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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Baita duma Reiva

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Agosto, 2010


Neste país, alguém já disse ou, se não disse deveria ter dito, todos nós estamos metidos numa pilantragem ou noutra. É triste, mas temos que admitir. Embora pessoas mentalmente saudáveis não escapem da “baita reiva” que isto provoca, no dizer antológico do falecido João Rubinato, também conhecido como “Adoniran Barbosa”, o grande sambista nascido em Valinhos, SP, cujo centenário será comemorado amanhã, 6 de agosto. Ele que é o glorioso pai da nossa amiga, Maria Helena Rubinato Rodrigues de Souza, blogueira e articulista do globo.com/noblat e nossa editora, aqui neste espaço.

Pilantragem nos negócios, pilantragem na política, pilantragens sociais e até familiares. Eu disse negócios?

O infeliz que se abalançou a montar uma empresa no Brasil é quase certo ter subornado alguém para constituí-la e vir sonegando muito para mantê-la. Quem não fez, e não faz isto, já desistiu do negócio. As exigências legais são impraticáveis, os impostos absolutamente insuportáveis e a fiscalização corrupta. O instinto de sobrevivência se encarrega de providenciar os desvios. Assim la barca va.

Já o político que ostenta um mandato eleitoral agiu, necessariamente, de forma ilegal para chegar a ele e sacrifica sua ética (na maioria dos casos bastante complacente) para nele manter-se. Uma legislação anacrônica inviabiliza a boa-fé eleitoral e hábitos arraigados fazem do político ético um corpo estranho entre seus pares. O sistema o convida a adaptar-se e ele se curva – nem sempre a contragosto.

O país é dominado por não mais que dois segmentos de poder em torno dos quais gravitam os formadores de opinião, sob a égide recôndita (mas não muito) de interesses corporativos. É escolher o lado.  

Também no âmbito das relações pessoais, há sapos a engolir. Querem ver?

Tonico Majestade, tinha mania de filar. Filava de tudo. Cigarro, jornal, goma de mascar, carona, comprimidinho sublingual, fósforo, literatura de cordel, canetas... Se bobear, até fio dental. Gabava-se da própria intransigência ao exigir troco nas compra de 1,99.

Pedinchão nato, foi perdendo a noção do ridículo até parar de ser exatamente uma pessoa. Virou uma topada.

Certo dia, num bar, como pretexto para encerrar o papo, pedi café para dois.
Ele adoçou com açúcar, eu arrisquei ciclamato.
A bisnaga ainda em minha mão, ele – escravo da filância inveterada – reclamou duas gotinhas “pra reforçar o açúcar”...
Esguichei meio tubo.

– É beber ou jogar fora, Magestade! Tchau.
Dá uma “reiva”!


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(Publicada aos 05.08.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)

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