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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Leopoldina e Augusto dos Anjos


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Outubro, 2009

Está em fase de julgamento, na Academia Leopoldinense de Letras, o 18º Concurso Nacional de Poesia Augusto dos Anjos, que a Secretaria Municipal de Cultura de Leopoldina, vem de promover. Participaram mais de trezentos concorrentes, do Brasil inteiro.

Vê-se, por aí, o quão ampla foi a repercussão da iniciativa. Todo o país tomou conhecimento do evento realizado em Leopoldina, neste fim de ano. Todos os Estados estão representados no concurso.

É assim que a cidade ganha importância, ganha projeção, ganha razão para ser conhecida e visitada. E se torna mais clara a importância de preservarmos a memória dos poetas, artistas plásticos e autores, de nossa terra.

O que vale para Augusto dos Anjos, vale também para Miguel Torga, vale para Funchal Garcia, para Luiz Rafael, para Déa Junqueira, para Márcia Monteiro. A cidade só tem a ganhar quando promove o resgate de sua história, apoia e procura desenvolver o culto das letras, das artes e do intelecto, valoriza escritores e artistas locais.

Cada coisa por sua vez. Dentro de poucos dias conheceremos o vencedor do 18º Concurso de Poesias. Estamos imersos na temática augustiana. Ela está por todo lado. Até onde, de fato, nunca esteve. Impossível, por exemplo, lembrarmos O Corvo de Alan Poe - “Com que intenções, horrendo, torvo, esse ominioso e antigo corvo, grasnava sempre: “Nunca mais!” - sem que nos acudam os versos de Budismo Moderno de Augusto dos Anjos: “Ah, um urubu pousou em minha sorte.”

E se lembramos da “última flor do Lácio, inculta e bela... que és ao um tempo esplendor e sepultura”, nas queixas de Bilac? Mais uma vez somos vertidos a Augusto dos Anjos, quando ele indaga de onde vem A Idéia: “De onde ela vem?! De que matéria bruta / Vem essa luz que sobre as nebulosas / Cai de incógnitas criptas misteriosas / Como as estalactites duma gruta?! (......) Vem do encéfalo absconso que a constringe, / Chega em seguida às cordas do laringe, / Tísica, tênue, mínima, raquítica .../ Quebra a força centrípeta que a amarra, / Mas, de repente, e quase morta, esbarra / No molambo da língua paralítica.”

Neste clima de envolvimento concluímos que Augusto dos Anjos não foi, assim, poeta tão insular como alguns o têm. Ferreira Gullar, e outros, o consideram um pré-modernista. Muito provavelmente Augusto terá decidido instrumentalizar sua poesia com a linguagem de seu tempo. Do mesmo modo como os modernistas se abraçaram à linguagem do jornalismo e os concretistas lançaram mão da técnica da escrita publicitária, o século XX foi o século da ciência. Augusto com a sensibilidade que só os poetas possuem, percebeu que aquele seria o melhor caminho que a linguagem de sua poesia poderia tomar. O resultado singular se traduz naquilo que conhecemos hoje como poesia de Augusto dos Anjos.
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(Publicado na Revista HORA H de outubro de 2009)

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