Julho, 2010
Vivemos um
momento no país em que princípios morais postos ao alcance de nossa juventude,
e mesmo da população adulta carente de melhores valores, andam em crise. Nem
falemos aqui do comportamento de certos ídolos de massa que, de uma hora para
outra, passaram a dar mostras do “Coisa Rúim” incorporado. Imaginem que,
anteontem, meu sobrinho de nove anos, chorando, disse para a mãe que não quer
mais “ser flamengo”.
É claro que,
nesses casos, o estrago provém de tragédias pessoais que apenas por
coincidência se precipitaram ao mesmo tempo e num mesmo lugar, para estupefação
e mal-estar de um grande segmento de público. Infelizmente, a civilização não produziu
ainda o antídoto da barbárie humana inaugural.
Mas desejo falar
de outra inquietação, que também é nacional. Esta que os dois candidatos mais
cotados à presidência da república vêm causando a todos nós: a sua (deles)
sistemática insubordinação às leis em vigor.
Se o brasileiro
fosse um povo politicamente mais sofisticado, mais intransigente na cobrança
das regras de convivência social – como acontece, por exemplo, com o povo
americano – Lula, Dilma e Serra não iriam tão longe no desprezo à lei. O
tribunal das urnas os condenaria.
É verdade que a Lei
Eleitoral fixa com bastante impropriedade o prazo da propaganda permitida. Seria
o caso, então, de buscar-se o aperfeiçoamento da lei, nunca o seu
descumprimento sistemático. O candidato que ignora a lei passa um exemplo muito
ruim ao eleitorado. Dizer que o adversário também o faz, ou o fez, não
justifica. Dizer que a lei não presta, também não.
Nem seria este o
caso do Digesto Eleitoral que apenas deixa a desejar ao estabelecer sanções
diminutas. O resultado está no noticiário recente:
“Dilma
Rousseff, foi multada pela quarta vez pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
por propaganda eleitoral antecipada. A ministra substituta Nancy Andrighi
definiu a multa em R$ 6 mil – maior valor aplicado até agora – pois considerou
que houve 'reiteração da conduta
infracional'...”
Este outro:
“O Ministério Público
Eleitoral ajuizou Representação contra o candidato à presidência, José Serra e
seu partido, o PSDB, pedindo aplicação de multa de R$ 5 mil a R$ 25 mil e a
cassação do direito de transmissão da propaganda partidária no primeiro
semestre de 2011. O MPE alega que o partido aproveitou a transmissão para
difundir a experiência política do candidato, dando ênfase para os cargos que
ocupou e o trabalho que realizou em sua vida pública”.
– Qual o
problema, para os transgressores, pagarem essas ínfimas multas (para eles) e seguirem afrontando
a lei, já que em matéria ética a sintonia fina do eleitor nada irá captar?
– Nenhum
problema e que venham novas multas! Está em jogo, pois, uma relação
custo/benefício inteiramente favorável aos infratores.
A lei é razoável?
Claro que não. Nem por isso os candidatos deveriam arrostá-la com tanta
desfaçatez. São atitudes que informam aos brasileirinhos simples padrões éticos
e de cidadania absolutamente inadequados. Já lhes basta nascer e crescer em
comunidades dominadas pelo crime e pelos valores invertidos.
Tenha paciência,
gente! O povo é projeção de seus líderes e de seus ídolos. Ninguém coloca no
prumo a sombra da Torre de Pizza. Não estraguem nossas crianças.
Há um provérbio
antigo que diz: O povo se regula pelo exemplo do rei. Nossos reis, nos estádios
e nos palanques, andam muito desatentos. Vale a cutucada.
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(Publicada aos 15.07.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
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