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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Barrado no Baile

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Julho, 2007

Todo mundo gosta do Waldir Pires, político baiano simpático e honesto. O maior oponente, naquele estado, do pai de todos os santos, Antonio Carlos Magalhães, falecido nesta quinzena. Mas, realmente, nunca foi feliz na política. Waldir Pires renunciou ao mandato de governador da Bahia para ser candidato a vice na chapa de Ulisses Guimarães, cometendo um erro mortal de cálculo político. Eleição terrível para o PMDB, que acabou sendo polarizada entre Lula e Collor. É agora substituído por Nelson Jobim no Ministério da Defesa, de onde sai vítima da longa crise no setor aéreo que culmina com o maior desastre da história da aviação da brasileira, envolvendo o airbus da TAM. Pires sai do ministério como alguém que foi caçar onça com bodoque de bambu.
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Dando a dimensão do problema nos aeroportos, por pouco Jobim recusa a indicação. Sua mulher, Adriene, resistiu. Foi preciso um telefonema direto de Lula para ela, a fim de “negociar o passe” do marido.
É que, infelizmente, mesmo depois das “desortodoxias” protagonizadas por Jobim quando ministro do Supremo, ele ainda seria um nome maior que o nosso (atual) Ministério da Defesa.
Adriene é mulher inteligente e muito preparada.
Advogada, trabalhou com o ex-ministro Paulo Renato, na redação do programa de governo de Fernando Henrique Cardoso, quando candidato a presidente da República em 1994. Depois, quando Fernando Henrique criou o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, órgão do Ministério da Fazenda responsável pelo combate à lavagem de dinheiro, Adriene foi nomeada para comandá-lo. Em seguida, foi procuradora Geral do ministério.
Conheceu Jobim quando ele era Ministro da Justiça do governo FHC. Era divorciada. Jobim divorciou-se para casar com ela.
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Há quem veja Jobim como um possível candidato de Lula às sua sucessão. Mas há também quem veja problemas nesta ideia. Dilma Roussef parece destinada a encabeçar a chapa petista ou sair como vice. Dilma nasceu em Minas, mas é gaúcha para efeitos políticos. Ora, uma chapa governista com dois gaúchos complica.
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O Governo Lula tem contabilizado gafes. Teve aquela bobagem dita pela Marta Suplicy, com relação às filas nos aeroportos (“relaxa e goza”), a afirmação insensível do ministro Guido Mantega (“não há caos aéreo, há prosperidade no país”) e a vulgaridade (tof-tof) no gesto do Marco Aurélio Garcia. Logo o ministro Marco Aurélio, talvez o cérebro mais desenvolvido do governo Lula! Por cima ainda vem condecoração inoportuna, no dia seguinte ao desastre da TAM, exatamente no órgão – a ANAC - que pode ser responsável pela perda de 200 vidas!
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Aliás, a ANAC não regula coisa nenhuma. É uma cópia macaqueada do modelo americano, sem a força que as Agências de lá têm porquanto teúda e manteúda pelas próprias empresas reguladas e fiscalizadas, com suas diretorias comendo na mão de quem os indicou e os mantêm embarcados.
Confiram as "funções do órgão", segundo seus estatutos:
a) manter a continuidade na prestação de um serviço público de âmbito nacional;
b) preservar o equilíbrio econômico-financeiro dos agentes públicos e privados responsáveis pelos diversos segmentos do sistema de aviação civil;
c) zelar pelo interesse dos usuários e consumidores;
d) cumprir a legislação pertinente ao sistema por ela regulado, considerados, em especial, o Código Brasileiro de Aeronáutica, a Lei das Concessões, a Lei Geral das Agencias Reguladoras e a Lei de criação da ANAC."

Ou seja, nada concreto, positivo e factível. Tudo coisa abstrata, intangível.
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O presidente Lula, há dias, soltou uma frase afirmando ter dito coisas, quando sindicalista, que hoje, como presidente, não repetiria. Não me esqueço que, para dizer exatamente a mesma coisa (ou seja, da "responsabilidade com resultados", que todo governante assume) Fernando Henrique Cardoso programou uma concorrida palestra sorbonneza, se bem me lembro no início de seu segundo mandato, com direito a Antonio Carlos Magalhães e o falecido filho, então presidente da Câmara, sentados na primeira fila meneando positivamente as cabeças – uma erudita alocução à qual não faltaram aspas elegantes para sociólogos como Comte, Weber e Spencer.
Tudo para dizer: discurso de palanque é uma coisa, exercício de uma função executiva ou legislativa é outra.
No primeiro caso, esqueçam o que escrevi (dito por um homem que, no início dos anos 60, traduziu Montesquieu); no segundo, esqueçam o que sempre falei (de cima dos caixotes, claro).
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A surpresa do Lula com as vaias do Maracanã, deveu-se ao fato de que ele vive em Brasília, num ambiente de pensamento oficial. Brasília isola o governante do contato direto com a sociedade livre-pensante dos grandes centros. Submerso naquele mundo protocolar e estanque, de prosa e cochichos oficiais, fica compreensível o susto presidencial diante da chamada galera, em porre catártico de livre expressão. O Maracanã vaia até minuto de silêncio, dizia Nelson Rodrigues. Foi indelicado. O presidente se sentiu como um convidado barrado no baile...
O verso é do Eduardo Dusek numa canção muito engraçada:
-“Isto é que dá, cê querer freqüentar ...”
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(Publicado no LEOPOLDINENSE de julho de 2007)

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