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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Francisco de Paula Ferreira de Rezende



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(Foto: Francisco de Paula Ferreira de Rezende)



Francisco de Paula Ferreira de Rezende com seu livro “Minhas Recordações” será, provavelmente, quem maior contribuição deixou à história de Leopoldina do Século XIX. Nasceu e viveu no tempo da Regência, na cidade de Campanha, no sul da província de Minas Gerais, em 18 de fevereiro de 1832.

Era filho do Coronel Valério Ribeiro de Rezende e de D. Francisca de Paula Ferreira de Rezende. Foi batizado em 20 de abril do mesmo ano pelo Cônego João Dias de Quadros Aranha, tendo sido seus padrinhos, conforme de costume, os avós que ainda estavam vivos, que eram, o Comendador Francisco de Paula Ferreira Lopes (avô materno) e Francisca de Paula Galdina de Rezende (avó paterna).

O menino Francisco de Paula viveu boa parte da infância, na Fazenda Bom Jardim, propriedade de seu avô, situada a três léguas de Campanha. Desde essa época conviveu com os políticos do seu tempo, principalmente, Evaristo Ferreira da Veiga e Diogo Antônio Feijó.

O pai foi Coletor (por uns 5 ou 6 anos), comerciante, fazendeiro e Juiz de Paz, em Campanha.

Em 16.11.1855, Francisco de Paula formou-se em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito de São Paulo, recebendo o grau de bacharel. Nesse curso teve como colegas, entre outros, Américo Brasiliense de Almeida e Melo, Antônio Ferreira Viana, Evaristo Ferreira da Veiga, Francisco Manuel das Chagas (Barão de Itaipu) e Paulino José Soares de Sousa.

Formado, retornou a Campanha onde foi nomeado, aos 13.12.1855, Curador Geral de Órfãos e Promotor de Capelas e Resíduos. Ali, chegou a Promotor Público. Por decreto de 30.10.1856, veio a ser nomeado Juiz Municipal e de Órfãos em Queluz (atual Conselheiro Lafaiete), Minas Gerais, onde permaneceu até 1861. Naquela cidade, acumulou, também, o cargo de Delegado de Polícia.

Em 1861 mudou-se para Leopoldina onde se estabeleceu como advogado. Na verdade, ao transitar por Leopoldina seu destino era São Fidelis (RJ), onde imaginava fixar residência, depois da perda do cargo de Juiz Municipal em Queluz. Aqui, porém, pretendendo apenas pernoitar, encontrou por acaso um ex-colega de faculdade, de São Paulo, Gabriel de Paula Almeida Magalhães que, provando-lhe o sucesso de sua banca advocatícia na cidade, convenceu-o a ficar.

Foi atendendo, pois, ao convite insistente do amigo “Bié”, que Francisco de Paula decidiu ficar em Leopoldina. Decisão da qual confessou jamais ter-se arrependido.

O episódio está relatado na página 20 do livro “Histórias de um Médico”, de Cássio de Rezende. Relata o Dr. Cássio - filho do biografado - que seu pai deixando a magistratura em 1861, na cidade de Queluz de Minas, partiu a cavalo na direção de Leopoldina à cata de lugar promissor onde sentar banca de advogado. Pensava chegar a São Fidelis, no Estado do Rio. Cansado, porém, com os cavalos estropiados, um escravo como pajem e uma dívida de dois contos de réis, parou em frente ao único hotel de Leopoldina e, antes de apear, enquanto negociava com o hoteleiro a hospedagem, alguém lhe gritou da janela do sobrado ao lado:

-“Então, estais aqui?!..”. E prossegue Cássio de Rezende: ... “volvendo a cabeça, quem meu pai havia de encontrar? Ninguém menos que seu colega Bié, um sujeito que tinha escapado de ser Visconde e que, já naquela época, era milionário. Gabriel de Almeida Magalhães que, no seio da família, tinha apelido de Bié, pelo qual era também conhecido entre os colegas... Em vez de apear no hotel, diz meu pai que deu uma rápida meia volta à esquerda, e foi cair nos braços do colega que ele não via desde a formatura. Tendo contado ao Dr.Gabriel que sua viagem não passava de procura de uma advocacia qualquer, disse-lhe o amigo que estava achado o que o ele queria, isto é, o que lhe convinha era a cidade de Leopoldina. E para convencer meu pai de que tinha razão, mostrou-lhe os seus assentamentos e, então, com um pouco de inveja, verificou meu pai que, enquanto ele partira para Queluz levando dois serviçais e de lá saíra possuindo menos do que levara, o Dr. Gabriel, pelo contrário, tendo vindo para Leopoldina logo depois de formado, pouco mais trazendo de seu além do cavalo em que montava e, na garupa, a importância da própria formatura que ainda estava devendo, no fim de pouco mais de cinco anos, tinha pago todas as dívidas e já era tido até em conta de capitalista”.

Registre-se, à parte, que o advogado Gabriel de Almeida Magalhães tornou-se astro de brilho intenso nos céus da história leopoldinense. Político notável, foi um dos fundadores da Casa de Caridade Leopoldinense. Na aurora da república transferiu-se para o Rio de Janeiro onde a família se fixou definitivamente. Seu neto, Rafael de Almeida Magalhães foi Governador do extinto Estado da Guanabara e, mais recentemente, Ministro da Previdência Social. 

Francisco de Paula Ferreira de Rezende decidiu montar sua banca de advogado em Leopoldina. Em 1865, para apoiar seu irmão Valério, adquiriu a antiga fazenda Córrego da Onça a qual, como ele mesmo informa, decidiu crismar com a designação de "Fazenda Filadélfia", homenagem à cidade em que se proclamou a primeira das repúblicas americanas.

Consta que vinte anos depois de adquirida, a Filadélfia contava 100 alqueires de terras, boa parte em matas, 150 mil pés de café e vinte e tantos serviçais.

Antes de adquirir a fazenda Francisco de Rezende morou, em Leopoldina, num sobrado que, por suas descrições, deveria situar-se na atual Rua Lucas Augusto, um pouco acima da Prefeitura.

Depois comprou uma chácara da qual doou parte, “que julgaram necessária”, para a construção do novo cemitério da cidade. (Trata-se do terreno do atual cemitério de Leopoldina)

Quanto a seu irmão, Valério Ribeiro de Rezende, este teria vindo para Leopoldina com o objetivo de ser agricultor, mas tornou-se, inicialmente, dono de um colégio de instrução secundária, até que ambos passassem a se dedicar exclusivamente à Fazenda, cuja principal cultura era o café

A historiadora Nilza Cantoni anota, ainda, que Francisco de Paula chegou a ser nomeado substituto de Juiz Municipal a 02.01.1880, pela presidência da província, conforme consta de ata no Livro nº 7 da Câmara, fls. 17, verso.

Para que se tenha uma idéia de nossa cidade quando por aqui aportou Francisco de Rezende (1861), ele conta que chegou a conhecer um aldeamento de índios Puris na estrada que ligava Tebas ao então arraial do Rio Pardo (Argirita). A Vila de Leopoldina, incluindo o bairro da Grama que era mais distante, possuía não mais que 70 ou 80 casas.

No biênio 1864-1865 Francisco Rezende ocupou cadeira da Assembléia Legislativa da província como Deputado Provincial, o que corresponderia hoje ao Estadual. Logo depois foi indicado pelo presidente da província para candidato a Deputado Geral, o que recusou por dele divergir politicamente.

Por mais de uma vez declarou-se republicano apaixonado. Tão apaixonado a ponto de buscar nos grandes republicanos de Roma o nome para os filhos (Cássio, Flamínio e Mânlio) e mudar, como foi dito acima, o nome de sua fazenda adquirida como tributo à pioneira república americana.

Deixa claro que era republicano também porque não concordava com o apoio da Coroa à abolição da escravatura “feita de afogadilho”, segundo ele, sem que o país estivesse preparado, obedecendo a interesses externos e “destruindo a capacidade de produção do País”.

Com o advento do regime republicano fez parte da comissão encarregada de elaborar a constituição do Estado de Minas Gerais, em companhia de Joaquim Felício dos Santos e Pedro Augusto Carneiro Lessa, a convite do Congresso Republicano do Estado.

A 21.01.1890 foi nomeado 3º Vice-Governador do Estado, sendo transferido para 2º Vice-Governador por decreto de abril do mesmo ano.

Por essa época, tendo o Governo Federal consultado correligionários, deputados de Minas, sobre a indicação de um jurisconsulto mineiro, de provado saber e patriotismo, para ser nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal, seu nome foi o indicado e ele nomeado para o cargo em decreto de 25.05.1892, com posse em 04 de junho do ano seguinte. No Tribunal exerceu também a função de procurador-geral da República.

Francisco Rezende era casado com D. Inácia Luiza Barbosa de Rezende, filha do Conselheiro e depois Senador Luiz Antonio Barbosa. Deixou grande descendência que, segundo seu filho Cássio, foi a seguinte: Valério Barbosa de Resende, advogado em Belo Horizonte; Francisca Eugênia Barbosa de Resende; Luiz Barbosa de Resende, engenheiro; Francisco Barbosa de Rezende, advogado e presidente do Conselho Nacional do Trabalho; Gaspar Barbosa de Resende, médico em São Paulo; Cássio Barbosa de Resende, médico no Rio de Janeiro; Flamínio Barbosa de Rezende, que exerceu o cargo de Desembargador do Tribunal de Apelação do Distrito Federal; e Mânlio advogado em São Paulo.O casal teve ainda duas filhas que faleceram em tenra idade.

Como jornalista, colaborou, entre outros, com os jornais Correio do Povo, A Ordem (editado em Ouro Preto) e O Estado de Minas Gerais (órgão oficial do Estado).
Escreveu, ainda, “Julgamento de Pilatos” ou, “Jesus Perante a Razão e os Evangelhos”, em 1885 e, “O Brasil e o Acaso”, publicado em 1893, após a sua morte. Além desses, três outros manuscritos ficaram inéditos até sua morte: “Comentários Bíblicos”, “O Mosaísmo Perante a Razão” e “Minhas Recordações”. Este último, escrito aos 56 anos (1888).

Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 26.10.1893. Foi sepultado no cemitério São João Batista.

Dentre os filhos do biografado, tivemos oportunidade de pessoalmente conhecer, nos anos 70, o médico Dr. Cássio Barbosa de Resende, em seu consultório da Rua São José, 70 (sobreloja), no centro do Rio de Janeiro. Dr. Cássio, hoje falecido, deixou-nos, como acima mencionado, sua importantíssima obra, “Histórias de um Médico”, na qual faz alusões à vida da família após a mudança de seu pai para o Rio de Janeiro, como Desembargador; à casa em que viveram na Rua Pedro Américo, no bairro do Catete; ao “Ateneu Leopoldinense”, o colégio secundário que seu tio Valério conduziu em Leopoldina; às lavouras de café da Fazenda Filadélfia e outras; aos hábitos bizarros das pessoas com as quais conviveram, no meio rural leopoldinense, seu culto pai e sua mãe, mulher da mais fina estirpe que conhecera, na juventude, as duas filhas do Imperador; e às falências desesperadoras dos fazendeiros da região (inclusive do pai) com o advento da Lei Áurea.

Lei contra a qual não se insurge pela evidência de sua necessidade e justiça mas que, “no afogadilho com que foi promulgada, a todos surpreendendo e arruinando”, lhe pareceu ato de irresponsabilidade de uma monarquia submissa a pressões externas.
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NOTA: Os dados desta biografia foram coletados em anotações históricas de José Luiz Machado Rodrigues (a quem agradecemos); nos arquivos do Supremo Tribunal Federal; e nos livros, “Minhas Recordações e “Histórias de um Médico”, no texto referidos.
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LEIA MAIS EM: http://www.cantoni.pro.br/alla/FerreiraRezende.htm - Patrono da Cadeira nº11 da Academia Leopoldinense de Letras - Titular: José Luiz Machado Rodrigues

2 comentários:

  1. Adorei a historia do pai do doutor Cassio, meu medico querido por muitos anos quando eu era criança; tenho os dois livros que ele escreveu, verdadeiras relíquias da historia e da homeopatia

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  2. Obrigado pelo comentário, Renan. Também tive o privilégio de conhecer, pessoalmente, o atencioso Dr. Caio. Grande abraço.

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