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Temos conversado com pessoas que, nos últimos anos, vieram ou voltaram a fixar residência em Leopoldina. A impressão é de que elas andam um tanto céticas quando aos rumos das coisas por aqui. Há quem diga que Leopoldina caminha para o pior. Alguns não escondem a impressão de que estejamos em marcha batida para a realidade periférica dos grandes centros, onde marginais dão as cartas.
-Será que chegaremos aos donos de pedaços, chefes de poderes paralelos a ocupar espaços fora de controle das autoridades constituídas?
Pode parecer exagero. Mas o fato é que nas últimas semanas tivemos pelo menos três assaltos à mão armada em ruas leopoldinenses, até então consideradas tranqüilas. Em todas as ações delituosas facínoras armados, à noite, renderam famílias dentro de suas residências e, com ameaças e prática de violência, levaram tudo o que quiseram levar.
Sabe-se que a polícia não tem como aumentar, no momento, o número de policiais em Leopoldina. Consta, até, informação de que se veria com bons olhos algum pleito junto ao Secretário de Defesa para contratação de carcereiros, para possibilitar a liberação de uns dez policiais militares para o policiamento ostensivo.
O jornal LEOPOLDINENSE registrou, inclusive, opinião de importante autoridade local no sentido da conveniência de conscientização da juventude para os atrativos da carreira policial.
Mas vejam que, enquanto a polícia clama por homens nas ruas, o executivo municipal de Leopoldina, há uns três anos, enviou à Câmara de Vereadores lei para regulamentação, criando a Guarda Municipal. É projeto que encerra oportunidades de empregos formais e coloca nas ruas policiamento ostensivo que, no mínimo, cumpriria missão dissuasiva. Claro que não é uma má idéia.
- Mas cadê a lei?
A ninguém interessa adiar indefinidamente a assunção, pelo poder público municipal, da responsabilidade de participar da segurança de nossas ruas, de participar da segurança da família leopoldinense. A cidade precisa de polícia. De preferência polícia equipada com recursos um pouco além de cassetete e três-oitão. Porque, arma por arma, o bandido também tem. A marginalidade de hoje, instruída e glamourizada pela TV, demanda enfrentamento com instrumentos de inteligência.
Pelo que se ouve nas esquinas, dezenas de pessoas, só nas últimas semanas, receberam telefonemas anônimos na tentativa – algumas, consumadas – de extorsão de dinheiro mediante ameaça de seqüestro.
Sabe-se, historicamente, que esse tipo de coisa caminha invariavelmente para um ponto de ruptura. A sociedade tem limites de tolerância.
Há duas ou três semanas uma senhora do Rio de Janeiro, ante o anúncio de assalto, simplesmente sacou de sua bolsa uma arma e liquidou o bandido. Foi alvo de homenagem pelo Poder Legislativo...
Nossa Leopoldina, dos últimos tempos, vem se transformando em pólo de atração de aposentados de centros maiores, que buscam aqui vida mais tranqüila e saudável. Mesmo sem estatísticas quantificadoras, é razoável supor que essas pessoas representem hoje benefícios de grande vulto para a economia da cidade. Não nos surpreenderia se ficasse provado que os aposentados de Leopoldina carreiam para a cidade divisas superiores à contrapartida dos caminhões de leite e derivados que saem todas as manhãs da nossa magnífica Cooperativa LAC.
Mas temos que pensar numa coisa: a insegurança pode reverter esse fluxo e, até, mandar de volta às origens os que aqui estão. É sabido que nas capitais a insegurança continua enorme. Lá, entretanto, as pessoas têm a vantagem do anonimato. Elas contam com a opção de se esconder em condomínios fechados, na maioria das vezes só deixando suas casas com destino aos estacionamentos subterrâneos e controlados dos grandes shoppings.
Sem esquecer que, ao optar pelo interior, o aposentado pagou um preço bem alto pela mudança de vida. Perdeu ambiente social construído há longos anos, em muitos casos perdeu a praia, os clubes sociais, relacionamentos antigos, ambiente cultural e oportunidades mais amplas de até partir para uma nova ocupação. Tudo em nome de uma paz e de uma tranqüilidade que estão se esvaindo.
Vamos por mãos à obra. Tanto quanto Itabira que um dia virou fotografia na parede do poeta Drummond de Andrade, Leopoldina poderá vir a tornar-se, para esses seus cidadãos adotivos, um anúncio de Hotel Ritz no paredão das lembranças.
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(Publicada no LEOPOLDINENSE de novembro de 2006)
domingo, 4 de julho de 2010
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