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Agosto, 2006
Tanto como ainda hoje ocorre, minha terra mineira sempre contou com bons médicos. Um desses, de agradável companhia, adora contar histórias da medicina local. É bem recente a passagem que ele me relatou, de episódio invulgar ocorrido no Pronto Socorro da cidade.
O plantonista da noite era o Dr. Neco Dutra, grande proprietário de imóveis, homem prático, visão aguda para negócios que, apesar da idade provecta e da ótima situação financeira, jamais dispensou o adicional dos plantões noturnos. Construiu grande fama menos pelo talento profissional, que não chegava a superlativo, que pelo carisma pessoal alimentado em torno de sua visão pragmática do sacerdócio hipocrático... Um médico bastante chegado ao dinheiro.
Aliás, no interior, observo um fenômeno curioso. As pessoas admiram muito e adoram rir escondido desses “pães-duros”, munhecas paralíticas, desses ricos folclóricos que jamais pagaram um único cafezinho na vida e só vieram ao mundo para ganhar dinheiro. Viram piada, tornam-se carismáticos. Alguns são pessoas adoráveis... Claro, para quem não precisa negociar com eles. Mais ou menos por aí, o perfil do Dr. Neco Dutra.
Vamos ao caso. Numa certa madrugada o cochilo do médico plantonista, do PS, foi interrompido pela chegada de um paciente, aparentando sessenta anos, aos gritos, com um incômodo raro em sua faixa etária: “Disfunção erétil positiva, severa”, que o jargão médico também define como “priapismo” − de Priapo, o Deus da fertilidade na mitologia grega. Ou seja, ereção peniana violentíssima, dolorosa, irrefreável, sem qualquer razão aparente.
Irrompeu o desesperado consultório adentro, dizendo que já passava de quatro horas aquela rigidez maluca, causando-lhe dores lancinantes como algo prestes a rachar. Que sua esposa, coitada, já fizera “a parte dela” por umas quatro vezes, só naquela noite, e nada do troço voltar à normalidade!
- Por piedade, doutor, me acode − clamava! Não sei como isto me aconteceu. Não suporto mais a dor!
Mal acreditando no que via o médico prontamente conduziu o paciente à mesa de exames, passando a verificar a − digamos − região afetada. Afora o severo órgão em riste, tudo o mais aparentava normalidade.
Em todo caso, observou o clínico que na parte superior do órgão genital havia um minúsculo (quase microscópico) pontinho negro, o qual, melhor observado com o auxílio de uma lente, revelou-se pintadinho de preto e branco...
-Hummm, sim, resmungou o médico. Interessante! Um carrapatinho carijó... E comentou com o paciente:
-Pelo visto o senhor esteve com seu cachorrinho no colo. Ele deixou uma “visitinha” aqui.
Longe, porém, de imaginar que aquilo pudesse ter alguma relação com o desespero do doente, foi logo retirando o insignificante aracnídeo com uma pinça. Mas eis que, no exato momento em que o ácaro é extraído, o paciente imprime um brusco movimento de descompressão e alívio, liberando um brado de desafogo que chega a assustar o médico.
- Ahhh! Obrigado, doutor! Obrigado, doutor! O senhor conseguiu? Que alívio! Louvado seja nosso...
E tantos suspiros e agradecimentos verberava que mal deu conta de que o doutor, de bruços no chão e com uma enorme lente em punho, pesquisava desesperadamente a área do piso onde o carrapatinho havia caído quando o solavanco do paciente lhe fez soltar a pinça.
- O senhor procura alguma coisa, doutor?
- Não interessa. Você pode ir embora, está curado. Não precisa assinar nada. Cuidado pra não pisar aqui!
- Como?
- Já disse: pode ir embora. Estou procurando o carrapatinho!
Tava na cara! O ladino Dr. Neco já trabalhava num projeto de ganhar dinheiro grosso no cultivo e aplicação do carrapatinho milagroso. Descobrir o tempo ideal de aplicação do micuim para obter a medida certa de “entusiasmo”, em cada paciente, seria questão de alguns experimentos.
Claro que ele encontrou o bichinho, colocando-o primeiramente num tubo asséptico, para depois, mesmo ciente de que carrapato pode viver até dois anos sem alimento, transferi-lo ao corpo de uma cobaia à qual teve a pachorra de extrair os dentes e as unhas.
O plano talvez funcionasse se o paciente não saísse contando a história para Deus e o mundo. Não demorou muito e o doente da véspera estava cercado de advogados a abrir-lhe os olhos para o tesouro colocado nas mãos avarentas do Neco Dutra!
Não deu outra. O caso foi parar na justiça e ainda rola. A cobaia e seu hospedeiro permanecem custodiados a sete chaves na delegacia local, à disposição da justiça.
O processo, em grau de recursos, tramita por Brasília, onde, aliás, clamores gerais não sensibilizam as Cortes Superiores para a alta relevância dos interesses “difusos” envolvidos na questão.
A “sede” da questão – explicam os juristas – está num certo artigo da lei, de redação meio anfíbia, que garante ao proprietário do “prédio” a inteira propriedade do “tesouro” por ele achado em seu território.
Virem os tribunais a aplicar ao fantástico carrapatinho o conceito de “tesouro” será algo de absoluta coerência se considerarmos a fortuna incomensurável amealhada pelo laboratório Pfizer com a descoberta, também acidental, da sildenafila − a droga comercializada como Viagra.
Questão um pouco mais tormentosa talvez venha a ser a adoção analógica de “prédio” para as partes baixas do corpo humano. Mas tudo é possível. A justiça costuma ser bastante complacente com a abrangência das palavras e dos princípios.
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(Publicada no jornal LEOPOLDINENSE a 31.08.2006 e, a 22.07.2010, em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
quinta-feira, 22 de julho de 2010
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Mundo, Vasto Mundo!
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Março, 2004
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(Publicada no Jornal LEOPOLDINENSE de 31.03.2004)
Março, 2004
Décadas pelo Brasil se passaram com a esquerda lutando pela
prevalência de um regime socialista que reduzisse as injustiças e as
desigualdades sociais, através do controle do Estado, sobretudo sobre os meios
de produção. O resultado foi um revide direitista de vinte anos de regime
ditatorial, militar, para enxergarmos que os direitos formais eram importantes
para aplacar arbitrariedades do poder e insubstituíveis na proteção dos
direitos dos cidadãos.
Vindo a queda do muro de Berlim, em 89, o fim da União Soviética
e a democratização do Leste Europeu, remanejou-se a ideologia socialista para a
afirmação dos direitos da pessoa humana, para a defesa das minorias, para a
reconstrução da cidadania, enfim, para movimentos sociais. Era a militância
revolucionária se engajando na luta pela justiça.
Paradoxalmente, a Justiça – em sua acepção científica –
arrostando o liberalismo, contabilizava conquistas em sentido aparentemente
oposto, propugnando por maior intervenção do Estado em favor dos mais fracos,
nas relações de trabalho, de consumo... Mas aí já é uma história para juristas.
Para além do Brasil, o mundo pós-segunda guerra, mais ou menos
imerso nessas mesmas preocupações edificantes, parecia até um lugar seguro. Mas
eis que de repente, alcançamos a derradeira década do Século XX com o
surgimento de incertezas para consideráveis áreas do mundo, como URSS, África e
Leste Europeu onde passaram a irromper problemas étnicos e políticos
adormecidos.
À tempestade
arenosa do Oriente Médio se junta a fuligem de duas torres gêmeas que vêm
abaixo em Nova York, na contrapartida do que Afeganistão e Iraque – este
segundo com sua segunda maior reserva petrolífera do mundo – transformam-se em
protetorado americano... Instala-se no planeta um claríssimo e muito concreto
desdobramento da nova pax americana.
Duas ocupações, com um precedente caribenho em Granada, talvez
emprestem sentido às bombas francesas, sem pé nem cabeça, erguendo cogumelos em
pleno período de distensão num atol do Pacífico Sul... Pode ser a França,
consciente do novo momento histórico, delimitando espaços.
Felizmente, nesses movimentos condoreiros do xadrez mundial, a
nós do terceiro mundo, vinham tocando não mais que cadeiras de pista. Mas eis
que, a 19 de agosto de 2003, o embaixador brasileiro, Sérgio Vieira de Mello,
morre tragicamente num atentado a bomba contra a sede das Nações Unidas, no
Iraque. Um pouco antes, uma cidadezinha do sul do país parava para enterrar um
anônimo pedreiro, desempregado, morto na Espanha, estúpida e aleatoriamente
incluído como parte num acerto provisório de contas entre dominados árabes e
dominadores ocidentais.
É quando ganha relevância o conceito de “importância” do Brasil
no xadrez da política internacional. Até quando nós, brasileiros, continuaremos
mais ou menos fora desse jogo perigoso?
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(Publicada no Jornal LEOPOLDINENSE de 31.03.2004)
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Uma Cutucada
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Julho, 2010
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(Publicada aos 15.07.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
Julho, 2010
Vivemos um
momento no país em que princípios morais postos ao alcance de nossa juventude,
e mesmo da população adulta carente de melhores valores, andam em crise. Nem
falemos aqui do comportamento de certos ídolos de massa que, de uma hora para
outra, passaram a dar mostras do “Coisa Rúim” incorporado. Imaginem que,
anteontem, meu sobrinho de nove anos, chorando, disse para a mãe que não quer
mais “ser flamengo”.
É claro que,
nesses casos, o estrago provém de tragédias pessoais que apenas por
coincidência se precipitaram ao mesmo tempo e num mesmo lugar, para estupefação
e mal-estar de um grande segmento de público. Infelizmente, a civilização não produziu
ainda o antídoto da barbárie humana inaugural.
Mas desejo falar
de outra inquietação, que também é nacional. Esta que os dois candidatos mais
cotados à presidência da república vêm causando a todos nós: a sua (deles)
sistemática insubordinação às leis em vigor.
Se o brasileiro
fosse um povo politicamente mais sofisticado, mais intransigente na cobrança
das regras de convivência social – como acontece, por exemplo, com o povo
americano – Lula, Dilma e Serra não iriam tão longe no desprezo à lei. O
tribunal das urnas os condenaria.
É verdade que a Lei
Eleitoral fixa com bastante impropriedade o prazo da propaganda permitida. Seria
o caso, então, de buscar-se o aperfeiçoamento da lei, nunca o seu
descumprimento sistemático. O candidato que ignora a lei passa um exemplo muito
ruim ao eleitorado. Dizer que o adversário também o faz, ou o fez, não
justifica. Dizer que a lei não presta, também não.
Nem seria este o
caso do Digesto Eleitoral que apenas deixa a desejar ao estabelecer sanções
diminutas. O resultado está no noticiário recente:
“Dilma
Rousseff, foi multada pela quarta vez pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
por propaganda eleitoral antecipada. A ministra substituta Nancy Andrighi
definiu a multa em R$ 6 mil – maior valor aplicado até agora – pois considerou
que houve 'reiteração da conduta
infracional'...”
Este outro:
“O Ministério Público
Eleitoral ajuizou Representação contra o candidato à presidência, José Serra e
seu partido, o PSDB, pedindo aplicação de multa de R$ 5 mil a R$ 25 mil e a
cassação do direito de transmissão da propaganda partidária no primeiro
semestre de 2011. O MPE alega que o partido aproveitou a transmissão para
difundir a experiência política do candidato, dando ênfase para os cargos que
ocupou e o trabalho que realizou em sua vida pública”.
– Qual o
problema, para os transgressores, pagarem essas ínfimas multas (para eles) e seguirem afrontando
a lei, já que em matéria ética a sintonia fina do eleitor nada irá captar?
– Nenhum
problema e que venham novas multas! Está em jogo, pois, uma relação
custo/benefício inteiramente favorável aos infratores.
A lei é razoável?
Claro que não. Nem por isso os candidatos deveriam arrostá-la com tanta
desfaçatez. São atitudes que informam aos brasileirinhos simples padrões éticos
e de cidadania absolutamente inadequados. Já lhes basta nascer e crescer em
comunidades dominadas pelo crime e pelos valores invertidos.
Tenha paciência,
gente! O povo é projeção de seus líderes e de seus ídolos. Ninguém coloca no
prumo a sombra da Torre de Pizza. Não estraguem nossas crianças.
Há um provérbio
antigo que diz: O povo se regula pelo exemplo do rei. Nossos reis, nos estádios
e nos palanques, andam muito desatentos. Vale a cutucada.
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(Publicada aos 15.07.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
terça-feira, 13 de julho de 2010
Mário e o Tango
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Junho, 2004
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(Publicado no LEOPOLDINENSE de 30 de junho de 2004)
Junho, 2004
Esta
é a história do tempo em que o rapagão, Mario, decidiu afrontar sua timidez
oceânica. Mas não se deu bem. Foi num baile de formatura – antigamente havia –
em que o guapo moçoilo, meu companheiro nas festas de então, foi acometido por
um surto de deslumbramento. A moça era extraordinariamente bela.
Mas antes situemos melhor a história no tempo. Mário contava uns 19 anos. Eu, também
por aí. Somando a isto quatro décadas, o “jovem” em questão, se estiver vivo,
anda hoje pelos sessenta.
Éramos estudantes, mas ele servia na marinha. Alto, forte, cabelo de milico, raspado
nas laterais e partido no teto − tentativa engomada de lembrar Clark Gable.
Ela, 17 perfumadas primaveras presumíveis, morena clara, angelical, charme
transbordante, vestido de baile, se bem me lembro, da cor rosa, cabelos sedosos
divinamente armados num coque, versão aperfeiçoada – eu disse aperfeiçoada – da
atriz Grace Kelly.
Nunca se haviam visto. Mário desmoronou-se em comoção tão logo a divisou entre
desconhecidos numa mesa junto à pista. Semelhança com Grace Kelly, nada. Para
ele, a própria ali ressurgida com o fascínio avassalador que lhe despertara a
atriz, no filme Mogambo!
Desvairado, delirante, Mário virou Príncipe de Mônaco – quem diria! – em pleno
Grajaú. Ia me esquecendo: o baile foi no Grajaú Tênis Clube. Chegaria a ela e,
ciumento, compraria de Hollywood todos os seu filmes, para jogar no lixo, muito
apesar da timidez abissal que jamais o permitiu, antes, aproximar-se de
qualquer menina bonita.
Hoje é diferente − decidiu. Não se trata de uma bela moça. Trata-se de uma
divindade. A “deusa da minha rua”, da minha vida, do meu bairro, do meu mundo!
Não tem covardia que me segure: levo “fora”, fico ridículo, planto bananeira,
vendo chuchu pelado, mas vou tirá-la pra dançar... E de cara limpa, Petrarca!
Agora!
Bastou a orquestra dar os dois primeiros acordes da música seguinte, Mário
centralizou a gravata no gogó e partiu, a todo risco, imaginando versos que só
surgiriam muitos anos depois:
–
Quer me dar o prazer, senhorita?
De dançar comigo
esta canção, tão bonita!
Faz de conta que
eu sou Fred Astaire
e você Ginger
Rodgers...
– A maravilha disse sim. Num átimo, estavam os dois no centro do salão. Estavam
sós, porque Mário foi muito rápido na iniciativa. Talvez coubesse dizer alguma
coisa à moça, mas o cérebro grimpado de Mário não o acudia com um mísero
monossílabo.
Nervoso, toma nos braços a dama e já prepara o primeiro passo. Mas... diabos!,
a introdução à música é longa, insossa e sem ritmo! Não havia como dançar
aquilo. Miseravelmente tímido, sobraçando, estático, sua divindade pela
cintura, passou Mário a carpir os segundos mais acabrunhantes de sua
existência, à espera de compassos musicais dançáveis. Segundos eternos!
Finalmente, um músico fica de pé empunhando uma sanfoninha quadrada.
Mário vai ao desespero: – Meu Deus, aquilo é bandoneon, vão tocar tango!... De
fato, explode um tango argentino. Mário pondera o entorno: Está só e se sente alvo
de todos os olhares! Avexado, cérebro dando branco, chacotas por começar e o
tango a perigar misérias contra os pés da moça...
Pensou rápido:
– Eu, o tímido embarcadiço Mário Matias d`Scragnole, não sei
dançar tango. Tudo que tenho a fazer é agradecer à moça e me evaporar.
Balbuciou no ouvido dela:
– Tango para mim não dá, entende. Outro dia, quem sabe...
– Como queira – disse ela numa dobrinha graciosa de joelho. E tudo terminou
ali.
Sofri por ele. Sinceramente, sofri. A beleza da moça era indescritível.
Nas
quebradas da vida, há algum tempo, topei com o Mário. A custo lembrou-se da
história. Não era de arquivar lembranças poéticas. Achei incrível que, para
ele, Grace Kelly do Grajaú não fosse um tango atravessado na memória. Porque, para
mim, sempre foi.
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(Publicado no LEOPOLDINENSE de 30 de junho de 2004)
Entendendo o Governo
***
Mês passado comentavam na imprensa a grande maldade do PT botando pra fora do partido os tais radicais livres. Por muito que o assunto diga respeito à grande imprensa nacional, e não a jornal municipal como o que esta crônica se destina, tão insistentemente ele domina conversas e paixões - e com isto mantendo atualidade - que vale a pena abordá-lo de maneira acessível ao normal das pessoas. Principalmente agora, com o tema explorado no horário nobre da TV.
Vamos firmar, de saída, que o entrevero da intelligentzsia petista com seus dissidentes não envolve pessoas ingênuas. Ali, ninguém nasceu ontem e, no meio político quando prevalece o arrivismo, tanto divergem como se unem os puros geniais ou os porcos do lixão. Mas é possível entender a trama lendo o não escrito, ouvindo o que não foi dito.
É claro que Lula não tem que mudar o rumo da economia apenas para ser coerente com a filosofia primordial do PT e trocar de bem com companheiros intransigentes. Vem de Norberto Bobbio, ex-professor das universidades de Siena e Pádua, catedrático da Universidade de Turim, um dos maiores pensadores da atualidade (falecido, infelizmente, há poucos dias), o ensinamento de que o universo moral e o universo político pertencem a sistemas éticos distintos e, até, em alguns casos, contrapostos.
Assevera Bobbio que o critério clássico de ética se ajusta ao respeito cego a uma norma categórica, determinante daquilo que equivale a uma boa ou a má ação moral. Donde o critério puramente ético não implicar em compromisso com resultados.
Muito ao contrário, a boa ou má ação político-administrativa, tem seu compromisso com o resultado. O administrador não pode ser um místico, um asceta, um devoto cenobita, um platônico. Como administrador, o político há de ser prático em busca de efeitos, de resultados concretos.
Não vale para um governante dizer, “arrasei as contas e a credibilidade do país, mas não faltei aos ideais do partido”. Ou, “afugentamos investimentos, mas mantivemos coerência de princípios”. Só um doido iria por aí. Ou seja, na ética política é a concretude do produto final que realmente importa. O resultado da ação.
Bem a propósito, FHC – que para a própria cúpula do PT não é alguém que se deva citar - em pronunciamento do inicio de seu segundo mandato, apontava a distinção clássica, do sociólogo e economista alemão Max Weber, entre ética de convicção e ética de responsabilidade. Ou seja, a distinção entre o agir do justo, que entrega as conseqüências de sua ação nas mãos de Deus; e o agir do responsável, que vai e responde pessoalmente pelas conseqüências previsíveis dos atos que pratica.
Uma coisa é lecionar, abraçar teorias, defender teses, agir como um pedagogo, um utopista, um poeta a entreter estrelas. Outra, bem diferente, é estar na pele do homem prático que decide e conduz pessoas: o estadista, o político que governa e busca soluções.
Certa ocasião Ulisses Guimarães descobriu que no Congresso havia de tudo, menos burros. Logo, os banidos do PT não são cretinos. Apenas escolheram ir plantar batatas, quando acreditaram que o cultivo do apreciado tubérculo, na mídia, lhes poderia resultar em algo eleitoralmente mais proveitoso. É a aposta deles...
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado no LEOPOLDINENSE de 30.01.2004)
Mês passado comentavam na imprensa a grande maldade do PT botando pra fora do partido os tais radicais livres. Por muito que o assunto diga respeito à grande imprensa nacional, e não a jornal municipal como o que esta crônica se destina, tão insistentemente ele domina conversas e paixões - e com isto mantendo atualidade - que vale a pena abordá-lo de maneira acessível ao normal das pessoas. Principalmente agora, com o tema explorado no horário nobre da TV.
Vamos firmar, de saída, que o entrevero da intelligentzsia petista com seus dissidentes não envolve pessoas ingênuas. Ali, ninguém nasceu ontem e, no meio político quando prevalece o arrivismo, tanto divergem como se unem os puros geniais ou os porcos do lixão. Mas é possível entender a trama lendo o não escrito, ouvindo o que não foi dito.
É claro que Lula não tem que mudar o rumo da economia apenas para ser coerente com a filosofia primordial do PT e trocar de bem com companheiros intransigentes. Vem de Norberto Bobbio, ex-professor das universidades de Siena e Pádua, catedrático da Universidade de Turim, um dos maiores pensadores da atualidade (falecido, infelizmente, há poucos dias), o ensinamento de que o universo moral e o universo político pertencem a sistemas éticos distintos e, até, em alguns casos, contrapostos.
Assevera Bobbio que o critério clássico de ética se ajusta ao respeito cego a uma norma categórica, determinante daquilo que equivale a uma boa ou a má ação moral. Donde o critério puramente ético não implicar em compromisso com resultados.
Muito ao contrário, a boa ou má ação político-administrativa, tem seu compromisso com o resultado. O administrador não pode ser um místico, um asceta, um devoto cenobita, um platônico. Como administrador, o político há de ser prático em busca de efeitos, de resultados concretos.
Não vale para um governante dizer, “arrasei as contas e a credibilidade do país, mas não faltei aos ideais do partido”. Ou, “afugentamos investimentos, mas mantivemos coerência de princípios”. Só um doido iria por aí. Ou seja, na ética política é a concretude do produto final que realmente importa. O resultado da ação.
Bem a propósito, FHC – que para a própria cúpula do PT não é alguém que se deva citar - em pronunciamento do inicio de seu segundo mandato, apontava a distinção clássica, do sociólogo e economista alemão Max Weber, entre ética de convicção e ética de responsabilidade. Ou seja, a distinção entre o agir do justo, que entrega as conseqüências de sua ação nas mãos de Deus; e o agir do responsável, que vai e responde pessoalmente pelas conseqüências previsíveis dos atos que pratica.
Uma coisa é lecionar, abraçar teorias, defender teses, agir como um pedagogo, um utopista, um poeta a entreter estrelas. Outra, bem diferente, é estar na pele do homem prático que decide e conduz pessoas: o estadista, o político que governa e busca soluções.
Certa ocasião Ulisses Guimarães descobriu que no Congresso havia de tudo, menos burros. Logo, os banidos do PT não são cretinos. Apenas escolheram ir plantar batatas, quando acreditaram que o cultivo do apreciado tubérculo, na mídia, lhes poderia resultar em algo eleitoralmente mais proveitoso. É a aposta deles...
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(Publicado no LEOPOLDINENSE de 30.01.2004)
Leopoldina Minha Princesa #
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Abril, 2004
Nossa menina Leopoldina faz 152, neste 27 de abril. Meu caso com essa nobre Princesinha de Saxe, que também se assinava de Coburgo e Gotha, é meio contraditório, com dúvidas sobre se não seria − parodiando Pessoa − um amor por tudo que aquilo que ela já não seja. Abril, 2004
Esse tipo de paixão acontece. São casos em que a pessoa se reapaixona pelo amor antigo, por aquela belezura d’antanho, estacionada na memória, que já não seria tão bela aos olhos atuais.
Mas estou falando de uma cidade princesa e princesa nem precisa ser bela. Posso, e podemos todos, “voltar o filme” à vontade. Nossa futura rainha pontificará maravilhosa, tanto quando vista pelo pára-brisa da atualidade − crescida, charmosa e culta − como quando a desarquivamos do coração pelo complacente retrovisor das lembranças.
Às vezes o amor é nostálgico. Não escondo o enorme interesse que tenho pelo “passado” da minha amada: venho tentando, por exemplo, descobrir qual a casa da Rua Manoel Lobato serviu de primeira sede ao Hospital quando fundado, em 1896. Não aparece documento ou pessoa capaz de fofocar uma única dica. Vou ser “o último a saber”...
Aliás, peço a você, leitor amigo – se é que tenho leitores – que, achando em seus guardados alguma foto antiga da Rua Manoel Lobato na qual se vislumbre prédio com indício de “hospital” (uma placa, pessoas de branco na porta, etc), por favor, empreste-me por cinco minutos a foto. É o tempo que gastarei para copiá-la num computador.
Se envolve Leopoldina, preocupo-me inclusive com coisas menos sérias. Interessam-me também os macadames da Rua João Neto. Quem arrancou os macadames da Rua João Neto? Meu reino pelos macadames da Rua João Neto! Sumiram, volatilizaram-se, escafederam-se, drummondianamente. Naquelas pedras históricas, meu cavalinho Guarany (com ípsilon, por favor) tirava fogo “com o rompão da ferradura” quando eu, moleque da roça, subia ao Grupo Novo, para as aulas da Da. Climene Godinho.
Para quem não se lembra, macadame é aquele calçamento de pedras redondas, irregulares, também chamadas pirulitos ou pé-de-moleque. Invenção de um inglês chamado John London Mac Adam, origem do maroto aportuguesamento.
Bisbilhotando mais um pouco pelo espelhinho lateral da viatura, pergunto: e o campo de futebol da Quinta Residência? Fui ruim de bola, mas joguei lá. Tinha um becão chamado Matias. E tinha o Tião Chapeleta, chuteira 48... Gente boa, gente minha.
Quando construíram uma escola em cima do gramado, Leopoldina perdeu “atração turística”. O Campo da Quinta seria, talvez, o único gramado de futebol no Brasil com descaimento de uns vinte graus, visíveis a olho nu. A bola escorria se tirasse o pé de cima dela. Gol de bola parada, na Quinta, era só uma maneira de falar. Tinha que bater rápido. E, no cara-ou-coroa inicial, decidia-se quem vai chutar pra baixo e quem vai chutar pra cima.
Quando vejo hoje o novo estádio, ali ao lado, niveladinho, niveladinho, penso comigo:
- Isto não é “Campo da Quinta”!
Vivi muitos anos fora de Leopoldina. Quando voltei ouvi conselhos:
-Cuidado, a Leopoldina que ficou na tua cabeça é outra! Mas vim e sigo por aqui. Como cantava o velho Nelson Gonçalves numa canção de pinguço dos velhos tempos, “Não pode haver retrocesso / ante a força do progresso / meu violão silencia.”
É, meu violão silencia. A cidade cresceu, já não se pode – como se ouvia na venda do Joaquim de Oliveira – chamar todo mundo de parente, porque outras pessoas chegaram para dividir espaços. Chegou a morosidade da lei (e não apenas a morosidade, casos há de paralisia), o estacionamento difícil, chegaram as multas, as regras, as formalidades, o trato formal, a educação precária, o desrespeito, a “coisificação” das pessoas, as pragas institucionais e sociais. Há os que gostam e até juram que isto é progresso. Dá dó! Mas dá raiva também.
Mesmo assim Leopoldina é princesa, é cidade menina. Garota morena do povo, despojada e sonhadora, sua dúbia vocação de sobriedade e fidalguia. Lembra o gentio Puri e a majestade Bragança. Lembra um toque de distinção no manejo de uma lança.
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(Publicada no LEOPOLDINENSE de 30.04.2004)
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Leopoldina de 1916
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Foto: Leopoldina, vista do Alto do Cemitério. Antiga Rua Riachuelo, Igreja do Rosário, no meio, à direita, apenas a ala direita do Colégio Leopoldinense construída, e, ao fundo, à direita, a velha Igreja da Matriz, que deu lugar à Catedral.
_________________
Para este 27 de abril de 2008 ocorreu-nos oferecer aos leitores do LEOPOLDINENSE, em especial àqueles que apreciam a história de nossa terra, um rápido passeio pela Leopoldina de 90 anos atrás. Uma Leopoldina dos cafezais em flor, das lojas de secos e molhados, da “Maria Fumaça”, dos homens de terno e gravata na Cotegipe, da velha Igreja Matriz com a Gruta de Lourdes à sua frente, do Grupo Escolar Ribeiro Junqueira na “Praça do Urubu”, do Colégio Leopoldinense ainda no modesto prédio em que nasceu, da Igreja do Rosário ainda não descaracterizada.
O município, com seus vários distritos, alguns hoje emancipados, tinha área de 2.400 km2, praticamente a mesma população atual, em torno de 50 mil habitantes, mas apenas 4.000 pessoas nas ruas da cidade. O meio rural era muito mais habitado que hoje.
Tudo isto porque a historiadora leopoldinense, Nilza Cantoni, acaba de levantar dados importantes da história de Leopoldina, a partir de um texto de Roberto Capri, páginas 237 a 262, da obra, “Minas Gerais e seus Municípios”, edição de 1916, por ela encontrado recentemente.
Na transcrição mantivemos a grafia do original, para que os leitores tenham o privilégio de “degustar”, da própria pena de Capri, as particularidades da Leopoldina de 1916.
Nilza Cantoni é uma historiadora infatigável, trabalhando diuturnamente no levantamento da história de nossa região e de sua gente. Mas é graças a uma outra virtude de Nilza – seu absoluto desprendimento autoral – que as pesquisas por ela feitas chegam ao conhecimento do público. Preferindo armazenar seus estudos, seus trabalhos e achados nas várias páginas que mantém na Internet, basta um telefonema nosso, como ocorreu agora, para vir uma resposta simpática de total desprendimento:
-Nilza eu gostaria de publicar isto no LEOPOLDINENSE.
-Publique imediatamente!
Vejam vocês, então, em trechos escolhidos, um pouco da Leopoldina de 1916 que Roberto Capri fotografou para nós e Nilza Cantoni acaba de revelar:
AGRICULTURA E PECUÁRIA
“Situado numa zona eminentemente cafeeira, o municipio é um dos mais prósperos da Matta. Os terrenos muito se prestam à pastoricia e os fazendeiros á elles se consagram com intelligencia. O sr. José Ribeiro Junqueira, por exemplo, proprietário da grande fazenda "Niagara," em Santa Izabel, tem conseguido desde 1912, mais leite na secca do que nas aguas, modificando um pouco as forragens e conseguindo o nascimento de bezerros na entrada da secca; duas grandes vantagens dahi lhe advieram : as leiterias pagam mais pelo leite nos mezes da secca e a mortalidade dos bezerros, evitadas as aguas e a lama, baixou de 20 a 5%.
Leopoldina foi o segundo municipio mineiro onde se instalaram banheiros carrapaticidas, cujos efeitos sobre o gado fazem-se sentir de maneira assombrosa. Ha no municipio, além das grandes installações da Leiteria Leopoldinense, duas fabricas de manteiga; uma na fazenda do Belmonte, Conceição da Boa Vista, de propriedade do sr. Cel. Theophilo Barbosa da Fonseca e a outra na fazenda da Independência, dos srs. Rezende e Barbosa, no districto de Thebas.
No ecclesiastico depende da archidiocese de Marianna. (...)
VIAÇÃO
O município é servido pela Leopoldina Railway, que corta os districtos de Providencia, Santa Izabel, Recreio, Campo Limpo, Leopoldina e S. Joaquim, havendo ainda as estações de S. Martinho e Vista Alegre.
Fazendo um ligeiro cotejo de algarismos, verifica-se que o municipio pagou de frete, pela exportação, a importância de 329:486$ e pela-importação a de 299:896$000, donde se vê que o frete daquella foi maior de 120:590$000. Isto vem attestar que a exportação foi tambem maior do que a importação, prova incontestável da prosperidade económica do município. Pelos dados acima, podemos calcular o valor commercial da exportação do município de Leopoldina, no anno de 1912, que attingiu, approximadamen-te, á cifra de 4.864:000$. Para essa importância concorreu em primeiro logar o café, com 2.350:000$; em segundo o arroz, com 806:000$ e em terceiro logar o leite, com cerca de 300:000$. A
linguagem clara e convincente dos algarismos fala expressivamente sobre o gráo de florescimento do município.
Na estrada de Thebas, cerca de um kilometro além de Leopoldina, começa a "Colónia Constança" cuja sede se acha na fazenda "Boa Sorte", a 8 kilometros da cidade. Esse núcleo colonial tem uma área de 2.034 hectares, quasi completamente cultivados.
Os colonos dedicam-se á cultura do milho, arroz, feijão, amendoim, mandioca, fumo, canna, café, cebolas, alho, etc., e á criação de gado vaccum, suino, cavallar, muar, caprino e de galinhas e perús. É provida de machinismos completos para canna mandioca.
Dispõe de escolas mixtas e de uma banda de musica, composta de colonos.
A CIDADE
A CIDADE Leopoldina é rodeada de um amplo amphitheatro de morros e colunas que caprihosamente a emmolduram. Assenta-se a cidade ao pé da Serra dos Monos e é cortada por um braço do ribeirão Feijão Cru. Possue ruas largas, rectas e bem alinhadas, sendo algumas macadamizadas, e diversos largos. Quem vem pela Leopoldina avista, ao alto de um morro, o bello edificio da Casa de Caridade, que attesta o amor do povo com todos os que soffrem.
Na rua Octavio Ottoni se admira o bello prédio da Câmara Municipal, com seu gracioso jardim. De frente ao Parque Felix Martins, surge o sumptuoso e elegante edificio do Forum, onde funcionam tambem as principaes repartições publicas, tendo ao seu lado direito a Cadeia e o quartel da policia. E, entre os outros edificios, destacam-se o Gymnasio Leopoldinense”, o melhor estabelecimento da Zona; o Theatro Alencar, de propriedade municipal; o Grupo Escolar; a Distribuidora Electrica; o Matadouro Municipal e outros. Os largos principaes são denominados: Felix Martins, com o seu maravilhoso e rico parque municipal; o Largo do Rosário onde ergue-se, toda branca e solemne, a egreja homonyma; o Largo Visconde do Rio Branco, onde acha se collocado o "Gymnasio Leopoldinense; o Largo Prof. Angelo; e, emfim, o Largo General Osório, onde acha-se a estação da Leopoldina, o Hotel da Estação, a Agencia Bancaria e a "Zona da Matta", sociedade anonyma de pecúlios. Deste largo parte a maior artéria da cidade - Rua Cotegipe.
É nesta rua que residem as principaes casas commerciaes, o theatro, o edifício da "Gazeta de Leopoldina”, Distribuidora Eléctrica, etc. Há ainda as ruas "1.° de Março", "7 de Setembro", iradentes" e outras situadas no aprazível bairro da Grama. Publicam-se na cidade, diariamente, a "Gazeta de Leopoldina”, fundada pelo Dr. José Monteiro Ribeiro
Junqueira, no mez de abril de 1895; e, semanalmente, o "Novo Movimento". No districto de Recreio publica-se "O Verbo». Ha um ground de foot-ball, e um rink.
O numero de prédios eleva-se a 500, e, entre estes, elegantes palacetes e confortáveis vivendas, como as do dr. Custodio Junqueira, do dr. José M. Ribeiro Junqueira, do senador Andrade Botelho, do sr. Ignacio Werneck, dos Irmãos Codo e dos irmãos Berbari. A cidade é servida por magnifica rede de aguas e esgoto ha pouco ampliada e modificada pela Camara. A lluminação é electrica, fornecida pela Companhia Força e Luz Cataguazes-Leopoldina cuja installação é das melhores da zona.
Os districtos de Providencia, Santa Izabel e Recreio, e o povoado de S. Martinho, são também illuminados a electricidade. A mesma Companhia é ainda concessionária da rede telephonica da cidade, que dispõe de igual meio de communicação para todos os districtos e as cidades limitrophes
INSTRUCÇÃO PUBLICA
Leopoldina se pode considerar a Athenas da Zona da Matta. A instrucção publica, principal propulsor da civilisação d’um povo é aqui largamente administrada, como attestam os seus estabelecimentos de ensino e a grande frequencia dos seus alumnos. Em primeiro logar temos: O Gymnasio Leopoldinense, com Escola Normal, Escola de Pharmacia e de Odontologia (...).
O Grupo Escolar “Ribeiro Junqueira”, (Nota do LEOPOLDINENSE: Este Grupo Escolar “Ribeiro Junqueira” funcionava em um prédio na esquina de Rua Tiradentes com Rua 7 de Setembro, indo da esquina até em frente ao Clube Cotubas) funccionando em duas turmas e com 8 cadeiras. O turno da manhã é frequentado por meninos, e o da tarde por meninas. A matricula do corrente ano (1916) é de 482 alumnos, sendo 255 do sexo masculino e 225 do feminino, com a frequencia média annual é de 320 alumnos. É seu director o Prof. José Barroso Lintz. No Grupo existe uma Caixa Escolar, cujo presidente é o Dr. Custodio Junqueira, para o fornecimento de roupas e merendas aos alumnos pobres. Todos os districtos são providos de escolas estadoaes, sendo algumas mixtas, outras do sexo masculino e outras do feminino. Existem tambem diversas escolas particulares e ruraes.
COMPONENTES DA ACTUAL CAMARA MUNICIPAL
Presidente, Dr. Custodio Monteiro Ribeiro Junqueira; vice-presidente, Cel. Raul Cysneiro Corte Real; vereadores: Pedro Ribeiro Arantes, Dr. Francisco Baptista de Paula, Cel. José Maria Cardoso, Olivier Fajardo de Paiva Campos, Major Francisco Fajardo de Mello Campos, Misael Furtado de Souza, Francisco Ribeiro Guimarães Junior, José Pereira Jesus Filho, Dr. José Joaquim Monteiro Bastos e Americo de Souza Almada; official da Secretaria, Pacifico de Alvarenga Paixão; procurador, Olympio Ribeiro Junqueira.
NOTAS RELIGIOSAS (Nota do LEOPOLDINENSE: Trata-se da velha Matriz)
A Matriz é consagrada a S. Sebastião. É esse um templo magestoso e solemne que eleva-se, ostentando ao céu a sua symbolica cruz, sobre bella e romântica eminência que domina toda a cidade, tendo na frente gracioso e lindo jardim com largas alamedas que cruzam-se entre si, um caprichoso repuxo d'agua, e no centro uma grande Cruz, symbolo de paz e de amor. O interior desta Matriz é ricamente decorado tendo estatuas de alto valor. No altar-mór erguem-se as estatuas do Coração de Jesus e de N. S. das Dores. Os altares lateraes são consagrados a S. Geraldo e S. Rita de Cássia e de frente ao Baptistério vêse Nosso Senhor dos Passos. A Gruta de Lourdes é maravilhosamente bella; visitando-a a alma se esquece dos prazeres fugazes deste mundo e se eleva ao Céu, toda absorvida em Deus. (Nota do LEOPOLDINENSE: Essa Gruta de Lourdes se situava próxima ao local onde hoje está o antigo chafariz em forma de taça, ao lado da escada da Catedral)
Esta Egreja, Casa de Deus, fica sempre aberta, noite e dia, e nella se pratica a adoração perpetua; todo o anno ha bênçãos com cânticos e grande solemnidade, e, 3
vezes por dia, rosario com todos os mystérios. Esse templo, o mais bello desta região da Matta, é ricamente iluminado por 103 lâmpadas eléctricas de 100 e 50 velas. As associações religiosas são: Damas do S. Coração das Filhas de Maria, Apostolado da Oração, os Amigos de S. José, e Conferencia de S. Vicente de Paula. A média annual dos baptisados é de 220, casamentos 70 e communhões 30.000. A aula de Catecismo é requentada por 300 meninos.
Outro templo é a Egreja do Rosário, no largo homonymo. É esssa egreja um mimo de belleza e de arte, toda branca e sorridente de amor e de caridade. ((Nota do LEOPOLDINENSE: que pena que já não seja!)
As decorações, em branco e ouro, são admiráveis, como assim a sua alta torre, o altar-mór de N. S. do Rosário, tendo á direita o S. Coração de Jesus e á esquerda S. Cecília. Bellas também as estatuas de S. José e de S. Benedicto. É vigário da Parochia Monsenhor Júlio Fiorentini, tendo como coadjutor o Rvmo. Padre João Manoel Trocado.
GYMNASIO LEOPOLDINENSE
Este modelar instituto de ensino primário, agricola, normal, secundário e superior, que é ao mesmo tempo um dos mais bem organisados centros pedagógicos do Estado de Minas Geraes, foi fundado em 3 de Junho de 1906, na cidade de Leopoldina, pêlos eminentes mineiros deputado dr. Ribeiro Junqueira e dr. Custodio Junqueira, directores geraes do estabelecimento.
A direcção technica e administrativa do Gymnasio Leopoldinense está confiada, desde principios de 1910, ao professor José Botelho Reis, uma das mais decididas vocações pedagógicas que temos conhecido,servido de sólido preparo em humanidades e que versa brilhantemente todos os assumptos referentes á educação, á methodologia, á pedologia, em que se tem especializado.
O Gymnasio Leopoldinense não é unicamente uma conquista patriotica e civilizadora destinada a circumscrever-se ao meio que a viu surgir e triumphar. É antes um dos mais bellos expoentes do desenvolvimento e aperfeiçoamento da instrucção mineira em todos os seus departamentos, effectivando esse moderno ideal pedagógico – a integralização do ensino e quasi realizando o do ensino universitário, a que chegará pois não devemos duvidar da energia, da persistência de acção do patriotismo e da competência dos beneméritos directores geraes do grande instituto e do seu incansável e illustre director technico, auxiliado brilhantemente por uma plêiade, selecta e distincta, de educadores seguramente affeitos aos labores profissionaes e á causa da educação, que em Minas vai apaixonando todos os espíritos e interessando os nossos estadistas.
O "Gymnasio Leopoldinense" tem por fim:
a) proporcionar á mocidade a educação indispensável ao bom desempenho dos deveres
do homem e cidadão;
b) preparar alumnos para exame de matricula em todas as escolas superiores da Republica;
c) formar professores para o exercício do magistério primário no Estado de Minas Geraes;
d) ministrar instrucção pratica e theorica ás pessoas que se propuzerem a profissão de
pharmaceutico ou a de dentista;
e) proporcionar a meninos pobres e desvalidos educação profissional e agrícola.
O Gymnasio mantém os seguintes cursos: primário, que comprehende: jardlm da infância e ensino de adaptação; secundário, em cinco annos de estudos; normal, de pharmacia e odontologia, commercial e agrícola.
O curso de adaptação e jardim da infância estão modelarmente organisados. No de
adaptação preparam-se os aluirmos para os cursos normal, secundário e commercial.
Curso secundário - Este curso tem por fim preparar alumnos, de ambos os sexos, para exames de matricula em todas as escolas superiores da Republica, e está organisado de accordo com os dispositivos da ultima reforma do ensino, - decreto federal n. 11.530, de 18 de março de 1915.
São as seguintes as disciplinas estudadas nesse curso: Portuguez, Francez, Inglez, Allemão, Latim, Italiano, Geographia geral e Chorogaphia do Brasil, Historia geral e especialmente do Brasil, Arithmetica, Álgebra, Geometria, Tiigonomelria, Historia Natural, Physica, Chimica, Lógica e Psycologia, Gymnastica e Evoluções militares.
examinadoras de preparatórios, de sorte que poderâo prestar, no próprio estabelecimento, todos os preparatórios, validos para a matricula em qualquer academia superior do Paiz.
Escola Normal - A Escola Noimal do "Gymnasio Leopoldinense", com as regalias concedidas pelo Estado de Minas (dec. 1.942, de 6 de Setembro de 1906), sob a forma de externato, é frequentada exclusivamente por alumnas, ás quaes é ministrada a educação intellectual, moral, physica e profissional, necessária ao preparo de professores primários com as qualidades indispensáveis ao magistério.
Este curso consta de 4 annos e está organisado de accordo com o dec. n.4.524, de 21 de fevereiro de 1916, e está sob a fiscalização do governo estadoal.
Comprehende o ensino de portuguez, francez, arithmetica, geographia geral e chorograpbia do Brasil, noções de cosmographia, historia geral e principalmente do Brasil, elementos de physica. chimica, historia natural, hygiene, pedagogia, instrucção moral e cívica, musica e canto, desenho e calligraphia, economia domestica e trabalhos manuaes, principalmente costura, gymnastica e exercício de pratica profissional - todo o ensino é ministrado por methodos e processos pedagógicos que facilitem a assimilação e promovam o esenvolvimento de todas as faculdades intellectuaes. Funcciona em prédio separado e contíguo ao do "Gymnasio Leopoldinense".
Escola de Pharmacia e Odontologia - A Escola de Pharmacia e Odontologia do Gymnasio Leopoldinense" é uma instituição de ensino superior destinada a ministrar instrucção pratica e theorica ás pessoas, sem distincção de sexos, que se propuzerem a profissão de pharmaceutico ou a de dentista.
Os exames prestados perante o Gymnasio e os diplomas por elle conferidos são validos em todo o Paiz e dão direito ao exercício das profissões de Pharmaceutico e Cirurgião-Dentista em todo o território da Republica.
Tanto o curso pharmaceutico, feito em 3 annos, como o odontologico, em dois annos, comprehende o estudo das matérias constantes do decreto federal n. 11.530, de 18 de março de 1915, ao qual está integralmente adaptado.
À Escola de Pharmacia e Odontologia do "Gymnasio Leopoldinense'' foi concedida, pelo Conselho Superior do Ensino, a fiscalisação federal.
A par do ensino theorico, a Escola de Pharmacia e Odontologia do "Gymnasio leopoldinense" ministra um curso pratico, perfeito e completo, de modo que seus diplomados, ao terminarem o curso, possam logo exercer condigna e conscientemente as respectivas profissões.
Curso Commercial - Destinado ás pessoas que se propuzerem a carreira commercial, este curso comprehende, além das matérias ao mesmo necessárias e leccionadas no curso secundário, o ensino de escripturação mercantil, economia política e direito constitucional e commercial.
Aprendizado Agrícola - O Aprendizado Agrícola do Gymnasio Leopoldinense, fundado e mantido pelo "Gymnasio Leopoldinense, tem por fim formar trabalhadores aptos para os diversos serviços da lavoura, de accordo com as modernas praticas agronómicas.
Funcciona sob a forma de internato e nelle estão recolhidos filhos de operários agrícolas e de pequenos lavradores, e de preferencia, os menores desprovidos de assistência natural, que recebem instrucção primaria e ensino primário agrícola, bem como educação physica, moral, cívica e intellectual.
O ensino agrícola tem um cunho pratico, completando-se por noções theoricas elementares, ministradas durante os trabalhos a que ellas se referirem, como meio de esclarecer e guiar os alumnos para execução dos differentes serviços.
O Aprendizado Agrícola do Gymnasio Leopoldinense é localisado em uma propriedade rural distante 2,5 kilometros da cidade de Leopoldina.
A administração geral do Aprendizado pertence á do "Gymnasio Leopoldinense", que mantém á sua frente um profissional competente, auxiliado por professores e mestres de culturas e oficinas.
Este curso é grátis, e todas as despezas dos alumnos são custeadas pelo Gymnasio.
O "Gymnasio Leopoldinense" funcciona em prédios próprios, os melhores da cidade de Leopoldina, reunindo todas as condicçôes de hygiene e conforto, sendo servidos por irreprehensivel rede de agua e esgotto e illuminados fartamente, a luz eléctrica.
O mobiliário e material escolar são de primeira ordem e de accordo com as exigências da pedagogia moderna.
O professorado é de reconhecida competência, com grande tirocínio do magistério, dispondo, para o ensino das sciencias e linguas, de todo o material necessário, como sejam - mappas, quadros, amostras, modelos, gabinete de physica, laboratório de chimica, museu de historia natural, laboratório de pharmacologia. bromatologia, microbiologia, chimica
analytica, gabinete odontologico, oficina de prothese, pavilhão de anatomia, toxicologia, etc.
A alimentação é sadia e abundante e tomada conjunctamente com todo o pessoal administrativo. O Gymnasio mantém um medico para inspecções medicas dos alumnos internos.
O "Gymnasio Leopoldinense: foi equiparado ao Gymnasio Nacional pelo dec. federal n. 7.193, de 29 de novembro de 1900, e ás Escolas Normaes do Estado de Minas Geraes, pelo decreto estadoal 1.9-12, de 6 de setembro de 1906.
O Conselho Superior do Ensino concedeu fiscalização á Escola de Pharmacia e odontologia, fundada em 17 de janeiro de 1912, em sua sessão de 31 de julho de 1916.
“ZONA DA MATTA” (Nota do LEOPOLDINENSE: trata-se de uma companhia construtora)
A companhia “Zonna da Matta” foi fundada a 31 de julho de 1911, pelos srs. Dr. José Monteiro Ribeiro Junqueira, dr. Francisco de Andrade Botelho, dr. José Tavares de Lacerda, dr. Gabriel Monteiro Ribeiro Junqueira, dr. J. J. Rodrigues dos Santos, dr. Aristides Sica, dr. Elpidio de Lacerda Werneck, d. Abel Tavares de Lacerda, dr. Francisco Baptista de Paula, dr. Custodio Monteiro Ribeiro Junqueira, Raul Cysneito Côrte Real, Alberto de Castro Lacerda, Marco Aurelio Aurelio Monteiro Monteiro de Barros, Roque Domingues de Araújo, José Botelho Reis, José Ribeiro Junqueira, António de Andrade Ribeiro, Joaquim Candido Ribeiro, Antonio Monteiro Ribeiro Junqueira, Olympio Ribeiro Junqueira, Domingos Ribeiro e Emílio Hirsch.
Extraordinário é o desenvolvimento que tem tido a companhia. Fundando uma sucursal na Capital, entregou-a á segura direcção do sr. dr. Leon Roussoulières, o qual, auxiliado pelo sr. dr. Antonio de Andrade Botelho, deu-lhe o maior incremento possivel, sobretudo na parte referente a construcções. A "Zona da Matta" até o anno de 1913, em dois annos apenas, entregou já a seus associados, 35 casas tendo ainda para cima de 70 em construcção, concorrendo assim poderosamente para o constante progresso da Capital.
A "Zona da Matta" concluiu também construcções em Cataguazes, em Rio Branco e S. João Nepomuceno. (...)
Nos baixos do edifício da "Zona da Matta", em Leopoldina funcciona a Agencia Bancaria, dos srs. Ribeiro Junqueira, Irmão & Botelho, creada em 1912, sendo relevantes os auxílios que vem prestando ás industrias, á lavoura e ao commercio, em geral.
COMPANHIA LEITERIA LEOPOLDINENSE (Nota do LEOPOLDINENSE: possível precursora da atual LAC)
Duas são as installações da Leiteria Leopoldinense: uma na estação de Santa Izabel, dotada de camara frigorifica, destinada á congelação e exportação de leite e gelo, inaugurada em 1910; outra, na cidade de Leopoldina, com vasta camara frigorifica e apparelhos completos para a fabricação de manteiga, queijo, gelo e latas, inaugurada, em 1911.
Ambas as installações foram feitas pela casa Arens & C., acham-se em prédios construídos especialmente paia esse fim, e importaram em 240:000$000.
A Leiteria mantém um deposito no Rio, á rua da Quitanda n. 63, tendo ainda desnatadeiras em vários pontos do município.
Grande foi o incremento que, no município, deu á industria pastoril a creação da Leiteria Leopoldinense. Basta observar que, por occasião de sua inauguração, a Companhia, em ambos os estabelecimentos, recebia 8.000 litros de leite, diariamente.
É Director-Presidente da Companhia Leiteria Leopoldinense o sr. Antonio Monteiro Ribeiro Junqueira e Director-Thezoureiro o sr, Antonio de Andrade Ribeiro.
Aos esforços desses dous cavalheiros deve, em grande parte, a Leiteria Leopoldinense, o seu florescimento, que cada vez mais se accentúa.”
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Com supressão de algumas citações de menor relevância o texto acima foi extraído por Nilza Cantoni de: CAPRI, Roberto. Minas Gerais e seus Municípios. s.l., s.n.; 1916 p. 237-262)
(Publicado no jornal LEOPOLDINENSE de 30 de abril de 2008)
domingo, 11 de julho de 2010
Freud ou Palhares
***
Janeiro, 2007
Dizer, no Brasil, que escorregões éticos acontecem às melhores pessoas deve soar como música aos ouvidos de muita gente. Nos corredores do Congresso Nacional, por exemplo, serão acordes de Wagner. Mas o assunto é outro.
- Você imaginaria o Pai da Psicanálise, Sigmund Freud, cometendo deslizes éticos ou morais?
É o que – segundo os jornais – parece revelar uma página amarelada em livro de registro de hotel, encontrado na Suíça.
Antecipando em pelo menos cinco décadas o personagem célebre do teatrólogo Nelson Rodrigues, o canalha Palhares - protótipo do mau caráter “que não respeitava nem as cunhadas” - Freud, ao que tudo indica, teve um caso amoroso com Minna Bernays, irmã mais nova de sua mulher Martha.
Em verdade, os estudiosos da biografia de Freud jamais desconsideraram alguma coisa entre ambos. Em 1907, por exemplo, ano em que publicou “Desilusões e Sonhos em W. Jensen Gradive”, Freud viajou com Minna Bernays a Florença e Roma. Minna, além de cunhada, era também sua companheira intelectual, tradutora e secretária. Costumavam passar férias juntos, nos Alpes, com acordo tácito de Martha, a mulher de Freud.
Segundo pesquisadores, Minna chegou a confessar a Jung que tinha encontros íntimos com Sigmund, podendo ser este, aliás, um dos motivos para o rompimento que ocorreu entre os dois psicanalistas. Jung seria um pouco mais conservador.
Faltava, entretanto, a prova definitiva do romance. Recentemente, foi ter às mãos do sociólogo alemão, Franz Maciejewski, evidência de que aos 13 de agosto de 1898, durante viagem de férias de duas semanas nos Alpes Suíços, Freud, na época com 42 anos e Minna com 33, ocuparam o quarto número 11 do hotel Schwezerhaus, registrando-se como um casal de fato.
Freud assinou o livro como de praxe: “Dr. Sigm Freud u frau”, abreviação que, em alemão, equivale a: “Dr. Sigmund Freud e esposa”. Martha, a esposa, sabia da viagem com Minna porque, na mesma data do registro no hotel, Freud remeteu cartão postal à mulher descrevendo montanhas e lagos por eles visitados.
Conclui então Maciejewski, que “por qualquer critério razoável de prova que se use, Sigmund Freud e Minna Bernays, irmã de sua mulher, tiveram um caso”.
Sigmund Freud (Sigismund Schlomo Freud), nasceu a 6 de maio de 1856 em Freiberg, Moravia, no império austro-húngaro (hoje Pribor, na República Tcheca). Faleceu em 1939. Era filho de Jacob Freud, comerciante judeu e de sua jovem segunda esposa Amália Nathanson. Seus irmãos do primeiro casamento do pai com Sally Kanner, falecida em 1852, eram cerca de vinte anos mais velhos que ele.
Aos nove anos Freud, na escola, revelou aproveitamento acima da média. Cursou a Universidade de Viena a partir de 1873. Sua primeira opção foi filosofia, decidindo-se depois pela medicina. Especializou-se em fisiologia nervosa, área onde a prática diária atenderia melhor suas preocupações com a natureza humana. Formou-se em medicina em 1881 e, no verão de 1882, ficou noivo de Martha.
Trabalhou no Laboratório de Zoologia Marinha de Trieste, onde estudou os órgãos sexuais das enguias. Atribui-se a este tema, escolhido para sua primeira pesquisa, como importante sinal da fixação sexual que ele haveria de "sublimar" − um termo seu – na futura criação da Psicanálise.
Formado em medicina e especializado em tratamentos para doentes mentais, criou uma nova teoria: doentes mentais eram pessoas que não externavam seus sentimentos. Para Freud, tais indivíduos se fechavam de tal maneira com seus sentimentos, que, após algum tempo, esqueciam-se da própria existência.
Passou a tratar esses pacientes através da interpretação dos sonhos e do método da associação livre. Neste último, o doente era convidado a falar o que lhe viesse à cabeça. Daí Freud garimpava os sentimentos “reprimidos", ou seja, aqueles sentimentos que as pessoas guardavam somente para si. Uma vez desvendados, ele as estimulava a colocá-los para fora.
Deixou Freud substanciosa literatura técnica: Psicologia da Vida Cotidiana, Totem e Tabu, A Interpretação dos Sonhos, O Ego e o Id, etc. Nesses livros, o “Pai da Psicanálise” (assim conhecido por ter inventado o termo “psicanálise”, para seu método de tratar doenças mentais) responsabilizava a repressão social da época, que não permitia a satisfação de certos sentimentos por considerá-los errados do ponto de vista social e religioso. O sexo seria o mais importante dos sentimentos reprimidos.
Como não podia deixar de ser, houve escândalo na sociedade mas demorou pouco para que outros psicólogos aderissem às idéias de Freud. Dentre eles, Jung, Reich e Rank.
Com a bombástica revelação de Franz Maciejewski, o articulista Ralph Blumenthal, do New York Times, prevê o recrudecimento do antigo debate sobre a vida íntima de Freud. O grande psicanalista, que examinou em profundidade os mais obscuros impulsos sexuais e segredos da psique humana, poderá estar agora no centro de um debate sobre o quanto teria sido ele próprio “escrupuloso” em seu comportamento pessoal...
A seu prol, Freud poderia opor que escrúpulo também reprime. Ou não reprime?
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicada no LEOPOLDINENSE de 16.01.2007 - Comentário a matéria jornalística de dezembro de 2006)
Janeiro, 2007
Dizer, no Brasil, que escorregões éticos acontecem às melhores pessoas deve soar como música aos ouvidos de muita gente. Nos corredores do Congresso Nacional, por exemplo, serão acordes de Wagner. Mas o assunto é outro.
- Você imaginaria o Pai da Psicanálise, Sigmund Freud, cometendo deslizes éticos ou morais?
É o que – segundo os jornais – parece revelar uma página amarelada em livro de registro de hotel, encontrado na Suíça.
Antecipando em pelo menos cinco décadas o personagem célebre do teatrólogo Nelson Rodrigues, o canalha Palhares - protótipo do mau caráter “que não respeitava nem as cunhadas” - Freud, ao que tudo indica, teve um caso amoroso com Minna Bernays, irmã mais nova de sua mulher Martha.
Em verdade, os estudiosos da biografia de Freud jamais desconsideraram alguma coisa entre ambos. Em 1907, por exemplo, ano em que publicou “Desilusões e Sonhos em W. Jensen Gradive”, Freud viajou com Minna Bernays a Florença e Roma. Minna, além de cunhada, era também sua companheira intelectual, tradutora e secretária. Costumavam passar férias juntos, nos Alpes, com acordo tácito de Martha, a mulher de Freud.
Segundo pesquisadores, Minna chegou a confessar a Jung que tinha encontros íntimos com Sigmund, podendo ser este, aliás, um dos motivos para o rompimento que ocorreu entre os dois psicanalistas. Jung seria um pouco mais conservador.
Faltava, entretanto, a prova definitiva do romance. Recentemente, foi ter às mãos do sociólogo alemão, Franz Maciejewski, evidência de que aos 13 de agosto de 1898, durante viagem de férias de duas semanas nos Alpes Suíços, Freud, na época com 42 anos e Minna com 33, ocuparam o quarto número 11 do hotel Schwezerhaus, registrando-se como um casal de fato.
Freud assinou o livro como de praxe: “Dr. Sigm Freud u frau”, abreviação que, em alemão, equivale a: “Dr. Sigmund Freud e esposa”. Martha, a esposa, sabia da viagem com Minna porque, na mesma data do registro no hotel, Freud remeteu cartão postal à mulher descrevendo montanhas e lagos por eles visitados.
Conclui então Maciejewski, que “por qualquer critério razoável de prova que se use, Sigmund Freud e Minna Bernays, irmã de sua mulher, tiveram um caso”.
Sigmund Freud (Sigismund Schlomo Freud), nasceu a 6 de maio de 1856 em Freiberg, Moravia, no império austro-húngaro (hoje Pribor, na República Tcheca). Faleceu em 1939. Era filho de Jacob Freud, comerciante judeu e de sua jovem segunda esposa Amália Nathanson. Seus irmãos do primeiro casamento do pai com Sally Kanner, falecida em 1852, eram cerca de vinte anos mais velhos que ele.
Aos nove anos Freud, na escola, revelou aproveitamento acima da média. Cursou a Universidade de Viena a partir de 1873. Sua primeira opção foi filosofia, decidindo-se depois pela medicina. Especializou-se em fisiologia nervosa, área onde a prática diária atenderia melhor suas preocupações com a natureza humana. Formou-se em medicina em 1881 e, no verão de 1882, ficou noivo de Martha.
Trabalhou no Laboratório de Zoologia Marinha de Trieste, onde estudou os órgãos sexuais das enguias. Atribui-se a este tema, escolhido para sua primeira pesquisa, como importante sinal da fixação sexual que ele haveria de "sublimar" − um termo seu – na futura criação da Psicanálise.
Formado em medicina e especializado em tratamentos para doentes mentais, criou uma nova teoria: doentes mentais eram pessoas que não externavam seus sentimentos. Para Freud, tais indivíduos se fechavam de tal maneira com seus sentimentos, que, após algum tempo, esqueciam-se da própria existência.
Passou a tratar esses pacientes através da interpretação dos sonhos e do método da associação livre. Neste último, o doente era convidado a falar o que lhe viesse à cabeça. Daí Freud garimpava os sentimentos “reprimidos", ou seja, aqueles sentimentos que as pessoas guardavam somente para si. Uma vez desvendados, ele as estimulava a colocá-los para fora.
Deixou Freud substanciosa literatura técnica: Psicologia da Vida Cotidiana, Totem e Tabu, A Interpretação dos Sonhos, O Ego e o Id, etc. Nesses livros, o “Pai da Psicanálise” (assim conhecido por ter inventado o termo “psicanálise”, para seu método de tratar doenças mentais) responsabilizava a repressão social da época, que não permitia a satisfação de certos sentimentos por considerá-los errados do ponto de vista social e religioso. O sexo seria o mais importante dos sentimentos reprimidos.
Como não podia deixar de ser, houve escândalo na sociedade mas demorou pouco para que outros psicólogos aderissem às idéias de Freud. Dentre eles, Jung, Reich e Rank.
Com a bombástica revelação de Franz Maciejewski, o articulista Ralph Blumenthal, do New York Times, prevê o recrudecimento do antigo debate sobre a vida íntima de Freud. O grande psicanalista, que examinou em profundidade os mais obscuros impulsos sexuais e segredos da psique humana, poderá estar agora no centro de um debate sobre o quanto teria sido ele próprio “escrupuloso” em seu comportamento pessoal...
A seu prol, Freud poderia opor que escrúpulo também reprime. Ou não reprime?
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(Publicada no LEOPOLDINENSE de 16.01.2007 - Comentário a matéria jornalística de dezembro de 2006)
sexta-feira, 9 de julho de 2010
A Paquera do Cordeiro
***
Julho, 2010
Sabe-se que aparência frívola, leviana, pode abrigar uma alma que é apenas ingênua. Isto me lembra o Cordeiro, talvez o mais típico dos cariocas que conheci. Aprontava demais, mas sempre de bem com a vida. Por causa dele aqui está, hoje, mais uma história ambientada no Rio de Janeiro.
(Publicada em 08.07.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
Julho, 2010
Sabe-se que aparência frívola, leviana, pode abrigar uma alma que é apenas ingênua. Isto me lembra o Cordeiro, talvez o mais típico dos cariocas que conheci. Aprontava demais, mas sempre de bem com a vida. Por causa dele aqui está, hoje, mais uma história ambientada no Rio de Janeiro.
Cordeiro era habitué do
vôlei de duplas na praia de Ipanema. Só nos encontrávamos em fins de semana esporádicos,
quando fazia sol. Possível beneficiário de aposentadoria prematura, constava
ser solteirão e morar num apartamento pequeno ali pelas proximidades de Ipanema
com o Posto 6. Passava dos cinquenta anos, era baixo, bem feinho, cabelos e
bigode pintados. Tinha o rosto inexpressivo de um retrato falado. Apesar disto,
afoito com mulheres. Dá pra entender?
Não lhe negaria o rótulo de “boa
pessoa”, apesar dos hábitos que faziam dele uma companhia um tanto cansativa:
como jogador de vôlei, reclamava muito; como frequentador da praia azarava
mulher o tempo todo. Bota inconveniência nisto. Vez ou outra rendia uma
história.
Certa manhã, os saques do
Cordeiro começaram a ficar na rede. Percebemos que a atenção dele estava ligada
numa garota linda, com idade para ser sua filha. Contemplava a moça e
sussurrava chatíssimo: “Estou no céu, me belisca, ela sorriu pra mim...”
Mestre na arte de dispensar
apresentações, logo, logo, estava lá o bicão, agachado na areia ao lado da
menina. Soubemos que a conversa rendeu. Cordeiro foi convidado para ouvir
música no apartamento dela. Aquilo – confessou ele, realista – “me pareceu
cereja demais no meu coquetel, mas um homem na minha idade acredita em tudo...”
Dizendo-se vidrada em Michael
Jackson, a mocinha sugeriu que ele a presenteasse com o álbum “Thriller”, que
explodia nas paradas mundiais da época. Se conseguisse comprar o disco,
“poderia até visitá-la amanhã mesmo, domingo, às 15 horas...”
– Meu prédio – explicou ela – é
o de tijolinhos cor de cerâmica na portaria, bem no início da Rua Madre Euzébia,
no Leblon.
Corte rápido para lá. No
domingo, pouco antes da hora combinada, na porta do prédio, um lobo na pele do
Cordeiro ponderava sua caça. Que, pontualíssima, logo apareceu ao predador
pedalando sua bike, em traje de malhação. Delicada e afável aplicou dois
beijinhos nas faces do garboso meia-idade e, com um sorriso bom, abriu o
envelope que abrigava o precioso LP.
-Humm! Lindo! Este mesmo, valeu!
Obrigada. Vamos subir.
Com um braço dado ao Cordeiro e
o outro empurrando a bicicleta, conduziu o “convidado” pela galeria de acesso ao
elevador e ordenou:
-Suba na frente. O apartamento é
o 801, a porta está apenas encostada. Entre e espere um pouco. Rapidinho eu
guardo a bike na garagem e subo.
Já no elevador um pequeno transtorno:
não havia tecla para marcar oitavo andar... O Cordeiro tremeu nas pernas, mas
exorcizou pensamentos negativos.
-Bobagem, o que mais tem no
mundo é prédio em que o elevador não vai ao último andar. Certamente que, do
sétimo ao oitavo, a subida é pela escada.
Apertou o “sete” e chegou lá.
Cadê escada pro oitavo andar? Não tinha!
– Será que a menina se enganou
com o número do próprio apartamento? – quis acreditar. Ela disse 801... Posso
não ter ouvido bem. Vai ver é o 701, o 601, o 501...
Desceu a pé conferindo os
apartamentos “01” de todos os andares. Nenhuma porta “apenas encostada”.
Desiludido, chegou ao hall de entrada e
viu que a galeria dava passagem para a outra rua...
– Exatamente por onde a
danadinha se escafedeu – concluiu desolado.
Foi o dia da caça. O caçador que
se virasse com os momentos de esperança malandra que certamente viveu. De
preferência conformado, porque a esperança é assim mesmo. Até as mais honestas
e legítimas às vezes trapaceiam.
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicada em 08.07.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
domingo, 4 de julho de 2010
Fotografia na Parede
***
Temos conversado com pessoas que, nos últimos anos, vieram ou voltaram a fixar residência em Leopoldina. A impressão é de que elas andam um tanto céticas quando aos rumos das coisas por aqui. Há quem diga que Leopoldina caminha para o pior. Alguns não escondem a impressão de que estejamos em marcha batida para a realidade periférica dos grandes centros, onde marginais dão as cartas.
-Será que chegaremos aos donos de pedaços, chefes de poderes paralelos a ocupar espaços fora de controle das autoridades constituídas?
Pode parecer exagero. Mas o fato é que nas últimas semanas tivemos pelo menos três assaltos à mão armada em ruas leopoldinenses, até então consideradas tranqüilas. Em todas as ações delituosas facínoras armados, à noite, renderam famílias dentro de suas residências e, com ameaças e prática de violência, levaram tudo o que quiseram levar.
Sabe-se que a polícia não tem como aumentar, no momento, o número de policiais em Leopoldina. Consta, até, informação de que se veria com bons olhos algum pleito junto ao Secretário de Defesa para contratação de carcereiros, para possibilitar a liberação de uns dez policiais militares para o policiamento ostensivo.
O jornal LEOPOLDINENSE registrou, inclusive, opinião de importante autoridade local no sentido da conveniência de conscientização da juventude para os atrativos da carreira policial.
Mas vejam que, enquanto a polícia clama por homens nas ruas, o executivo municipal de Leopoldina, há uns três anos, enviou à Câmara de Vereadores lei para regulamentação, criando a Guarda Municipal. É projeto que encerra oportunidades de empregos formais e coloca nas ruas policiamento ostensivo que, no mínimo, cumpriria missão dissuasiva. Claro que não é uma má idéia.
- Mas cadê a lei?
A ninguém interessa adiar indefinidamente a assunção, pelo poder público municipal, da responsabilidade de participar da segurança de nossas ruas, de participar da segurança da família leopoldinense. A cidade precisa de polícia. De preferência polícia equipada com recursos um pouco além de cassetete e três-oitão. Porque, arma por arma, o bandido também tem. A marginalidade de hoje, instruída e glamourizada pela TV, demanda enfrentamento com instrumentos de inteligência.
Pelo que se ouve nas esquinas, dezenas de pessoas, só nas últimas semanas, receberam telefonemas anônimos na tentativa – algumas, consumadas – de extorsão de dinheiro mediante ameaça de seqüestro.
Sabe-se, historicamente, que esse tipo de coisa caminha invariavelmente para um ponto de ruptura. A sociedade tem limites de tolerância.
Há duas ou três semanas uma senhora do Rio de Janeiro, ante o anúncio de assalto, simplesmente sacou de sua bolsa uma arma e liquidou o bandido. Foi alvo de homenagem pelo Poder Legislativo...
Nossa Leopoldina, dos últimos tempos, vem se transformando em pólo de atração de aposentados de centros maiores, que buscam aqui vida mais tranqüila e saudável. Mesmo sem estatísticas quantificadoras, é razoável supor que essas pessoas representem hoje benefícios de grande vulto para a economia da cidade. Não nos surpreenderia se ficasse provado que os aposentados de Leopoldina carreiam para a cidade divisas superiores à contrapartida dos caminhões de leite e derivados que saem todas as manhãs da nossa magnífica Cooperativa LAC.
Mas temos que pensar numa coisa: a insegurança pode reverter esse fluxo e, até, mandar de volta às origens os que aqui estão. É sabido que nas capitais a insegurança continua enorme. Lá, entretanto, as pessoas têm a vantagem do anonimato. Elas contam com a opção de se esconder em condomínios fechados, na maioria das vezes só deixando suas casas com destino aos estacionamentos subterrâneos e controlados dos grandes shoppings.
Sem esquecer que, ao optar pelo interior, o aposentado pagou um preço bem alto pela mudança de vida. Perdeu ambiente social construído há longos anos, em muitos casos perdeu a praia, os clubes sociais, relacionamentos antigos, ambiente cultural e oportunidades mais amplas de até partir para uma nova ocupação. Tudo em nome de uma paz e de uma tranqüilidade que estão se esvaindo.
Vamos por mãos à obra. Tanto quanto Itabira que um dia virou fotografia na parede do poeta Drummond de Andrade, Leopoldina poderá vir a tornar-se, para esses seus cidadãos adotivos, um anúncio de Hotel Ritz no paredão das lembranças.
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicada no LEOPOLDINENSE de novembro de 2006)
Temos conversado com pessoas que, nos últimos anos, vieram ou voltaram a fixar residência em Leopoldina. A impressão é de que elas andam um tanto céticas quando aos rumos das coisas por aqui. Há quem diga que Leopoldina caminha para o pior. Alguns não escondem a impressão de que estejamos em marcha batida para a realidade periférica dos grandes centros, onde marginais dão as cartas.
-Será que chegaremos aos donos de pedaços, chefes de poderes paralelos a ocupar espaços fora de controle das autoridades constituídas?
Pode parecer exagero. Mas o fato é que nas últimas semanas tivemos pelo menos três assaltos à mão armada em ruas leopoldinenses, até então consideradas tranqüilas. Em todas as ações delituosas facínoras armados, à noite, renderam famílias dentro de suas residências e, com ameaças e prática de violência, levaram tudo o que quiseram levar.
Sabe-se que a polícia não tem como aumentar, no momento, o número de policiais em Leopoldina. Consta, até, informação de que se veria com bons olhos algum pleito junto ao Secretário de Defesa para contratação de carcereiros, para possibilitar a liberação de uns dez policiais militares para o policiamento ostensivo.
O jornal LEOPOLDINENSE registrou, inclusive, opinião de importante autoridade local no sentido da conveniência de conscientização da juventude para os atrativos da carreira policial.
Mas vejam que, enquanto a polícia clama por homens nas ruas, o executivo municipal de Leopoldina, há uns três anos, enviou à Câmara de Vereadores lei para regulamentação, criando a Guarda Municipal. É projeto que encerra oportunidades de empregos formais e coloca nas ruas policiamento ostensivo que, no mínimo, cumpriria missão dissuasiva. Claro que não é uma má idéia.
- Mas cadê a lei?
A ninguém interessa adiar indefinidamente a assunção, pelo poder público municipal, da responsabilidade de participar da segurança de nossas ruas, de participar da segurança da família leopoldinense. A cidade precisa de polícia. De preferência polícia equipada com recursos um pouco além de cassetete e três-oitão. Porque, arma por arma, o bandido também tem. A marginalidade de hoje, instruída e glamourizada pela TV, demanda enfrentamento com instrumentos de inteligência.
Pelo que se ouve nas esquinas, dezenas de pessoas, só nas últimas semanas, receberam telefonemas anônimos na tentativa – algumas, consumadas – de extorsão de dinheiro mediante ameaça de seqüestro.
Sabe-se, historicamente, que esse tipo de coisa caminha invariavelmente para um ponto de ruptura. A sociedade tem limites de tolerância.
Há duas ou três semanas uma senhora do Rio de Janeiro, ante o anúncio de assalto, simplesmente sacou de sua bolsa uma arma e liquidou o bandido. Foi alvo de homenagem pelo Poder Legislativo...
Nossa Leopoldina, dos últimos tempos, vem se transformando em pólo de atração de aposentados de centros maiores, que buscam aqui vida mais tranqüila e saudável. Mesmo sem estatísticas quantificadoras, é razoável supor que essas pessoas representem hoje benefícios de grande vulto para a economia da cidade. Não nos surpreenderia se ficasse provado que os aposentados de Leopoldina carreiam para a cidade divisas superiores à contrapartida dos caminhões de leite e derivados que saem todas as manhãs da nossa magnífica Cooperativa LAC.
Mas temos que pensar numa coisa: a insegurança pode reverter esse fluxo e, até, mandar de volta às origens os que aqui estão. É sabido que nas capitais a insegurança continua enorme. Lá, entretanto, as pessoas têm a vantagem do anonimato. Elas contam com a opção de se esconder em condomínios fechados, na maioria das vezes só deixando suas casas com destino aos estacionamentos subterrâneos e controlados dos grandes shoppings.
Sem esquecer que, ao optar pelo interior, o aposentado pagou um preço bem alto pela mudança de vida. Perdeu ambiente social construído há longos anos, em muitos casos perdeu a praia, os clubes sociais, relacionamentos antigos, ambiente cultural e oportunidades mais amplas de até partir para uma nova ocupação. Tudo em nome de uma paz e de uma tranqüilidade que estão se esvaindo.
Vamos por mãos à obra. Tanto quanto Itabira que um dia virou fotografia na parede do poeta Drummond de Andrade, Leopoldina poderá vir a tornar-se, para esses seus cidadãos adotivos, um anúncio de Hotel Ritz no paredão das lembranças.
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(Publicada no LEOPOLDINENSE de novembro de 2006)
sábado, 3 de julho de 2010
GLN Dois Anos
***
Agosto, 2005
Neste agosto de 2005 nosso Jornal completa dois anos de existência. Dois anos de bons serviços à comunidade, trazendo a notícia, promovendo o debate de assuntos do interesse geral, estendendo pontes, avivando a história, aproximando pessoas. Já se iam quase cinqüenta anos, Leopoldina não contava com um noticioso que mantivesse alguma regularidade, ainda que mensal.
Pois a folha do Grupo LEOPOLDINENSE de Notícias fixou-se, heroicamente, em regularidade quinzenal. Todo dia 15 e todo dia 30, vimos contando com a chegada certa, religiosa, deste periódico sob a porta. O mesmo que, nas bancas da cidade, também é o mais procurado.
Não pensem ser fácil chegar a isto. É dificílimo! Elaboração de matérias, diagramação, impressão, distribuição, tudo demanda mão de obra diferenciada, demanda tempo e dinheiro. Dinheiro duro de se mobilizar numa cidade como a nossa, praticamente sem indústrias e de comércio pouco exuberante.
Mas o Luiz Otávio faz das tripas coração e o LEOPOLDINENSE, com o apoio de amigos, vai se equilibrando. Sem falar daqueles, pelo qual o zelo é especial: suas excelências, os assinantes. São centenas, dentro e fora de Leopoldina.
Jornal se mede pela qualidade e pela quantidade dos leitores, por isto - informa o Luiz Otávio - no LEOPOLDINENSE, o valor da assinatura anual visa praticamente repor custos, ou seja, R$30,00 para Leopoldina e R$40,00 para fora do município. Como brinde, cada assinatura ou renovação, dá direito a um anúncio em edição posterior.
Mas problemas existem. Contra este jornal tem feito diferença o fato de seu proprietário não ser um “Coronel” do lugar. É que neste Brasil de interiores profundos, independente da distância aérea para o litoral, só os ditos “Coronéis” controlam pacificamente meios de comunicação como rádios, TVs e jornais. Ai da pessoa pobre, como o Luiz Otávio, que se meta a lidar com notícia! Notícia forma opinião, e isto põe em risco o establishment, gerando reações desastradas.
Imaginem vocês que Leopoldina possui uma emissora de Rádio há quase 100 anos; a circulação de pequenos jornais pela cidade, excede a um século; e tivemos, por algum tempo, uma repetidora de TV. Coincidentemente, todos esses órgãos são (ou foram) mantidos por pessoas ditas abastadas, detentoras de poder político.
Agora pasmem: ninguém por aqui, nesse “um século”, jamais ouviu falar de qualquer Processo Judicial contra donos desses veículos de comunicação. E olha que radialistas não perdoam: como em qualquer lugar do Brasil, programa popular em rádio é do tipo “macaco em vidraçaria”. Bota pra quebrar! Mas se a rádio é de um “poderoso”, cadê coragem no “ofendido” para processar o dono? Diante do “Coronel” as pessoas se encolhem, ficam inseguras ou, como se dizia antigamente, “reconhecem o seu lugar”.
Já com este jornal foi diferente. O primeiro número, em agosto de 2003, rendeu logo uns quatro processos judiciais contra o Luiz Otávio. Nas semanas que se seguiram, mais processos, e mais processos e, hoje, não são menos de dez as ações distribuídas contra o Jornal e seu titular. E se ficou apenas em dez ações – diz o Luiz – foi porque a justiça, em primeira instância, começou a dar ganho de causa ao Jornal.
Tudo porque Luiz Otávio é um lutador, um humilde profissional de jornal do interior. Ninguém tem medo dele, entende! Diante dos pequenos o bastão dos vilões ficam arrogantes. Fazer o quê? São resquícios coloniais, felizmente em extinção.
Felizmente para nós, nem tanto para a literatura. Nossos Jorge Amados e Dias Gomes do futuro não terão “Coronéis Ramiros” e “Odoricos Paraguassus” para delícia de suas novelas.
Mas o meu escasso entusiasmo pelo teclado, ultimamente, não me trouxe aqui para aborrecer ou ficar aborrecido. Vim só dar parabéns ao Luiz Otávio por esses dois anos de vida do Jornal, pelos dois anos de serviços relevantes a Leopoldina.
O grande Mahatma falava de luzes de purificação no fogo do sofrimento. Jornal tem a vantagem de não sofrer calado. Pode-se acender um toquinho de esperança e comemorar: “Parabéns pra você, nesta data sofrida”...
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicada no primeiro número do LEOPOLDINENSE, em 15 de agosto de 2005)
Agosto, 2005
Neste agosto de 2005 nosso Jornal completa dois anos de existência. Dois anos de bons serviços à comunidade, trazendo a notícia, promovendo o debate de assuntos do interesse geral, estendendo pontes, avivando a história, aproximando pessoas. Já se iam quase cinqüenta anos, Leopoldina não contava com um noticioso que mantivesse alguma regularidade, ainda que mensal.
Pois a folha do Grupo LEOPOLDINENSE de Notícias fixou-se, heroicamente, em regularidade quinzenal. Todo dia 15 e todo dia 30, vimos contando com a chegada certa, religiosa, deste periódico sob a porta. O mesmo que, nas bancas da cidade, também é o mais procurado.
Não pensem ser fácil chegar a isto. É dificílimo! Elaboração de matérias, diagramação, impressão, distribuição, tudo demanda mão de obra diferenciada, demanda tempo e dinheiro. Dinheiro duro de se mobilizar numa cidade como a nossa, praticamente sem indústrias e de comércio pouco exuberante.
Mas o Luiz Otávio faz das tripas coração e o LEOPOLDINENSE, com o apoio de amigos, vai se equilibrando. Sem falar daqueles, pelo qual o zelo é especial: suas excelências, os assinantes. São centenas, dentro e fora de Leopoldina.
Jornal se mede pela qualidade e pela quantidade dos leitores, por isto - informa o Luiz Otávio - no LEOPOLDINENSE, o valor da assinatura anual visa praticamente repor custos, ou seja, R$30,00 para Leopoldina e R$40,00 para fora do município. Como brinde, cada assinatura ou renovação, dá direito a um anúncio em edição posterior.
Mas problemas existem. Contra este jornal tem feito diferença o fato de seu proprietário não ser um “Coronel” do lugar. É que neste Brasil de interiores profundos, independente da distância aérea para o litoral, só os ditos “Coronéis” controlam pacificamente meios de comunicação como rádios, TVs e jornais. Ai da pessoa pobre, como o Luiz Otávio, que se meta a lidar com notícia! Notícia forma opinião, e isto põe em risco o establishment, gerando reações desastradas.
Imaginem vocês que Leopoldina possui uma emissora de Rádio há quase 100 anos; a circulação de pequenos jornais pela cidade, excede a um século; e tivemos, por algum tempo, uma repetidora de TV. Coincidentemente, todos esses órgãos são (ou foram) mantidos por pessoas ditas abastadas, detentoras de poder político.
Agora pasmem: ninguém por aqui, nesse “um século”, jamais ouviu falar de qualquer Processo Judicial contra donos desses veículos de comunicação. E olha que radialistas não perdoam: como em qualquer lugar do Brasil, programa popular em rádio é do tipo “macaco em vidraçaria”. Bota pra quebrar! Mas se a rádio é de um “poderoso”, cadê coragem no “ofendido” para processar o dono? Diante do “Coronel” as pessoas se encolhem, ficam inseguras ou, como se dizia antigamente, “reconhecem o seu lugar”.
Já com este jornal foi diferente. O primeiro número, em agosto de 2003, rendeu logo uns quatro processos judiciais contra o Luiz Otávio. Nas semanas que se seguiram, mais processos, e mais processos e, hoje, não são menos de dez as ações distribuídas contra o Jornal e seu titular. E se ficou apenas em dez ações – diz o Luiz – foi porque a justiça, em primeira instância, começou a dar ganho de causa ao Jornal.
Tudo porque Luiz Otávio é um lutador, um humilde profissional de jornal do interior. Ninguém tem medo dele, entende! Diante dos pequenos o bastão dos vilões ficam arrogantes. Fazer o quê? São resquícios coloniais, felizmente em extinção.
Felizmente para nós, nem tanto para a literatura. Nossos Jorge Amados e Dias Gomes do futuro não terão “Coronéis Ramiros” e “Odoricos Paraguassus” para delícia de suas novelas.
Mas o meu escasso entusiasmo pelo teclado, ultimamente, não me trouxe aqui para aborrecer ou ficar aborrecido. Vim só dar parabéns ao Luiz Otávio por esses dois anos de vida do Jornal, pelos dois anos de serviços relevantes a Leopoldina.
O grande Mahatma falava de luzes de purificação no fogo do sofrimento. Jornal tem a vantagem de não sofrer calado. Pode-se acender um toquinho de esperança e comemorar: “Parabéns pra você, nesta data sofrida”...
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(Publicada no primeiro número do LEOPOLDINENSE, em 15 de agosto de 2005)
Editorial nº1
***
Leopoldina vê nascer hoje um novo jornal a integrar-lhe o patrimônio cultural.
Surge a “Gazeta Leopoldinense de Notícias” (*) como fruto promissor e instrumento de uma nova postura editorial responsável, de uma tomada de posição por pessoas que se pretendem capazes, construtivas, solidárias, livres e afinadas num mesmo ideal fraterno de serviço à nossa comunidade. Um jornal voltado para o bem de Leopoldina e para o lado melhor dos sonhos de cada leopoldinense.
A sociedade ocidental posterior ao Século XIII tornou-se beneficiária um pouco acomodada do triunfo dos três ideais iluministas sobre a bastilha, mas é inegável que uma certa ênfase liberal dada pela burguesia vencedora aos princípios da liberdade e da igualdade, acabou por vir negligenciando a fraternidade devida a nossos semelhantes. Essa constatação nos leva às raízes da imensa dívida social que vemos acumulada à nossa volta, nos bolsões nacionais de miséria, nas favelas e nos campos.
Tanto porque, sempre conveio aos poderosos privilegiar a própria liberdade (de contratar, de possuir, de governar) em nome do livre jogo de suas ações individuais - o qual, em tese, conduziria ao interesse geral – muito embora seja no desfrute da pretensa “igualdade” entre diferentes que a liberdade do mais forte se abastece de condições para oprimir o mais fraco. Isto, em todas as frentes: política, econômica, jurídico-contratual.
Felizmente, neste Brasil da Constituição de 1988, a exemplo de países como Alemanha, estamos dando um salto à frente ao positivar na lei maior a defesa da dignidade humana como um dos princípios norteadores da própria nacionalidade, com o que ingressamos num tempo de resgate ao ideal da fraternidade.
É nesta seara humanística que a GLN buscará sua inspiração. Não alardearemos o privilégio da verdade absoluta. Nossa proposta é pensar com nossos leitores para com eles chegarmos à verdade compartilhada.
Invocaremos o primado de uma razão liberta de preconceitos que afirme a crença no progresso dos múltiplos setores da atividade humana, sobretudo no que toca à liberdade de pensar, e queremos o debate aberto de que nos fala Umberto Eco, aquele que seja “uma possibilidade de discursos diversos e, para cada um, uma contínua descoberta do mundo”. Um discurso que “não queira agradar nem consolar”, mas, quando preciso, se proponha a “transformar o modo de compreensão das coisas”.
Seremos, sim, um jornal do interior e não aspiramos a muito mais que isto. A enorme evolução das comunicações empresta hoje, também ao jornal da província, janelas amplas para o mundo.
A realidade que a todos nos circunda e agrega passou a ser, em muitos casos, a realidade planetária. Não raro problemas elementares que nos afligem, até em âmbito doméstico - sobretudo se de ordem econômica - explicam-se por sua origem transnacional.
O mundo se associa em blocos, buscando ampliação de mercados, arrefecendo nacionalismos e fronteiras, confirmando o paradoxo do sociólogo americano Daniel Bell: “O estado-nação é hoje grande demais para os pequenos problemas e pequeno demais para os grandes problemas”.
Um nova ordem político-econômica subiu ao proscênio a partir de 1989, com a queda do muro de Berlim. Atenuam-se as disparidades, integram-se povos. A informação eletrônica, globalmente compartilhada, aproxima remotos rincões aos centros mais civilizados do planeta.
Malgrado diagnóstico feito por Bill Gates, há alguns anos, de que no ano 2000 não haveria mais jornais impressos, a realidade tem demonstrado que ainda sobra espaço para a imprensa escrita, desde que afeiçoada aos novos tempos, a novas técnicas. Mesmo para um simples jornal do interior haverá viabilidade quando capaz de incorporar qualidade que eqüivalha a uma quase reinvenção. É na edificação deste ideal que aqui estaremos.
Ao mesmo tempo em que houvermos de buscar algo menos convencional, alcançaremos a confiança de nossos leitores pela intransigência de ser-lhes sempre úteis e íntegros na veiculação da notícia, produzindo conteúdos de qualidade como a melhor maneira de dignificá-los e respeitá-los.
Enquanto veículo de idéias, jamais buscaremos impor a verdade, mas chegar a ela junto com o leitor. Não cultivaremos inimizades nem posicionamentos herméticos. Desconheceremos a vindita e o rancor. Repugnaremos a calúnia e a difamação. Estaremos abertos a todos os pensamentos e a todas as correntes. Sobretudo à fé e à esperança.
Trataremos a informação correta como instrumento decisivo e direito indisponível de uma sociedade civilizada. Mas sem esquecer que um jornal é também responsabilidade e coragem.
O renomado professor de ética jornalística, Carlos Alberto Di Franco nos ensina que:
“A exposição da chaga, embora desagradável, é sempre um dever ético. Não se constrói um país num pântano. Impõe-se o empenho de drenagem moral. E só um jornalismo de denúncia, comprometido com a verdade, evitará que tudo acabe num jogo de faz-de-conta. Os meios de comunicação existem para incomodar. Um jornalismo cor-de-rosa é socialmente irrelevante. A imprensa, sem precipitação e injustos prejulgamentos, está desempenhando importante papel na recuperação da ética na vida pública. Não se trata de transformar jornais numa espécie de contrapoder, mas numa instância de uma sociedade freqüentemente abandonada por muitas de suas autoridades...Os políticos, pródigos em soluções de palanque, não costumam perder o sono com o rotineiro descumprimento da palavra empenhada.Afinal, para muitos deles, infelizmente, a política é a arte do engodo. Além disso,contam com a amnésia coletiva.Ao jornalismo cabe assumir o papel de memória da cidadania... O jornalismo público não pode ser pautado pelas assessorias dos governantes ou candidatos, mas pelo interesse do cidadão. Precisamos falar do futuro, dos projetos e dos planos de governo. Mas devemos também falar do passado, das coerências e das ambigüidades. E, sobretudo, não podemos sucumbir às estratégias do marketing político que ameaçam transformar coberturas jornalísticas num show de chavões demagógicos e num triste espetáculo de inconsistência”.
A GLN se apresenta hoje, aqui, para ser o jornal das pessoas boas de Leopoldina, em busca do bem de nossa terra. A você, leopoldinense, que vinha nos prestigiando nas páginas da velha “Gazeta de Leopoldina”, queremos dizer que foi honroso para nós estarmos juntos nestes últimos anos.
Procuramos sempre respeitar o nível e a inteligência dos nossos leitores, bem como respeitar a tradição de nossa querida “Gazeta de Leopoldina” um jornal de 108 anos, que é, e certamente continuará, sendo um patrimônio desta cidade, agora sob nova condução.
Foi para nós, e para toda a equipe que hoje realiza esta GLN, uma grande honra ter servido à “Gazeta de Leopoldina”. A ela e a seus novos responsáveis, desejamos, todos, sob inspiração de Deus, vida longa e trabalho proficiente.
A você leitor, que sempre confiou em nós, pessoalmente, queremos dizer que partimos para algo bem maior. Pela primeira vez Leopoldina contará com um jornal, esta “GAZETA LEOPOLDINENSE DE NOTÍCIAS”, no qual todas as pessoas se identifiquem.
Inspirados em sua receptividade ao jornal que fazíamos, seguiremos levando até você, todos os meses futuros, o jornal que agora passamos a fazer. Este, que pretendemos venha constituir-se no melhor jornal de Leopoldina, a “GAZETA LEOPOLDINENSE DE NOTÍCIAS”, simplificada e, carinhosamente, também referida como GLN.
Um brinde à nossa amizade! Um brinde à GLN! Ou, no verso poderoso do nosso poeta, psiquiatra, vereador e grande amigo, Dr. Iano S. Campos: “Um brinde à vida e à emoção!”
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicada no primeiro número do LEOPOLDINENSE, em agosto de 2003)
* Nota: Poucos meses após o lançamento o jornal alterou sua razão social para “Grupo LEOPOLDINENSE de Notícias” (LEOPOLDINENSE), em acordo com os então detentores da “Gazeta de Leopoldina”.
Leopoldina vê nascer hoje um novo jornal a integrar-lhe o patrimônio cultural.
Surge a “Gazeta Leopoldinense de Notícias” (*) como fruto promissor e instrumento de uma nova postura editorial responsável, de uma tomada de posição por pessoas que se pretendem capazes, construtivas, solidárias, livres e afinadas num mesmo ideal fraterno de serviço à nossa comunidade. Um jornal voltado para o bem de Leopoldina e para o lado melhor dos sonhos de cada leopoldinense.
A sociedade ocidental posterior ao Século XIII tornou-se beneficiária um pouco acomodada do triunfo dos três ideais iluministas sobre a bastilha, mas é inegável que uma certa ênfase liberal dada pela burguesia vencedora aos princípios da liberdade e da igualdade, acabou por vir negligenciando a fraternidade devida a nossos semelhantes. Essa constatação nos leva às raízes da imensa dívida social que vemos acumulada à nossa volta, nos bolsões nacionais de miséria, nas favelas e nos campos.
Tanto porque, sempre conveio aos poderosos privilegiar a própria liberdade (de contratar, de possuir, de governar) em nome do livre jogo de suas ações individuais - o qual, em tese, conduziria ao interesse geral – muito embora seja no desfrute da pretensa “igualdade” entre diferentes que a liberdade do mais forte se abastece de condições para oprimir o mais fraco. Isto, em todas as frentes: política, econômica, jurídico-contratual.
Felizmente, neste Brasil da Constituição de 1988, a exemplo de países como Alemanha, estamos dando um salto à frente ao positivar na lei maior a defesa da dignidade humana como um dos princípios norteadores da própria nacionalidade, com o que ingressamos num tempo de resgate ao ideal da fraternidade.
É nesta seara humanística que a GLN buscará sua inspiração. Não alardearemos o privilégio da verdade absoluta. Nossa proposta é pensar com nossos leitores para com eles chegarmos à verdade compartilhada.
Invocaremos o primado de uma razão liberta de preconceitos que afirme a crença no progresso dos múltiplos setores da atividade humana, sobretudo no que toca à liberdade de pensar, e queremos o debate aberto de que nos fala Umberto Eco, aquele que seja “uma possibilidade de discursos diversos e, para cada um, uma contínua descoberta do mundo”. Um discurso que “não queira agradar nem consolar”, mas, quando preciso, se proponha a “transformar o modo de compreensão das coisas”.
Seremos, sim, um jornal do interior e não aspiramos a muito mais que isto. A enorme evolução das comunicações empresta hoje, também ao jornal da província, janelas amplas para o mundo.
A realidade que a todos nos circunda e agrega passou a ser, em muitos casos, a realidade planetária. Não raro problemas elementares que nos afligem, até em âmbito doméstico - sobretudo se de ordem econômica - explicam-se por sua origem transnacional.
O mundo se associa em blocos, buscando ampliação de mercados, arrefecendo nacionalismos e fronteiras, confirmando o paradoxo do sociólogo americano Daniel Bell: “O estado-nação é hoje grande demais para os pequenos problemas e pequeno demais para os grandes problemas”.
Um nova ordem político-econômica subiu ao proscênio a partir de 1989, com a queda do muro de Berlim. Atenuam-se as disparidades, integram-se povos. A informação eletrônica, globalmente compartilhada, aproxima remotos rincões aos centros mais civilizados do planeta.
Malgrado diagnóstico feito por Bill Gates, há alguns anos, de que no ano 2000 não haveria mais jornais impressos, a realidade tem demonstrado que ainda sobra espaço para a imprensa escrita, desde que afeiçoada aos novos tempos, a novas técnicas. Mesmo para um simples jornal do interior haverá viabilidade quando capaz de incorporar qualidade que eqüivalha a uma quase reinvenção. É na edificação deste ideal que aqui estaremos.
Ao mesmo tempo em que houvermos de buscar algo menos convencional, alcançaremos a confiança de nossos leitores pela intransigência de ser-lhes sempre úteis e íntegros na veiculação da notícia, produzindo conteúdos de qualidade como a melhor maneira de dignificá-los e respeitá-los.
Enquanto veículo de idéias, jamais buscaremos impor a verdade, mas chegar a ela junto com o leitor. Não cultivaremos inimizades nem posicionamentos herméticos. Desconheceremos a vindita e o rancor. Repugnaremos a calúnia e a difamação. Estaremos abertos a todos os pensamentos e a todas as correntes. Sobretudo à fé e à esperança.
Trataremos a informação correta como instrumento decisivo e direito indisponível de uma sociedade civilizada. Mas sem esquecer que um jornal é também responsabilidade e coragem.
O renomado professor de ética jornalística, Carlos Alberto Di Franco nos ensina que:
“A exposição da chaga, embora desagradável, é sempre um dever ético. Não se constrói um país num pântano. Impõe-se o empenho de drenagem moral. E só um jornalismo de denúncia, comprometido com a verdade, evitará que tudo acabe num jogo de faz-de-conta. Os meios de comunicação existem para incomodar. Um jornalismo cor-de-rosa é socialmente irrelevante. A imprensa, sem precipitação e injustos prejulgamentos, está desempenhando importante papel na recuperação da ética na vida pública. Não se trata de transformar jornais numa espécie de contrapoder, mas numa instância de uma sociedade freqüentemente abandonada por muitas de suas autoridades...Os políticos, pródigos em soluções de palanque, não costumam perder o sono com o rotineiro descumprimento da palavra empenhada.Afinal, para muitos deles, infelizmente, a política é a arte do engodo. Além disso,contam com a amnésia coletiva.Ao jornalismo cabe assumir o papel de memória da cidadania... O jornalismo público não pode ser pautado pelas assessorias dos governantes ou candidatos, mas pelo interesse do cidadão. Precisamos falar do futuro, dos projetos e dos planos de governo. Mas devemos também falar do passado, das coerências e das ambigüidades. E, sobretudo, não podemos sucumbir às estratégias do marketing político que ameaçam transformar coberturas jornalísticas num show de chavões demagógicos e num triste espetáculo de inconsistência”.
A GLN se apresenta hoje, aqui, para ser o jornal das pessoas boas de Leopoldina, em busca do bem de nossa terra. A você, leopoldinense, que vinha nos prestigiando nas páginas da velha “Gazeta de Leopoldina”, queremos dizer que foi honroso para nós estarmos juntos nestes últimos anos.
Procuramos sempre respeitar o nível e a inteligência dos nossos leitores, bem como respeitar a tradição de nossa querida “Gazeta de Leopoldina” um jornal de 108 anos, que é, e certamente continuará, sendo um patrimônio desta cidade, agora sob nova condução.
Foi para nós, e para toda a equipe que hoje realiza esta GLN, uma grande honra ter servido à “Gazeta de Leopoldina”. A ela e a seus novos responsáveis, desejamos, todos, sob inspiração de Deus, vida longa e trabalho proficiente.
A você leitor, que sempre confiou em nós, pessoalmente, queremos dizer que partimos para algo bem maior. Pela primeira vez Leopoldina contará com um jornal, esta “GAZETA LEOPOLDINENSE DE NOTÍCIAS”, no qual todas as pessoas se identifiquem.
Inspirados em sua receptividade ao jornal que fazíamos, seguiremos levando até você, todos os meses futuros, o jornal que agora passamos a fazer. Este, que pretendemos venha constituir-se no melhor jornal de Leopoldina, a “GAZETA LEOPOLDINENSE DE NOTÍCIAS”, simplificada e, carinhosamente, também referida como GLN.
Um brinde à nossa amizade! Um brinde à GLN! Ou, no verso poderoso do nosso poeta, psiquiatra, vereador e grande amigo, Dr. Iano S. Campos: “Um brinde à vida e à emoção!”
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(Publicada no primeiro número do LEOPOLDINENSE, em agosto de 2003)
* Nota: Poucos meses após o lançamento o jornal alterou sua razão social para “Grupo LEOPOLDINENSE de Notícias” (LEOPOLDINENSE), em acordo com os então detentores da “Gazeta de Leopoldina”.
Edição nº100
***
O presente número do Jornal LEOPOLDINENSE assinala a edição número100 deste periódico. Cem vezes saiu às ruas de Leopoldina uma edição do nosso Jornal - primeiro mensalmente, depois quinzenalmente - desde agosto do ano de 2003.
Sem dúvida, de lá para cá, alcançamos alguns avanços significativos no plano editorial, procuramos aprimorar apresentação e os conteúdos, melhoramos a distribuição e nos esforçamos para colocar o jornal cada dia mais próximo daquilo que de nós pudesse esperar o público leitor.
Com orgulho constatamos que o LEOPOLDINENSE tem, hoje, a afeição de seus leitores. Isto significa que cativamos pessoas que acreditam em nós, e não podemos decepcioná-las.
Não são muitos os estudos sobre a realidade do exercício do jornalismo no interior do Brasil, e a maioria mostra que, apesar de todas as dificuldades, os jornais interioranos se destacam pelo pioneirismo no segmento da mídia comunitária, pautando-se cada vez mais pelo foco nos interesses internos aos municípios onde atuam. E assim deve ser.
Em sua obra sobre jornalismo comunitário, a autora Beatriz Dornelles, pesquisadora, doutora em comunicação e professora de pós-graduação da PUC-RS, afirma que, do ponto de vista ético, os jornais do interior, especialmente os de cidades pequenas, são mais responsáveis que os veículos de massa porque eles precisam ser mais conseqüentes e cuidadosos. Sua credibilidade não pode ser abalada em hipótese alguma. No interior, se um pecado sério for cometido o veículo estará desacreditado e morto.
Não raras vezes a imprensa do interior é acusada de ser pouco profissional, ou, quando não, de simples porta-voz de políticos e de governos locais. Deste mal o LEOPOLDINENSE jamais sofrerá. Nossa independência há de ser sempre nosso lastro mais precioso.
Um jornal, como o nosso, que se pretenda merecedor da confiança de seus leitores tem que atuar como verdadeiro fiscal das administrações municipais, não produzindo a crítica pela crítica, mas pela vigilância dos bens maiores que a todos pertencem: o patrimônio e os interesses públicos locais.
Será, através de uma imprensa ciosa de suas efetivas finalidades, possível, a todo tempo, ter-se uma idéia da vida da cidade e dos movimentos populares ocorridos em nosso tempo. Estará ao alcance do futuro conhecer pessoas, influentes ou não, fatos sociais e pessoais, aniversários, nascimentos, óbitos, formaturas, casamentos e tantos outras preocupações de uma comunidade que se conhece e que se estima.E a isto podemos chamar “ser útil à sociedade”.
Este compromisso nós o renovamos ao ensejo desta 100ª edição. Continuaremos aqui no firme desiderato de ser útil a Leopoldina, estar perto de cada membro desta comunidade independente de posição social ou de escolha política, interagindo como intérpretes de suas reivindicações e anseios, evitando atritos sempre que possível e atuando como catalisadores da fraternidade e do entendimento entre nossos irmãos, concidadãos desta terra que a gente adora.
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado no LEOPOLDINENSE de 01 de fevereiro de 2008)
O presente número do Jornal LEOPOLDINENSE assinala a edição número100 deste periódico. Cem vezes saiu às ruas de Leopoldina uma edição do nosso Jornal - primeiro mensalmente, depois quinzenalmente - desde agosto do ano de 2003.
Sem dúvida, de lá para cá, alcançamos alguns avanços significativos no plano editorial, procuramos aprimorar apresentação e os conteúdos, melhoramos a distribuição e nos esforçamos para colocar o jornal cada dia mais próximo daquilo que de nós pudesse esperar o público leitor.
Com orgulho constatamos que o LEOPOLDINENSE tem, hoje, a afeição de seus leitores. Isto significa que cativamos pessoas que acreditam em nós, e não podemos decepcioná-las.
Não são muitos os estudos sobre a realidade do exercício do jornalismo no interior do Brasil, e a maioria mostra que, apesar de todas as dificuldades, os jornais interioranos se destacam pelo pioneirismo no segmento da mídia comunitária, pautando-se cada vez mais pelo foco nos interesses internos aos municípios onde atuam. E assim deve ser.
Em sua obra sobre jornalismo comunitário, a autora Beatriz Dornelles, pesquisadora, doutora em comunicação e professora de pós-graduação da PUC-RS, afirma que, do ponto de vista ético, os jornais do interior, especialmente os de cidades pequenas, são mais responsáveis que os veículos de massa porque eles precisam ser mais conseqüentes e cuidadosos. Sua credibilidade não pode ser abalada em hipótese alguma. No interior, se um pecado sério for cometido o veículo estará desacreditado e morto.
Não raras vezes a imprensa do interior é acusada de ser pouco profissional, ou, quando não, de simples porta-voz de políticos e de governos locais. Deste mal o LEOPOLDINENSE jamais sofrerá. Nossa independência há de ser sempre nosso lastro mais precioso.
Um jornal, como o nosso, que se pretenda merecedor da confiança de seus leitores tem que atuar como verdadeiro fiscal das administrações municipais, não produzindo a crítica pela crítica, mas pela vigilância dos bens maiores que a todos pertencem: o patrimônio e os interesses públicos locais.
Será, através de uma imprensa ciosa de suas efetivas finalidades, possível, a todo tempo, ter-se uma idéia da vida da cidade e dos movimentos populares ocorridos em nosso tempo. Estará ao alcance do futuro conhecer pessoas, influentes ou não, fatos sociais e pessoais, aniversários, nascimentos, óbitos, formaturas, casamentos e tantos outras preocupações de uma comunidade que se conhece e que se estima.E a isto podemos chamar “ser útil à sociedade”.
Este compromisso nós o renovamos ao ensejo desta 100ª edição. Continuaremos aqui no firme desiderato de ser útil a Leopoldina, estar perto de cada membro desta comunidade independente de posição social ou de escolha política, interagindo como intérpretes de suas reivindicações e anseios, evitando atritos sempre que possível e atuando como catalisadores da fraternidade e do entendimento entre nossos irmãos, concidadãos desta terra que a gente adora.
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(Publicado no LEOPOLDINENSE de 01 de fevereiro de 2008)
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Editorial dos Quatro Anos
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O LEOPOLDINENSE comemora seu quarto ano de circulação ininterrupta. Em agosto do ano de 2004 ganhava as ruas de Leopoldina este pequeno órgão de imprensa portador de um ideal tão simples quanto penoso de conduzir: Ser “a consciência crítica da cidade”, na feliz elocução do jornalista José Barroso Junqueira.
De fato, existe um preço a ser pago pela verdade dita em público, porque são comuns os interesses contrários à verdade. Todo jornalista sabe que no âmago de algumas notícias aparentemente singelas pode estar instalada a subterrânea conveniência de seu silêncio.
Não obstante, uma imprensa livre é viga mestra do regime democrático.
Em discurso proferido a 17 de maio de 2005, no 8º Congresso Brasileiro do Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas, organizado pela Mega Brasil Comunicação, o presidente do Grupo Abril, Roberto Civita, fez algumas reflexões de permanente atualidade.
Lembrou que a multiplicidade de vozes necessárias a garantir e a fortalecer a democracia só pode existir numa sociedade em que a liberdade de imprensa seja assegurada, na qual a entrada seja franqueada a quem se habilitar, na qual a concorrência em todas as frentes gere publicidade que feche o círculo virtuoso de viabilizar a existência de múltiplos meios de comunicação.
Embora existam jornais, revistas, televisões e rádios sem qualquer preocupação com padrões de ética e qualidade, e apesar do ainda péssimo nível geral da educação em nosso país, tudo indica que o público acaba preferindo o conteúdo de melhor qualidade, tanto eletrônico quanto impresso.
Isto porque o povo não é bobo e também porque há um outro círculo virtuoso em ação: à medida que se eleva o nível de uma publicação, à medida que se produzam reportagens e matérias mais inteligentes, bem pesquisadas, claras e mais bem apresentadas, o público passa a gostar e exigir mais disso e a valorizar os veículos que os fornecem.
Um meio de comunicação que mereça este nome, não pode estar subordinado a interesses políticos e partidários ocultos. Não pode aceitar que tutela política substitua seu próprio autocontrole, auto-regulamentação e compromisso com a sociedade.
Não referindo aí, apenas, ao jornalismo político e econômico, porque o público também se interessa por outras coisas como astronomia, história, filosofia, e até por seus amores, empregos, fantasias, saúde, férias e por pessoas – especialmente se forem celebridades.
Num mundo cada vez mais interligado e complexo, com cada vez mais informação disponível em todas as frentes, 24 horas por dia, a tarefa do jornal passa a ser separar o relevante do não relevante, selecionar o que mais interessa e mais importa, tentar organizar e explicar o que tudo isso significa para um público com muitas alternativas de diversão, muitos interesses, e cada vez menos tempo.
Sobretudo, deve o Jornal procurar não ser chato, dogmático, lembrando sempre que uma de suas principais funções é fazer o importante ficar interessante.
Deve o meio de informação ser uma força que ajude a compreender o mundo, que ajude a construir uma sociedade mais justa, a defender a comunidade e a levar seus utilizadores a viver melhor.
Esta haveria de ser, para Civita, uma das mais fascinantes, desafiadoras, gratificantes e divertidas atividades que existem.
Nós, aqui no LEOPOLDINENSE, também temos tido a honra de viver plenamente esse desafio e essa alegria há quatro anos, dotando Leopoldina de um Jornal regular, honesto, consciente de sua responsabilidade e de seus compromissos com o leitor - acima dos interesses e das paixões.
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicada no LEOPOLDINENSE de 31 agosto de 2004)
O LEOPOLDINENSE comemora seu quarto ano de circulação ininterrupta. Em agosto do ano de 2004 ganhava as ruas de Leopoldina este pequeno órgão de imprensa portador de um ideal tão simples quanto penoso de conduzir: Ser “a consciência crítica da cidade”, na feliz elocução do jornalista José Barroso Junqueira.
De fato, existe um preço a ser pago pela verdade dita em público, porque são comuns os interesses contrários à verdade. Todo jornalista sabe que no âmago de algumas notícias aparentemente singelas pode estar instalada a subterrânea conveniência de seu silêncio.
Não obstante, uma imprensa livre é viga mestra do regime democrático.
Em discurso proferido a 17 de maio de 2005, no 8º Congresso Brasileiro do Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas, organizado pela Mega Brasil Comunicação, o presidente do Grupo Abril, Roberto Civita, fez algumas reflexões de permanente atualidade.
Lembrou que a multiplicidade de vozes necessárias a garantir e a fortalecer a democracia só pode existir numa sociedade em que a liberdade de imprensa seja assegurada, na qual a entrada seja franqueada a quem se habilitar, na qual a concorrência em todas as frentes gere publicidade que feche o círculo virtuoso de viabilizar a existência de múltiplos meios de comunicação.
Embora existam jornais, revistas, televisões e rádios sem qualquer preocupação com padrões de ética e qualidade, e apesar do ainda péssimo nível geral da educação em nosso país, tudo indica que o público acaba preferindo o conteúdo de melhor qualidade, tanto eletrônico quanto impresso.
Isto porque o povo não é bobo e também porque há um outro círculo virtuoso em ação: à medida que se eleva o nível de uma publicação, à medida que se produzam reportagens e matérias mais inteligentes, bem pesquisadas, claras e mais bem apresentadas, o público passa a gostar e exigir mais disso e a valorizar os veículos que os fornecem.
Um meio de comunicação que mereça este nome, não pode estar subordinado a interesses políticos e partidários ocultos. Não pode aceitar que tutela política substitua seu próprio autocontrole, auto-regulamentação e compromisso com a sociedade.
Não referindo aí, apenas, ao jornalismo político e econômico, porque o público também se interessa por outras coisas como astronomia, história, filosofia, e até por seus amores, empregos, fantasias, saúde, férias e por pessoas – especialmente se forem celebridades.
Num mundo cada vez mais interligado e complexo, com cada vez mais informação disponível em todas as frentes, 24 horas por dia, a tarefa do jornal passa a ser separar o relevante do não relevante, selecionar o que mais interessa e mais importa, tentar organizar e explicar o que tudo isso significa para um público com muitas alternativas de diversão, muitos interesses, e cada vez menos tempo.
Sobretudo, deve o Jornal procurar não ser chato, dogmático, lembrando sempre que uma de suas principais funções é fazer o importante ficar interessante.
Deve o meio de informação ser uma força que ajude a compreender o mundo, que ajude a construir uma sociedade mais justa, a defender a comunidade e a levar seus utilizadores a viver melhor.
Esta haveria de ser, para Civita, uma das mais fascinantes, desafiadoras, gratificantes e divertidas atividades que existem.
Nós, aqui no LEOPOLDINENSE, também temos tido a honra de viver plenamente esse desafio e essa alegria há quatro anos, dotando Leopoldina de um Jornal regular, honesto, consciente de sua responsabilidade e de seus compromissos com o leitor - acima dos interesses e das paixões.
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(Publicada no LEOPOLDINENSE de 31 agosto de 2004)
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Convite para Inauguração #
***
Julho, 2010
Transações pouco éticas das chamadas “malas diretas” são um tormento. A toda hora alguém nos azucrina pelo telefone com alguma promoção ou “vantagem”. Recebemos e-mails aos montes, nas mais variadas tretas. O “lixo postal” abarrota nossa caixa de correspondências. Fazer o quê? É a sociedade de consumo ao encalço de suas vítimas.
Procuro desenvolver defesas. Às garotas do telemarketing despacho com delicadeza (afinal, é o trabalho delas), relatando-lhes minha penúria econômica – o que logo as faz desinteressadas de “alvo” tão indigente. Acossado por e-mails, levo a melhor: deleto, sistematicamente, toda e qualquer mensagem que não seja de pessoa conhecida. Abordagens postais vão para o lixo sem leitura. Quase todo mundo faz isto.
Digo quase, porque, semana passada, o logotipo no envelope de uma carta − dois corações entrelaçados – abriu a guarda do meu amigo, Otávio. Quis conferir. Imaginem! Convite para inauguração de um Motel! “Convidamos V. Exa. e excelentíssima família...”
É muito bom morar no interior, pensou o Otávio, diverte-se sem sair de casa.
Quando é assim – disse-me ele – prefiro não rir sozinho. Chamei minha mulher e rimos de acordar o gato. Depois começamos a analisar o convite. Estava claro que o remetente usara a “mala direta” de algum banco ou de concessionária de serviço público. São uns sacanas – concluiu.
Felizmente, a esposa do Otávio é mulher sem grilos. Jamais suspeitaria da proximidade do marido com o mundo dos motéis. Nem ele, carola e sistemático como é, compareceria a um evento de tal ordem. Mas imaginem o estrago que um convite assim pode trazer a lares menos estáveis.
Claro que muitas outras pessoas também foram convidadas e passaram a entender a edificação escalafobética que vinham erguendo na entrada da cidade. Supunha-se uma igreja evangélica. Mas não. Era motel e o programa da inauguração estava ali.
A partir do meio dia de sábado, recepção aos convidados e autoridades (“Favor apresentar este convite”). Em seguida, bênçãos ecumênicas das dependências. Almoço, com início às 13 horas, no pátio interno, “facultadas visitas, sem caráter íntimo, aos apartamentos...”
E eu jurava que motel vinha caindo de moda! Os jovens não se escondem mais para fazer sexo. Aposto que nós, os coroas, somos o público alvo do projeto.
Vamos reler. O convite é para almoço e para conhecer os apartamentos. Nada de desarrumar as camas. Aquilo que advogado de paletó xadrez chama de “animus fornicandi”, nem pensar! Autoridades comparecerão e serão recepcionadas... É coisa para velho, sim. E vai ter discurso. Certamente executivo e legislativo municipal estarão “bem representados”, dúvidas não pairando quanto à sutileza cetácea das falas sobre o “moderno empreendimento” e seus “legítimos propósitos” sexo-recreativos.
Minha curiosidade maior empacou nas “bênçãos ecumênicas”, previstas para as serventias do prédio. Já imagino o padre, o pai de santo, o pastor, o rabino, o imã dos crentes, todos de aspersórios às mãos, borrifando bênçãos aos espelhos do teto, frigobares e camas redondas. Isto não existe!
Se até sábado me der coragem, pego o convite do Otávio e vou lá conferir. Talvez recite uns versos:
“O sexo contém tudo: corpos, almas,
sentidos, provas, purezas, delicadezas,
resultados, avisos,
cantos, ordens, saúde,
o mistério materno, o leite seminal,
todas as esperanças, benefícios,
todas as dádivas, paixões, amores,
encantos, gozos da terra,
todos os deuses, juízes, governos, pessoas no mundo com seguidores.
Tudo isto no sexo está contido,
ou como parte dele ou como sua
razão de ser”.
Se alguém perguntar:
-Isto é seu?
É claro que direi:
-Não, cara, isto é Walt Whitman!
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado em 01.07.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
Julho, 2010
Transações pouco éticas das chamadas “malas diretas” são um tormento. A toda hora alguém nos azucrina pelo telefone com alguma promoção ou “vantagem”. Recebemos e-mails aos montes, nas mais variadas tretas. O “lixo postal” abarrota nossa caixa de correspondências. Fazer o quê? É a sociedade de consumo ao encalço de suas vítimas.
Procuro desenvolver defesas. Às garotas do telemarketing despacho com delicadeza (afinal, é o trabalho delas), relatando-lhes minha penúria econômica – o que logo as faz desinteressadas de “alvo” tão indigente. Acossado por e-mails, levo a melhor: deleto, sistematicamente, toda e qualquer mensagem que não seja de pessoa conhecida. Abordagens postais vão para o lixo sem leitura. Quase todo mundo faz isto.
Digo quase, porque, semana passada, o logotipo no envelope de uma carta − dois corações entrelaçados – abriu a guarda do meu amigo, Otávio. Quis conferir. Imaginem! Convite para inauguração de um Motel! “Convidamos V. Exa. e excelentíssima família...”
É muito bom morar no interior, pensou o Otávio, diverte-se sem sair de casa.
Quando é assim – disse-me ele – prefiro não rir sozinho. Chamei minha mulher e rimos de acordar o gato. Depois começamos a analisar o convite. Estava claro que o remetente usara a “mala direta” de algum banco ou de concessionária de serviço público. São uns sacanas – concluiu.
Felizmente, a esposa do Otávio é mulher sem grilos. Jamais suspeitaria da proximidade do marido com o mundo dos motéis. Nem ele, carola e sistemático como é, compareceria a um evento de tal ordem. Mas imaginem o estrago que um convite assim pode trazer a lares menos estáveis.
Claro que muitas outras pessoas também foram convidadas e passaram a entender a edificação escalafobética que vinham erguendo na entrada da cidade. Supunha-se uma igreja evangélica. Mas não. Era motel e o programa da inauguração estava ali.
A partir do meio dia de sábado, recepção aos convidados e autoridades (“Favor apresentar este convite”). Em seguida, bênçãos ecumênicas das dependências. Almoço, com início às 13 horas, no pátio interno, “facultadas visitas, sem caráter íntimo, aos apartamentos...”
E eu jurava que motel vinha caindo de moda! Os jovens não se escondem mais para fazer sexo. Aposto que nós, os coroas, somos o público alvo do projeto.
Vamos reler. O convite é para almoço e para conhecer os apartamentos. Nada de desarrumar as camas. Aquilo que advogado de paletó xadrez chama de “animus fornicandi”, nem pensar! Autoridades comparecerão e serão recepcionadas... É coisa para velho, sim. E vai ter discurso. Certamente executivo e legislativo municipal estarão “bem representados”, dúvidas não pairando quanto à sutileza cetácea das falas sobre o “moderno empreendimento” e seus “legítimos propósitos” sexo-recreativos.
Minha curiosidade maior empacou nas “bênçãos ecumênicas”, previstas para as serventias do prédio. Já imagino o padre, o pai de santo, o pastor, o rabino, o imã dos crentes, todos de aspersórios às mãos, borrifando bênçãos aos espelhos do teto, frigobares e camas redondas. Isto não existe!
Se até sábado me der coragem, pego o convite do Otávio e vou lá conferir. Talvez recite uns versos:
“O sexo contém tudo: corpos, almas,
sentidos, provas, purezas, delicadezas,
resultados, avisos,
cantos, ordens, saúde,
o mistério materno, o leite seminal,
todas as esperanças, benefícios,
todas as dádivas, paixões, amores,
encantos, gozos da terra,
todos os deuses, juízes, governos, pessoas no mundo com seguidores.
Tudo isto no sexo está contido,
ou como parte dele ou como sua
razão de ser”.
Se alguém perguntar:
-Isto é seu?
É claro que direi:
-Não, cara, isto é Walt Whitman!
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado em 01.07.2010 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
Falar de Coisas #
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“Sempre evitei falar de mim,
falar-me. Quis falar de coisas.
Mas na seleção dessas coisas
não haverá um falar de mim?”
(João Cabral de Melo Neto)
Tenho para mim que escrever sobre nossa terrinha interiorana, registrar o cotidiano dos dias que correm, é dever mínimo do cronista. A alguém certamente interessará um dia saber o que vai hoje pelos nossos bares, pelos clubes sociais, pelas lojas, calçadas e esquinas, onde, diga-se de passagem, o velho papo de futebol já não empolga tanto, depois de cinco campeonatos mundiais ganhos. Pode-se falar até de política.“Sempre evitei falar de mim,
falar-me. Quis falar de coisas.
Mas na seleção dessas coisas
não haverá um falar de mim?”
(João Cabral de Melo Neto)
Só que a política leopoldinense neste outubro de 2003 ainda não saiu da penumbra. A gente sabe que mais à frente as coisas se definem, mas, por enquanto, só existe uma definição: toda coligação é possível. Ninguém é tão fétido que não possa ser inalado nem tão indigesto que não possa ser deglutido. Se o problema for cruzar jegue com girafa, não será por falta de tamborete...
A confusão não melhora quando lembramos que a “situação” em Leopoldina, hoje, corresponde historicamente a uma gloriosa oposição. O atual prefeito é herdeiro político do velho PR de Enéas Lacerda França, via Sô Liliu, Manoel Lacerda, Artur Leão, Olivier Fajardo, Colatino Barbosa de Castro, Antônio de Oliveira Guimarães, etc., brava gente que em 1958 inaugurou a alternância do poder político nesta terra, elegendo o médico Jairo Salgado Gama para a prefeitura. Como a Lei Provincial que elevou Leopoldina a Vila é de 1854, conclui-se que esses homens, em 58, apearam um situacionismo de 104 anos!
Política é coisa complicada, apesar de Gustavo Capanema dizer, em seu livro Pensamentos, que é só “uma parcela de energia e outra de jeito”.
Mas podemos esquecer política e falar dos nossos produtores rurais em sua faina frustrante e descapitalizante de produzir leite e entregá-lo ao preço de custo porque as regras do comércio globalizado tornaram-se cruéis com o leite e o plantio de milho, arroz e feijão, por estas bandas, simplesmente desapareceu nos anos setenta, com a abertura das largas fronteiras agrícolas mecanizáveis dos serrados do centro-oeste.
Cazuza, o “barão vermelho”, queria uma ideologia para viver, nossa terra clama por uma vocação.
- Meus despenhadeiros por uma vocação! Bananas gostam de morro.
Quem sabe o Lalado, nosso campeão de vôo livre, pega uma “ascendente” para cinco mil metros de altura e, lá de cima, com olhos de águia, descola pra gente alguma coisa diferente daquelas que urubu só descobre pelo faro? Vai ver nossa vocação econômica é o próprio vôo livre. Se for, já tem gente conspirando: fincaram um verdadeiro paliteiro de postes bem ali, na Onça, nas imediações do local de pouso.
Um cronista que se preze pode anotar ainda os hábitos sociais em voga, o linguajar regional que a televisão vai homogeneizando pelos padrões (charmosos?) do Rio e de São Paulo. A moda no vestir, principalmente dos jovens, para quem o modelo americano decretou, há muito, o índigo jeans e o tênis branco como pièces de resistence na luta pela elegância.
Me parece, sim, que a um jornal de província cabe o registro que nele possamos deixar para a posteridade do que foram as gentes, as igrejas, as ruas, os riachos e as praças do nosso tempo. E aqui prontamente me assalta a lembrança do poeta argentino Jorge Luis Borges considerando este esforço do escritor:
-O homem se propõe à tarefa de desenhar o mundo à sua volta, de fixar para a posteridade o real e o sonho, o desgracioso e o belo, o comum e o inusitado, e segue neste mister, muito inadvertidamente e a seu próprio modo, cinzelando esculturas, pincelando quadros, mobiliando e povoando espaços, reinos, montanhas, mares, baías, navios, moradas, peixes, ilhas, cavalos e pessoas.
Nem dá conta de que as descrições que deixa, o cerne de suas palavras, a essência de suas imagens, entrechos e conceitos, nada mais se tornaram que a estampa de seu próprio rosto.
É um privilégio estar com Jorge Luis Borges.
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado no jornal LEOPOLDINENSE de outubro de 2003)
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