Agosto, 2010
Neste país, alguém já disse ou, se não disse deveria ter dito, todos
nós estamos metidos numa pilantragem ou noutra. É triste, mas temos que
admitir. Embora pessoas mentalmente saudáveis não escapem da “baita reiva” que
isto provoca, no dizer antológico do falecido João Rubinato, também
conhecido como “Adoniran Barbosa”, o grande sambista nascido em Valinhos, SP,
cujo centenário será comemorado amanhã, 6 de agosto. Ele que é o glorioso pai da
nossa amiga, Maria Helena Rubinato Rodrigues de Souza, blogueira e articulista
do globo.com/noblat e nossa editora, aqui neste espaço.
Pilantragem nos negócios, pilantragem na política, pilantragens sociais
e até familiares. Eu disse negócios?
O infeliz que se abalançou a montar uma empresa no Brasil é
quase certo ter subornado alguém para constituí-la e vir sonegando muito para mantê-la.
Quem não fez, e não faz isto, já desistiu do negócio. As exigências legais são
impraticáveis, os impostos absolutamente insuportáveis e a fiscalização
corrupta. O instinto de sobrevivência se encarrega de providenciar os desvios. Assim
la barca va.
Já o político que ostenta um mandato eleitoral agiu,
necessariamente, de forma ilegal para chegar a ele e sacrifica sua ética (na
maioria dos casos bastante complacente) para nele manter-se. Uma legislação
anacrônica inviabiliza a boa-fé eleitoral e hábitos arraigados fazem do político
ético um corpo estranho entre seus pares. O sistema o convida a adaptar-se e
ele se curva – nem sempre a contragosto.
O país é dominado por não mais que dois segmentos de poder em
torno dos quais gravitam os formadores de opinião, sob a égide recôndita (mas
não muito) de interesses corporativos. É escolher o lado.
Também no âmbito das relações pessoais, há sapos a engolir. Querem
ver?
Tonico Majestade, tinha mania de filar. Filava de tudo. Cigarro,
jornal, goma de mascar, carona, comprimidinho sublingual, fósforo, literatura
de cordel, canetas... Se bobear, até fio dental. Gabava-se da própria intransigência
ao exigir troco nas compra de 1,99.
Pedinchão nato, foi perdendo a noção do ridículo até parar de
ser exatamente uma pessoa. Virou uma topada.
Certo dia, num bar, como pretexto para encerrar o papo, pedi
café para dois.
Ele adoçou com açúcar, eu arrisquei ciclamato.
A bisnaga ainda em minha mão, ele – escravo da filância
inveterada – reclamou duas gotinhas “pra reforçar o açúcar”...
Esguichei meio tubo.
– É beber ou jogar fora, Magestade! Tchau.
Dá uma “reiva”!
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(Publicada aos 05.08.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
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