Powered By Blogger

Total de visualizações de página

domingo, 21 de outubro de 2012

Ao Prefeito, com Carinho


***
Quem se dispõe a ser Prefeito de uma cidade já deve ter feito, pelo menos em tese, uma avaliação das principais necessidades da população, podendo (também em tese) dispensar opiniões de terceiros. 

Sendo, porém, a Cidade, um bem que a todos pertence inegável se torna o direito, que também a todos assiste, de manifestar opinião segundo o ponto do pescoço onde a corda mais aperta.

Em primeiro lugar, penso que um bom Prefeito será o que vier a aplicar corretamente o dinheiro destinado à saúde. É na área da saúde que mais se tem errado em Leopoldina. Precisamos acabar, de uma vez por todas, com a falsa convicção de que o povo terá assistência médica condigna se o Prefeito investir na construção de prédios; aquelas obras inauguráveis com Banda de Música, foguetório em causa própria e fitinha pra cortar com tesoura. E tome discurso em “rosca sem fim” pra manifestar gratidão a “a”, a “b”, a “c”... a “y”.  Sempre aquele rosário de agradecimentos...

Quando o Prefeito sai por aí defendendo a “construção” disto e daquilo para “levar saúde à população”, começa a piscar um led em minha cinzenta a denunciar que ele está enganado ou está tentando enganar. Não faltam prédios à cidade e o mais econômico é alugá-los. Perguntem aos Bancos, perguntem às lojas de franchising, se eles preferem construir ou alugar.

Investir corretamente na saúde de Leopoldina significa, hoje (e ontem já significava), equipar o Hospital e dar condições dignas de trabalho aos médicos e aos demais profissionais. Inclusive remunerando-os de maneira adequada, quando menos para que  tenham condições de oferecer respaldo técnico-especializado ao Pronto Atendimento. Coisa que nunca tivemos!

Passa, a meu ver, pela saúde a grande e  a maior deficiência administrativa de Leopoldina.

Secundariamente, o transtorno mais notável está no trânsito. Problema, aliás, que nem é exclusivo de nossa cidade. O país, talvez todo o mundo civilizado, vem colocando nas ruas mais carros do que nelas cabem. O governo baixa e até suprime impostos para “segurar as vendas” do automóvel, garantindo empregos na indústria e paz social. Mas é claro que estamos caminhamos para o impasse: muito brevemente os carros não mais conseguirão sair das garagens. Nas grandes cidades eles ainda saem, mas quase já não conseguem trafegar. É o entupimento geral, o infarto das vias públicas.

A solução, ainda que provisória, só pode estar no transporte público. Leopoldina é cidade de muitas ruas estreitas a reclamar ordenação melhor para o trânsito, proibição dele em certas ruas e restrição a veículos grandes (ônibus e caminhões) em pontos críticos. Não entra na cabeça de ninguém que um baú Mercedão possa fazer entrega na Rua Tiradentes às duas da tarde... Já viram o tamanho do caminhão que entrega colchões?

Não custa rever, também, a sinalização urbana e ir corrigindo, aos pouco, as mil e uma irregularidades do calçamento. É urgente ensinar à área técnica da COPASA, ou de suas terceirizadas, como recompor com responsabilidade e inteligência o calçamento após a ligação de uma pena d’água: repor a terra na valeta, sem socar, sem comprimi-la, resultará sempre em novos “baixos relevos” a infernizar o tráfego.

Mas, por favor, trocar paralelepípedo por asfalto, nem pensar. Asfalto polui a cidade de poeira preta – um tormento – e aumenta muito a velocidade dos carros, com mais perigo para pedestres, ciclistas e motoqueiros. Por enquanto, e até que nos transformemos numa grande metrópole, com Segundo Turno e tudo, deixemos os paralelepípedos onde estão.

No mais – como escrevo antes da abertura das urnas −  desejo um bom mandato ao nosso próximo Prefeito, seja ele quem for. Que não lhe falte humildade para ouvir mais do que falar e, se não for pedir muito, para aceitar a independência da Câmara e dos Conselhos Municipais. 

Que ele tenha, ainda, o bom gosto de deixar de lado o “esporte preferido” dos prefeitinhos do interior, que é perseguir professoras e, no caso de Leopoldina, perseguir o Provedor do Hospital.
Se a idade já não lhe permite bater uma bolinha no Brasília ou no Moínho, tente o Pilates ou a Hidroginástica. Faz um bem!
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicada em15.10.2012 no jornal LEOPOLDINENSE)

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Conversa Mineira – Livro de Crônicas

***

Lançado com grande sucesso em maio último, na Casa de Leitura Lya Maria Müller Botelho, o livro de crônicas, “Conversa Mineira e outras histórias”, só alegrias vem dando ao autor.



Disponível a R$19,90 na Livraria Central e na Banca de Jornais do calçadão da Rua José Silva, 145, Leopoldina, MG, e, no Rio de Janeiro, no Largo do Machado, 29/701, telefones (21) 2285.8081 e (21) 2557.4064, mais de duzentos exemplares foram vendidos nas duas primeiras semanas.

A edição reúne crônicas variadas, quase todas num estilo de bem humorado gosto interiorano, publicadas em blogs e jornais. Inclui, ao final, anotações históricas interessantes sobre Leopoldina, a cidade mineira do autor.

Pedidos podem, ainda, ser feitos pelo endereço eletrônico: jmacrod@hotmail.com

₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Leopoldina Merece

***
Maio, 2012

É bom a gente dar ênfase às coisas boas da nossa cidade. Nós, os fiscais do cotidiano, os cronistas, jamais contamos até dois ao nos agarrarmos a episódios negativos para tema de nossos escritos. É que a má notícia causa impacto, atrai leitura. Mas não custa, vez ou outra, esquecer o pirotécnico e falar de coisas boas. Então vai aí uma agradável constatação:

-Existe um público leitor em Leopoldina.

Já se disse que o baixo número de jornais vendidos na cidade não apontaria para uma sociedade informada e que o moderado comparecimento de pessoas a eventos culturais seriam indicativos de um público refratário a investimentos in abstracto.

Não foi o que presenciamos na sexta-feira, dia 4 de maio, quando do lançamento, na Casa de Leitura Lya Maria Müller Botelho, do livro de crônicas “Conversa Mineira e outras histórias. Um grande número de pessoas lá esteve, prestigiando o evento, o que muito nos lisonjeou. Não houvéssemos providenciado uma tiragem maior, teria faltado livro.

“Conversa Mineira” é uma apanhado de crônicas bem humoradas, incluindo, em seu final, quatro artigos com anotações históricas sobre Leopoldina e região.

Desejo abraçar, ainda uma vez, a cada amigo(a) que lá esteve – Muitíssimo agradecido! – e dizer que deixei os livros que sobraram à disposição do público, na Livraria e na Banca de Jornais do calçadão da Rua José Silva, em Leopoldina. No Rio de Janeiro, no Largo do Machado, 29 sala 701.

Sai pelo preço de custo, apenas arredondado para facilitar o troco. Não se cogita de ganhar dinheiro com livro: a ideia sempre foi de um presente a Leopoldina.
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicada no LEOPOLDINENSE OLINE, maio de 2012)

terça-feira, 1 de maio de 2012

A Propósito da CCL

***
Janeiro, 2012

O jornal LEOPOLDINENSE vem de fazer uma enquete entre seus leitores com a seguinte pergunta:

- Qual seria o administrador ideal para o hospital de Leopoldina?

As respostas obtidas dão bem a medida do quanto a população leopoldinense anda atenta às dificuldades que afligem nossa Casa de Caridade. Luiz Otávio nos pede uma análise dos números e nós, pelo muito que amamos nosso Hospital e as pessoas que ali trabalham, entendemos útil toda troca de ideias sobre a saúde da população. É algo que fala de muito perto às pessoas de bem desta cidade. Eis o resultado da pesquisa:

Uma Empresa Especializada 85 votos
41,87%
O Supremo Conselho(Provedor) 35 votos
17,24%
O Município 32 votos
15,76%
A Associação Médica 28 votos
13,79%
O Estado 18 votos
8,87%
Tanto faz 5 votos
2,46% (Total de votantes: 203)

Os quase 42% dos votantes que optaram por “Uma Empresa” na administração do Hospital fazem uma boa escolha, no meu modo de ver. Não que isto vá resolver todas as dificuldades existentes; não vai. Mas seria a melhor forma de administrar a instituição. Diríamos, até, que a história demonstra que foi.

-Por que não resolve? Porque qualquer Empresa especializada em Administração Hospitalar nomeará, necessariamente, um “Administrador” que continuará sendo o ALVO da má-fé política, interna e externa, que sempre infelicitou o Hospital .

Politica interna, porque nem todos, dentro da CCL, desejam que ela seja tecnicamente bem administrada – tê-la mais complacente com o erro interessa a alguns; politica externa, porque os Prefeitos, na condição legal de “Gestores da Saúde no Município”, sempre lutaram (e lutarão) para ter à frente do Hospital um “homem deles”... E a arma nessa guerra é, e será sempre, o corte nas verbas: principalmente (mas não apenas) calote no pagamento das mensalidades do Pronto Socorro, sabidamente uma responsabilidade legal da Prefeitura, da qual o Hospital jamais conseguiu se livrar.

Todos se lembram das diversas ocasiões em que a Prefeitura suspendeu o pagamento das mensalidades do PS, até durante vários meses, na tentativa de defenestrar o Provedor. Por várias vezes o Hospital se viu à míngua dos mais elementares recursos para o pronto atendimento (ataduras, esparadrapos, antibióticos, desinfetantes etc.) por falta desses créditos.

Aliás, no dia em que o Ministério Público debruçar-se com especial carinho sobre o que os prefeitos de Leopoldina e seus Secretários de Saúde fazem com o Hospital, e aplicarem o “remédio” adequado, um coral de anjos entoará aleluias nos celestiais recessos.

Bom, mas quanto à enquete, devemos concordar com os 41,87% dos leitores votantes. É bem provável que se algum dia o Hospital vier a funcionar dentro de padrões mínimos de eficiência e confiabilidade, será sob égide de uma administração profissional.

Os 17,24% de leitores que optam pela continuidade do atual sistema, com um Provedor eleito pelo Supremo Conselho, certamente se louvam no aspecto HONESTIDADE, dos escolhidos. De fato, não consta ter passado pelo Hospital um Provedor sobre o qual haja recaído qualquer acusação de improbidade. Invariavelmente, os Provedores do Hospital são criticados apenas por aqueles que desejam seus lugares!

Os 15,76% que acreditam na administração “Municipal”, dão um voto que, em tese, tem sentido. Ou seja, sendo o Prefeito o gestor da Saúde, colocaria lá um “homem dele”, pondo fim à eterna celeuma. Qualquer Prefeito adoraria isto.
O problema é a irresponsabilidade do empreguismo político.

Todos ainda se lembram da fatídica Medida Liminar que colocou o Hospital, por alguns meses, nas mãos do Prefeito. Ao ser reinstalado na Provedoria, por decisão do TJMG, José Valverde Alves revelou-me ter encontrado o quatro funcional que deixara inflado em cerca de 45%, com a admissão de 82 (oitenta e dois) novos funcionários, apaniguados... Pode, uma coisa desta?
Infelizmente o político honesto existe, mas esta não é a regra; é a exceção.

Em verdade, falta aos votantes o dado fundamental: a honestidade dos Provedores eleitos pelo Conselho, paradoxalmente, alimenta a crise com a Administração Municipal porque impede o uso da Instituição como cabide de emprego. É que são mais de 200 (duzentos) postos de trabalho, dentro de uma cidade pequena como a nossa, a não render dividendos políticos para o Alcaide de plantão! Isto incomoda que só vendo!

Os 13,79% que optariam por um Administrador indicado pela Associação Médica, também votaram com inteligência e boa-fé. Sem dúvida, a Associação Médica é uma grande e leal colaboradora do Hospital. Até automóvel para o Hospital fazer rifa ela já doou, reformou segmentos do Hospital etc.

A parte tecnicamente afeta à medicina, no Hospital, entretanto, já é de responsabilidade do Diretor Clínico – sempre um médico. E não consta que a CCL tenha problemas imputáveis à administração dessa área técnica. O problema existente sempre foi administrativo-financeiro. Qualquer mudança a fazer, só terá sentido se for para agregar proficiência técnica à parte de gestão. O que não é, exatamente, tarefa para um médico, como não o seria para um físico nuclear, para um comandante de Boeing, para um sociólogo ou para um poeta. Administrar hospital é tarefa para um bom Administrador Hospitalar. A Fundação Getúlio Vargas – para só citar um exemplo – ministra cursos na área; quem quiser especializar-se, está lá.

Por último, 8,87% votaram pela Estadualização. O número baixo de votantes por certo se explica na inviabilidade da fórmula e por tudo que se sabe de hospitais públicos, de uma maneira geral. No caso da nossa Casa de Caridade, algo inteiramente fora de cogitação.

Interpreto, pois, a pesquisa do LEOPOLDINENSE como muito positiva ao indicar a melhor fórmula de dar boa gestão ao nosso Hospital: entregá-lo a uma empresa especializada. É fazer isto e procurar apaziguar os corações exaltados por interesses contrariados.

₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado em janeiro de 2012 no jornal LEOPOLDINENSE Online)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Foi Assim #

***
Dezembro, 1965

Nasci à beira de um rio de águas vagarosas, ao qual chamavam Rio Pardo. No pequeno vale contíguo à planície denominada Vargem Linda, no sopé da encosta, meu pai construiu, com suas próprias mãos, sobre esteios de braúnas centenárias, nossa casa, simples, mas tão extraordinariamente bela e agradável que os anos ali vividos nós os guardaríamos na memória como um tempo submerso no azul de um céu muito limpo e pródigo nas mais preciosas dádivas da natureza.

Vargem Linda não chegava a ser grande. Uma pequena chácara de alqueire e meio, como sempre ouvi dizer. Dela, meu pai extraia o sustento da família com pequenas culturas de arroz, feijão e milho.

Tínhamos também uma vaca muito bonita e grande, chamada Princesa, de pelo queimado, brilhante, chifres altos cor de grafite, que nos brindava todas as manhãs, a meus três irmãos e a mim, com o leite forte de suas virtudes zebuínas. Meu pai possuía um cavalinho castanho, o Guarany, que o levava a trote por toda a parte.

Professora rural do lugar, minha mãe, Da. Pequetita, ensinava às crianças pobres a ler e a escrever. No início da década de 1940 a região da Vargem Linda era muito pobre de recursos e as pessoas muito simples. Todos trabalhavam na lavoura e eram poucos os que sabiam assinar o nome. Nem mesmo os proprietários das terras, em sua maioria, puderam frequentar escolas primárias. O mundo civilizado devia parecer distante, quase inalcançável para eles.

Minha mãe tornou-se particularmente estimada de toda a população por ser mestra dedicada, exigente e muito cuidadosa do aprendizado e da saúde de seus pequeninos alunos. Era um tempo em que a simples e elementar ideia de alfabetizar as crianças contava com poucos adeptos. Os menores eram úteis na ajuda aos pais na lavoura, atividade compreensivelmente prioritária, pois representava em muitos casos a própria sobrevivência.

Importantíssimo, portanto, que as professoras se dirigissem às residências e, lá, convencessem os adultos da relevância do aprendizado, da necessidade de equacionar o problema e alfabetizar os filhos. Para os meninos e meninas que não podiam comprar cadernos, minha mãe costumava fazer, com linha de costurar e papel de embrulhar pão, os cadernos com que pudessem anotar as aulas.

Tal como se descreve no início da criação, Deus há de ter visto que tudo aquilo era muito bom, pois parece ter inundado de bênçãos nossas vidas e determinado que, ao final, tudo viesse ter à trégua e à paz.
₪₪₪₪₪₪₪₪

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Maria Sumiu

***

Faz tempo, passou Maria
Em frente à minha janela,
Eu que sempre falo em versos
Em versos não falo nela.

Meu fraco é falar de mar,
Falar de espera e de mágoa,
De lágrimas de se afogar
Como a lua dentro d’água.

Maria foi uma vaga
Em noite sem lua cheia,
Tudo indica que no escuro
Maria virou sereia.

*******

Na Dívida Ativa

***

Quero, neste Carnaval,
Reprimir minha alegria
Vou botar terno e gravata
E arquivar a fantasia.

Não quero o calor do samba,
Melhor uma ducha fria
Atiçar os meus problemas
Dando papo à minha tia.

E, à noite, quando eu voltar
Nem passo pelo chuveiro,
Enfio uma roupa suja,
Vou dormir no galinheiro.

Se espirrar não é Saúde
Por favor, digam: -Enfermo!
E debitem o mau humor
À ganância do governo


********

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O Quintino e o Wando

***
Fevereiro, 2012


A morte do cantor Wando me trouxe lembrança de um estouvado companheiro de trabalho, no Rio de Janeiro, o também falecido jornalista Luiz Quintino. Esse foi um cara que se destacava. Chefe de redação da empresa em que trabalhávamos, gozava da justa fama de sério, competente e equilibrado. Era casado com Vanira, mulher adorável com quem tinha dois filhos já moços.

Residia num bom apartamento da Zona Sul do Rio, levava vida profissional e social dentro dos padrões e manifestava, sempre, grande carinho pela esposa e até pela sogra. Versado em elogios abundantes, tinha na sogra sua grande beneficiária.

Lembro-me da ocasião em que buscava trocar o apartamento da família. Dizia enfático:
– Só me serve imóvel com terceiro quarto que seja “muito bom”, para minha sogra. Não abro mão de tê-la morando comigo. Minha mulher é maravilhosa, mas quem “adivinha meus pratos preferidos” é minha sogra.

Pois foi este homem de vida conjugal nos eixos que, a partir de certo dia, passou a incluir a própria secretária, Olivinha, nos confetes coloridos de sua verve. Moça casada e bem mais jovem que o chefe, talvez enfrentasse problemas em casa. Percebíamos que Quintino tornara-se seu confidente e, aos poucos, sua companhia invariável nos almoços. Rapidinho o namoro ficou óbvio.

Da parte do Quintino, rarearam os louvores à esposa e à sogra. As qualidades de Olivinha ganharam preponderância em seu apostolado.

Pelo sim, pelo não, eu – o colega ao lado − decidi a tudo ver e ouvir em silêncio obsequioso. A situação era desconfortável para mim, na condição de também amigo da esposa, Vanira, pelos muitos anos de convivência com o casal. Uma distância prudente do imbróglio era-me recomendável.         

Deu-se, por aquela época, que o cantor Wando fazia grande sucesso na casa de espetáculos “Asa Branca”, nos Arcos da Lapa. A imprensa repercutia:
– Imaginem, ele arremessa calcinhas de lingerie para as fãs!
Wando emplacava seus grandes “hits” românticos. Quintino foi, com Olivinha, ao show.

Se faltava algum tênue empuxo a inundar de paixão o coração do ragazzo, o show do Wando seria a gota d’água. O homem já não conseguia trabalhar; grudou na Olivinha.
Claramente envolvido no lirismo da canção “Moça” (Só podia ser: assobiava aquilo o dia todo!), passou a desconsiderar os limites do recato.
– Era casado? Dane-se!
– A moça era casada? Dane-se, novamente!
– A moça era muito mais nova? O Wando resolve:

“Moça, dobre as mangas do tempo
jogue o teu sentimento, todo em minhas mãos...”

“Dobre as mangas do tempo” é garimpo poético de fina extração, não acham? Pois o bom Wando, mineiro de Cajuri – povoado que fica ali, pertinho de Viçosa – disse mais, naquele show:

Brega, minha gente, é não viver um grande amor.

Quintino tomou boa nota e, certamente, viveu. Deu um galho danado, mas viveu.

₪₪₪₪₪₪₪₪

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A Catástrofe da Treze de Maio

***
Janeiro, 2012


Cá de Minas Gerais, onde estou, o desmoronamento dos três prédios da Av. Treze de Maio, a 25.01.2012, no Rio de Janeiro, ressoou como se ocorrido aqui em frente.

É que a Av. Treze de Maio foi, de fato, e por muitos anos, a minha rua, a rua do meu trabalho, do meu dia-a-dia, além da rua do Teatro Municipal, do Banco do Brasil – Agência da Cinelândia, do Cordão do Bola Preta, do antigo IAPB, no Edifício Darke, e da Cia. Siderúrgica Nacional, no histórico Edifício Municipal.

Fronteiriças aos prédios que desabaram, minhas janelas de escritório, no 18° andar do número 13, abertas sobre a cúpula do Teatro Municipal, divisavam aqueles prédios que caíram no primeiro plano da paisagem, tendo a Baia de Guanabara ao fundo, o Pão de Açúcar e a Ponte Rio/Niterói.

No térreo de um deles, funcionava uma padaria com pães especiais que, à noite, costumava levar para casa, para deleite do meu filho.

Presenciar, pela TV, a remoção daquele entulho me comove e me atesta situar-se ali um pedacinho do Rio a integrar, silenciosamente, meu sentimento de lar.

Opinar prematuramente sobre as causas da tragédia não é apropriado. Se, de saída, entretanto, foram descartadas as hipóteses de explosão, algum outro episódio terá comprometido fatalmente as estruturas da edificação  maior, que levou, em sua brutal implosão, as duas menores.

Sabe-se que o concreto não perde resistência com o tempo – ao contrário, torna-se mais rijo − a menos que ferragem exposta à ferrugem o comprometa, o que é raro. Obras desastradas, de acréscimos, surgem, então, como causa mais provável da tragédia.

A propósito, vivi experiência bastante elucidativa da questão. Na década de 80, contratei empresa para abrir um buraco na parede e instalar condicionador de ar em meu apartamento de 10° andar.

Aos dois pedreiros que chegaram pela manhã, indiquei a parede a ser furada e fui trabalhar. Cismado, porém, resolvi almoçar em casa para conferir o andamento da obra. Que susto! Só a metade direita do buraco estava aberta; a outra, a duras penas, eles tentavam, roer a marteladas...
– Está muito duro, Doutor, é concreto armado!

Foi fácil logo ver que na ponta das talhadeiras estava uma pilastra do prédio. Aflito, gritei que parassem com aquilo... Devo ter pronunciado, naquele instante, a ordem mais importante da minha vida...

Obras feitas por “curiosos”, sem qualquer planejamento técnico, são comuns. Moradores, proprietários e síndicos precisam estar atentos. Contratar pedreiro indicado pelo porteiro é uma temeridade.

Também não pensar que a simples regularização da obra no CREA garante segurança. Dão apenas notícia de que “há um engenheiro responsável”. O que não é tudo. É bom saber se o engenheiro, de fato, projetou e – importantíssimo – se passa por lá. Porque Conselho não fiscaliza obra: ele existe para defender a classe profissional por cujos interesses zela. Conselhos são autarquias que funcionam mais como burocracias cartorárias, vorazes, sobretudo na coleta de suas próprias receitas, em anuidades, taxas e multas.

O ideal seria fiscalização municipal eficiente, acompanhando reformas e exigindo manutenção.  Infelizmente, esta é outra área em que, pelo menos nas grandes cidades, a corrupção campeia solta. Dinheirinho para aprovar, dinheirinho para não multar, dinheirinho pra isto, dinheirinho pra aquilo. E, cuidado, hem! Melhor contratar despachante “do ramo”, que coloque a grana na mão da pessoa certa. Se não...

A imprensa publicou duas fotos comparativas do prédio maior, responsável pelo desastre da Treze de Maio – antes e depois das reformas que sofreu ao longo dos anos. Na foto mais recente, aparecem obras de ampliação nos andares superiores e inúmeras janelas suplementares,  abertas na empena cega do prédio. O vulto dos acréscimos assusta pelas possíveis toneladas de cimento, areia e tijolos ali colocados posteriormente ao cálculo das estruturas. As aberturas caóticas das janelas sugerem possíveis danos aos pilares. Tudo, portanto, obra irregular.

É rezar pelos mortos.


₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado, em 30.01.2012, no Leopoldinense Online)

sábado, 28 de janeiro de 2012

Se Drummond Fosse Sambista


***

Amanhã será domingo
E, depois, segunda-feira
Ninguém diz o que será
Se os outros dias que vêm
Forem todos de esperar
Rosa que demora tanto
Sem razão pra não voltar.
Eu choro, menino, eu choro
Meu destino foi chorar
Foi Rosa pisando em mim
Até Rosa me deixar.


*******

sábado, 21 de janeiro de 2012

Malfeitos, estragos relativos

***
Janeiro, 2012


O calcanhar de Aquiles da democracia brasileira está em que pessoas honestas, cultas e talentosas demonstram pouco apetite pelo poder, ao contrário dos medíocres e pilantras − obstinados pela ocupação de espaços políticos em que se protejam e negociem novas velhacarias. 

Juntando-se isto à notável empatia das massas pela pândega dos segundos, chegamos à demeritocracia renitente em que vivemos. Uma boa reforma política se impõe e estaria na hora de começarmos a pensar nela.

O problema é que o governo Dilma parece dar sinais de estropiamento. Anda borocoxô, em inegável marcha lenta. E olhem que Lula chegou a profetizar isto, quando da queda do Palocci. Ele disse para quem quisesse ouvir:
– Se o Palocci sair da Casa Civil o governo não vai andar.

Andar, sair do lugar, hoje como nunca, seria dar andamento às reformas. Tributária, previdenciária e política. Nesta última, bom seria se caminhássemos na direção de escolhas menos aleatórias, num molde de democracia mais imune a bandidos travestidos de políticos e mais tutora dos interesses da nacionalidade. 

Até lá, certamente, teremos que atravessar (a nado de peito), um mar de melhores leis, aprimoramento cultural e mais patriotismo.

Expectador à margem do poder, acima de quem é a favor e acima de quem é contra, favorece-me o olho limpo. Observo que os antipetistas, ou antigovernistas, não percebem todas as nuances da tragédia. Os muitos e sérios percalços por que passou o PT, no governo Lula e, agora, na dança dos ministérios, com Dilma, comprometeu, sim, a imagem do partido.

Pena que as credenciais da oposição para capitalizar em praça pública essas perdas situacionistas são, no mínimo, problemáticas. Entra em cena um implacável relativismo. É que, ao desmoralizar-se na esteira dos “malfeitos”, o PT não cai abaixo de seus contendores: nivela-se a eles.  


₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado em 21 de janeiro de 2012 no jornal LEOPOLDINENSE)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Relendo Três Notícias

***
Fevereiro, 2009


Se vivo, Dom Hélder completaria 100 anos

Da biografia de Dom Hélder Camara, consta que ele foi o antepenúltimo filho do guarda-livros e maçom convicto, João Eduardo Torres Câmara Filho, e da professora Adelaide Rodrigues Pessoa Câmara. Nasceu no dia 7 de fevereiro de 1909, um domingo de carnaval, em Fortaleza, Ceará. Dos 13 filhos do casal, cinco morreram em 29 dias, em consequência de uma epidemia de crupe, hoje conhecida como difteria. O menino Hélder recebeu a primeira comunhão aos 8 anos de idade e, aos 14, entrou no Seminário da Prainha de São José, Fortaleza, onde fez os cursos preparatórios, depois filosofia e teologia.

Em 15 de agosto de 1931, aos 22 anos, ordenou-se sacerdote e, em seguida, foi nomeado diretor do Departamento de Educação do Estado do Ceará. Cinco anos depois, transferiu-se para o Rio de Janeiro. Durante 28 anos, colaborou com revistas católicas, organizou o 36º Congresso Eucarístico Internacional, fundou a Cruzada São Sebastião para atender moradores das favelas cariocas e o Banco da Providência, destinado a ajudar famílias na faixa da miséria.

Exerceu funções na Secretaria de Educação, Ministério da Educação e Conselho Nacional de Educação, organizou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Episcopal Latino Americano (CELAM). De 1952 a 64 ocupou o posto de primeiro secretário-geral da CNBB e de 58 a 66 foi delegado do Brasil no CELAM e seu vice-presidente. As duas entidades foram os instrumentos de apoio para a implantação de um modelo de Igreja progressista, que tinha como base a opção preferencial pelos pobres.

A promoção a arcebispo auxiliar do Rio de Janeiro chegou em 1955, quando estava com 46 anos. No dia 14 de março de 1964, foi indicado pelo papa Paulo VI a ocupar a Arquidiocese de Olinda e Recife.
No dia 11 de abril de 1964, um sábado chuvoso, dom Hélder desembarcou, às 15h30, no Aeroporto dos Guararapes, que se encontrava lotado. Dali, em carro aberto, seguiu para a Matriz de Santo Antonio, onde falou para milhares de pessoas, debaixo de chuva, antes de seguir para o Palácio dos Manguinhos, residência oficial do arcebispo.

Em sua mensagem, publicada na íntegra pelos jornais, dom Helder disse que era "um nordestino falando a nordestinos com os olhos postos no Brasil, na América Latina e no mundo. Um cristão dirigindo-se a cristãos, mas de coração aberto, ecumenicamente, para os homens de todos os credos e de todas as ideologias. Um bispo da Igreja Católica que, à imitação de Cristo, não vem ser servido, mas servir".

Assim foi Dom Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife por 21 anos, e que completaria cem anos no último 7 de fevereiro de 2009. Um pastor adorado por seu povo, que empolgava multidões.

Uma juíza na berlinda

Parece absurdo, mas não é. Notícia veiculada no jornal O Globo, do último dia 10 de fevereiro, informa que uma juíza investigada por corrupção deverá ser promovida pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Trata-se da magistrada, Dra. Ângela Catão, da 11ª Vara Federal de Belo Horizonte, que deverá ser promovida esta semana a desembargadora. Relatório da Operação Pasárgada, que a polícia federal enviará ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) também esta semana, acusa a juíza de corrupção e formação de quadrilha, entre outros crimes.

Ela é investigada pelo suposto favorecimento a prefeitos acusados de desviar verbas do Fundo de Participação dos Municípios. A juíza deverá ser promovida a desembargadora para ocupar a vaga aberta com a aposentadoria do vice-presidente do TRF, Antônio Ezequiel da Silva, no fim do mês passado. Sendo a magistrada com maior tempo de serviço, é a primeira na ordem das promoções.

Ela só não será elevada de posto se declarar que não quer trocar a Justiça Federal em Minas pelo TRF em Brasília. A questão assim colocada no jornal poderá dar às pessoas menos avisadas a impressão de que a promoção é absurda. Não existe, contudo, qualquer condenação à juíza até o momento. O Tribunal não tem, assim, como negar-lhe um direito que não perdeu.

Morre Eluana Englaro

Na segunda feira, 9 de fevereiro de 2009 morreu, na Itália, Eluana Englaro, de 38 anos, que há 17 estava em estado de coma. A alimentação dela foi suspensa na última sexta-feira, dando início a um procedimento de eutanásia, autorizada pela justiça.

Eluana sofreu um acidente de trânsito em 1992. Em novembro do ano passado, seus pais obtiveram na Justiça, em última instância, autorização para deixar a filha morrer. A questão reergueu, na Itália e no mundo, a polêmica sobre a eutanásia. Numa clínica particular da província de Udine, que aceitou responsabilizar-se pelo procedimento, a interrupção da alimentação e da hidratação de Eluana, teve início na sexta-feira. O porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, disse esperar que o caso sirva como exemplo para reflexão.

Agora que Eluana está em paz, desejamos que seu caso, "seja motivo de reflexão serena e de pesquisa responsável dos melhores caminhos que devemos seguir no necessário respeito do direito à vida, no amor e no tratamento atento das pessoas mais necessitadas.” Para quem fala em nome do Vaticano, disse bem menos, o jesuíta Lombardi, do que gostariam de ouvir os que condenam com veemência a eutanásia. É a própria Igreja reconhecendo que, às vezes, é difícil definir o que, de fato, representa um ato de amor.

Pela lei brasileira eutanásia é homicídio. Em desfavor dela pesa, além das disposições penais, o óbice constitucional, que inclui o direito à vida entre os direitos fundamentais da pessoa humana. Também o Código de Ética Médica repudia enfaticamente eutanásia. Legislações de alguns países prescrevem, a seu turno, que a eutanásia passiva, aquela solicitada pelo próprio doente terminal, não é apenada. O tema, como se vê, é polêmico.
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado em fevereiro de 2009, no jornal LEOPOLDINENSE)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Foguetório

***
Janeiro, 2012


Natal, Ano Novo, foguetes espocando pelos bairros. Deitado em minha cama, ontem à noite, atinei-me para a grande dívida que venho acumulando com a sociedade humana, que tão generosamente me acolhe. Gosto de ouvir foguetes e nunca soltei um único foguete!

Devo ser o maior egoísta desta festa que é a vida. Os foguetes levantam meu astral há várias décadas, é um deleite ouvi-los pipocar, mas jamais gastei um único centavo em show pirotécnico! Grande sempre foi meu encantamento com queima de fogos, luzes e emoções de fim de ano sobre o mar do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, sem nunca haver concorrido com um mísero busca-pé. Só hoje, constrangido, me constato esse beneficiário silencioso e contumaz da toarda alheia!

Infelizmente é 31 de dezembro e já não há tempo; o comércio está fechado. Ano que vem pretendo redimir-me. Procurarei saber, de antemão, onde vendem foguetes. Se não me engano até sei de um lugar onde fogos de artifício são vendidos. É no quilômetro zero da Estrada Washington Luiz, saída do Rio de Janeiro para Petrópolis. Lembro-me de uma loja de fogos de artifício naquelas imediações; não sei se ainda está lá, porque a presença, ali próximo, do prédio futurista do jornal O Globo está levando Duque de Caxias para o primeiro mundo, sofisticando a Baixada. Pode ser que a torcida do Flamengo esteja comprando rojão em outro lugar.

Mas seja onde for, comprarei logo algumas dezenas de foguetes. Se o tempo ajudar, na virada do próximo ano, torno ainda mais “público” o resgate de minha dívida social subindo o Morro do Cruzeiro, que é o promontório da cidade interiorana em que nasci, e liquido meus débitos lá de cima.

Se ficar bonito, pode até acontecer de criarmos uma “tradição” tão difundida quanto a Virada do Ano em Copacabana. Pensam que estou brincando? São Paulo já não fica atrás com sua réplica do foguetório carioca na Av. Paulista.

Aceito parceiros que desejem ribombar comigo, foguetes a um novo ano.  “E de pensar realizamos”...  

Ótimo 2012 a todos!

₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado em 05.01.2012 no jornal LEOPOLDINENSE online/)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Canal de São Simão

***

Na areia, bateia
Mateira morreu na teia
Das duas caras do rio.
No chão que o Jaó campeia
Não se ouve mais um pio.
Por amor à lua cheia
O canal galgou ladeira
Meia galga, galga e meia
Sepultou Vila Mateira
No ventre da maré-cheia.
A aldeia se foi num trago
E a lua mudou pro lago
Como se fosse sereia.


**********
(1974)

Cirurgia

***


Oito dias após a terceira cirurgia o médico, cuidadosamente, retira-lhe o curativo

e ordena:

-Vá abrindo os olhos devagar, sem pressa, não se aflija... Com calma, com calma...

E, oferecendo-lhe a palma da mão, pergunta:

-Pode ver alguma coisa? Vê minha mão?

-Não, doutor, apenas uma sombra... Um vulto. Um vulto de mulher!

Abatido, o cirurgião recolhe o braço, cerra demoradamente o punho

e murmura:

-Meu Deus, ele continua cego para a realidade!


***********

Amada de Antigamente

***

Lembrança que não despega
Companheira renitente
Ilusões postas de lado
Reinstaladas na mente...

Amada de antigamente
Amada provincial
Se ainda lembra da gente
Menos mal, menos mal.

Amada por um momento
Num baile de carnaval
Se ainda brincas com o tempo
Menos mal, menos mal.

Mas quando a deprê baralha
O ancestral e o atual
Meu país é uma província
E a saudade é federal. 

**********
(1985)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Persona Non Grata

***


Ei, tu que vais enganado!
O espaço reivindicado
Exauriu-se antes de ti.

Na lacuna moribunda
Da tarde em que tu chegaste
O sol havia se posto
E a noite te dispensava.

A mesa, porém, já posta
De apreço desguarnecida
Negava ao adventício
Uma cadeira escondida.


*********

O Caruncho

***


Sonhei que era um caruncho.
Um célere caruncho de bicanca em riste
Atravessando em diagonal intrépida
O lençol branco da cama.
Acordei e fui conferir:
Caruncho, segundo o Aurélio,
É designação de inseto coleóptero
Que perfura, sobretudo, madeira e cereais
E cuja maioria é xilófaga...
O que, trocando em miúdos,
É muito pouca merda, meus senhores.


*********
(Publicada em 11.11.2011 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Violeiro

***

Vai, violeiro, vai
Escolhe o acorde e o tom
E manda pra ela um beijo
No queijo de uma canção.

Vai, violeiro, vai
E abre do coração
Coisas que só devia
Abrir pro teu violão.

Vai, violeiro, vai
Diz pra gente da paixão
Que chega a fechar teus olhos
Na volta do teu refrão.

Vai, violeiro, vai
De roda só tem amigo
Canta pra gente saber
Ou finge não ser contigo.


**********

Independente da Hora

***


Independente da hora
Do dia ou do lugar
Você devia ligar
Você devia ligar.

Eu vou saber esperar
Me vestirei de esperança
Pois tudo perde importância
Se você pode voltar.

Independente da hora
Do dia ou do lugar
Você devia ligar
Você devia ligar.

Me faria tão feliz
E tanto de eu nem saber
Atinar com o que se diz
Quando se está tão feliz.

Independente da hora
Do dia ou do lugar
Você devia ligar
Você devia ligar.

********

Deus Tempo

***


Insondável é o tempo
das profundezas do qual
tudo surgiu
se estiola
se vence
se evola.

Consumirá as estrelas
fará dos astros
poeira
errática
na escuridão abissal.

Sobre o nada reinará
Deus Tempo
a presidir noite oca
gélida, sem fim
sem começo
sem noção.

**********
(2011)