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terça-feira, 13 de julho de 2010

Leopoldina Minha Princesa #


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Abril, 2004

Nossa menina Leopoldina faz 152, neste 27 de abril. Meu caso com essa nobre Princesinha de Saxe, que também se assinava de Coburgo e Gotha, é meio contraditório, com dúvidas sobre se não seria − parodiando Pessoa − um amor por tudo que aquilo que ela já não seja.

Esse tipo de paixão acontece. São casos em que a pessoa se reapaixona pelo amor antigo, por aquela belezura d’antanho, estacionada na memória, que já não seria tão bela aos olhos atuais.

Mas estou falando de uma cidade princesa e princesa nem precisa ser bela. Posso, e podemos todos, “voltar o filme” à vontade. Nossa futura rainha pontificará maravilhosa, tanto quando vista pelo pára-brisa da atualidade − crescida, charmosa e culta − como quando a desarquivamos do coração pelo complacente retrovisor das lembranças.

Às vezes o amor é nostálgico. Não escondo o enorme interesse que tenho pelo “passado” da minha amada: venho tentando, por exemplo, descobrir qual a casa da Rua Manoel Lobato serviu de primeira sede ao Hospital quando fundado, em 1896. Não aparece documento ou pessoa capaz de fofocar uma única dica. Vou ser “o último a saber”...

Aliás, peço a você, leitor amigo – se é que tenho leitores – que, achando em seus guardados alguma foto antiga da Rua Manoel Lobato na qual se vislumbre prédio com indício de “hospital” (uma placa, pessoas de branco na porta, etc), por favor, empreste-me por cinco minutos a foto. É o tempo que gastarei para copiá-la num computador.

Se envolve Leopoldina, preocupo-me inclusive com coisas menos sérias. Interessam-me também os macadames da Rua João Neto. Quem arrancou os macadames da Rua João Neto? Meu reino pelos macadames da Rua João Neto! Sumiram, volatilizaram-se, escafederam-se, drummondianamente. Naquelas pedras históricas, meu cavalinho Guarany (com ípsilon, por favor) tirava fogo “com o rompão da ferradura” quando eu, moleque da roça, subia ao Grupo Novo, para as aulas da Da. Climene Godinho.

Para quem não se lembra, macadame é aquele calçamento de pedras redondas, irregulares, também chamadas pirulitos ou pé-de-moleque. Invenção de um inglês chamado John London Mac Adam, origem do maroto aportuguesamento.

Bisbilhotando mais um pouco pelo espelhinho lateral da viatura, pergunto: e o campo de futebol da Quinta Residência? Fui ruim de bola, mas joguei lá. Tinha um becão chamado Matias. E tinha o Tião Chapeleta, chuteira 48... Gente boa, gente minha.

Quando construíram uma escola em cima do gramado, Leopoldina perdeu “atração turística”. O Campo da Quinta seria, talvez, o único gramado de futebol no Brasil com descaimento de uns vinte graus, visíveis a olho nu. A bola escorria se tirasse o pé de cima dela. Gol de bola parada, na Quinta, era só uma maneira de falar. Tinha que bater rápido. E, no cara-ou-coroa inicial, decidia-se quem vai chutar pra baixo e quem vai chutar pra cima.

Quando vejo hoje o novo estádio, ali ao lado, niveladinho, niveladinho, penso comigo:
- Isto não é “Campo da Quinta”!

Vivi muitos anos fora de Leopoldina. Quando voltei ouvi conselhos:
-Cuidado, a Leopoldina que ficou na tua cabeça é outra! Mas vim e sigo por aqui. Como cantava o velho Nelson Gonçalves numa canção de pinguço dos velhos tempos, “Não pode haver retrocesso / ante a força do progresso / meu violão silencia.”

É, meu violão silencia. A cidade cresceu, já não se pode – como se ouvia na venda do Joaquim de Oliveira – chamar todo mundo de parente, porque outras pessoas chegaram para dividir espaços. Chegou a morosidade da lei (e não apenas a morosidade, casos há de paralisia), o estacionamento difícil, chegaram as multas, as regras, as formalidades, o trato formal, a educação precária, o desrespeito, a “coisificação” das pessoas, as pragas institucionais e sociais. Há os que gostam e até juram que isto é progresso. Dá dó! Mas dá raiva também.

Mesmo assim Leopoldina é princesa, é cidade menina. Garota morena do povo, despojada e sonhadora, sua dúbia vocação de sobriedade e fidalguia. Lembra o gentio Puri e a majestade Bragança. Lembra um toque de distinção no manejo de uma lança.
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(Publicada no LEOPOLDINENSE de 30.04.2004)

3 comentários:

  1. Morei numa casa da rua Manoel Lobato, número 47, nos anos 60. Esse hospital ao qual você se ou refere seria mais ou menos em qual ponto?

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  2. Talvez no próprio número 47, ou ao lado. Só que, no anos 1960, o hospital já havia saído dali havia uns 60 anos.

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  3. Ô anônimo,

    você teria uma foto da casa nº47, da Rua Manoel Lobato?
    É que minha principal suspeita é de que tenha sido ela, a primitiva sede do Hospital.
    Se você encontrar uma foto da antiga casa que ali existia estará prestando uma importante ajuda à história de Leopoldina.
    Fico ao seu dispor em: jcarmo35@gmail.com
    Muito obrigado.

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