato, a partir do que se lê na imprensa, nos leva a crer que a “seqüestradora” talvez nem pague caro pelo crime que praticou. Isto porque, bem avaliadas algumas questões técnicas processuais, será um tanto difícil condená-la por seqüestro.

A conduta que o nosso Código Penal tipifica como seqüestro pode não corresponder aos fatos como exatamente ocorreram. E, ainda que corresponda, há que considerar-se uma possível incidência de prescrição... Enfim, não é por acaso que a Promotoria Pública reluta em apresentar sua denúncia. Os promotores por certo estão avaliando o risco de um enquadramento pouco subsistente que acabe levando à imediata absolvição da ré. E, uma vez absolvida, dar-se-ia coisa julgada relativamente ao fato, ficando impossível – pela Lei Processual Penal – alterar-se o fundamento legal da denúncia. A criminosa se livraria.

Denunciá-la por crimes menores, de enquadramento menos discutível, como falsidade ideológica, dar parto alheio como próprio ou ocultação de recém-nascido, por exemplo, não decepcionaria menos a opinião pública porque resultaria em condenação demasiado branda ao final.

Este, em linhas gerais, o pequeno drama do judiciário no rumoroso caso. Precisa produzir justiça, mas se vê à míngua de suporte na lei. Aprende-se, então, o quanto o Poder Legislativo é importante, o quanto ele precisa ser composto de pessoas lúcidas, atuantes, em condição de votar leis que atendam à demanda de uma sociedade que evolui e se sofistica, inclusive nos crimes.

O filósofo e sociólogo Leonardo Boff nos convida à realidade. Diz que, da forma como o ser humano está cultural e socialmente estruturado, ele traz consigo consideráveis fatores de violência objetiva. Fatores que poderão até ser minimizados, controlados, mas não totalmente eliminados.

Antes dele, Freud também afirmava ser impossível aos humanos controlar de todo o próprio mal, a violência instalada em sua predestinação de luta interna, renhida, entre o princípio da vida (eros) e o princípio da morte (thánatos).

Temos, pois, que encarar a violência, a delinqüência, enfim, como condições inerentes ao homem, avisados a todo passo que mediante leis apropriadas e aplicáveis por um judiciário desembaraçado e ágil, pela educação e, de uma maneira geral, pela cultura, é possível moderar a virulência de nossa irascibilidade latente.

É a lição importante que esse drama familiar em exposição nacional nos oferece. Precisamos de educação, sim, mas precisamos também de leis realistas, adaptadas à comunidade que servem. Não se fala em agravamento das penas. Esta é outra questão. Estamos falando de normatização ajustada ao tempo, objetiva e que realmente se aplique. Porque não é o medo da pena atroz que inibe o criminoso, mas a certeza de que será enquadrado, julgado e condenado.

O exemplo é, pois, de um fato delituoso para o qual simplesmente falta norma no Código Penal que o abrigue comodamente. Está passando a impressão de que nossos legisladores, tão pródigos na elaboração de normas dirigidas à proteção da criança - no caso, a criança foi tão bem tratada que prefere permanecer com a “seqüestradora” - descuidaram-se de incluir na Lei pelo menos uma pálida norma de proteção ao sentimento de mãe.
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(Publicada na Gazeta de Leopoldina, MG, de 17.12.2002)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A Água do Hospital

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(Publicada no Jornal LEOPOLDINENSE – de Leopoldina, MG)
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Quando assumimos a direção da Casa de Caridade Leopoldinense por dois anos, a instituição não tinha dinheiro para pagar as contas de água e de luz. Ora, água e luz são fornecidas à nossa população por duas empresas concessionárias de Serviço Público: COPASA e Cia. Força e Luz Cataguases Leopoldina. Ou seja, empresas que desfrutam de tais concessões para prestar à população leopoldinense serviços de suas especialidades.

Então eu pergunto ao leitor: dentro do seu conceito de ética e do que é justo, leitor, não lhe parece razoável que as Concessionárias de Serviço Público, que já faturam em cima da população, forneçam gratuitamente ao seu único Hospital Público, filantrópico, a água e a energia de que necessita? Ou justo será esse mesmo Hospital se virar para manter em dia contas de água e luz à custa da falta de suturas e antibióticos no Pronto Socorro e no CTI?

Falando só da COPASA, Leopoldina é o filé mignon dessa concessionária. Ela capta água limpinha de nascente e nos distribui por gravidade. Ou seja, água tratada e distribuída a custo baixíssimo. Há cidades, como Campos no Estado do Rio, em que o Rio Paraíba do Sul, seu manancial de água potável, vem colhendo esgotos de dezenas de cidades, inclusive cidades industriais como Volta Redonda, Resende e Barra Mansa, desde sua nascente no município de Mogi das Cruzes, em São Paulo. É claro que aquela água para ser servida aos habitantes de Campos exige um verdadeiro tratamento de esgoto. E, depois de tratada, bombeada às residências por bombas elétricas, porque Campos é uma cidade ao nível do rio que a abastece... Caríssimo!

Campos é apenas um exemplo. Existem dezenas de casos semelhantes. Raro é existir uma cidade privilegiada como Leopoldina. Aqui, o Rio Pirapetinga está lá em cima da Serra da Vileta com sua água clarinha, de primeiríssima mão, pronta para vir a nós, serra a baixo, pela ação da gravidade.

-Custava incluir num contrato, tão vantajoso para a Concessionária, uma cláusula de gratuidade da água do Hospital? Pensa bem, gente, o contrato foi assinado para um prazo de 30 anos (a COPASA adora Leopoldina) e o nosso prefeito contratante, um médico!

Não vai aqui qualquer crítica à Concessionária, uma grande e correta empresa, conduzida nesta cidade por homens do mais alto coturno, técnicos competentes, pessoas da mais fina estirpe. Nada disto, o que se questiona é a inserção de uma cláusula contratual que ficou faltando. E não por culpa da Companhia.

Por isso, raciocinando como “elemento da Casa de Caridade”, entendo que ela possa questionar na justiça, se preciso, seus débitos de água e energia. Porque através da chamada concessão a população assume o ônus de um contrato, que ela, população irá pagar. Não é o povo quem diretamente escolhe o prestador do serviço. Certamente que o povo poderá levar ao tribunal questionamentos de regras que lhe sejam muito desfavoráveis, em contratos como os do gênero.

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quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Globalização

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Setembro, 2009

O fenômeno da globalização, que alguns preferem aludir como mundialização, pode ser entendido como a integração entre as nações do globo nas áreas, econômica, comercial, cultural, política, filosófica, humanística etc.

Podemos imaginar a antítese desse acontecimento na Roma antiga, onde os povos externos eram considerados bárbaros, na acepção excludente do vocábulo, sem quaisquer direitos ou perspectiva de inclusão social na sociedade intra muros.

No mundo moderno, ao contrário, a sociedade humana evoluiu para a atenuação das fronteiras, para uma interação quase que total entre os povos, numa constante troca de relações, de experiências e de interesses.

É no campo econômico onde, hoje, mais repercutem essas ações integradas, na unificação dos países em blocos econômicos, como é o caso da União Europeia, que através do Tratado de Mastrich, unificou toda a Europa, criando a moeda única, o Euro, com curso em quase todos os países da Europa Ocidental.

Essa unificação econômica materializou um velho sonho de uma Europa unida, de forma a poder negociar em bloco com outros países de economia forte, sobretudo Estados Unidos, aumentando assim o poder de barganha de países pequenos, antes, sem condições mínimas de impor preços no jogo das trocas.

A Grécia, por exemplo, um país de economia diminuta, negocia hoje num bloco do qual fazem parte a poderosa Alemanha (terceira economia do mundo), a França e a Inglaterra.

Inegavelmente, com a associação econômica das nações, passa a haver, também, uma crescente integração de suas culturas, com assimilação de hábitos, de usos e costumes, comunicabilidade linguística, ideológica, sociológica etc. Caminhamos, sem dúvida, para um mundo cada vez mais parecido, mais aproximado e permeável.

É fato corriqueiro que não há lugar no planeta, hoje, onde não se encontre determinadas marcas de refrigerante e de pratos tradicionais dos mais diferentes países. A pizza italiana é apreciada e servida em todo o mundo; os ternos de corte inglês vestem os executivos dos países civilizados; as calças jeans, de origem americana, tornou-se vestimenta planetária, e assim por diante.

Na música popular, um grande astro do rock que surja em qualquer país é, de repente, consumido em todas as latitudes. No cinema, na televisão (as novelas brasileiras ganharam o mundo), nos esportes (os grandes clubes europeus são conhecidos e têm torcedores por toda parte). Os grandes atletas, de todas as modalidades esportivas, são globalmente aclamados.
Reflexos inegáveis da mundialização das culturas.

Discute-se bastante os prós e os contra do fenômeno. É verdade que, no campo econômico, não se afastou de todo a tendência de que as economias mais fortes prevaleçam em desfavor das mais fracas. Mas é inegável também que, ao introduzirem seus bens de consumo nos mercados emergentes, as economias industrializadas, se por um lado geram problemas de desemprego e dificuldades competitivas para as empresas nacionais, por outro favorecem o avanço tecnológico e a fruição de um nível mais elevado no bem estar social.

Também os chamados fluxos de capitais que chegaram a aterrorizar economias menos sólidas, com o vai-e-vem especulativo das oportunidades dispersas pelo mundo em bolsas globalizadas e unidas pela chamada grande rede, eles se tornaram indispensáveis às próprias economias que desestabilizam.


Tudo a mostrar que, apesar dos problemas, a globalização é um fenômeno sem volta. Os países têm que se adaptar a ela, corrigindo distorções na certeza de sua inevitabilidade. Ela parece deitar raízes no espírito gregário da pessoa humana.

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(Publicada no Jornal LEOPOLDINENSE – de Leopoldina, MG)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Tio Candim #

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Setembro, 2009

Na roça onde fui pequeno, eu, meus irmãos e os filhos dos ajudantes de meu pai formávamos, lá pelos anos 50, uma turminha feliz entre os sete e os doze anos de idade. Tínhamos, segundo os hábitos rurais da família, tarefas a cumprir, além da freqüência à escola pela manhã. Um cuidava do moinho de fubá, outros zelavam por bezerros e suínos, alguém de relho à mão mantinha o trote dos cavalos no engenho de cana, por aí. À noite, se não convinham os programas da Rádio Nacional ou da Rádio Tupi, do Rio de Janeiro (as que melhor alcançavam a Mata Mineira), era correria pelo terreiro e possíveis histórias do Tio Candim.

O velho Candim trabalhava com meu pai. Em algumas ocasiões como contratado, noutras como parceiro em lavouras. Solteirão, alto, magro, vivia só numa casinha de dois quartos. Não era tão idoso que compusesse a clássica figura do preto-velho, mas talvez gostasse de representar tal papel, sendo exatamente por aí que ele haveria de colorir nossa infância com suas caçoadas e lendas. Não tinha, aliás, a pele muito negra, sabendo mais ao café, que somada ao nariz mourisco, boleado, davam-lhe aspecto de Quixote nativo, sem montaria e sem Sancho.

No batente, Tio Candim plantava milho e feijão. Arroz não, porque a várzea, “nas águas”, ficava pesada demais para sua enxada sexagenária. Cumpria hábitos regulares: o trabalho desde cedo, no fim do dia o banho, o canivete no fumo de rolo, o baita cigarro de palha, a rede para cismar. Mas se a noite enluarava amena e propícia, podia se achegar “à roda da casa” e trazer pra gente sua prosa novidadeira e suas pilhérias, sempre balizadas ao final pela gargalhada larga: Uáar-cár-cár!... O que também nos fazia rir “feito bobos”...

Semi-alfabetizado, mas muito fino nos modos, Tio Candim era comunicativo, prestante, com todos repartindo a alegria de seu pequeno mundo. Falava rouco, como que arredando as sílabas na garganta.

Ah, sim, tinha talentos esotéricos. Não faltava quem o requisitasse para rezas poderosas ou benzeções. Receitava chás, dava conselhos e informações precisas sobre as fases da lua, suas influências sobre as pessoas, os animais e o tempo. Conhecia as tretas da natureza no plantio e na colheita, “ciências” que − dizia − vinham da leitura do Almanaque. O Almanaque Capivarol.
- Para conhecer a ciência das coisas tem que ler o Almanaque!

Pela veia artística, Tio Candim era ainda cantador de calangos, cateretês e tocador de berimbau. Com a voz afinada pelo eco do arame na cuia, cantava:


-Quando eu vim da minha terra / eu passei por Laranjá / pensei que fosse laranja / e era o nome do lugar!
-Na disputa do merguio / minha sogra é que ganhou / merguiô tem vinte ano / e até hoje num vortô!
-O meu pai foi home véio / tocador de berimbau / minha mãe, uma coruja / mora no oco do pau!
-Meu avô chama João Caco / minha avó, Cáca Maria / eu, no meio de tanto caco / eu sou fio da cacaria...

Não respondo pela originalidade dos versos de Tio Candim, apenas guardo na memória dezenas dessas redondilhas como produto pessoal de seu repentismo.

Por aquela época devia contar uns sessenta e poucos anos. Era, entretanto, lépido na marcha, empinado e cabelos apenas parcialmente grisalhos. Usava funda para a hérnia inguinal, de fabricação própria, com elástico de câmara de ar de automóvel. O “incômodo” não era perceptível; se ele não vivesse ajeitando aquilo a gente nem saberia.

Nas paredes de sua casinha de tijolos e telhas de bica, com sala, quarto e cozinha, pendurava miuçalhas como cuités, cipós medicinais, casca d’anta, cumbucas tortas, colares de escamas de cobra, sementes do cipó Santo Inácio, nozes de cotieira, raízes, amarrados de carqueja e... berimbaus. Sempre o berimbau.

À noite, a gente espreitava o outro lado do córrego quando cessava a música, ele apagava o lampião de querosene e descia pelo trilho em direção à sede da fazenda. Dava para adivinhar-lhe os passos pela brasa do cigarro, linhazinha vaga no escuro, tracejando na várzea um risco de vagalume. Assomando o terreiro ele mandava a senha, carregando nos graves:
- Macumbeiro véio! E a gargalhada redonda: Uáar-cár-cár....

-Molecada, qual é a arma mais perigosa do mundo – a garrucha ou a foice?
Claro, Tio Candim, a garrucha é mais perigosa.
- Nada disso. É a foice, seus moleques. Vou contar pra vocês um “causo sucedido”:

Um valentão do Corgo Santana, arto dos Caparaós, garrô de querer porfiar comigo. Só porque tinha fama de bom na garrucha, ele foi me atiçando, eu fui ficando mordido, mordido, até que um dia eu dei decisão nele.
- Pode vim de garrucha que a minha arma é a foice. Ah, ele topou! Na porta da minha cozinha, tinha uma pedra da altura dum cavalo. Eu montei em riba dela de tardinha e fiquei a noite toda amolando minha foice. Na manhã do dia seguinte a pedra gastou, que não dava um palmo de altura... Mas a foice tava amolada que nem uma navalha!

Foi quando o safado me apareceu de riba da porteira, já sacando a garrucha. No que ele mirou eu virei o gavião da foice de banda pra ele, que a bala bateu ali e aprumou, pra azar dum urubu que já desceu emborcado no chão. No que pipocou o segundo tiro eu já tinha arrolhado a saída do cano da garrucha dele com o cabo da foice, “modo que” a bala virou arrebite no toro da garapa.
Ai eu gritei pra ele:
- É a minha vez, vagabundo! Rodopiei a foice no vento e, no que ela desceu, a cabeça dele já vacilou fora do pescoço e ainda roncou na goela: - Ocê ganhôôô!..

Boa, Tio Candim, muito boa esta! Tem outra? Tem outra?
-Depois eu conto, depois eu conto, mas é conforme eu digo: tudo causo sucedido, eu não invento nada. Palavra de Cândido Nicolau Gonzaga, macumbeiro véio, natural do Corgo Santana, arto dos Caparaó, onde tem um moinho tocado a vento!

Tio Candim, e quando não tem vento, o moinho para de moer?
- Não, eles colocam os cavalos, uai!
Mas, Tio Candinho, moinho de vento não tem almanjarra pra cavalo puxar, só tem hélices!
- Ocês não entenderam, os cavalos é só pra levantar o rabo e “ventilar” no cata-vento...
Uáar, cár, cár!

Como finalizam, na TV, os apresentadores de talk shows, eu conversei aqui do meu querido Tio Candim, que andava a passos ligeiros pelos caminhos da Onça, distrito de Leopoldina, Minas, até os idos de 1951. Aparentava boa saúde quando veio a falecer silenciosamente, em sua casinha, surpreendido por um AVC.

Estas notas são absolutamente inúteis e sem sentido para ele. De qualquer forma, Tio Candim − você, aí de cima − tente aceitar com meio século de atraso o abraço emocionado deste moleque que ficou grande e sabe direitinho o quanto te deve.
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(Publicado originalmente na Gazeta de Leopoldina de 26.8.2002 e, a 01.09.2011, em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Votos de Natal

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Dezembro, 2008

Repasso um cartão de natal que recebi. Já o conhecia de outros dezembros. Trata-se de uma pilha de substantivos de bons augúrios, sobrepostos no formato de árvore de natal. Uma fartura de votos!
Como é próprio das festas de fim de ano, palavras meio esmeriladas pelo tempo. E não faz mal que algumas virtudes sejam quase sinônimas e que outras também importantes não tenham comparecido. Vamos ficar com o critério de quem pensou primeiro.

No topo, aparece a palavra: paz.
Deseja-se tanto a paz, que nem nos acode a genuína acepção do vocábulo. Paz é tudo o que mais necessitamos como cidadãos de um mundo que pula de uma guerra para outra. Desejo uma paz revigorada a cada amigo, a cada irmão da espécie humana. Na imagem de Clarice Lispector, distribuo a paz dos meus sonhos sob um céu azul e calmo, onde anjos ao redor de uma nuvem muito branca a sustenham, diáfana, pródiga de divinas bênçãos sobre nossas cabeças.

Na segunda linha vem: união.
Quis Deus destinar-me a uma família unida. Peço em meus votos que este espírito de fraterna coesão entre pessoas prevaleça em todos os corações, em todos os lares do mundo.

Seguem-se as sete letras de: alegria.
Privilégio é ter alegria para semear quando a vida insiste em nos mostrar sua cara feia. Festas alegres para todos, neste Natal e no ano de 2009 que logo virá. Alegremo-nos, mesmo com o pouco que somos e com o pouco que temos. Deus não nos fez perfeitos, mas nos deferiu a vantagem do sorriso. Sobre a terra, só o homem sorri.

Depois vem a: esperança.

O mais inquieto de todos os sentimentos. Na inquietude construtiva a esperança dá sentido à vida. Jardineira e sonhadora ela nos promete flores. Que ninguém, jamais, perca a esperança. Que ela siga espetando flores e alento nos projetos de cada um.

Em quinto lugar o construtor da árvore escreveu: amor e beleza. Que Afrodite, a deusa do amor e da beleza, venha depositar muitas flores nos caminhos de 2009. Pássaros de sua auréola encantem nossos ouvidos. O amor e o belo triunfem em todas as suas manifestações.

E seguiu com: fé e resignação.
Na fé, pratiquemos o bem, porque fé sem obras é virtude inócua. Se lhe é difícil pensar no céu e nos anjos, absorva-se no milagre da terra e da vida sobre ela. Muita resignação. Aceitemos o plano de Deus aplicado às nossas vidas. Deus, que a tudo provê, certamente nos reserva o melhor.

Vieram também: saúde e sucesso.
Um voto pela saúde que nos propicie vida longa e útil, de contínuo aprendizado e descobertas. O aperfeiçoamento diário nos aproxime da sabedoria dos mestres e da elevação dos espíritos superiores. Muito sucesso, dentro dos limites éticos, e palmas para o sucesso alheio como se nosso fosse. “Nenhum homem é uma ilha”, disse John Donne no memorável poema. “A morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”. Tudo o que perde e tudo o que ganha um ser humano, a todos afeta.

Seguindo nos bons augúrios: realizações e luz.
Os realizadores sempre triunfem e os que buscam a luz vençam as sombras e se banhem no olhar do Pai. Onde não pudermos ser o sol, sejamos a lua que o reflete.

Crescem o tronco da árvore em: harmonia e solidariedade.
Mediar o entendimento, sempre. O acordo ruim é melhor que a demanda destrutiva. Gosto por litígio é apanágio dos inacabados de espírito. Vamos tecer amizade entre desafetos e irmandade entre amigos. O homem é ser gregário, dependente visceral de seus iguais, mas nem sempre atento à sua estrela.

Mais diâmetro com: amizade, sabedoria e perdão.
O novo ano seja propício ao cultivo de amizades. Voltaire as chamou de “benefício divino”. O mundo nem sempre é governado com sabedoria. Vamos, então, cultivar e dividir cada gota dessa preciosidade que nos toca. Perdoar é estancar o fel, que faz muito mal a quem o estila. Moderação apenas no perdoar a nós mesmos.

Fortifica-se a base: humildade e reconhecimento.
Na humilde está a base e o fundamento de todas as virtudes. Ser reconhecido é nobre e é humano. Procuremos dar corda à memória curta do reconhecimento.

Para maior firmeza: sinceridade, estima e bondade.
Enfrente o desafio de ser sincero e simpático. Jamais, franco e antipático. Sejamos estimados e não nos estimemos além da conta. Anne Frank aconselhou: “apesar de todos os pesares, creia sempre na bondade humana”. Nossa bondade não chegue, entretanto, ao ponto da passividade diante das injustiças.

Não poderiam faltar: equilíbrio, dignidade e tolerância.
O ícone do equilíbrio é a balança. Ela nos sugere ponderação nos julgamentos, nas ambições e nas paixões. A dignidade de nossos semelhantes será prioridade. Mãos às obras em favor dos carentes de vida digna. É bom atalho para nossa própria dignidade. E sejamos tolerantes. Sta. Terezinha de Jesus nos ensinou tapar defeitos que vemos nos outros com o betume dos nossos próprios pecados.

Já no alicerce, os pilares fundamentais: igualdade, liberdade e fraternidade.
Os três ideais iluministas. O mundo se interessou menos pelo terceiro – a fraternidade. O poeta Lamartine, ainda no século XVIII, observou que o egoísmo e o ódio sempre tinham pátria. A fraternidade, não. A fraternidade era universal!

Tocando a terra firme: seriedade, paciência, gratidão e força.
Que possamos contabilizar muitos créditos de confiança. Não nos falte paciência - recomenda o poeta Drummond - mesmo com os “que têm excesso de paciência”. Saibamos assumir dívidas de gratidão. Cervantes diz no Dom Quixote que “é de gente bem-nascida agradecer benefícios recebidos”. Fortes, saibamos direcionar a força para o bem e dominar a brutalidade.

No chão do Natal: felicidade, prosperidade e confraternização.
A todos aproveite lembrar que felicidade nós a cultivamos em nós, construindo-a de dentro para fora. Prosperidade é dádiva divina por nossos méritos, nunca uma divindade em si a ser louvada. Ao final, confraternizemos da maneira solidária e cordial como sempre o fazemos, com palavras simples, porém insubstituíveis.
Feliz Natal, próspero Ano Novo!
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(Publicado no jornal LEOPOLDINENSE de dezembro de 2008)

domingo, 13 de setembro de 2009

A Crise dos Municípios

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Setembro, 2009

Segundo o pesquisador do IBMEC, Eduardo Andrade, a atual crise dos municípios brasileiros não poderá ser resolvida com uma simples re-divisão de tributos. Entende Eduardo - economista e pesquisador do IBMEC - que só existem duas saídas para os municípios: as cidades se tornarem sustentáveis com recursos próprios ou buscarem a fusão com outros municípios.

A constituição de 1988 tornou muito atrativo a que qualquer pequena comunidade se transformasse em município para viver dos repasses federais. O problema é que passou a aumentar muito a distância entre municípios ricos e pobres, revelando, ainda, os estudos do IBMEC, que cidades do norte e nordeste do país estão cada vez mais longe de atingirem a média da renda per capta nacional, enquanto municípios do centro-oeste, sudeste e sul, em alguns casos, até superam esse nível.

O que não significa dizer que pequenas cidades destas regiões, postas como privilegiadas, estejam a salvo de problemas. Aqui mesmo, em nossa Zona da Mata Mineira, são conhecidos casos de municípios menores do entorno de Juiz de Fora à beira do colapso financeiro, a julgar pelo que dizem seus prefeitos no MG-TV da Globo.

Não obstante, alguém que se sinta atormentado por essas aflições pode lavar a alma fazendo uma visitinha ao um surpreendente “paraíso terrestre”, no noroeste do Rio Grande do Sul. Trata-se de uma cidadezinha chamada Panambi.
Confiram estes dados, por favor: população, 33.000 habitantes. Algo bem próximo à metade de Leopoldina. Fica a 280 km da capital, Porto Alegre; nós estamos a 240 km do Rio e a 330 de Belo Horizonte.

Panambi é um pequeno gigante da agro-indústria, também conhecida como “Cidade das Máquinas”, sendo o terceiro polo “Metal Mecânico” do Rio Grande do Sul, em virtude de ter elegido prioritariamente um sistema educacional de formação técnica. Tal é a pujança do pequeno município que ele “importa” trabalhadores das cidades vizinhas, uma vez que seu povo vive hoje uma situação de plena ocupação (desemprego abaixo de zero).

São 276 indústrias locais empregando 8.000 habitantes da cidade. Batendo recordes de geração de vagas, no ano 2.000 foram 300 contratações acima das demissões; em 2.001 chegou-se ao dobro, 600 contratações acima; e em 2.002, foram 1.400 contratações acima dos que deixaram o emprego.

De um modo geral, nas indústrias e agronegócios de Panambi os salários ditos de “chão de fábrica” começam com R$400,00 subindo à média de R$700,00 mais plano de previdência privada, participação nos resultados e outros benefícios. O recrutamento funcional se concentra, a priori, nos cursos técnicos do SENAI e do Colégio Evangélico, segundo explica o técnico Carlos Bicca, do grupo Fockink.

Ônibus cedidos pelas prefeituras das vizinhas cidades, de Cruz Alta e Ijuí, transportam diariamente funcionários desses municípios para suprir a mão-de-obra que falta em Panambi.

Tem mais: em Panambi o SUS dá certo. Não existe atendimento precário. O Hospital não está falido e os médicos recebem por seus trabalhos. Lá, foi adotada a Gestão Plena da Saúde em 1994 (aqui em Leopoldina “Gestão Plena” é considerado palavrão por nossos administradores públicos), atendendo a 92% da população (mesmíssimo índice da Casa de Caridade Leopoldinense) e, sobre o SUS, o prefeito de Panambi escreve:

“O SUS foi conquistado pelo povo brasileiro e está consolidado na Constituição Federal, sendo um direito deste e um dever dos governantes colocá-lo à disposição da comunidade, o que aqui foi feito desde o princípio.”

Para quem queira saber mais, esse baita prefeito de Panambi é um jornalista e rotariano, de 66 anos, chamado Miguel Schmitt-Prym.
Apesar de jornalista, já foi escolhido Secretário Municipal de Saúde por duas gestões, presidente da Associação Comercial, Prefeito de 93 a 96 e governador do Rotary no ano de 1998.

Pelo visto, a população de Panambi começa a ser feliz na hora em que escolhe o Prefeito.
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(Publicada no jornal LEOPOLDINENSE de setembro de 2009)

sábado, 12 de setembro de 2009

Senhora da Praia

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Eu te amo, mulher
Eu te adoro
Com a discreta delicadeza dos que fazem versos
Mas com a constância definitiva
Das manifestações marítimas.
Aproprie-se de mim
Repousa-me no teu colo.
Dá-me de renascer ao hálito da tua pele.
Ouçamos de nossos olhos
Um silêncio nítido de palavras desnecessárias.
Serás feliz,
Voaremos pássaros
E este mar servil nos valerá de azul
Repetindo na areia ao infinito
O gesto oceânico de apagar tudo que fomos.

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(Publicada em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/,
“Olhem o que achei lá na gaveta”, em 11.09.09)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Ainda o Tema Violência

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Junho, 2002

Meu desenxabido texto do número anterior desta Gazeta, “A Chave da Riqueza”, foi o primeiro, há um bom tempo, a repercutir. Felizmente, manifestações positivas.
Leitores – possivelmente mais amigos que simples leitores – escreveram concordando em que somente ações de solidariedade social voltadas para valores éticos, morais e educacionais “poderão transformar nossos jovens socialmente excluídos em cidadãos participativos, autênticos sujeitos da história deste país”.

Muito mais gente do que se pensa, e até indivíduos de formação conservadora, aceitam hoje que a classe média brasileira, herdeira de uma sociedade escravista e patrimonialista, é responsável direta por investimentos que faltam na educação do nosso povo, por dar-lhe capacitação profissional, oportunidades de emprego, inserção social e saúde.

A alegria de ter tocado o coração de pessoas lúcidas nos anima voltar ao tema, não mais com o mingau ralo - a imagem é do poeta, Bandeira - dos nossos próprios argumentos, mas abrindo aspas ao tutano verbal do jornalista Gilberto Dimenstein, em artigo magistral publicado quando da segunda vitória do tenista Guga, em Roland Garros, fato contemporâneo ao lamentável episódio policial de 12.06.2000, no Rio de Janeiro. Disse Gilberto:

“Dois jovens, quase da mesma idade, poucos meses de diferença, comoveram, na semana passada, o Brasil. Um deles é branco, 23 anos, ganhou fama com uma raquete de tênis na mão. Outro, negro, 22 anos, ganhou fama com um revólver na mão. Na segunda-feira, Gustavo Kuerten, o Guga, cercado de fãs, se deixava fotografar em frente à Torre Eiffel, com o troféu que levou no torneio de Roland Garros, que o projetou para o primeiro lugar do ranking mundial do tênis e o deixou U$ 600 mil mais rico.

Naquele mesmo dia, Sandro do Nascimento, cercado de policiais, depois de um atabalhoado seqüestro, era jogado num camburão, onde morreu sufocado - ele queria R$ 1 mil. Ambos foram acompanhados pela TV, minuto a minuto, em tempo real, seja na quadra de tênis ou no ônibus. Cada qual ficou em seu palco quase quatro horas, filmados pela televisão.

Mas o suspense provocado pela raquete de Guga, nas quase 4 horas que precisou para derrotar o adversário, nos ensina sobre o que melhor podemos ser, graças à união da técnica, talento e perseverança. O suspense de Sandro, também quatro horas no ônibus em que tinha o mundo adversário e uma refém nos braços, nos ensina sobre o que de pior podemos ser, graças à união da falta de técnica, despreparo e omissão. Pelo seu jeito desengonçado, Guga não inspirava confiança quando ganhou pela primeira vez Roland Garros e rompeu a barreira do anonimato.

Sandro nunca inspirou confiança e só rompeu a barreira do anonimato quando seqüestrou, matou e foi assassinado. Seu único dia de notoriedade foi também seu último dia de vida, ele que escapara da notória chacina da Candelária.
Se, numa hipótese absurda, jogássemos Guga, naquele mesmo ano em que nasceu, no ambiente que levou Sandro para a rua, provavelmente estaria preso ou morto. Guga chegou onde chegou porque recebeu apoio, estímulo e orientação. Vimos, pela TV, que, encerrado o jogo, domingo passado, ele quis saber onde estava seu técnico e, estilo menino travesso, subiu as cadeiras para abraçá-lo.

Nas saudações, falou de seus familiares e, num simpático gesto provinciano, mandou pelas câmeras beijos para os parentes. Sabia que, por trás do troféu, estavam os familiares e o técnico. Todo grande vencedor tem uma grande dívida com alguém que o ajudou a prosperar.

Sandro chegou aonde chegou porque, ao contrário, lhe faltou apoio, estímulo e orientação.
Não teve ajuda da família, da escola ou de instituições públicas. Pior, elas apenas serviram para marginalizá-lo, mantendo-o deseducado e, por conseqüência, desempregado. Por trás do corpo asfixiado estava a família desestruturada, devastada pela violência e drogas. Todo grande derrotado também têm um grande crédito com alguém ou algo que o ajudou a afundar. Nessa quadra chamada Brasil, Guga e Sandro estavam divididos exatamente pelas linhas que incluem e excluem, que dão ou tiram chances, que fazem prosperar ou regredir. A quadra que faz derrotados e perdedores.

Se temos mais medo e vergonha do Brasil do que orgulho e confiança, é porque nossas linhas divisórias criam mais espaço para gerar Sandros do que Gugas. Desemprego, subemprego, baixos salários, educação pública ruim, políticas públicas indigentes para recuperar jovens, tratar drogados e assessorar famílias desestruturadas, são os fatores que empurraram o transtornado Sandro para dentro daquele ônibus, no Jardim Botânico. Os números mostram, com clareza, como o desemprego atinge, mais pesadamente, em particular aqueles com baixa escolaridade. E também mostram como a renda está caindo especialmente nas regiões metropolitanas.

Deterioração das regiões metropolitanas, baixa escolaridade, desemprego acentuado entre os jovens, são as linhas dessa quadra de exclusão. Nesse jogo da morte, não há polícia que, de fato, funcione. Nem prisão que abrigue tantos delinqüentes. Vamos seguir produzindo mais chances de Sandros do que Gugas. Somos, enfim, uma nação de perdedores.”

Nada a acrescentar. Tudo a reverenciar.
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(Publicado na Gazeta de Leopoldina 01.06.2002)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O Fim da História

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Setembro, 2009


Andei lendo entrevista do diretor de cinema Oliver Stone (Platoon, The Doors, JFK, Natural Born Killers, Nixon) onde ele aborda dentre outras coisas o que chama de mensagem ideológica deletéria, o caráter antiautoritário, o cinismo e a ironia da mídia ocidental.

Para respaldo de sua bronca, o polêmico cineasta cita Yoshihiro Francis Fukuyama, filósofo nipo-americano (O Fim da História), para admitir que o impulso antiautoritário da mídia foi longe demais e ameaça normas sociais compartilhadas neste nosso mundo liberal, de Pax Americana.

Só para situar as coisas, vamos lembrar que vem do século XIX, com Friedrich Hegel, a teoria do fim do processo histórico, por ele esperado para o momento do triunfo do estado liberal, tanto quanto, para Marx, ocorreria com o êxito da sociedade comunista.

Em livro de 1992, O fim da História e o Último Homem, Francis Fukuyama, retomou a tese quando a história − vista como disputa ideológica, não como término da aventura humana sobre o planeta, claro − parecia haver chegado ao fim, na queda do Muro de Berlim e no triunfo da democracia liberal.

Mas o que Stone pinça em Fukuyama vem depois: “Quando questionar a autoridade passa a ser o slogan principal de uma cultura, essa cultura está condenada porque não será capaz de manter uma união.” Para, daí, concluir que estamos em desequilíbrio, "nos tornando o que os livros de história falam sobre Roma tardia”, mergulhada na lama da decadente autoabsorção e da ausência de virtudes.

Não sei o que pensar desta afoita conclusão, mas confesso que certos questionamentos de autoridades, sobretudo judiciárias, na imprensa, deixam meus parafusos cívicos com a rosca espanada. Chego a sentir no ar um porre de liberalismo.

Embora exemplos em política se tornem velhos depressa, ainda não deu para esquecer o recente julgamento do Ministro Chefe da Casa Civil, pelo Supremo Tribunal Federal. A complexidade da questão e a expectativa aleatória do acórdão estiveram patentes nos próprios números do julgamento: cinco votos pela absolvição e quatro votos contrários.

Até aí, tudo bem. A consonância de pareceres em decisões colegiadas é apenas uma das possibilidades. O que vem ao caso são as críticas severas ao julgamento veiculadas pela imprensa, numa acidez de causar desconforto.

Nunca foi comum por aqui, e certamente que não o é em outros países, a desenvoltura com que a mais alta corte do país é publicamente objetada em matéria técnica, num bom número de casos com palavras mal escolhidas.

Minha “deformação cultural” zela pelo conceito de que toda decisão judicial é respeitável. Pode não ser prontamente acatável, se dela cabe recurso, mas é sempre respeitável.

Alguma coisa está pegando. Talvez a conduta pública pouco litúrgica de alguns membros de nossas Cortes Superiores venha desenganando reverência a seus nomes. Pode ser que a liberdade de crítica venha pisando na linha. O certo é que o equilíbrio hegeliano ditado pelo triunfo do liberalismo e da igualdade essencial, sem dúvida não inclui uma dança sapateada sobre a ordem jurídica.

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(Publicada aos 10.09.2009 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)