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terça-feira, 10 de maio de 2011

João Rodrigues

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(Foto: Janeiro, 1968)


João Rodrigues foi um agricultor e pecuarista leopoldinense, nascido em 23 de agosto de 1911 na localidade rural denominada Sítio Puris, no Bairro da Onça, e falecido em Leopoldina aos 23.03.1974. Era filho do também agricultor Antonio Augusto Rodrigues (Totônio Rodrigues) e de sua esposa, Maria Antonia de Oliveira Rodrigues (Mariquinhas).

João e seu seis irmãos foram criados na propriedade de Totônio e Mariquinhas, na Boa Sorte, mais exatamente o lote nº22 da Colônia da Constança, adquirido pela família em 1924. Casou-se, em 1937, com a prima de segundo grau, Maria Pereira Machado Rodrigues (Pequetita), professora na escola pública da Vargem Linda e, nesse lugar, também conhecido por Lajinha, nasceram os quatro primeiros dos onze filhos que o casal veio a ter.

A residência era a própria Casa da Escola, construída por João – e que ainda hoje existe - onde a família residiu até o ano de 1945, ocasião em que Pequetita obteve transferência para a Escola do Bairro da Onça, que funcionava numa sala contígua à Capela de Santo Antonio. Por essa ocasião, a família passou a residir no Sítio Puris, onde João nascera.

Autodidata, inteligente e bem informado, João gostava de ler revistas, principalmente Seleções do Reader´s Digest, e também jornais que, naquela época, não chegavam com regularidade ao meio rural. Fazia pouco alarde de suas preferências políticas, mas era simpático ao PR de Artur Bernardes.

Por herança e por compra ou cessão de alguns irmãos, fixou-se no Sítio Puris, que era parte da antiga Fazenda Puri. Nessas terras, além do cultivo de cereais, construiu com suas próprias mãos, curral, paiol, tulha, engenho de cana para fabricação de rapadura e açúcar, olaria, serraria e um moinho de fubá movido a água. Chegou a conquistar, dentre muitos outros, o 1º prêmio, na Exposição Agropecuária de Leopoldina, pela qualidade do produto de seu moinho.

Muito habilidoso, trabalhava com couro, madeira, ferro, hidráulica, eletricidade, construção civil e na ordenha e manejo do gado. Seus empregados se ocupavam apenas da lavoura (plantio e colheita) e da roçagem dos pastos. Todas as demais tarefas João as realizava pessoalmente, com refinado “engenho e arte”.

Por volta de 1946, João dotou a sede da propriedade de água encanada e sanitários - o que, na década de 40, era bastante incomum nas fazendas. Em 1948, juntamente com o vizinho e cunhado, Odilon, eletrificou o Sítio Puris, trazendo posteamento e rede a partir da venda do Timbiras. Pouco tempo depois, tomou a si a tarefa de recuperar teto, paredes e pintura da Capelinha de Santo Antonio, da Onça. (Não é dele – ressalve-se – a desfiguradora reforma do teto que lá está, feita muitos anos depois)

Em 1955, para facilitar a educação dos filhos, muito sacrificados com idas e vindas, a cavalo, ao Colégio Leopoldinense, João e Pequetita adquiriram casa na cidade e se mudaram. Mas a partir daí, e até seu falecimento em março de 1974, foi João que passou a ir, todas as manhãs, tocar a vida do Sítio, que era o sustento de sua família.

Seu falecimento, em março de 1974, se deu em conseqüência de ferimentos em um desastre automobilístico. Após sua morte a família transferiu residência para o Rio de Janeiro (RJ).

João Rodrigues foi um homem muito comunicativo e popular no meio em que vivia. Sempre de bom humor, gostava de rir e fazer piadas com os amigos. Parecia viver algumas situações pelo simples prazer de fazer graça. Um exemplo disto foi o pequeno cavalo que possuiu, chamado Guarani, no qual costumava ir à cidade. Sem dúvida que ele poderia possuir – e muitas vezes possuiu – um animal maior e melhor. Guarani, além de muito pequeno, era ruim de marcha (trotão), o que tornava pouco agradável cavalgá-lo. Mas João gostava de usá-lo. Certa ocasião, o ex-expedicionário da FEB na Itália e primo de minha mãe, Derneval Vargas, comentou comigo em tom de pilhéria:
-Que coisa mais esquisita é aquela! Seu pai um homenzarrão de quase dois metros de altura cavalgando aquele minúsculo Pequira! Parece até que ele está com um cavalinho de brinquedo no meio das pernas...

Além dessa pessoa alegre, João era também extremamente solidário com os menos favorecidos. Estava sempre ajudando pessoas em dificuldade. Mas João foi, sobretudo, um forte, um bravo, um lutador incansável. Suportou a dura tragédia da perda de três filhos ainda jovens, dos onze que teve. Criou os outros oito com os dotes da terra, fecundada com suas próprias mãos. Ele fez jus aos versos de Homero, na Ilíada, pronunciados por Ulisses em tributo ao herói, Aquiles:

Se um dia contarem minha história, digam que andei entre gigantes.
Os homens nascem e morrem, como o trigo no campo.
Mas esses nomes jamais serão esquecidos.
Se um dia contarem a minha história,
digam que vivi no tempo de Heitor, o domador de cavalos...
Digam que vivi na época de Aquiles. 

Quando de seu falecimento, a Câmara Municipal de Leopoldina consignou um voto de pesar à família, cujo agradecimento fizemos nos termos da correspondência abaixo:

Rio Verde (GO), 22 de abril de 1974.

Ao
Exmo. Sr. Vereador
Dr. Dalmo Pires Bastos

Amigo Dr. Dalmo,

Chega-nos hoje o conhecimento de que o Legislativo Municipal de Leopoldina, por moção partida de V. Exa., em sessão de dois do corrente, dignou-se dirigir a nossa família um voto de pesar pela morte de nosso inesquecível pai.
Com esta, vimos manifestar a V. Exa. a gratidão da família, ao mesmo tempo em que nos permitimos solicitar-lhe faça chegar à Mesa, e a cada um dos membros dessa Casa, sinceros agradecimentos.
-Nosso pai, João Rodrigues, não viveu muito. Mas aos 63 anos de sua fecunda existência, soube legar aos filhos o exemplo que foi de chefe de família, de cidadão honrado, de homem do trabalho e, sobretudo, de bondade.
-Consola-nos, hoje, saber que ele partiu deixando realizado todos os seu sonhos; posto que fossem de homem simples esses sonhos.
Mais chegado aos humildes, e essencialmente humilde, nunca almejou a fortuna ou a notoriedade mundana. Lutou não mais que pela educação e bem-estar dos seus, o que arrancou da sorte e da terra, com amor, perseverança e áspero sacrifício.
Tinha no modo simples de ser e na singeleza da vida que gostava de viver, sua maneira própria de ser feliz e de ser bom.
Deixou-nos cedo, mas tendo conhecido a glória, quase sempre rara, de ver-se realizado em si e, na realização dos filhos. Amigo de todos, foi homem de bem na mais completa inteligência da expressão.
-O conforto que – por seu passamento – nos traz essa Casa de Representação Pública, nós o recebemos como justa homenagem da terra querida à memória de seu filho exemplar.
E tal como a inscrição celebre, nós a colhemos no fundo do coração, pois “esta é a glória que fica, eleva, honra e consola...”
Cordialmente,
José do Carmo Rodrigues
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(Dados desta biografia foram extraídos do livro “Os Rodrigues da Fazenda Puri”, de José Luiz Machado Rodrigues – Luar Artgraf Ltda. – Leopoldina, MG – 2006)

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