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quinta-feira, 7 de julho de 2011

A Morte Atestada

***
Abril, 2005


Às vezes é interessante transitar pelo avesso de certas notícias.
No dia seguinte ao falecimento do Papa João Paulo II, desaparecido a 2 de abril de 2005, a agência Reuters noticiou e o Globo Online transcreveu, às 9h:34m da manhã, a seguinte nota:

“Exames para comprovar morte do Papa duraram mais de 20 minutos - CIDADE DO VATICANO - O Papa João Paulo II morreu devido à septicemia e falência do coração, informou o Vaticano neste domingo, segundo cópia de um certificado oficial de  óbito assinado pelo médico pessoal do Pontífice. A morte do Papa foi comprovada pelos resultados dos testes de eletrocardiograma, que  duraram mais de 20 minutos.”

A notícia, tal como acima transcrita, permite concluir então que médicos não podem, responsavelmente, atestar a morte de uma pessoa sem submetê-la (ou submeter o corpo) a um acurado exame que, no caso do Papa, cujo óbito era mais do que previsível e o mundo inteiro esperava, levou 20 minutos.

Ora, isto não confere com a experiência de quem conhece a rotina das UTIs. Os médicos das unidades de terapia intensiva, dispondo de todo aquele aparato de rastreio das funções vitais − aparelhagem à qual o Sumo Pontífice seguramente estava ligado −  não levam mais que um minuto para constatar o óbito e cobrir com a dobra do lençol a cabeça do extinto. Dezenas de filmes, aliás, reproduzem a cena.

Também no cotidiano hospitalar, pelo menos no Brasil de que temos conhecimento, vinte minutos do derradeiro suspiro é o tempo em que todas as funerárias, furtivamente informadas do passamento, já telefonaram para a família vendendo preparo do corpo e sepultamento.

Em pouco mais de meia hora o finado, transformado em mercadoria funérea, em muitos casos já nem se encontra mais no necrotério do hospital. Um apressado camburão de funerária particular, de negócio rapidamente fechado com a família para não dar chance a concorrentes, já dobrou a esquina conduzindo o féretro a uma capela mortuária.

E aí, como fica? O óbito do “passageiro” do camburão foi bem apurado? Mediante exame de vinte minutos, como ocorreu com o Papa? O cartório vai expedir o Atestado de Óbito com base em alguns rabiscos médicos de penosa leitura e sem firma reconhecida?

O pior é que vai. Mesmo a gente sabendo que nem o DETRAN emplacaria uma Variant sambada mediante documento tão precário. O Atestado de Óbito será emitido.

A especulação pode parecer mórbida, sinistra, mas é a ilação que sugere a insólita notícia. A menos que aqueles médicos à beira do leito de João Paulo II estivessem contratados para trabalhar “por hora”.


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