Junho, 1997
Publicado na Gazeta de Leopoldina –
Faltando ano e meio para Fernando Henrique Cardoso
terminar seu primeiro mandato)
O chanceler alemão, Otto von Bismarck, afirmava que política não é uma ciência exata, é uma arte. Não convém discordar das conclusões politico-filosóficas do grande estadista, um primeiro ministro que foi aclamado príncipe. Diríamos, no entanto, que os fatos políticos nem por isso deixam de merecer análise, para boa nota de suas advertências implícitas.
Vejam que proveitosas lições nos chegam da civilizada Europa. Os britânicos, há pouco mais de um mês, deram aos trabalhistas uma vitória espetacular sobre os conservadores e o primeiro-ministro eleito, Tony Blair, já se apressa em afirmar, urbi et orbi, que prefere “a razão à doutrina”. Falando a Bill Clinton de seus valores e aspirações comuns, enfatiza ser esta uma geração forte em ideais, indiferente a ideologias, cujo instinto é julgar os governos não por projetos grandiosos, mas por resultados práticos.
Na França, Lionel Jospin, do Partido Socialista, é o primeiro-ministro eleito desde o último domingo, primeiro de junho. Disse ele: “Respeitaremos até o fim o voto dos franceses, e isto significa que cumpriremos todas as nossas promessas, ao contrário do que a direita fez com seu programa de 1995”.
Palavras como estas invocam um déjà vu na memória recente deste país. Nós elegemos um governo da centro-esquerda intelectual e, agora, não é exagero dizer que somos conduzidos pela inspiração conservadora e fisiológica de velhas lideranças encasteladas, abstêmias de qualquer sintonia popular.
Sem embargo, vejam o que Jospin prioriza como alvo das iniciativas imediatas em seu governo: criação de 350 mil empregos municipais para jovens (vigilância, reabilitação urbana, serviços para incapacitados, etc.), convertendo em salários uma parte do dinheiro atualmente destinado a subsídios.
Por aqui, emprego parece ser secundário. Nossos conservadores - a maioria nordestinos de bigodinho – apostam em privatizações suspeitosas, como a da Vale, na redução baratinada do estado, na rarefação gradual das oportunidades para os jovens... Donde, sempre que possível, um brado retumbante pelo enxugamento das folhas municipais, o que equivale ao “fomento” do desemprego também na província.
O argumento de que o poder de compra dos salários deva ser mantido a qualquer custo, convence apenas os que ainda não perderam o emprego. A questão crucial, entretanto, é que os desempregados e os ameaçados pelo desemprego também votam. E, sendo assim, duas perguntinhas são pertinentes e não ofendem.
-Será que o Brasil também caminha na direção do seu Lionel Jospin?
Quem viver verá.
(04.06.1997)
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sexta-feira, 16 de outubro de 2009
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