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Abril, 2013
Filho
de ruralistas, Magela esteve perto de realizar um sonho. Deixar a vida de
serventuário da justiça carioca, mudar-se para um sítio e cuidar da plantação
de bananas.
Necas
de levantar todas as manhãs, pegar ônibus, enfrentar engarrafamento e costurar processos.
Às favas com advogados reclamando andamento dos feitos, da lerdeza na expedição
de ofícios, delongas na conclusão dos autos ao juiz... Ora, ora – pensou – são mais de doze milhões
de habitantes, no Rio, ávidos de encontrar bananas, madurinhas, nas feiras e
nas mercearias. O negócio é plantar banana.
Um
sitiozinho na Serra do Mar, recentemente recebido por herança do sogro, vinha a
calhar. Magela havia lido e deglutido que bananeiras plantadas com técnica são
altamente rentáveis, já a partir do segundo ano. Aprendeu também que a Região
Serrana, onde entrou a ser feliz proprietário do “Sítio Madre Ceres”, possui
clima bastante apropriado ao cultivo da apreciada fruta.
Portanto,
adeus prateleiras empoeiradas, dossiês mal enjambrados, soltando as folhas e as
capas, adeus papelada, adeus carimbos, adeus tramitações melífluas! Vamos
nessa! Ar puro, paisagem, canto de pássaros, arrulho de cachoeira e trabalho compensador
nas atlânticas faldas serranas. Demitiu-se
na esteira do sonho.
Só
que a realidade escapou um pouco aos cálculos do Magela. Faltou, por exemplo, programar
a “colocação” do produto. Quando veio a
primeira safra de bananas nosso novel agricultor alugou caminhão, encheu-o até
onde pode e desceu a serra na direção do Rio de Janeiro. Parou no Mercado São
Sebastião onde pensava vender toda a carga de uma só vez... Deu zebra!
–
Não negociamos de improviso, amigo, temos nossos fornecedores – disseram-lhe.
–
Ih, por esta eu não esperava. Terei que vender estas bananas, direto, nos
supermercados – pensou o Magela.
Mas
o obstáculo continuou:
–
Impossível a negociação, meu senhor. As compras deste supermercado são
programadas pela sede, com antecipação e fornecedores tradicionais.
Putz!
– lamentou. Vender pequenas quantidades, em quitandas, não dá. Não vai
compensar o diesel do caminhão.
Já
sei – decidiu. Vou com esta carga para a Central do Brasil vender bananas a
granel para o público.
Em
frente ao Panteão Duque de Caxias subiu na carroceria e começou a apregoar
bananas “a preço de banana”. Juntou gente. Foi virando ôba-ôba! Em poucos minutos
encostou o primeiro veículo policial de pisca-alerta ligado... O segundo... O
terceiro já era um camburão...
–
Documentos da viatura e a “autorização” para venda de produtos alimentícios em
via pública.
–
Não tenho autorização alguma – confessou o transgressor.
–
Pois então puxe esse caminhão daqui senão o senhor será preso por comércio ambulante
ilegal – bradou a autoridade.
Enfezado,
o Magela se desesperou:
–
Não posso vender, mas posso dar as bananas! Alô minha gente – passou a berrar:
–
Bananas de graça! Bananas de graça! Bananas de graça!
E,
de cima do caminhão, atirava bananas às pencas na cabeça dos atarantados
populares da Central.
Encurtando
conversa. O Inquérito Policial por “perturbação da paz pública” deu uma dor de
cabeça danada ao agricultor/réu, mas veio a ser arquivado sem maiores
consequências. Talvez a Promotoria tenha se sensibilizado com o drama do ex-serventuário.
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