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Agosto, 2010
Na última segunda-feira, 9, o jornal Estado de Minas publicou matéria relevante, de autoria de Carlos Alberto Di Franco, sob o título “Drogas: o debate necessário”.
Bem a propósito, nesta fase de contendas na TV entre os postulantes à presidência da república, a questão das drogas merece repercutir porque é importante que tráfico e consumo de drogas no Brasil passe a integrar a agenda pública e a preocupação dos candidatos. Diria até que o combate ao tráfico e o socorro à juventude dependente é, hoje, tão importante para o país quanto saúde, educação e segurança – conceitos dos quais o tema “drogas” é, aliás, indissociável.
Drogas leves conduzem às drogas pesadas e o consumo de crack vem assumindo proporções de epidemia neste país, levando aos hospitais psiquiátricos, aos presídios e aos cemitérios muitos de nossos jovens. Crack é droga insidiosa altamente viciante, ou seja, começa a aprisionar o usuário já na primeira dose. Seus efeitos no organismo humano são devastadores.
O Brasil é campeão no consumo do crack. Somos nós, portanto, os responsáveis pela solução do problema. O governo não pode continuar em síndrome de avestruz – ou seja, escondendo a cabeça e deixando o bum-bum de fora – porque está em jogo a saúde e a vida da juventude brasileira. Principalmente, das crianças nos segmentos menos favorecidos da sociedade.
Pessoas envolvidas no problema já encontraram um bom caminho para a recuperação de dependentes. Comunidades terapêuticas que se adaptaram e se especializaram no tratamento especifico da doença, vêm obtendo bons resultados. São, de preferência, clínicas fechadas – o doente de crack às vezes precisa ser contido, porque a compulsão para o uso é muito forte – com assistência psiquiátrica e psicológica nas vinte e quatro horas do dia.
Essas clínicas vêm conseguindo romper o círculo vicioso da drogadicção com terapêutica médico-psiquiátrica individualizada, cuja proposta é resgatar ou infundir no adicto valores familiares e éticos, mudança de estilo de vida e adoção de hábitos saudáveis. O tempo médio do tratamento é de seis meses, variável conforme o caso.
É importante anotar que o velho discurso segundo o qual o dependente deve, por si mesmo, chegar ao “fundo do poço” e passar a desejar sair do vício, já não vale tanto. Funcionava com drogas menos pesadas. Os dependentes de crack que chegam ao “fundo do poço” e desejam ser tratados, são bem mais raros. Infelizmente, já a partir dos primeiros experimentos com essa droga a vítima entra em estágio de dependência tão exacerbado que anula, por completo, sua autocrítica impedindo-a de mentalizar outra coisa que não seja continuar no uso...
Por isto, em grande número de casos, o dependente terá que ser internado contra sua vontade, por iniciativa de terceiros. Esta “internação involuntária” é permitida e regulada pela Lei nº 10.216/01, porque as consequências da doença expõem o paciente, e mesmo terceiros, a riscos.
É claro que tal modalidade terapêutica, em caráter particular, tem um preço que nem todas as famílias podem pagar. Convém, então, que o Estado - ou seja, o SUS, o Ministério da Saúde - se adiante e coloque o tratamento à disposição de todas as famílias. Não é justo que o crime organizado - esse monstro que a segurança pública não tem competência nem meios para conter – se ocupe de simplesmente dizimar uma parte de nossa juventude. Sem dúvida que a perspectiva é de extermínio de jovens pela venda do crack.
Quando vemos pelas ruas, principalmente nas imediações de comunidades pobres, meninos e meninas excessivamente magros, abatidos, melancólicos, que não paire dúvida: é o crack realizando seus estragos.
O governo não tem que criar “grupos de estudo” nem “comissões” disto ou daquilo para dissecar e equacionar a questão. Esta etapa já foi cumprida por brasileiros solidários e responsáveis que se adiantaram, e se adiantam, na busca de tratamento para esses doentes. Cabe agora ao governo a iniciativa simples de tomar em suas mãos um trabalho que vem dando certo.
Se precisarem de exemplos concretos, entrem no Google e procurem por comunidades terapêuticas como a “Clínica Novos Rumos” da cidade mineira de Betim, como a “Comunidade Terapêutica Horto de Deus”, de Taquaritinga (SP), e por muitas outras que certamente existem, no mesmo grau de eficiência técnica e limpidez de propósitos.
O mal é terrível, mas ainda é possível investir na esperança. O que não se concebe é o assentimento oficial de que o tratamento da dependência química continue ao alcance apenas das pessoas que podem pagar por ele.
Drogadicção é doença, segundo a Organização Mundial de Saúde. Doença gravíssima! Nossas autoridades estão convidadas a exercício de compaixão que as leve a pôr em prática meios efetivos de franquear tratamento a todos os doentes das drogas. E não nos venham falar em CAPS – Centros de Atenção Psicossocial, do SUS, porque a coisa é bem mais complexa e séria.
É a juventude brasileira em grave situação de risco.
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(Publicada aos 12.08.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
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