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Novembro, 2008
Li nos jornais sobre "História e arte
nos cemitério". Um achado! Realmente nos cemitérios, nas igrejas, nos
monumentos e nas construções antigas, além de apreciar o gosto, a cultura e a
arte de nossos antepassados, podemos ler um pouco mais do que sobre eles trazem
os livros, as fotos, os filmes.
O caderno de turismo do Estadão anuncia
passeios organizados, com guia e tudo, a cemitérios, como o da Consolação, em
São Paulo, e o São João Batista, no Rio. E não brinquem que é “turismo de paulista”,
não.
No mundo inteiro os campos santos vão
ficando cult. Endereço dos mais visitados desse roteiro macabro
talvez seja a Capela dos Ossos, em
Évora, Portugal, onde ossos de uns cinco mil mortos decoram paredes e colunas
da capela situada na Igreja de São Francisco.
Na entrada, o recado: “Nós, ossos que aqui
estamos pelos vossos esperamos”.
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Aliás, fragmentos de história podem ser
garimpados por todos os lados. Há dias a historiadora Nilza Cantoni mencionou
que certo personagem do passado interiorano mineiro “não parecia ser pessoa
muito comunicativa”. Perguntei-lhe de onde extraíra tal conclusão.
– Dos livros de Registros de Batizados, de
nossas igrejas – explicou.
Pessoas mais abastadas de antigamente, mais
instruídas, mais importantes, sempre aparecem nos registros de batizados como
padrinhos de muitas crianças. Ora, se um personagem histórico, sabidamente importante
e rico, foge à regra, algum problema de comunicabilidade social ele tinha. É
claro que a conclusão nunca é absoluta, mas o fundamento procede.
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Alá, porém, é mais lógico. Sempre que a
ciência dá algum passo maior no sentido da compreensão do universo, o ateísmo
tenta soletrar alguma “prova” da inexistência de Deus. Agora mesmo, cientistas
com aceleradores de partículas dentro de um túnel nos Alpes franco-suíços, em
busca da origem da matéria, suprem de argumentos os ateus de plantão. Alegam
estes que, se ficar provado que o big bang deu origem à
matéria, o universo “não precisou” de um Deus para criá-lo, sendo tudo obra da
explosão...
Parece complicado para eles distinguir
entre o Criador e as ferramentas usadas pelo Criador.
De saída, se resultar mapeada a origem
física da matéria, ficará faltando provar a origem física do espaço sideral por
onde toda a massa se expandiu e o sopro de vida que passou a animar os seres.
Limitado diante da criação, o ser humano
tem do universo uma ideia só um pouquinho mais ampla que a de um coleóptero da
Mata Atlântica.
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A limitação nos tortura. E a tortura dos
anos de chumbo volta à ordem do dia. Especulam se a tortura é imprescritível,
enquanto crime contra a humanidade. Os que defendem os torturadores do
DOI-Codi, alegam que eles torturaram terroristas, igualmente beneficiados pela
anistia. Logo, o perdão há de ser recíproco. Será?
Há dias uma revista semanal mostrou foto de
Fernando Gabeira ao lado de Valerie Elbrick, filha do ex-embaixador americano
no Brasil, Charles Elbrick, sequestrado no Rio de Janeiro, em 1969, por um
comando guerrilheiro do qual Gabeira fez parte.
A moça declarou ao New York Times: “Gabeira
é um homem encantador e, se eu não estivesse trabalhando pelo Obama,
provavelmente estaria trabalhando por Gabeira”... “Eles eram pessoas
idealistas. Meu pai se deu conta que não estava lidando com bandidos. Eram
jovens inteligentes que, no fundo do coração, eram gente pacífica.”
Ou seja, seres humanos podem refletir sobre
dores passadas, sem mágoa, sem ódio e até com compreensão, quando os fatos se
circunscrevem a uma realidade humana.
Cabe então perguntar:
– E o torturador, poderá ele encarar o
filho ou a filha de um torturado? Semelhante "momento de humanidade"
seria viável entre um torturador e um filho de torturado?
Claro que não. E por uma razão básica:
Torturador não é gente. Torturador é bicho,
é aberração animal.
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(Publicado no jornal
LEOPOLDINENSE de 15 de novembro de 2008)
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