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terça-feira, 13 de outubro de 2009

A Gazeta é uma Flauta

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A semana que passou nasceu feliz para quem não gosta da Gazeta de Leopoldina. Nos dois programas mais populares das emissoras locais noticiaram a “queda” do Luiz Otávio Meneghite da direção do Jornal. Num átimo, a cidade “atônita dizia: Que foi? Que não foi?”
Houve gente telefonando aqui pra casa, porque muitos pensam que eu “sou da Gazeta”.

Aproveito e digo que não sou. Apenas rabisco umas caçoadas, sem qualquer compromisso de regularidade, e o Luiz Otávio publica por delicadeza ou por complacência. Meu único vínculo com aquele periódico é de gratidão ao Luiz pela temerária acolhida que dá às minhas garatujas.

Aos amigos dele acalmei, bandeiramente, dizendo que Mozart permanecia vivo, não sendo, ainda, “o mais moço dos anjos”... Não caíra do galho. Tudo continuava como antes. Mas a pressão inconfessada de politiqueiros locais – com noção talvez exagerada dos poderes que de fato possuem em cima do Luiz Otávio - realmente existe.

Até onde minha percepção alcança imagino que, com eleições para prefeito a caminho, o jornal, muito lido, passou a incomodar. Passou a ser cobiçado para servir de escada gratuita a aventuras pessoais.
A verdade é que, em 98, o Luiz assumiu uma Gazeta pobre de qualidade, sem regularidade e sem leitores. Colocou o jornal nos eixos e, agora, como penitente, paga pela valorização que ele próprio imprimiu ao periódico.

Como se vê, vindita provinciana, subproduto de idéias muito aquém do nível de competência que o estágio atual da civilização leopoldinense exigiria. O político inapto é a doença da democracia. O que, aliás, vem melhorando. Lembro-me quando o populismo empolgou o governo de Minas pela primeira vez, preocupava-nos que o perfil do homem público vitorioso no Brasil viesse mudando por obra do voto popular, sobretudo do entorno das cidades maiores. Reservas intelectuais e morais ao nível de um Milton Campos, Pedro Aleixo, Eduardo Gomes, Juscelino, passariam – para sempre - a ter menores chances.

Válida para Minas, Rio de Janeiro e São Paulo, durante anos, esta realidade parecia eterna. Mas, felizmente, o país tem evoluído. A sensibilidade popular se aperfeiçoa, o eleitor informado já reage de uma maneira culturalmente mais construtiva. Melhor para a democracia.

Voltando à Gazeta e à perseguição ao Luiz Otávio, eu diria o seguinte. Um Jornal do Interior não é o título que exibe. Um Jornal do Interior não é a gráfica, nem a tinta que o imprime. Não é o registro de propriedade. Não é o jornaleiro que o distribui. O Jornal do Interior, desprovido da identidade editorial e empresarial dos grandes órgãos de imprensa é, apenas e tão somente, a pessoa que o faz. Ponto final. Para onde essa pessoa for, com seu cérebro, com sua personalidade, com seus amigos, com sua credibilidade, com sua vocação, com sua experiência, com sua memória comunitária, com sua Remington-30, o Jornal do Interior vai junto. O órgão de imprensa passa a embutir uma identidade personalíssima, inalienável.

Isto me lembra uma história muito engraçada, que contam, do Altamiro Carrilho num show dado no interior de Goiás.
Para quem não se lembra, Altamiro Carrilho é aquele flautista dos diabos que há décadas empolga, com sua banda, os apreciadores do chorinho brejeiro, do samba malandro e do maxixe. Senhor de enorme versatilidade, Altamiro leva o público ao delírio com sua flauta malabarística. Não há flauta com segredos para ele: flauta longa, flauta média, flauta doce, flauta vertical, flauta transversa. Há uma flautinha diminuta com a qual ele faz “misérias” ao microfone.

Diz a piada que, ao final de um certo show, um fazendeirão riquíssimo, porém ingênuo, fascinado com as diabruras da flauta do Altamiro chegou para ele disse:
- Eu dou trinta mil nessa frauta!
Que é isto, amigo - protestou o Altamiro - esta flautinha é barata, custa menos que vinte reais em qualquer loja.
- Nããão - insistiu o fazendeiro - eu nunca vi uma frauta atentada tocá igual a essa. Tem paciência, o senhor me vende a frauta... Eu dou os trinta mil nela.

Dizem que o Altamiro, comovido, passou uma flanela na flauta e deu-a de presente ao simpático rurícola. Que não deve ter levado muito tempo para concluir que a flautinha só tocava bonito daquele jeito quando estava nas mãos e nos lábios do consagrado músico.

Acredito que neste caso da Gazeta a situação teatral seja análoga: a Gazeta é a “flauta cobiçada”; o Luiz Otávio, o “genial instrumentista”; e os equivocados da província que pensam que a Gazeta continuará bonita como está, para servir-lhes, não passam de ingênuos caipiras.

Vai ser a vida imitando a arte.
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(Publicado na Gazeta de Leopoldina)

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