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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Air France: Queda do Airbus

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Maio, 2009

Dentre os passageiros desaparecidos no acidente da noite de 31 de maio, do Avião da Air France, estava o jovem Dom Pedro Luiz de Orleans e Bragança, de 26 anos.

Nesta segunda crônica para o Blog de Maria Helena, falarei desse rapaz de linhagem ilustre, que conheci em 1997 quando de uma visita dele à minha cidade natal – Leopoldina, Minas.

Para os leitores que não sabem, Leopoldina é cidade de tamanho médio (uns 60 mil habitantes) situada na Zona da Mata de Minas. De carro, está a duas horas e meia do Rio de Janeiro e a quatro horas de Belo Horizonte. A vida leopoldinense sempre foi mais influenciada pelos hábitos do Rio. Fica mais perto e as estradas são boas.

A denominação do lugar foi homenagem à segunda filha do Imperador Pedro II, a Princesa Leopoldina, quando, a 27 de abril de 1854, o então “Arraial de São Sebastião do Feijão Cru” passou à categoria de Vila. A filhinha de Pedro II contava apenas sete anos.

Estava escrito que não apenas Noel Rosa nasceria num lugar “tendo nome de princesa”. Eu também nasci e, minha princesa, ninguém menos que a única irmã de Isabel, a referida pelo genial sambista. Melhor para mim, que escapei de nascer “feijãocruense” - com o perdão do mau gentílico.

Mas deixe estar que, em abril de 1997, o então prefeito da província (um urologista boa praça) viu, nos 143 anos que a cidade completava, uma conta redonda digna de comemoração. Na vida pública é tudo muito circunstancial.

Declarou que ia rolar a festa e dirigiu um convite especial a D. Antônio de Orleans e Bragança, herdeiro presuntivo do trono brasileiro.

Cumpria sublinhar o vínculo batismal do ex “Feijão Cru” com a realeza. Afinal, o próprio Dom Pedro II visitou a cidade no dia 30 de abril de 1881. Ficamos mal acostumados.
Parêntesis: A casa onde Pedro II almoçou é tombada pelo Patrimônio Municipal de Leopoldina e, sobre a Fazenda onde se hospedou, o próprio monarca anotou em seu diário: “Está-se tão bem aqui quanto em São Cristóvão”. Referência ao Palácio da Quinta da Boa Vista.

Transigente e amável, D. Antonio compareceu acompanhado do filho de 14 anos, Príncipe D. Pedro Luiz - o rapaz que agora desaparece aos 26.

Participaram com entusiasmo da efeméride municipal, do nosso 27 de abril, em atos públicos, livre caminhada pelo centro da cidade, visitas a colégios, hospitais, e, à noite, se despediram num elegante e comunicativo jantar.

Por singulares que pareçam, eventos assim sempre deixam dividendos culturais positivos numa cidade pequena. No mínimo estimulam professores e alunos a correr uma flanelinha na história local e do país. De lambuja, se não interferir na qualidade dos assuntos, certamente o fará na variedade deles.

Vamos explicar então que o rapaz vitimado no acidente, D. Pedro Luiz, é filho de D. Antonio e sua esposa, Princesa Cristhine de Ligne. Cursou Administração pelo IBMEC, no Rio, e pós-graduação em economia pela FGV. Dirigia-se a Luxemburgo, onde estagiava numa instituição financeira.

Vindo a ser confirmado seu falecimento, será conjeturalmente sucedido pelo irmão, D. Rafael. São eles descendentes em linha reta de Isabel, a Redentora, filha de Pedro II.

Conferindo a sucessão: Isabel casou-se com Gastão de Orleans, o Conde D’Eu, que era neto de Luiz Felipe, Rei de França (Leopoldina, casou-se com Luiz Augusto, o Conde de Saxe, irmão de Fernando I, Rei da Bulgária).

Na condição de filha mais velha, Isabel herdaria o trono brasileiro. Teve ela três filhos: Pedro de Alcântara Orleans e Bragança, que renunciou à coroa em 1908; Luiz de Orleans e Bragança, que se casou com Maria Pia de Bourbon Sicília; e Antonio, morto na 1ª Guerra Mundial.

D. Luiz de Orleans e Bragança assumiu, assim, a herança presuntiva do trono do Brasil. Também ele teve três filhos: Pedro Henrique, que se casou com a Princesa Maria Elizabeth Wittelsbach, da Baviera; Luiz e Maria Pia.

Com estes chegamos aos dias atuais. Pedro Henrique e Maria Elizabeth são os pais de Dom Antonio, hoje o herdeiro presuntivo da coroa do Brasil. Ele é casado com a Princesa Cristina de Ligne e são os pais de Pedro Luiz, desaparecido no vôo da Air France.

Ao simpático Dom Antonio, a quem os cidadãos leopoldinenses tiveram o privilégio de pessoalmente conhecer e admirar na oportunidade citada, uma palavra de conforto ante a tragédia que a todos nós brutalmente atingiu. Igual abraço extensivo a cada um dos familiares de desaparecidos no infausto vôo 447.
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(Publicada em 18.06.2009 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)

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