*** Março, 2011
Sob pena disto aqui nada ter a ver com Conversa Mineira, convém falar da morte do mineiro José Alencar Gomes da Silva. Claro que, tendo desconfiômetro, devo falar pouca coisa, pois o homem foi vice-presidente da República por dois mandatos consecutivos e tudo que pudesse ser dito sobre ele a grande imprensa do país já registrou.
Falo então da minha admiração pessoal pelo homem de negócios e depois político, José Alencar, nascido pertinho da minha Leopoldina, MG, num pequenino arraial denominado Itamuri, pertencente ao município de Muriaé, Zona da Mata Mineira. Um cidadão simples de uma singela localidade interiorana que acaba de dar aos brasileiros um verdadeiro curso intensivo de como morrer com dignidade, sem medo e quase com alegria.
Alencar começou a trabalhar aos sete anos de idade, na loja do pai. Logo depois foi ser balconista, como empregado em casa comercial de Muriaé e, aos dezoito anos, já abria seu primeiro negócio em Caratinga, cidade 170 km acima de Muriaé, com promissoras condições de desenvolvimento na época. Sua primeira loja em Caratinga se denominou “A Queimadeira”.
Alguns homens desde cedo revelam faro para os espaços onde o dinheiro corre ou passará a correr. Por aqueles tempos a região de Caratinga ostentava um comércio em ascensão, sobretudo na produção de feijão e milho, passando ainda por um importante ciclo do café. O moço do comércio, José Alencar, deve ter visto que o lugar de ganhar dinheiro seria aquele.
Mas eis que, no fim dos anos 50, com o falecimento de um irmão, as melhores oportunidades já estariam em Ubá, MG, para onde se mudou e assumiu a direção da “União dos Cometas”, empresa atacadista de tecidos. Criou a marca de camisas, Wimbledon, com a qual pretendeu homenagear a tenista, Maria Ester Bueno. Todavia, depois de assistir à Copa do Mundo da Inglaterra, optou pela denominação do portentoso Estádio de Wembley – conforme explica seu sócio ubaense, Antonio Luciano da Costa. Ficariam famosas no país as camisas da marca Wembley.
José de Alencar tornou-se, definitivamente, um vencedor no campo dos negócios em Minas, construindo um verdadeiro império no ramo têxtil, liderado pela gigante Coteminas, em Montes Claros, município incluído no chamado Polígono das Secas.
Sua trajetória na vida pública inicia-se pela presidência da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais – FIEMG e vice-presidência da Confederação Nacional da Indústria. Foi senador por Minas em 1998, vice-presidente da República em 2003, reeleito para o mesmo cargo em 2006. A partir de novembro de 2004, e até março de 2006, acumulou a vice-presidência com o Ministério da Defesa.
O convite a Alencar para compor a chapa petista à presidência da república, em 2003, visou, como se sabe, agregar aceitabilidade à figura ainda pouco confiável do sindicalista Lula, no meio empresarial e nas classes mais conservadoras. Coincidentemente, o abastado empresário a avalizar o operário carregava uma história de vida quase tão heróica quanto a do torneiro mecânico.
Também Alencar não procedia das elites nem primava por grande cultura formal. Lula foi um operário que chegou à presidência da república sem jamais ter sido patrão. José Alencar foi menino de arraial, balconista, dono de loja, dono de atacado, dono de indústria, senador e vice-presidente da República. Um homem simples, comunicativo, alegre, mineiro típico, um cidadão exemplar. Na observação perfeita do ministro Ayres Britto, “um homem que ganhou o mundo sem perder a alma”. Diríamos, um homem fadado a não morrer completamente.
Nossos sentimentos à família Alencar.
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪ (Publicada em 31.03.2011 no Globo Online, Blog do Noblat/Maria Helena/)
terça-feira, 5 de abril de 2011
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