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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Marmelada Colombo #

***
Fevereiro, 2011


Cansado e com aquele calorão que fazia, livrei-me da camisa, liguei o condicionador de ar e me estiquei ao chão na posição de pensar em nada. Nadinha! Vácuo de lâmpada fosca no cérebro. Zero grilos, angústias zeradas. Na língua apenas o adocicado sutil de uma quimérica “Marmelada Colombo”.


Isto mesmo, volta e meia me recorre nostalgia da velha Marmelada Colombo, retentiva anacrônica de minha infância na roça. Minha mãe à mesa do almoço, o abridor de latas entre os dedos, abrindo cuidadosamente a tampa da latinha retangular. Nós, meninos, pratos de doce às mãos, ávidos daquela divina geleia de marmelo.

Alguém aí na plateia se lembra da Marmelada Colombo? Vinha numa embalagem metálica, como um delgado tijolinho verde. Lembro-me do losango branco na lateral da lata e a marca “colombo”, da celebre confeitaria, em alto relevo pelo meio da tampa. O doce, de cor âmbar, requintada delícia, desmanchava-se na boca e a gente podia trincar nos dentes uns grãozinhos crocantes da fruta não totalmente moída.

Sempre que perguntávamos à mamãe onde estava papai e ouvíamos que fora à cidade fazer compras, boiava no ar a expectativa de que nossa Marmelada pudesse estar a caminho. Mamãe costumava servi-la com requeijão feito em casa, por minha ex-babá, Olguinha Cisneiros. Um beijo interestelar, Olguinha no céu!

Passo por estas lembranças de menino rural, mas quero chegar a um episódio que vem mais à frente, quando já contava uns quarenta anos de idade. A profissão de advogado me levara a privar com pessoas na diretoria de um importante grupo de empresas cariocas do ramo da indústria e comércio de roupas. Um dos diretores se chamava Carlos Gomes, homem extraordinariamente afável, excelente papo, tanto que alguma idade a mais, pelo lado dele, não impediu que ficássemos amigos.

Certo dia almoçávamos num restaurante do centro da cidade e minha escolha, para sobremesa, foi marmelada. Ele gostou da ideia, também pediu e – como vinha ao caso – tomei a palavra sobre minha fixação de garoto na lendária Marmelada Colombo. Claro, descrevi pormenores impressos na indefectível latinha verde e o cuidado com que minha mãe removia a tampa, sob vigilante expectativa dos filhos à sua roda, ansiosos da maravilha a ser logo degustada...
Carlos, num gesto imprevisto, estendeu-me a mão sobre a mesa, para que eu a apertasse, e declarou com naturalidade:
-Eu fazia, para vocês, aquele doce!
Como?
-Isto que você ouviu. Eu fazia a Marmelada Colombo. Fui diretor da fábrica que, depois, veio a ser transferida para uma rede de supermercados... A qualidade passou a não ser a mesma.

Não me contive. Levantei-me e apliquei um vigoroso abraço no amigo – dali em diante declarado, expressamente, “amigo de infância”! Não sei quantas outras lembranças ainda relacionei ao produto, sempre instando conformidade ao meu versado herói. Ouvi dele sobre cada passo da fabricação: da aquisição da fruta à logística que permitia que a embalagem contendo a suave preciosidade chegasse à nossa casa modesta, lá nas roças de Minas.

Enfim, passei a conhecer cientificamente, depois de grande, aquilo que tanto me encantou nas vivências de menino. Quanto ao Carlos, só podia rir de ver-se promovido à divindade intangível que, nos meus tempos de criança, fabricava a Marmelada Colombo!

Vencida a emoção, passamos à sobremesa pedida. Marmelada, não disse? Só não era Colombo, claro. Esta já não existia.

₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado em 03.02.2011 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/e no LEOPOLDINENSE Online)

2 comentários:

  1. JOSÉ DO CARMO....BOA NOITE
    FAÇO MINHAS TODAS SUAS PALAVRAS COM RELAÇÃO Á MARMELADA COLOMBO-POR INCRÍVEL QUE PAREÇA AINDA HOJE QDO VOU A QUALQUER SUPERMERCADO VERIFICO NAS GÕNDOLAS PRA VER SE ENCONTRO ALGUMA LATA DAQUELA...SEM CHANCE
    ACASO CONHECES ALGUM LUGAR ONDE PODERIA OBTER UMA FOTO DAQUELA PRECIOSIDADE- QUERO COLOCAR NA MINHA ÁRVORE GENEALÓGICA....CARAMBA ...FEZ PARTE DA MINHA INFANCIA...MEU FALECIDO PAI SEMPRE SEMPRE COMPRAVA- AQUELE SABOR INESQUECÍVEL...
    SE OBTIVER ALGUMA NOTICIA POR FAVOR MANDE PRA MEU EMAIL.
    ADMFIN38@HOTMAIL.COM....FICAREI ETERNAMENTE GRATO.
    ARI

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  2. Eu tambe´ando à procura dessa marmelada Colombo:onde encontrar meu Deus?

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