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domingo, 11 de julho de 2010

Freud ou Palhares

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Janeiro, 2007

Dizer, no Brasil, que escorregões éticos acontecem às melhores pessoas deve soar como música aos ouvidos de muita gente. Nos corredores do Congresso Nacional, por exemplo, serão acordes de Wagner. Mas o assunto é outro.
- Você imaginaria o Pai da Psicanálise, Sigmund Freud, cometendo deslizes éticos ou morais?

É o que – segundo os jornais – parece revelar uma página amarelada em livro de registro de hotel, encontrado na Suíça.

Antecipando em pelo menos cinco décadas o personagem célebre do teatrólogo Nelson Rodrigues, o canalha Palhares - protótipo do mau caráter “que não respeitava nem as cunhadas” - Freud, ao que tudo indica, teve um caso amoroso com Minna Bernays, irmã mais nova de sua mulher Martha.

Em verdade, os estudiosos da biografia de Freud jamais desconsideraram alguma coisa entre ambos. Em 1907, por exemplo, ano em que publicou “Desilusões e Sonhos em W. Jensen Gradive”, Freud viajou com Minna Bernays a Florença e Roma. Minna, além de cunhada, era também sua companheira intelectual, tradutora e secretária. Costumavam passar férias juntos, nos Alpes, com acordo tácito de Martha, a mulher de Freud.

Segundo pesquisadores, Minna chegou a confessar a Jung que tinha encontros íntimos com Sigmund, podendo ser este, aliás, um dos motivos para o rompimento que ocorreu entre os dois psicanalistas. Jung seria um pouco mais conservador.

Faltava, entretanto, a prova definitiva do romance. Recentemente, foi ter às mãos do sociólogo alemão, Franz Maciejewski, evidência de que aos 13 de agosto de 1898, durante viagem de férias de duas semanas nos Alpes Suíços, Freud, na época com 42 anos e Minna com 33, ocuparam o quarto número 11 do hotel Schwezerhaus, registrando-se como um casal de fato.

Freud assinou o livro como de praxe: “Dr. Sigm Freud u frau”, abreviação que, em alemão, equivale a: “Dr. Sigmund Freud e esposa”. Martha, a esposa, sabia da viagem com Minna porque, na mesma data do registro no hotel, Freud remeteu cartão postal à mulher descrevendo montanhas e lagos por eles visitados.

Conclui então Maciejewski, que “por qualquer critério razoável de prova que se use, Sigmund Freud e Minna Bernays, irmã de sua mulher, tiveram um caso”.

Sigmund Freud (Sigismund Schlomo Freud), nasceu a 6 de maio de 1856 em Freiberg, Moravia, no império austro-húngaro (hoje Pribor, na República Tcheca). Faleceu em 1939. Era filho de Jacob Freud, comerciante judeu e de sua jovem segunda esposa Amália Nathanson. Seus irmãos do primeiro casamento do pai com Sally Kanner, falecida em 1852, eram cerca de vinte anos mais velhos que ele.

Aos nove anos Freud, na escola, revelou aproveitamento acima da média. Cursou a Universidade de Viena a partir de 1873. Sua primeira opção foi filosofia, decidindo-se depois pela medicina. Especializou-se em fisiologia nervosa, área onde a prática diária atenderia melhor suas preocupações com a natureza humana. Formou-se em medicina em 1881 e, no verão de 1882, ficou noivo de Martha.

Trabalhou no Laboratório de Zoologia Marinha de Trieste, onde estudou os órgãos sexuais das enguias. Atribui-se a este tema, escolhido para sua primeira pesquisa, como importante sinal da fixação sexual que ele haveria de "sublimar" − um termo seu – na futura criação da Psicanálise.

Formado em medicina e especializado em tratamentos para doentes mentais, criou uma nova teoria: doentes mentais eram pessoas que não externavam seus sentimentos. Para Freud, tais indivíduos se fechavam de tal maneira com seus sentimentos, que, após algum tempo, esqueciam-se da própria existência.

Passou a tratar esses pacientes através da interpretação dos sonhos e do método da associação livre. Neste último, o doente era convidado a falar o que lhe viesse à cabeça. Daí Freud garimpava os sentimentos “reprimidos", ou seja, aqueles sentimentos que as pessoas guardavam somente para si. Uma vez desvendados, ele as estimulava a colocá-los para fora.

Deixou Freud substanciosa literatura técnica: Psicologia da Vida Cotidiana, Totem e Tabu, A Interpretação dos Sonhos, O Ego e o Id, etc. Nesses livros, o “Pai da Psicanálise” (assim conhecido por ter inventado o termo “psicanálise”, para seu método de tratar doenças mentais) responsabilizava a repressão social da época, que não permitia a satisfação de certos sentimentos por considerá-los errados do ponto de vista social e religioso. O sexo seria o mais importante dos sentimentos reprimidos.

Como não podia deixar de ser, houve escândalo na sociedade mas demorou pouco para que outros psicólogos aderissem às idéias de Freud. Dentre eles, Jung, Reich e Rank.

Com a bombástica revelação de Franz Maciejewski, o articulista Ralph Blumenthal, do New York Times, prevê o recrudecimento do antigo debate sobre a vida íntima de Freud. O grande psicanalista, que examinou em profundidade os mais obscuros impulsos sexuais e segredos da psique humana, poderá estar agora no centro de um debate sobre o quanto teria sido ele próprio “escrupuloso” em seu comportamento pessoal...

A seu prol, Freud poderia opor que escrúpulo também reprime. Ou não reprime?
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(Publicada no LEOPOLDINENSE de 16.01.2007 - Comentário a matéria jornalística de dezembro de 2006)

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