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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Mãe d’Água

***

Quis esta sorte, violeiro amigo,
Levar meus olhos àquela ribeira
Onde Mãe d’Água que você não viu
Por mim foi vista pela vez primeira.

Mãe d’Água, Mãe d’Água!
Mãe de leite, mãe de criação,
Mãe de ternura,
Mãe da redenção.

Mãe d’Água, Mãe d’Água!
Que nos redime na paz e na dor,
Mãe deste pobre,
Mãe do Imperador.

Mãe d’Água, Mãe d’Água!
Mãe d’Água, Mãe d’Água!
Mãe d’Água, Mãe d’Água!

**********
(1965)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

E Leopoldina, hem!

***
Maio, 2004

Deu no Jornal Nacional: Ubá, nossa vizinha Ubá, continua "dando samba" para o Brasil. Com Ary Barroso o samba tinha balanço baiano, agora o ritmo é internacional. Ubá entrou no ritmo das exportações. De grande "pólo moveleiro" (fabricante de móveis), Ubá agora passou a importante exportadora do produto!

Enquanto isto, Leopoldina ... Ah, nossa querida Leopoldina! Cataguases foi distrito seu, hoje está disparada na frente, orgulha-se de seu Colégio Estadual, projeto de Oscar Niemeyer, paisagismo de Burle Max, mobiliário de Joaquim Tenreiro, esculturas de Jan Zach e mural Tiradentes de Cândido Portinari.

Muriaé também foi distrito seu, um horror de geografia, enclave quase inviável entre o rio e o barranco vermelho ... Disparadíssima na frente!
Será que Laranjal ainda nos engole para depois pegarmos poeira de Argirita e Recreio?

As grandes cabeças, os grandes empreendedores responsáveis pelo desenvolvimento de Ubá, Muriaé e Cataguases têm nome, endereço e CPF. É só conferir. Alguns deles foram, providencialmente, levados à Prefeitura por seus concidadãos.

Alguma coisa sempre esteve errada, com Leopoldina. Temos uma elite tradicional, um povo clara e reconhecidamente culto. Temos posição geográfica mais favorável. Precisamos começar a dar sorte.

Você, eleitor, escolherá seu prefeito em outubro. Pelo amor de Deus, pense em alguém que você julgue em condições de diagnosticar e resolver os problemas da cidade. A escolha é toda sua. Não dou opinião. Em primeiro lugar porque não sou dono da verdade. Em segundo, porque penso que opinião é como escova de dentes: cada um usa a sua. Mas capricha, amigo!
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado em 31.05.2004 no jornal LEOPOLDINENSE)

Veneno de cada dia

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Maio, 2004


Li, ontem, um artigo sobre a toxidade de certos alimentos. Lembrou-me o caso dos navios de soja vendidos à China, há alguns anos, e devolvidos. Bastou que uma pequena quantidade de grãos contaminados por agrotóxicos, misturados a toneladas contidas num navio, fossem detectados pela vigilância chinesa para que os barcos tivessem que voltar ao Brasil com suas cargas infectas.

O episódio nos deu a prova do quanto nós, brasileiros, somos diariamente envenenados às refeições. Não é de hoje, que os mega produtores de alimentos nos envenenam.

Ou será que os produtos que nós ingerimos passam por fiscalização igual à chinesa? Claro que não. A gente engole o que esses irresponsáveis mandam para nossa mesa. Fubá de milho contaminado; óleo, leite, bifes etc., de soja contaminada; farinha de trigo contaminada por raticidas e pelos de ratos (exames do Instituto Adolfo Lutz sempre acusaram); morangos contaminados (a Globo mostrou que produtores de morango do sul do Brasil não arriscam comer o que colhem); batatas inglesas, campeãs dos defensivos sistêmicos, mandados pela raiz ao interior do produto para que as pragas o rejeitem; tomates superenvenenados (quanto mais bonitos mais temíveis); melancias nas quais turistas estrangeiros, avisados, nem tocam (um produtor de melancia, em Ceres, Goiás, me disse que a pulverização do agrotóxico é semanal, mas, se chover, passa e incidir no dia seguinte a cada chuva).

E a carne? Meu Deus! Nos velhos tempos já deu até marchinha de carnaval: "Comeu carne de boi, falou fino”... O Brasil não controla o hormônio atochado no gado de corte. Criadores, claro, gostam de lucro. Se podem tocar hormônio na orelha do boi pra ele dobrar de peso na metade do tempo, não contam até dois. O resultado? Bom, não provo a relação causa e efeito entre comer carne e falar fino. Só sei que é notável o naipe de sopranos no país, e que o Brasil é campeoníssimo em canto lírico nas cidades sopraninas de San Francisco, Amsterdam e Milão.

E nem adianta fugir da carne vermelha. A carne branca, do frango, também tem hormônio. Muito! E, aqui entre nós, hem: hormônio de galinha.


₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado em 31.05.2004 pelo jornal LEOPOLDINENSE)

domingo, 27 de novembro de 2011

O Paradoxo da Saúde

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Novembro, 2000

Agora que conhecemos a opção das urnas, os telescópios baixam objetivas na realidade corrente. No nosso caso, o foco é a Casa de Caridade Leopoldinense. Como diria Chico Buarque, num verso de bom gosto, pode ser que "venha aí bom tempo".

Dois médicos do Corpo Clínico do hospital foram eleitos, respectivamente, Prefeito e Vice-Prefeito de nossa cidade. O Dr. José Roberto Oliveira e o Dr. Guilherme Junqueira Reis. Passados apenas alguns dias da apuração, comentários sobre composição de Governo não vão além do terreno indemarcado das especulações. Pode, todavia, vingar raciocínio itinerante segundo o qual o Dr. Guilherme viria conciliar suas funções de Vice com a responsabilidade da Saúde. É previsão alvissareira.

O médico Guilherme Junqueira Reis, pela segunda vez, vice-prefeito de Leopoldina tem uma respeitável folha de bons serviços à nossa DRS, já foi Provedor da Casa de Caridade Leopoldinense, já foi Secretário de Saúde e está, hoje, à frente do Asilo Santo Antonio, onde realiza um bom trabalho.

É, de longe, uma das inteligências mais agudas desta cidade, um homem probo, amigo, de finíssimo trato, muito equilibrado e sereno em seus posicionamentos.
Podem amanhecer das mãos dele − evidentemente, dentro do ideário do Prefeito José Roberto − dias menos nublados no horizonte da CCL.

É indispensável que Prefeito, Vice-Prefeito, Vereadores, todos, nos ajudem a "pensar" o Hospital, com a certeza de que, para ele, não existe remédio vindo de fora. Empréstimos, reforços de verbas ... é tudo bobagem. Temos que viabilizar, domesticamente, o Hospital.

Como sabemos, as entidades hospitalares, filantrópicas, neste Brasil, pós Constituição de 1988, resvalaram para a inviabilidade empresarial. Quebrados, vão esticando a própria agonia com o leite ordenhado de uma pedreira chamada Sistema Único de Saúde.

Se a situação comportasse humor poder-se-ia dizer que os constituintes de 88, ao assegurarem direito à saúde para todos os cidadãos, esqueceram-se de inscrever norma pétrea na "Carta Magna" segundo a qual toda despesa maior que recursos existentes, ficaria "obrigada" a gerar saldo positivo ...

Um absurdo não maior que deixar, como deixaram, os recursos fora dos cálculos.
Prevaleceu o insidioso populismo econômico de sempre. Nas palavras, sempre recorrentes, do ex-presidente do Banco Central, professor Gustavo Franco, da PUC-RJ: "É o lado kitsch da política econômica". Um mundo de conquistas sociais absolutamente inconsistentes, sem respaldo correspondente nos meios que as viabilizem, tipificando a definição do kitsch, tão bem escolhida pelo José Guilherme Merquior: "O agradável que não reclama raciocínio".
E salve-se quem puder!

Legislativo, legisla; Tribunal aplica. Saiu num jornal de Brasília decisão reconhecendo direito a um segurado do SUS de internar-se e tratar-se em qualquer instituição (mesmo particular), independente da existência de vaga. Viva!
-Será o triunfo do bem, no Arrnagedon? Ou apenas mais um espasmo kitsch, com seu meritório de efeito ao qual racionalidade não se aplica?
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado em novembro de 2000, no jornal PROJEÇÃO)

Casa de Caridade Leopoldinense - Provedoria

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(Artigo publicado pela Gazeta de Leopoldina, a 25 de novembro de 2001)

Encerra-se a dia 31 de dezembro próximo, o mandato de dois anos do atual Provedor da Casa de Caridade Leopoldinense. Novo administrador que vier a ser eleito receberá o Hospital em boas condições de funcionamento, razoavelmente organizado, com prioridades definidas mas, infelizmente, trabalhando ainda no vermelho.

Para equilíbrio das contas a CCL busca atingir 30% de atendimentos a particulares e de convênios (saiu de 8% para 15%) e necessita recontratar, com a Prefeitura, o "Convênio do Pronto Socorro", vencido deste janeiro/2001, principal ralo a drenar impiedosamente os parcos recursos do Hospital. Mas não é fácil.

Durante todo o ano 2000 e, depois, durante os dez primeiros meses de 2001, veio lutando a Provedoria para acertar com a municipalidade, e com sua área de saúde, os termos desse Convênio e o recebimento das dívidas da Prefeitura com Hospital, débitos que se elevam, hoje, a cerca de R$150.000,00!

Tempo rigorosamente perdido. As administrações municipais − tanto a anterior como a atual − não demonstraram qualquer interesse pela sorte do Hospital. Num caso e no outro, a política oficial do município resumiu-se a "ir empurrando com a barriga" para que o Hospital contabilizasse, sozinho, os prejuízos do Pronto Socorro, que é MUNICIPAL!

A Provedoria da CCL, que no episódio, sempre teve a exclusividade da boa-fé e da responsabilidade social (não fechou o PS), esperou longos meses por uma solução honesta: insistiu, redigiu projeto de lei, redigiu proposta de novo Convênio, submeteu a estudos, ouviu promessas enganosas ... para nada!

Farta de ser ludibriada e desrespeitada em sua inteligência, a Administração da Casa de Caridade fez aquilo que há dois anos vinha tentando evitar: DECIDIU PELA COBRANÇA JUDICIAL DE SEU CRÉDITO.

Nada pessoal. O Provedor do Hospital cumpre o seu dever diante dos doentes pobres de Leopoldina que, em derradeira instância, vêm sendo, e continuarão a ser, os verdadeiros prejudicados, os sempre enganados!

É, pois, a Instituição solicitando ao Judiciário prestação jurisdicional inevitável, diante do que considera uma injustiça contra os necessitados que do Hospital dependem e nele se socorrem.

No mais, superando percalços, a Provedoria, com apoio irrestrito do Corpo Clínico e da população, fez o possível para melhorar a CCL nestes dois anos de mandato.

Como uma prestação de contas aos LEOPOLDINENSES DE BEM, que contribuíram com ajudas diretas ou com simples apoio, segue abaixo uma relação dos principais trabalhos desenvolvidos no Hospital, de 1° de janeiro de 2000 até agora:

* Reforma de todos os 11 apartamentos do chamado POSTO-G, setor destinado a pacientes particulares e de Convênios, nos quais se refez a pintura, reviu-se instalações hidráulicas e elétricas, colocou-se armários e ventiladores de teto, para melhora do padrão de conforto e higiene;
* Reforma equivalente, com troca de piso, em mais cinco apartamentos, no POSTO-B.
* Reforma equivalente, em duas enfermarias de quatro leitos e de quatro quartos, no POSTO-C;
* Remoção e reconstrução do piso dos corredores (em “Granilite”, material recomendado pelas autoridades de saúde) de todas essas unidades;
* Idem, piso do novo Raio X, o qual foi reformulado e ganhou saída externa, independente;
* Idem, reconstrução do piso do Salão de Convenções e escadaria de acesso;
* Ampliação, reconstrução e pintura nova, com piso de granilite, em 300m2 na Hemodiálise, que dobrou de tamanho. Passando a ser, talvez, a maior e melhor da Zona da Mata;
* Abertura de novo espaço nobre para aumento da capacidade do CTI para até doze leitos;
* Por sua excelência, nosso CTI tornou-se o único da região, detentor da classificação Classe-O;
* Recuperação de cerca de 1/5 dos telhados afetados por chuvas diversas;
* Recuperação de parte da História do Hospital, com análise de documentos, e abertura de uma Home Page na Internet com informações urbi et orbe, sobre: Antiga Beneficência Português a; Galeria dos Fundadores; Serviços disponíveis; Convênios disponíveis; Quadro Clínico; Especialidades abrangidas; Exames diagnósticos disponíveis; Cursos programados; Composição da Diretoria; Quadros Administrativo e Técnico; etc. (Agradecemos a Paulo Roberto (Bebéu), do Provedor CEFETLEO - Net & Mail Marketin Ltda, que, gratuitamente, implantou e mantém a H. P do Hospital)
* Extinção do HOSPIMED, Plano de Saúde inteiramente irregular, oneroso para a CCL, e que a expunha a instituição a riscos efetivos de penalidades;
* Renegociação de dívidas com Banco e com fornecedores;
* Contratação de novo Médico Radiologista para o Raio-X, que deixou de funcionar apenas duas vezes por semana, passando a estar diariamente disponível;
* Rodísio médico no Pronto Socorro, para atendimento mais qualificado;
* Alteração e revigorização do quadro de Recepcionistas, inclusive com reciclagem do pessoal em curso pago pelo Hospital;
* Melhora no serviço de Copa e Cozinha;
* Criação de Chefia para o Centro Cirúrgico, onde descontrole sempre gera prejuízos;
* Pacto com a Associação Médica para reforma do Salão Nobre, com pintura e colocação de piso no salão e na escadaria;
* Realização da "I-Jornada de Terapia Intensiva", para reciclagem do corpo médico do C.T.I. e do Pronto Socorro, aulas proferidas por nove profissionais de ponta, dos Hospitais do Fundão, Barra D'Or e Hospital Espanhol, do Rio de Janeiro;
* Convênio com a Faculdade do Leste de Minas (Faculdade de Caratinga) para ministrar, em Leopoldina, um CURSO DE AUXILIAR DE ENFERMAGEM, pelo PROFAE. Este curso está em andamento, com aulas teóricas no espaço físico do Grupo Escolar
Botelho Reis, e aulas práticas nas dependências do Hospital. Beneficiam-se cerca de 80 alunos leopoldinenses, sendo 9, "Auxiliares de Enfermagem" da C.C.L. que não possuíam formação técnica;
* Diferenciação nos vencimentos do CTI e das Chefias do Hospital, com vistas à hierarquização motivadora em favor daqueles que, compondo com a Administração da Casa, detêm postos de comando e responsabilidades específicas;
* Informatização do Hospital sem uma única contratação de pessoal técnico; apenas capacitando nossos funcionários em cursos de especialização;
* Intervenção moralizadora no Raio-X;
* Corte de despesas telefônicas mediante controle rigoroso de chamadas através da mesa e da retirada de telefones ociosos em residência de servidores;
* Aprimoramento dos critérios de COMPRA;
* Padronização dos medicamentos de uso interno do Hospital;
* Informação permanente à população, via Rádio e Jornais da cidade, das necessidades e problemas do Hospital, às custas do Provedor, sempre sem qualquer ônus para a Instituição;
* Solicitação de colaboração a leopoldinenses ausentes, através de 2.000 cartas enviadas a ex-alunos do Colégio Leopoldinense;
* Patrocínio de BARRACA NA FEIRA DA PAZ, com o único intuito de "divulgar" o Hospital, chamando pessoas para a nossa causa, já que o trabalho na Feira é estafante e o resultado financeiro bastante modesto;
* Promoção de dois jantares no Rotary, em favor do Hospital;
* Promoção de duas grandes rifas em benefício da Casa de Caridade: de um CARRO, doado pela Associação Médica, no ano 2000 e de um LOTE DE TERRENO, doado pelos empresários, Everton e Eduardo Almeida da Silva, em 2001;
* Venda de Rifas, Camisas e Adesivos do Hospital, promovida pela grande colaboradora da CCL, Sra. Patrícia Carraro.
* Negociação com a Companhia Força e Luz Cataguases¬Leopoldina, da cobrança da contribuição mensal dos Sócios na Conta de Luz do usuário, a fim de facilitar sua associação, e a de seus familiares, ao Hospital;
* Pleitos, os mais variados, em favor do Hospital, junto a Prefeitos, Autoridades, Deputados, Gerência e Diretorias de Bancos, BNDEs, etc., em REUNIÕES a que o Provedor compareceu, pessoalmente, em Leopoldina, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, sempre às suas expensas, sem quaisquer despesas, de deslocamento ou hospedagem, para o Hospital;
* Viagens múltiplas do Provedor à Secretaria Estadual de Saúde, em Belo Horizonte, sempre por conta própria, para cobrar abonos de AIHs (Autorização para Internação Hospitalar) não pagas e verbas de reforço;
* Apoio a funcionários para reciclagem, em Belo Horizonte ¬ Curso de Reciclagem em Informática; em Juiz de Fora, reciclagem específica para C.T.I, na Faculdade de Enfermagem de Juiz de Fora;
* Humanização de apartamentos, enfermarias e quartos do Hospital com Crucifixos e Gravuras doadas por Leopoldinenses generosos, capitaneados pela Sra. Juracy Barbosa Furtado.
* Leilão de cerca de 70 Bezerros, doados por Pecuaristas da região, numa colaboração espontânea do Leiloeiro William Horta;
* Aquisição de uma Usina de Oxigênio, cuja entrada em funcionamento, nos próximos dias, trará ao Hospital economia mensal de cerca de R$14.000,OO, com gases medicinais;
* DENÚNCIA DO CONVÊNIO QUE REGE OPRONTO SOCORRO e cobrança de 8 meses de Convênio, Ano 1996, que a Prefeitura se recusa a pagar, em longa negociação com Prefeitos e Secretários de Saúde, tarefa desgastante e inglória que termina agora com o ajuizamento dos créditos do Hospital, no Foro de Leopoldina;
* Criação Estatutária e venda de títulos de SÓCIO CONTRIBUINTE DO HOSPITAL, facultando aos adquirentes um verdadeiro "Plano de Saúde" ao alcance da população leopoldinense de baixa renda, que passa a contar com atendimento mais digno e sem o transtorno de filas;
* Criação da "Associação dos Hospitais Filantrópicos da Zona da Mata", em novembro/2001, com vistas a fortalecer o poder de barganha dos Hospitais com fornecedores, congregando cerca de 15 Hospitais − de Além Paraíba, Manhumirim, Manhuaçu, Muriaé, Cataguases, Ubá, Barbacena. Viçosa etc. e cidades adjacentes − Associação esta cuja sede é em Leopoldina. MG;
* Obtenção do apoio da Classe Médica em todas as iniciativas da Provedoria, tais como, doação de AUTOMÓVEL para sorteio, contribuições da Associação Médica para obras do Hospital, adesão generosa dos senhores médicos ao Plano "Sócio Contribuinte" etc;
Nosso muito obrigado a todos.

José do Carmo Machado Rodrigues
(Provedor da Casa de Caridade Leopoldinense, mandato de 01/01/2000 a 31/12/2001)

Lula e Hu Jintao

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Novembro, 2004


Doze de novembro de 2004 bem que poderia ser instituído como o dia nacional da mentira piedosa. Domingo, último, sonhando fazer "negócios da China", Lula curvou-se à imposição do presidente chinês, Hu Jintao, de visita a Brasília, e declarou que a China é uma “economia de mercado”.

Tudo mentirinha: a China tem economia sob controle absoluto de um governo totalitário e sua rede bancária é oficial.

É um tipo de economia que promove práticas desleais de comércio, como o dumping, que é a venda de produtos por preços inferiores ao custo, aniquilando indústrias concorrentes em países parceiros. Por esta e por outras, não é economia de mercado.

Mas quem precisa vender  avião da EMBRAER, tem muito boi nelore pronto para virar bife nas pastagens do serrado, soja a dar com o pé e coxinha de frango que não acaba mais para oferecer a 1,2 milhões de chineses, faz qualquer negócio...

Parece que Lula ao ouvir a exigência do simpático Hu, virou-se para o intérprete e deu uma de FHC:
¬ Pergunte, rapidinho, aí pro companheiro Jintao em que idioma ele quer que eu diga isto!

₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado em 19.11.2004 no jornal LEOPOLDINENSE)

O Navegante Negro

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Novembro, 2004
Arte: Luciano Baia Meneghite (LUC)

Faz muito tempo! Noventa e quatro  anos! Em novembro de 1910, mais de dois mil marujos, liderados pelo marinheiro João Cândido, apoderaram-se dos navios de guerra ancorados na baia da Guanabara e apontaram os canhões para os principais prédios públicos da capital, exigindo o fim dos castigos corporais na Marinha do Brasil.

O governo gastara uma fortuna para modernizar a Esquadra, fazendo do Brasil uma das maiores potências navais do mundo, mas o Código Disciplinar da Armada continuava o mesmo da monarquia ... Foi a chamada Revolta da Chibata.

Na noite de 22 de novembro explodiu o movimento com o marinheiro João Cândido, o “Almirante Negro", assumindo o comando do Minas Gerais. Morreu na luta o Comandante Batista das Neves, alguns oficiais e vários marujos. Sem saída, Hermes da Fonseca que assistia a uma ópera quando começaram os canhonaços, encomendou rápido um projeto a Rui Barbosa (que, aliás, tinha apoiado a reinstauração dos castigos) pondo fim aos açoites e concedendo anistia aos revoltosos.

Só que o troco do governo viria depois. "O negro que violentou a história do Brasil", segundo Gilberto Amado, foi preso com mais 17 marinheiros numa masmorra da ilha das Cobras. Quinze morreram sufocados. João Cândido sobreviveu e foi mandado para o Hospital de Alienados, onde os médicos negaram que estivesse louco. Foi a julgamento e absolvido em novembro de 1912, porque a jovem república brasileira já começava a ficar bonita, exatamente pela ação de bravos como ele.

Tanto que “a história não o esqueceu”. João Cândido, com sua Revolta da Chibata, inspirou João Bosco e Aldir Blanc na belíssima canção, "O Mestre-Sala dos Mares". Lembram-se da Ellis Regina?

-Há muito tempo, nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu.
Na figura de um bravo marinheiro
A quem a história não esqueceu.
Conhecido como Navegante Negro,
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar para o mar, na alegria das regatas,
Foi saudado no porto, pelas mocinhas francesas,
Jovens polacas e por um batalhão de mulatas!
Rubras cascatas jorravam das costas dos negros
Entre cantos e chibatas,
Inundando o coração do pessoal do porão
Que a exemplo do marinheiro gritava: Não!
Glória aos piratas, às mulatas,
Às sereias!
Glória à farofa, à cachaça,
Às baleias!
Glória, a todas as lutas inglórias
Que através de nossa história
Não esquecemos jamais!
Salve, o Navegante Negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais...
(Mas faz muito tempo!...)

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(Publicado em 19.11.2004 no jornal LEOPOLDINENSE)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Jorginho Guinle

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Março, 2004

Pra esse a cafajestalha tinha que tirar o chapéu. Jorginho jamais trabalhou. Veio ao mundo para possuir o Copacabana Palace e gozar férias. Divertiu-se nababescamente pelos melhores hotéis e cassinos do planeta. 

Tornou-se figura obrigatória em festas nos castelos da Europa, festivais de cinemas e entregas de Oscar.
O colunista americano Earl Wilson, numa aglutinação de Brazil com millionaire, chamava-o de "Brazillionaire". 

Apesar de baixinho, era considerado atraente pelas mulheres, simpático e muito querido por todos. Namorou algumas das mais belas e famosas atrizes de Hollywood.

Ruy Castro nos conta, no livro Ela é Carioca, a "cantada" com que ele conquistou Ionita Salles Pinto, modelo, socialite e empresária, uma das mulheres mais lindas e inteligentes (primeira da classe no Colégio Notre Dame, Rio de Janeiro) de seu tempo.

Fascinado com a sensualidade e a beleza de Ionita, ao se conhecerem na boite Le Bateau, disse-lhe:
"Ionita tenho, 52 anos e você tem vinte. Dê-me dois anos de sua vida. Para você, isso não é nada. Para mim, é uma vida inteira!".             

Cantada tão sincera que ela acabou lhe dando sete anos – observou Ruy Castro.

Acho também que Jorginho acaba de ser "grande" na maneira como escolheu morrer. Reduzido à penúria financeira ("Calculei meu dinheiro para viver 80 anos e cheguei a 88. Me danei!") foi internado no Hospital Público de Ipanema, com aneurisma.

Os médicos lhe teriam dito que o risco da cirurgia seria o mesmo da "não cirurgia". Prontamente ele assinou um termo de responsabilidade dispensando bisturis e foi morrer com dignidade num apartamento do Copacabana Palace (Parece que, no contrato de venda do Hotel, reservara para si direito a um quarto enquanto vivesse).


Jamais Jorginho Guinle se imaginaria aos 88 anos, decrépito, com escaras, em humilhante definhamento terminal, numa enfermaria de Hospital Público. Playboy de alto nível não perde a dignidade nem na hora de morrer.

₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado em 13.03.2004 no jornal LEOPOLDINENSE/)

Feijão Cru – Lenda e Monumento

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Maio, 2004

Leopoldina, saída sul da cidade, esquina de Av. Getúlio Vargas com Av. Jehu Pinto de Faria: quando a antiga BR-4 (Rio-Bahia), ainda de saibro, passava dentro da cidade, por volta do início dos anos 50, ficava ali uma guarita de madeira, da Polícia Rodoviária Federal. O local era então conhecido como "Posto Policial".

A BR, entretanto, mudou sua rota (*), a polícia se foi e, do lado oposto à Jéhu Farias, na Getúlio Vargas, apareceu um bar que ficaria famoso, o "Gato Preto". Famoso talvez pelo nome − realmente inspirado − mas que teve vida breve.

O logradouro, entretanto, nunca mais deixou de ser referido como "Gato Preto". Agora, exatamente a propósito dos festejos dos 150 anos da cidade, a Prefeitura ergue no local um monumento à "Lenda do Feijão Cru": uma trempe, um caldeirão suspenso sobre base onde se pode ler, no bronze, o resumo da conhecida história dos caçadores e seu feijão pagão.

Como a grana municipal é módica, pauperis est numerare pecus, ou seja, "quem é pobre conta suas ovelhas", a obra fica longe de ser majestosa. Mas vale pelo que informa às crianças e certamente emprestará ao local sua terceira denominação.

Podemos até especular sobre a escolha do novo nome do lugar, pelo povão:
-"Panelão"? -"Panela de Feijão"? ...
Só temo por um nome e gostaria de não admitir: "Caldeirão do Hulk"! Se isto acontecer procuro, pessoalmente, o Prefeito e peço para ele passar um trator em cima.

Bem a propósito, cabe uma crítica inofensiva e sincera: Se a palavra "revoltados", na placa, pudesse ser substituída por "decepcionados" , acho que ficaria perfeito.
=====
(*) Até a década de 1950 não existia caminho ou mesmo trilha por onde passa, hoje, a Av. Jehu Pinto de Faria. O espaço, ali, era terreno acidentado, inacessível, da chácara do Orfanato. Aquele acesso providencial à cidade foi obra dispendiosa, realizada pelo DNER, para encurtar o trajeto da BR que − antes do contorno pela Cooperativa de Leite e pelo Trevo para Cataguases – transitava por onde é, hoje, a Rua Nossa Senhora Aparecida, Rua Alan Kardec, Av. Mal. Humberto de Alencar Castelo Branco, Av. Getúlio Vargas e Rua José Peres. Engana-se quem pensa que a Rio-Bahia passava pela Rua Antonio Fernandes Valentim. Jamais passou por ali, embora a estrada existisse para tráfego de pedestres, carros de boi e cavaleiros que, da Boa Sorte, da Constança ou da Onça, demandavam à cidade. Parte da Rua Antonio F. Valentim passava (e passa) por terreno pantanoso, impróprio para o tráfego pesado da BR.
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(Publicado parcialmente no LEOPOLDINENSE de 15 de maio de 2004)

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Valeu, amigos!

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Novembro, 2011

Valeu, amigos!
Minha limonada ficou pronta. Não dizem que é a melhor coisa a fazer quando se ganha um limão? Pois bem, tomei o limão em minhas mãos, dividi-o em dois, protegendo o rosto dos jatinhos lacrimejantes da casca, liguei o espremedor de frutas, pressionei uma parte de cada vez sobre o rotor e colhi o caldo, puríssimo, num copo grande. Acrescentei água geladinha, cinco gotas de adoçante para moderar no açúcar, e pus-me, vagarosamente, a degustar o que, antes, era o cítrico acerbo. Delícia, nem tanto, mas já não me marejava os olhos.

Vocês sabem que estou falando de minha assimilação ao fim do “nosso” Bloghetto da Maria Helena. À primeira hora a notícia caiu pesada aqui em casa. Prontamente, no entanto, passei a conjeturar sobre as razões que moveram nossa laboriosa titular do espaço a acabar com ele. Perguntei a mim mesmo:
-Você não achava “uma loucura” a carga que Maria Helena carregava sobre os ombros? Você aceitaria estar no lugar dela, fazer o que ela faz? Não precisou mais! Para mim, o encerramento do Blog estava justificado.

Lamentavelmente justificado.

Estes últimos anos de convívio e trocas, virtuais, com Maria Helena, o cuidado que passei a sentir por ela, não me permitiam indiferença ante a azáfama em que ela se envolvera. Como agravante, o enorme senso de responsabilidade e perfeccionismo por ela dispensados a compromissos assumidos, sempre a exigir empenho e sacrifício redobrados. Chegaria o momento em que, alguma coisa, ela precisaria descartar.

Optou por encerrar o Blog... O custo, para nós, leitores, é severo: nosso espaço de convivência agradável – digamos − entra em recesso. O benefício, entretanto, o justifica: a amiga Lenita, como todos nós, tem limites físicos que a idade impõe, e não pode, apenas com a bengala e a coragem, enfrentar uma alcateia de leões na arena das manhãs, numa pancadaria que toma o dia e entra pela madrugada... Acaba chegando o dia da caça, ou seja, o momento infeliz em que o “bicho pega”.

Vejo-a cortando onde precisa e pode cortar. Digo pode porque sequer nos causará perda irreparável.
Desocuparemos “um cômodo”, mas não precisaremos abandonar a Casa Grande, que é o providencial Blog do Noblat, no qual estamos desde a fundação, e permaneceremos com o mesmo entusiasmo. Portanto, nos veremos sempre por aqui, gente boa.

José do Carmo Rodrigues

* * *
A você, Maria Helena, meu reconhecimento sincero pela acolhida de quase três anos à nossa Conversa Mineira. Deus lhe assegure o sucesso. Sua bondade lhe rendeu créditos em felicidade. Um beijo e o conforto do amigo, jcr.
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Última Crônica publicada no Blog da Maria Helena que se encerrará dia 20.11.2011)
(Publ. a 17.11.2011,em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena)

Voar, poeta

***

Saudade qualquer
flutua imaginosa
nuvens de algodão.
No silêncio cor de rosa
desse terno, desatento
coração.

Que é sem palavras pro vento
sem sustos para o trovão
não tem ouvidos pra chuva
nem alma pra solidão.

Voar
no limiar das coisas santas
e tantas!
Ser poeta por castigo
carregar sempre comigo
ilusões perdidas...
Nem sei quantas!


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(1965)

Juramento

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Eu juro
Por certa fé que virou brilho nos meus olhos
E certo fogo que é centelha no meu peito,
Juro pela confiança nas sensações que me brotam
Espontâneas,
No milagre da forma, na busca do mais perfeito,
Pelos meus pés sentindo a arte exilada nas palavras,
Juro pela minha sede de poeira e de caminho
E por uma gana quase doida de chegar,
Eu juro
Que se amanhã vos perguntarem se eu venci,
Se já cumpri, se exitei, se cheguei lá,
O conciliador das esperanças vos dirá:
- Não, ele ainda tarda, pois que marcha devagar,
Mas é de estrada e certamente chegará.

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(1963)


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sábado, 12 de novembro de 2011

Jovens Descartáveis

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Novembro, 2011


Tem me batido a sensação de que já vivi o bastante. Nasci e cresci num país de terceiro mundo, com um povo descrente de si mesmo, mal dando conta do complexo atávico de ex-colônia dos trópicos. Aquele peso do pecado original de não ser europeu ou americano do norte. Pode ser problema meu, mas sempre me senti mais ou menos assim.

Eis, no entanto, que minha geração amadureceu vendo algumas coisas mudarem. A paixão do primeiro mundo europeu pelo futebol valorizou demais nossos cinco títulos mundiais no esporte. Ao mesmo tempo começamos a aparecer bonito também na fotografia do vôlei, modalidade esportiva que “até os americanos” respeitam e nos esportes olímpicos. Construímos um mercado interno forte, nos tornamos ponteiros na produção de grãos e de carne. Alcançamos avanços tecnológicos importantes.

Ultimamente, já preparadinhos para morrer de vergonha por termos colocado um operário sem cultura formal na presidência da república, eis que o homem vira líder performático internacional, visto lá de fora como um “Pelé” da sociologia política e, internamente, um Padim Ciço Milagreiro, dos fracos e dos oprimidos.

Não bastasse isto, nosso líder é ungido por Deus através das perfuratrizes da Petrobrás. Num passe de mágica, a ex-colônia alcança a fidalguia do hemisfério norte e a fortuna, daqui mesmo, escondida a sete mil metros chão a dentro.

E, convencidos de que a felicidade vem da terra, por pouco não acabamos de vez com o analfabetismo remanescente, legalizando a verbalização das batatas...

De que “ficamos ricos”, até dispensaríamos a prova dos nove, mas ela veio com a velha Europa às voltas com uma crise econômica contagiosa, sendo que, caprichosamente, pelo menos até agora, não se mostrou suficientemente idônea para nos afetar.

Não é de eriçar vaidades? É sim. Os de minha geração que morrerem hoje, morrem realizados. Vimos tudo o que sonhamos ver! Não importa se com os pés um pouquinho descolados da realidade. Mas que vimos, vimos.

Pena que velho vive levando susto da juventude. Quando foi que nós, os encanecidos de hoje − que nos escondíamos de nossos pais para fumar um cigarrinho de tabaco, filado na rua – iríamos imaginar nossos netos invadindo uma Reitoria, em protesto pelo direito, que acreditam ter, de traficar e usar drogas ilícitas dentro do campus da maior Universidade da América Latina?

Ainda bem que não será a essa minoria descartável que a atual geração de “coroas” irá entregar um país, tornado viável e respeitável. As notícias dão conta de que, para a maioria dos estudantes, as aulas na USP seguiram normalmente.

Ótimo, é o Brasil preparando seus herdeiros.
  
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(Publ. a 10.11.2011,em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Os Direitos da Galinha Mãe #

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Novembro, 2011

Foi o vaqueiro Neneco Passarim que me trouxe ciência do sucedido. Tá lá – ele disse – pra quem quiser ver; o seguinte se deu na Fazenda Filadélfia, confinante com o povoadinho nanico que eles falam Estiva, aqui mesmo em Minas, na estrada que vai dar no comércio de Piacatuba, Vila Nossa Senhora da Piedade − no dizer dos mais antigos.

-Ver pra acreditar! Uma galinha, na propriedade do cumpade Zezim, vinha tranquilamente chocando seus ovos quando uma cadela deu de parir cinco cachorrinhos bem à roda do ninho dela. Ah, pra quê! A galinha virou mãe de cachorro.

Neneco Passarim não mente. De fato, Madame Barrada – que esta era a raça da tal galinha − tornou-se mãe adotiva de cinco filhotes de cachorro. Foi numa das andanças costumeiras de mamãe canina que dona galinha admitiu, sob seu corpo, os filhotes da vizinha e cuidou de proteger maternalmente os bichinhos, passando a reagir com bicadas às intromissões farejadoras de Mlle. Au-au.



Compenetrada, quando algum dos recém-natos ensaiava deixar o aconchego plumoso para mamar, ela esticava o pescoço em gancho e o trazia de volta para debaixo das asas.

Submeti a inusitada questão ao advogado dativo, Dr. Modus Vivendi. Diz ele que, “in casu, não se configura a conduta típica de sequestro de menores” já que, a “inexistência de linha demarcatória inequívoca entre os dois domicílios, não autoriza falar em remoção de incapazes para logradouro diverso daquele em que a parturiente biológica os trouxe à luz”.

Terá havido, no máximo, “lesão despicienda ao exercício do direito ao pátrio poder, por obra da mãe bípede, em desfavor da mãe quadrúpede” − pátrio poder esse, aliás, hoje substituído na terminologia jurídica pelo politicamente correto poder familiar, eis que a primeira fórmula aparentava negar “ao ente feminino sua prerrogativa incontrastável de guarda compartilhada das respectivas crias”.

Entende, porém, o renomado jurisconsulto que “a parte teria dificuldade em acostar a eventual processo judicial, tendente a dirimir dúvidas, conteúdo probatório convincente de qualquer intromissão da parte ovípara no espaço maternal canídeo, exato por ter pertencido a ela, geratriz dos quíntuplos, a escolha do local onde parir sua ninhada”.

Fê-lo – assevera o lúcido causídico – praticamente no âmbito domiciliar da coricocó, e sem o desvelo de preparar, para os nascituros, um berço acolchoado e aquecido por peninhas fofas, delicadas, “como aquele disponibilizado aos recém-natos pela indigitada mãe postiça – a qual restará, via de consequência, imune a reprobatórias inquinações”.

Tais circunstâncias, a todo passo, não teriam o condão – adverte ainda o Dr. Vivendi − de desobrigar Mamãe Cadela do imperativo legal de prestar alimentos à sua prole, ex vi legis (pela força da lei), sob pena das cogentes sanções legais aplicáveis à espécie em comento.

O juridiquês tem a transparência de uma clara de ovo, não acham?

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(Publ. a 03.11.2011,em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena)