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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Lugares #

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Novembro, 2003

Há uma coisa em Leopoldina que me incomoda bastante. Não ocorre apenas aqui. O problema é que quando acontece em nossa terra, mexe com a gente. São alguns designativos de logradouros que caem no esquecimento ou são substituídos, a meu ver, desnecessariamente. Falo só dos lugares da minha infância.

Alguém, por acaso, sabe que aquela área onde está, hoje, o Posto Imperial, a Aramil e o Hotel Santo Antonio, na saída de Leopoldina para o Rio de Janeiro, logo depois do Posto da Polícia Federal, tinha o lindo nome de Ponte Cheirosa - desde quando por ali existia apenas uma bela casa, com eira e beira, no terreno onde está edificado o hotel? Era a casa de Da. Manoela, sogra do Sr. Ranulfo Matola. A ponte devia ser cheirosa por causa das flores de açucena.

Quem vinha a cavalo, à cidade, ou de carro de boi, tinha ali o bebedouro dos animais. A estrada rural, paralela à BR, passava dentro d’água. O fundo do riacho era compactado, não atolava de jeito nenhum. Nem os pesados carros de boi, nem os animais.

Incomoda-me ouvir chamarem aquele lugar de Caiçaras.
Sei que o DNER acabou com a ponte, substituindo-a por manilhas, e que os irmãos, Paulinho e Chiquinho Resende, construtores do Posto Imperial, encanaram o riacho, que passa debaixo do Posto de Gasolina e do prédio deles. Mas chamar aquela região de Caiçaras é apelar para designativo sem nenhuma tradição local.

O Hotel Caiçaras nada mais foi que um projeto inacabado e logo demolido que praticamente não funcionou, ou funcionou por muito pouco tempo. O construtor, Sr. Fued, foi assassinado durante a obra. O negócio de bar e hotel naquele lugar claramente não tinha futuro. Nos anos 50 aquele ponto ficava muito distante da área urbanizada de Leopoldina, que começava na ponte sobre o Feijão Cru, na Rua João Neto. A Quinta Residência e o Arraial do Sapo se resumiam a, no máximo, quatro ou cinco casas. Era roça mesmo. Os restos dos alicerces do Hotel estão sepultados debaixo da balança da Polícia Rodoviária.

Outra pergunta: E o bairro que vai da Polícia Rodoviária até a lanchonete Seta? Por acaso alguém sabe que a localidade sempre foi denominada Bairro Santo Antonio, também conhecido como Bairro da Onça?

Agora um doce para quem souber que o local onde fica a lanchonete Seta, também na saída para o Rio de Janeiro, onde vão construir agora um posto de gasolina em frente, denomina-se Água Espalhada. As pessoas simples que ali residiam, na minha infância, diziam “Água Espaiada”...

Outro doce para quem souber que onde está o trevo da BR-116, no pé da Serra da Vileta, início da estrada para Juiz de Fora, sempre foi conhecido como Placa, embora parte da área maior, tradicionalmente referidaa como Constança. Ou seja, a Placa ficava na Constança. Era alusão à primeira placa de propaganda (outdoor) ali colocada, se não me engano anúncio da antiga concessionária Ford, do Sr. Acácio Serpa.

Estamos entendidos, portanto. O Sítio Puris, (onde fui criado), na altura do marco n°771 da BR-116, fica na Onça, próximo à Água Espalhada. Compra briga comigo quem disser que eu sou do Caiçaras. E olha que não é pela beleza do nome Onça, não, pois também é verdade que, num passado não muito distante – até 1950, mais ou menos – referiam-se, também, àquele lugar, entre a Onça e a “Água Espaiada”, como Cubu. Curva do Cubu. Sítio do Cubu.

Feio, não é? Mas Cubu nada mais é que uma bolacha de fubá, assada no forno de lenha. Devia ser pelo formato do morro, ao fundo. A Curva do Cubu é aquela fronteiriça à divisa do Sítio Puris (dos Machado Rodrigues) com o sítio pertencente aos herdeiros do Sr. Francisco Barreto Faria Freire. Um pouco antes dela, nas proximidades da jazida de saibro do sítio do Sr. Francisco Monteiro (ex sítio do Augusto Timbiras), situava-se a Fazenda da Onça, sobre os alicerces da qual passou, e ainda passa, a estrada Rio/Bahia – aberta lá pelo início dos anos 1940.

Como escreveu o poeta Ovídio, nomina sunt odiosa. Sim, às vezes os nomes são importunos.
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(Publicado no LEOPOLDINENSE de 29.11.03 e, revisto, aos 16.09.11

Um comentário:

  1. Na Br, próximo à LAC, tem uma ponte cuja placa consta como "Ponte Cheirosa". Mas alí não deve ser pelas flores e sim pelo Feijão Crú mesmo.

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