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sexta-feira, 25 de março de 2011

Colégio Leopoldinense - Trombones & Trombetas

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Março, 1974

Foto: Prof. Luiz de Melo Sobrinho, Prof. Oíliam José, José do Carmo Rodrigues, Dr. Ronald Alvim Barbosa
(20.10.2010 - Cinquenta anos de Oíliam José na Academia Mineira de Letras)

 Minhas lembranças do Ginásio não são lá muito confiáveis. Passaram-se quarenta anos e as turbulências da vida misturaram-me um pouco o baralho. Sobrou, na varanda da memória, confuso mosaico com um gosto duvidoso das paredes enfeitadas a cacos de azulejo.

Custódio Rodrigues Junqueira, companheiro de turma de 50 a 57, depois, de República e de Restaurante do Calabouço, no Rio, costumava implorar nas manhãs de prova escrita:
-Não esbarrem em mim, decorei tudo arrumadinho na cabeça, se balançar desempilha...
Desempilha mesmo.

(Pano rápido) Prof. Oíliam José chega para a aula de História. Num discreto relance sobre nossas cabeças percebe as ausências e, circunspeto, as registra no livro. A turma aguarda em silêncio. Nem um pio. Todos sabem que as dúvidas serão levantadas ao final da aula. O clima é de expectativa e método. Como num ritual litúrgico, braço esquerdo dobrado às costas, direito à frente, batuta de giz entre o indicador e o médio regendo a cadência das palavras, o mestre anuncia o título da lição:
- Os senhores escrevam no princípio de página seguinte: “Dom Henrique, vírgula, O Navegador, ponto”.

Deliciosas preleções. Oíliam José ensinava História e nos adiantava, no exemplo pessoal, os conceitos mais edificantes do seu “Pensador” (Ed. Itatiaia, B.Hte. 1968).
Membro, ainda hoje, da Academia Mineira de Letras, autor de importantíssimas obras, sobretudo históricas, já então admirávamos nele o grande intelectual cuja fleuma e hábitos aparentemente formais nada subtraíam ao homem cordial, simples e religioso.

Tem mais: quem não leu o “Tiradentes”, do professor Oíliam José (imprensa Oficial, B. Hte. 1974), ainda não conhece a melhor biografia, até hoje, escrita do patrono cívico da nação brasileira.
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Nota a posteriori:
No dia 20 de outubro de 2010 tivemos a honra e o júbilo de participar, na Basílica de Lourdes, em Belo Horizonte, da Celebração Eucarística em Ação de Graças e comemoração pelos cinquenta anos de vida acadêmica do Professor Oíliam José, Secretário Perpétuo da Academia Mineira de Letras.
Patrono da Cadeira nº7 da Academia Leopoldinense de Letras, o Professor Oíliam vem nos distinguindo com seu entusiasmado estímulo, mesmo a distância sempre atento às nossas iniciativas.
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No último REENCONTRO, ao falar do amigo e ex-aluno Ivan Vasconcelos, mencionei parte de sua obra literária, mas, lapso imperdoável, deixei passar in albis (Ivan é, também, um grande advogado no Rio de Janeiro) sua notável faceta de craque no time da liga dos anos 43 a 45.

Nilo Bastos, o lépido ponta-esquerda “Nilo Pau-de-Fósforo”, da liga do meu tempo, escala o timaço em que o Ivan requintou seu futebol de fino trato com a bola:
Ruy da Costa Val; Arides e Reche; Flávio Afonso (Zequinha Martinelli); João Paris e Clóvis Vasconcelos; Quinzinho; Ângelo Barbuto; Kênio; Ivan Vasconcelos e Rocinha.

Não menos fantástica foi a liga do início dos anos 50, da canhota calibrada do Nilo e da cabeça culminante do Raul:
Tote, Zé Antônio (“Biribá”) e Coutinho. Haroldo, Vovô e Tiatini, Renato, Batista, Raul, Aluísio, e Nilo Pau-de-Fósforo.

Em sua fase áurea, o Sport Club Juiz de Fora, com Denoni & companhia, levou 1 a 0 em casa. Semanas antes, no “Arranca Toco”, vi a Liga perder de 4, para eles. Não me lembro se “a zero”.
Nesse jogo, o goleiro Tote, que era baixinho e jogava contra o por do sol, adiantou-se um pouco, para observar o jogo da cabeça da área. Por infelicidade sua, roubaram a bola no meio do campo, deram-lhe um “lençol” pela mancha cega, de tal modo que o Tote só veio a saber do gol através de terceiros...

Prof. Botelho era o técnico. Na época os técnicos costumavam escalar cinco atacantes desobrigados de “voltar pra dar combate”. Iniciado o jogo, a única coisa sensata que lhes restava fazer era sentar no banco e rezar. São Judas! Padre Cícero! Padre Antônio de Urucânia! Senhora do Perpétuo, socorrei a minha zaga!

Gente, e o Black Out? Não me lembra a função dele no time. Teria sido roupeiro, massagista, as duas coisas juntas, ou nenhuma das hipóteses consideradas? Roupeiro ele era, sim. (No nosso tempo não havia essa “mamata” da múltipla escolha, não).

A história das minhas Ligas registra ainda os halfs Bastião Fajardo e Magalhães, os pontas, Barbosinha, César Pelão e Toninho, o elástico/bombástico goleiro Campeão, além dos outros, claro, hibernados no luso-fusco da cinzenta.

Belos anos 50. Gostávamos de garotas e de futebol. Nossa rebeldia se limitava a um tolo fascínio por aquele canivete automático do James Dean, mas os sonhos eram coloridos e mágicos no reino das grandes produções de Hollywood.

Nada obstante, em relação ao que se passava com a juventude musical da época, talvez fôssemos um tanto alienados. O certo é que não apareceu, entre nós, alguém fissurado em Rock, guitarra ou violão. Lá na rua esvaíam-se os anos ro-dourados (lembram-se do lança-perfume Rodouro?) de purpurina, bailes e serestas; no rock`n roll, Elvis Presley abria picada para o carrossel dos Beatles... Enquanto a gente gazeteava aulas de Canto Orfeônico e via Adelaide Chiozo tocar acordeão, pelo método Mascarenhas, nas chanchadas da Atlântida.

Na ZYK-5, não sei se idéia do Vanir Nogueira ou do “locutor que vos fala”, experimentamos um programa para “dar vez” aos seresteiros anônimos da cidade. Tivemos notícia, então, de um artista leopoldinense, tão gigantesco quanto humilde e silencioso! Um homem notável que seus conterrâneos praticamente ignoraram: o Professor Manoel Monteiro, o extraordinário “Manoel Reco-Reco”.

Todo artista pobre desta cidade, que aparecia na Rádio, todo violonista de boteco, todo músico de Banda, todo instrumentista de rua sem saída, enfim, todo jovem que não podia pagar professor de música, estudava de graça (ou quase) com o abnegado Prof. Manoel Monteiro. Ouvi muitos desses ex-alunos, particularmente os mais humildes, falarem dele com profunda emoção nos olhos.

O Prof. Manoel produzia também arranjos para a Leopoldina Orquestra. Não lhe faltavam talento e criatividade, mas, certamente, por imposição da moda, colocava na vitrola discos das grandes orquestras americanas e, no papel, recriava estilos com personalíssima competência: Tommy Dorsey, Henry James, Gleen Miller, Benny Goodman, Xavier Cugat, Lecuona Cuban Boys... Saxofones, pistons, trombones e clarinetas inesquecíveis. Pelas mãos e pela arte de Manoel “Reco-Reco”, de uma certa forma todos tocaram, para nós, em Leopoldina.

Um dia minha terra ainda escuta os sinos que por ele dobram e resgata a memória credora de seu grande artista.
Por enquanto, não falemos de trombones nem falemos de trombetas.
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicada no jornal REENCONTRO de março de 1994)

2 comentários:

  1. Ontem,olhando na Estante Virtual,vi o raro livro:"A Abolição em Minas"(da Editora Itatiaia-1962).Edição única,encontrada somente na "Estante Virtual".Hoje,pude comprá-lo na Livraria Sêbo Opção,no Edifício Arcanjelo Maletta;estou imensamente feliz de ter encontrado este,que é um dos poucos livros editados em Minas,traçando a questão abolicionista em Minas Grais.Parabéns Sr.Oiliam José...vida longa.Marcos Maurício(grande BH).

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  2. Ontem,olhando na Estante Virtual,vi o raro livro:"A Abolição em Minas"(da Editora Itatiaia-1962).Edição única,encontrada somente na "Estante Virtual".Hoje,pude comprá-lo na Livraria Sêbo Opção,no Edifício Arcanjelo Maletta;estou imensamente feliz de ter encontrado este,que é um dos poucos livros editados em Minas,traçando a questão abolicionista em Minas Grais.Parabéns Sr.Oiliam José...vida longa.Marcos Maurício(grande BH).

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