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Maio, 97
Num modesto jornalzinho de interior, conhecido empresário mineiro deitou cátedra, recentemente, em defesa das privatizações. Para ele, que há cerca de setenta anos de outra coisa não cuida que seus próprios e exclusivíssimos interesses, o grande impasse brasileiro se resume, a priori, no controle da Vale (que deve ser alienado imediatamente, a qualquer preço) e na existência de aposentadorias onerosas ao erário. Chega a ser bonito uma pessoa com cérebro tão simples.
Imagina-se sábio, mas não passa de um inocente inútil embolado na teia do discurso neoliberal, que embota consciências e embriaga os incautos. Na realidade o Estado continuará organizando a sociedade para evitar que as regras hegemônicas do mercado e dos interesses privados escusos instalem o caos social.
É o que, de fato, está ocorrendo no primeiro mundo em que pese a abordagem sempre tendenciosa e superficial da grande imprensa. A revista Momento, num de seus últimos números, lembra os consórcios europeus, norte-americanos e asiáticos, envolvendo a cooperação de governos e empresas privadas, para endossar o jornalista econômico Rolf Kuntz, do O Estado de São Paulo, para quem “tudo o que conhecemos hoje é produto de um sistema político no qual o Estado exerce papel indispensável”.
A fixação neoliberal contra quaisquer intervenções do estado no mercado encontra eco exatamente naqueles que detêm o monopólio da opinião, nos beneficiários do aumento do lucro das empresas via arrocho salarial e enxugamento de mão de obra, do controle sobre salários e dos movimentos sindicais. Temos, hoje, neste Brasil das desigualdades sociais agravadas pelo projeto neoliberal, um sindicalismo sem bandeira, imobilizado e impotente diante da globalização desempregadora e das ameaças às conquistas e aos direitos dos trabalhadores.
Nesse caldo de cultura o empresariado pátrio, que jamais evolui de sua eterna “fase oral” (chupões das tetas públicas), vive um instante mágico: parece que no leilão da Vale “vai ter pra todo mundo”.
-Somos liberais desde criancinhas!
Aliás, depois que a experiência fez água na Argentina (Meu reino por um Cavalo!) e no México (Viva Zapata!), o melhor exemplo que sobrou aos neoliberais ficou sendo o Chile. Mas o Chile, em expressão econômica, não é páreo muito duro nem para o nosso ditoso município de São Bernardo do Campo. E eu pergunto: alguém aí sabe o nome do prefeito de São Bernardo?... Eu também, não. Então, que seja encaminhada ao cultivo das favas essa ridícula tietagem ao Pinochet?
Deixa pra lá. Que Deus ilumine FHC, reconduzindo-o a seus próprios escritos - descobri (eu não sabia), num sebo da Rua Assembléia, que nosso Presidente, em 1962, traduziu “Do Espírito das Leis”, de Montesquieu - e que, iluminando-o, não o deixe perder os trilhos da reeleição com essa venda da Vale.
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(Publicado na Gazeta de Leopoldina de maio de 1997)
Maio, 97
Num modesto jornalzinho de interior, conhecido empresário mineiro deitou cátedra, recentemente, em defesa das privatizações. Para ele, que há cerca de setenta anos de outra coisa não cuida que seus próprios e exclusivíssimos interesses, o grande impasse brasileiro se resume, a priori, no controle da Vale (que deve ser alienado imediatamente, a qualquer preço) e na existência de aposentadorias onerosas ao erário. Chega a ser bonito uma pessoa com cérebro tão simples.
Imagina-se sábio, mas não passa de um inocente inútil embolado na teia do discurso neoliberal, que embota consciências e embriaga os incautos. Na realidade o Estado continuará organizando a sociedade para evitar que as regras hegemônicas do mercado e dos interesses privados escusos instalem o caos social.
É o que, de fato, está ocorrendo no primeiro mundo em que pese a abordagem sempre tendenciosa e superficial da grande imprensa. A revista Momento, num de seus últimos números, lembra os consórcios europeus, norte-americanos e asiáticos, envolvendo a cooperação de governos e empresas privadas, para endossar o jornalista econômico Rolf Kuntz, do O Estado de São Paulo, para quem “tudo o que conhecemos hoje é produto de um sistema político no qual o Estado exerce papel indispensável”.
A fixação neoliberal contra quaisquer intervenções do estado no mercado encontra eco exatamente naqueles que detêm o monopólio da opinião, nos beneficiários do aumento do lucro das empresas via arrocho salarial e enxugamento de mão de obra, do controle sobre salários e dos movimentos sindicais. Temos, hoje, neste Brasil das desigualdades sociais agravadas pelo projeto neoliberal, um sindicalismo sem bandeira, imobilizado e impotente diante da globalização desempregadora e das ameaças às conquistas e aos direitos dos trabalhadores.
Nesse caldo de cultura o empresariado pátrio, que jamais evolui de sua eterna “fase oral” (chupões das tetas públicas), vive um instante mágico: parece que no leilão da Vale “vai ter pra todo mundo”.
-Somos liberais desde criancinhas!
Aliás, depois que a experiência fez água na Argentina (Meu reino por um Cavalo!) e no México (Viva Zapata!), o melhor exemplo que sobrou aos neoliberais ficou sendo o Chile. Mas o Chile, em expressão econômica, não é páreo muito duro nem para o nosso ditoso município de São Bernardo do Campo. E eu pergunto: alguém aí sabe o nome do prefeito de São Bernardo?... Eu também, não. Então, que seja encaminhada ao cultivo das favas essa ridícula tietagem ao Pinochet?
Deixa pra lá. Que Deus ilumine FHC, reconduzindo-o a seus próprios escritos - descobri (eu não sabia), num sebo da Rua Assembléia, que nosso Presidente, em 1962, traduziu “Do Espírito das Leis”, de Montesquieu - e que, iluminando-o, não o deixe perder os trilhos da reeleição com essa venda da Vale.
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(Publicado na Gazeta de Leopoldina de maio de 1997)
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