Abril, 2011
Muito do que poderia ser dito
sobre a tragédia do Realengo já o foi. Como seria natural, não resultaram
poucas propostas emocionadas de medidas para que a situação não se repita.
Compreende-se. O episódio deixou o país em estado de choque.
Ocorrem, entretanto, a todo
momento, outros tipos de chacinas igualmente covardes contra crianças, no Rio,
em São Paulo, em Belo Horizonte, em cada grande cidade e até nos pequenos
arraiais deste imenso Brasil. São as chacinas perpetradas por traficantes, com
a venda do crack a menores. Eles
estão matando meninos e meninas da mesma idade das que morreram pelos dois
revólveres do louco de Realengo. A diferença é que as mortes pelo crack, embora em maior número, são
lentas e dispersas no espaço geográfico do país, não produzindo impacto
emocional.
Nosso bom Ministro da Justiça
pensa numa campanha pelo desarmamento para tirar armas de fogo das mãos dos
perturbados. Tenho dúvida. Nos Estados Unidos, onde esse tipo de crime é mais
comum, ainda não tocaram na tal Emenda nº2 da Constituição deles, que permite a
todo cidadão possuir arma de fogo.
Além do que é muito duvidoso que
um doido, capaz de premeditar seu crime com a minuciosa antecedência que o
ex-aluno Wellington, da Escola Municipal Tasso da Silveira, premeditou, vá abortar
o desatino por falta de arma. Com ou sem proibição ele conseguirá a arma. Não
há como obstar, em medidas prévias, a ação de um louco imanifesto.
A brutalidade do crime do
Realengo nos atordoa e até nos diminui como seres humanos. Não podemos, todavia,
deixar de considerar que todos os dias, a cada instante do dia e da noite,
aquele outro tipo de aniquilação física e morte é imposto às nossas crianças,
nas imediações dos colégios, nas conduções, nas esquinas, e até nos passeios
organizados pelos Colégios.
Um rapaz de 30 anos, do Rio de
Janeiro, revelou-me que sua primeira experiência com droga, aos 15 anos, foi
numa excursão a São Paulo, quando o time de vôlei do colégio dele, foi jogar
contra colégio de lá. Rolou droga, à noite, no alojamento dos visitantes.
Penso como o Governador do Rio
quando considera o Sargento Márcio Alves, autor do disparo que atingiu
Wellington, um herói. Principalmente porque, no momento crítico, ele escolheu
atirar nas pernas do assassino, não atirando para matar. Agiu assim no estrito limite
de seu dever legal, com absoluta eficiência, inteligência e equilíbrio.
Só lamento que nossas leis não
estimulem a ação de outros heróis, do porte de um Sargento Márcio, atuar com
igual empenho e desenvoltura nas bocas-de-fumo assassinas, espalhadas por todos
os recantos deste país. Nelas são todos assassinos cruéis, com nomes conhecidos,
endereços, “locais de trabalho” fixos e bem divulgados – pois se assim não
fosse os viciados não teriam como chegar ao “bagulho”.
Arrisco até um conselho ao
respeitável Sr. Ministro da Justiça – imaginem a insolência! Não alcanço os calcanhares
do Dr. José Eduardo Cardozo, homem de notável experiência e preparo.
Nós precisamos arrancar do
Legislativo uma lei séria, exemplar, incisiva, que faça do tráfico de drogas um
“péssimo negócio”. Sim, porque enquanto for “bom negócio” não vai acabar. Tenho
convicção de que uma boa lei possa tornar esse crime não compensador.
Com todo respeito às famílias das
vítimas recentes, descreio de remédios legislativos para dissuadir doentes
mentais. Já com os negociantes de drogas é diferente. São “negociantes” que
investem numa atividade ilícita e terrivelmente danosa. Contarão até dez quando
já não tiverem impunidade assegurada.
O país compreenderá a oportunidade
e a pertinência de uma lei severa em tal sentido. Enquanto a lei não vem,
busquemos junto ao SUS tratamento específico para dependentes químicos,
proporcionando-lhes internações, inclusive de caráter involuntário, de sorte a
que famílias pobres tenham como evitar a morte de seus jovens adoecidos. Sem
internação involuntária (Instituição fechada) e tratamento especializado, é
impossível salvar viciados em crack.
Isto é muito sério e urgente!
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicada em 14.04.2011 no Globo Online, Blog do Noblat/Maria Helena/)
(Publicada em 14.04.2011 no Globo Online, Blog do Noblat/Maria Helena/)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.