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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A Catástrofe da Treze de Maio

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Janeiro, 2012


Cá de Minas Gerais, onde estou, o desmoronamento dos três prédios da Av. Treze de Maio, a 25.01.2012, no Rio de Janeiro, ressoou como se ocorrido aqui em frente.

É que a Av. Treze de Maio foi, de fato, e por muitos anos, a minha rua, a rua do meu trabalho, do meu dia-a-dia, além da rua do Teatro Municipal, do Banco do Brasil – Agência da Cinelândia, do Cordão do Bola Preta, do antigo IAPB, no Edifício Darke, e da Cia. Siderúrgica Nacional, no histórico Edifício Municipal.

Fronteiriças aos prédios que desabaram, minhas janelas de escritório, no 18° andar do número 13, abertas sobre a cúpula do Teatro Municipal, divisavam aqueles prédios que caíram no primeiro plano da paisagem, tendo a Baia de Guanabara ao fundo, o Pão de Açúcar e a Ponte Rio/Niterói.

No térreo de um deles, funcionava uma padaria com pães especiais que, à noite, costumava levar para casa, para deleite do meu filho.

Presenciar, pela TV, a remoção daquele entulho me comove e me atesta situar-se ali um pedacinho do Rio a integrar, silenciosamente, meu sentimento de lar.

Opinar prematuramente sobre as causas da tragédia não é apropriado. Se, de saída, entretanto, foram descartadas as hipóteses de explosão, algum outro episódio terá comprometido fatalmente as estruturas da edificação  maior, que levou, em sua brutal implosão, as duas menores.

Sabe-se que o concreto não perde resistência com o tempo – ao contrário, torna-se mais rijo − a menos que ferragem exposta à ferrugem o comprometa, o que é raro. Obras desastradas, de acréscimos, surgem, então, como causa mais provável da tragédia.

A propósito, vivi experiência bastante elucidativa da questão. Na década de 80, contratei empresa para abrir um buraco na parede e instalar condicionador de ar em meu apartamento de 10° andar.

Aos dois pedreiros que chegaram pela manhã, indiquei a parede a ser furada e fui trabalhar. Cismado, porém, resolvi almoçar em casa para conferir o andamento da obra. Que susto! Só a metade direita do buraco estava aberta; a outra, a duras penas, eles tentavam, roer a marteladas...
– Está muito duro, Doutor, é concreto armado!

Foi fácil logo ver que na ponta das talhadeiras estava uma pilastra do prédio. Aflito, gritei que parassem com aquilo... Devo ter pronunciado, naquele instante, a ordem mais importante da minha vida...

Obras feitas por “curiosos”, sem qualquer planejamento técnico, são comuns. Moradores, proprietários e síndicos precisam estar atentos. Contratar pedreiro indicado pelo porteiro é uma temeridade.

Também não pensar que a simples regularização da obra no CREA garante segurança. Dão apenas notícia de que “há um engenheiro responsável”. O que não é tudo. É bom saber se o engenheiro, de fato, projetou e – importantíssimo – se passa por lá. Porque Conselho não fiscaliza obra: ele existe para defender a classe profissional por cujos interesses zela. Conselhos são autarquias que funcionam mais como burocracias cartorárias, vorazes, sobretudo na coleta de suas próprias receitas, em anuidades, taxas e multas.

O ideal seria fiscalização municipal eficiente, acompanhando reformas e exigindo manutenção.  Infelizmente, esta é outra área em que, pelo menos nas grandes cidades, a corrupção campeia solta. Dinheirinho para aprovar, dinheirinho para não multar, dinheirinho pra isto, dinheirinho pra aquilo. E, cuidado, hem! Melhor contratar despachante “do ramo”, que coloque a grana na mão da pessoa certa. Se não...

A imprensa publicou duas fotos comparativas do prédio maior, responsável pelo desastre da Treze de Maio – antes e depois das reformas que sofreu ao longo dos anos. Na foto mais recente, aparecem obras de ampliação nos andares superiores e inúmeras janelas suplementares,  abertas na empena cega do prédio. O vulto dos acréscimos assusta pelas possíveis toneladas de cimento, areia e tijolos ali colocados posteriormente ao cálculo das estruturas. As aberturas caóticas das janelas sugerem possíveis danos aos pilares. Tudo, portanto, obra irregular.

É rezar pelos mortos.


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(Publicado, em 30.01.2012, no Leopoldinense Online)

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