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Julho, 2010
A intriga pela imprensa entre os candidatos à presidência produz na gente um desapontamento de selecionado brasileiro na África do Sul. Todo mundo comprando TV nova na esperança de festa, de ver o time jogar um bolão para, na hora agá, engolir o vexame.
Do mesmo modo, Serra e Dilma desapontam pela superficialidade dos temas que trazem ao debate. Um diz uma bobagem, o outro retruca com uma besteirinha... Fofoca pra lá, fofoquinha pra cá. Nada de substancioso que estimule disputa construtiva e alguma criatividade. Puro teatro besteirol para uma platéia de néscios.
E nem se diga que cometam abusos gratuitos com a inteligência do eleitorado. O que lemos nesta quarta-feira, no Blog do Noblat, sobre o censo do TSE, é de falar baixo pra vizinho não ouvir. Apenas 54% do eleitorado brasileiro completaram o primeiro grau. Ao curso superior, somente 6% dos brasileiros chegaram.
Convenhamos não ser fácil - e, certamente, muito pouco proveitoso - expor programas e temas da nacionalidade a um público com semelhante deficiência intelectiva. É quando, para serem entendidos, os candidatos recorrem ao mingau ralo das frivolidades.
Nada muito diferente do que se passa com a propaganda comercial e com a própria grade de programação das TVs. Submetido à pesquisa, o público informa seu grau de discernimento e, com isto, “pauta” os conteúdos que recebe. Estabelece-se um “ciclo caviloso”.
É complicado! Principalmente porque Serra e Dilma têm pouca munição para desconstruções recíprocas. PT e PSDB são partidos gemelares. Duas correntes gramscianas óbvias que lograram polarizar a disputa pelo poder, no Brasil, no âmbito doméstico da centro-esquerda.
O convite ao eleitorado é para pronunciar-se sobre qual dos dois grupos hegemônicos seguirá tocando projeto liberal de governo. Como Lula é um líder muito identificado com a maioria dos votantes - as pesquisas não deixam dúvida - a chance que tem de “emplacar” sua escolhida é considerável. Deve estar sempre dizendo a Dilma:
-Deixe comigo, diga por aí umas besteirinhas sem conseqüências só para participar.
Do lado Serra a estratégia não pode ser outra:
-Se eu complicar o discurso esse troço pode melar de vez. Melhor repousar a cinzenta, dizer umas abobrinhas aí pelas esquinas, se houver oportunidade arrisco até um sorriso, compro cigarro picado nos botecos e saio cuspindo de esguicho, até ver onde isto vai dar.
No que toca à coadjuvante, Marina Silva, seu discurso é de defesa das vítimas do avanço tecnológico. Embarca na dialética social da opção por um projeto alternativo, que concilie o progresso que seus antagônicos alardeiam - e ela não é doida de desmentir o Lula – com o apreço devido às vítimas futuras da degradação ecológica.
Soa meio utópico, mas é bonito. E lembra John Lennon: pode-se dizer que a candidata do PV é uma sonhadora. Mas ela não é a única.
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(Publicada aos 29.07.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena)
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
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