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Abril, 2006
Leopoldina comemora neste 27 de abril de 2006 seus 152 anos!
No 152º natalício da cidade, ocorre-nos relembrar a história - já algumas vezes contada - desta terrinha querida, nascida São Sebastião do Feijão Cru, arraial fundado à beira de um caminho quando Minas procurava o mar.
Tudo começou no mato bravo, na saga heróica dos primeiros desbravadores destes “Sertões do Leste”, nas trilhas pisadas que o homem livre abriu nas serras, nos rastros que imprimiu nos charcos, no sangue que deixou na terra, na esperança que hauriu no vento, elos despegados que se vão juntando na procura obstinada de pesquisadores do porte de, Nilza Cantoni (Documentos e arquivos virtuais), Oíliam José (Marliére o Civilizador, Visconde do Rio Branco, Notas para sua História, Historiografia Mineira, A Abolição em Minas, Indígenas de Minas Gerais, Tiradentes e inúmeros outros trabalhos), Barroso Júnior (História de Leopoldina), Mauro de Almeida Pereira (Os Almeidas, os Britos e os Netos de Leopoldina), Francisco de Paula Ferreira de Rezende (Minhas Recordações), Frederico de Barros Brotero (Família Monteiro de Barros), José Luiz M. Rodrigues (Machado Rodrigues - Fazenda Puris, Leopoldina), e tantos outros.
A presença de homens livres nos sertões da zona proibida (Zona da Mata Mineira), tem início oficial em 14/01/1784, quando o Comandante do 1º Regimento do Rio das Mortes, Cel. Manoel Rodrigues da Costa, escreve ao Governador da Província, Cunha Meneses, sugerindo diligências para explorar os “Sertões do Leste”. Autorização dada, Manoel Rodrigues da Costa volta a escrever a Cunha Meneses comunicando ter incorporado à tropa o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o “Tiradentes”, no dia 21 de abril (!!!) daquele ano. Um mês depois, o comandante da expedição, Sargento Mor, Pedro Afonso Galvão de São Martinho, informa já ter alcançado o Pomba. Só a 5/6/1784, Galvão chega ao Porto do Cunha, confluência do Riacho Aventureiro com o Rio Paraíba.
A “Mata” desvirginada, avançam sobre ela posseiros e sesmeiros (ganhadores de Sesmarias), obrigando, impiedosamente, nossos “primeiros habitantes”, os índios Coroados, Coropós e Puris, a ceder-lhes espaço.
Em 1791, quando a Freguesia de N. Srª. da Borda do Campo é guindada a Vila com denominação de Barbacena, a região selvática do atual município de Leopoldina estava incluída naquele Termo. Depois, “em data não comprovada”, como atesta Nilza Cantoni, o povoado do Feijão Cru, passou à circunscrição da Vila de São Manoel do Pomba, hoje Rio Pomba (Seguramente, após 13/10/1831 data do Decreto Regencial que elevou o Pomba à categoria de Vila). No dia 10/9/1851, quando a Lei Provincial nº514 promoveu o Arraial do Cágado a Vila de Mar de Espanha, incluiu nela o nosso Distrito.
Unidos a Mar de Espanha ficaríamos menos de três anos, exatamente porque, a 27 de abril de 1854, pela Lei Provincial nº666, fomos nós, São Sebastião do Feijão Cru, que nos tornamos Vila, com denominação de Leopoldina, passando a Cidade, sete anos depois (16/10/1861), na Lei Provincial nº1116.
O povoamento do lugar onde se desenvolveu a urbs leopoldinense começa, por volta de 1828, quando já estariam estabelecidos na região do Feijão Cru, da Serra dos Puris ou dos Monos, os irmãos, posseiros ou sesmeiros (titular de Sesmaria), Manoel José da Fonseca e Bernardo José da Fonseca. No local hoje conhecido como São Lourenço, Manoel teria fundado sua Fazenda das Moças. Bernardo José, fixou seus domínios em sede “aos pés da majestosa muralha granítica, contraforte ciclópico da Serra dos Puris”, i.é., sob a pedra do Cruzeiro, dando-lhe o nome de Fazenda da Grama, porque a várzea fronteiriça, cortada pelo riacho Feijão Cru, era gramada.
Mas outros pioneiros estavam a caminho. Francisco de Paula Ferreira Resende, registra que as primeiras famílias de Leopoldina, os Almeidas, os Britos e os Netos, aqui chegaram no dia 30/9/1829, vindos de Sta. Rita do Ibitipoca, Conceição e Bom Jardim, numa viagem (certamente por trilhas) que durou 30 dias, em comitiva chefiada pelo Comendador Manoel Antonio de Almeida, que adquiriu de um posseiro chamado Felipe, as terras do “Feijão Cru Pequeno”, que se estendiam do, hoje, Distrito de Tebas ao vertedouro do riacho, nas proximidades de Cataguases. O Comendador trouxe consigo muitos amigos, escravos e alguns parentes, dentre os quais o Tenente Joaquim Ferreira Brito. Consta que aos escravos deu alforria plena - 17 anos antes da “abolição” - doando, a onze deles, 25 alqueires das terras que possuía.
Ainda a genealogista e historiadora, Nilza Cantoni, nossa fonte mais recorrida neste trabalho, ressalva que as datas de chegada desses fundadores nem sempre são exatas, pela precariedade dos registros. No caso acima, por exemplo, Nilza tem evidências de que Manoel Antonio de Almeida, nascido aos 19/8/1782 em Sta. Rita do Ibitipoca, patriarca dos Almeidas de Leopoldina, por aqui já andara no ano de 1825.
Em 1831, a construção de uma Capela daria fôlego ao povoado que se insinuava às margens do Riacho Feijão Cru, pelas bandas do Rosário.
Joaquim Ferreira Brito, senhor da Fazenda Cachoeira, localizada “na saída para a Meia Pataca”, vindo de Sta. Rita do Ibitipoca na comitiva do Comendador Almeida, como dito acima, decidiu erguer, naquele ano, uma igrejinha sobre o morro, depois chamado “da Matriz”. O terreno, contido na Fazenda Desengano, foi doado, em 30/1/1831, por seu genro, Francisco Pinheiro Corrêa de Lacerda, entusiasta do projeto. Construção rústica, com paredes de pau-a-pique e bicas de hastes de palmito no telhado, foi edificada pelo carapina, Benedito, “crioulo do Turvo” – como consta, profissional habilidoso, que já havia construído para Bernardo, na Fazenda da Grama, um moinho movido a água, represada do Feijão Cru.
Francisco pensou dedicar a Capela ao culto de Santa Rita, padroeira de Ibitipoca, mas prevaleceu sugestão de Bernardo José da Fonseca em favor de São Sebastião, protetor contra a peste, porque o cólera já havia matado um escravo de Antonio Gomes Rodrigues, da Fazenda Córrego do Bagre, e uns índios Puris, para o lado da Meia Pataca.
A Capela demandou padre e, curiosamente, o primeiro sacerdote a chegar por aqui, Manoel Antonio Brandão, também influiu no nascimento do vilarejo. Natural do Sumidouro de Mariana, Padre Manoel, para cá se deslocou por interferência do Dr. Antonio José Monteiro de Barros e de sua mulher, Da. Ana Helena, donos da Fazenda Paraíso..
Numa visita à Fª Cachoeira, Pe. Manoel convenceu o abastado sesmeiro, Joaquim Ferreira Brito, a doar ao Padroeiro, para as primeiras casas do lugarejo (Largo do Rosário), “todo o vale ao pé da Capela de São Sebastião”. Joaquim, que já fizera uma primeira doação em 1/6/1831, atendeu ao pedido do simpático e persuasivo religioso com nova doação aos 30/11/1831, cedendo ainda um “trato de terra” para o cura edificar sua própria casa. O “Escrivão” que lavrou o ato foi o mesmo Antonio Gomes Rodrigues, acima referido.
Ao construir a “Matriz” de São Sebastião, pode-se dizer que Joaquim Ferreira Brito tornou-se o FUNDADOR de Leopoldina. Também, a partir das doações de terras por ele feitas, no Rosário, pôde a Vila florescer num “aglomerado irregular de edificações rústicas, quando a Província de Minas Gerais era presidida por Manoel Inácio de Melo Souza, o Barão do Pontal” – segundo anotações de Barroso Júnior.
Depois dos pioneiros ilustres, viriam pessoas ilustres. Antonio José Monteiro de Barros, proprietário da Fazenda Paraíso, oriundo de Congonhas do Campo, descendente do Barão de Paraopeba, aristocrata de colenda estirpe, sobrinho de um Senador do Império, advogado que em 1832 já fora Ouvidor Geral de Ouro Preto, trabalhou muito pela edição da Lei Provincial nº666, de 27 de abril de 1854, que elevou-nos a Freguesia e, ao mesmo tempo, a Vila. Teria sido ele nosso primeiríssimo VEREADOR, representando o então Distrito na Câmara da Vila de São Manoel do Pomba. (Nilza Cantoni, parece, ainda não encontrou tais registros, no Pomba) Elegeu-se, depois, por várias legislaturas, deputado à Assembléia de Minas.
Aliás, quando pela primeira vez Antonio José se elegeu Deputado, seu Suplente na Câmara Municipal quase leva o Arraial do Feijão Cru à guerra civil.
Conta-nos Barroso Júnior que, em 1842, o capitão João Gualberto Ferreira Brito (o Suplente), filho destemido do nosso fundador Joaquim Ferreira Brito, liderava os Conservadores locais. Eclodida a Revolução Liberal entrou ele a aliciar voluntários para combater os Liberais, acantonados em São João del Rei. Fardou filhos, genros, agregados e, “à frente de 600 homens concentrados e instruídos na sua Fazenda Fortaleza”, marchou para o Paraibuna à cata dos insurretos entrincheirados em Sta. Luzia, sob comando do Barão de Cocais. Por sorte, não houve luta. Ainda sobre a ponte do Paraibuna veio notícia da rendição do inimigo ao Barão de Caxias.
É um episódio curioso da nossa história, mas Barroso Júnior pode ter-se equivocado nos números. Nilza Cantoni, com um velho “Mapa de Habitantes” à mão, demonstra que seria aritmeticamente impossível recrutar 600 homens, em idade de combate, naquele São Sebastião do Feijão Cru do ano de 1842. Talvez fossem 60 ... Aliás, quem quiser saber tudo (ou quase tudo) sobre a história de Leopoldina não deve deixar de ler os livros acima indicados, do Prof. Oíliam José, fazendo também uma visita obrigatória ao site da historiadora Nilza Cantoni, nossa principal referência, a quem agradecemos pela maior parte das informações históricas contidas neste texto.
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(Publicado no jornal LEOPOLDINENSE de Abril de 2006)
Nota: Esta crônica aproveita, em sua quase totalidade, texto de “Quando Nasceu Leopoldina”, de abril de 2002, obviamente também escrito, sobretudo, com apoio nos estudos de Nilza Cantoni.
sábado, 14 de agosto de 2010
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