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Novembro, 2005
Ando escrevendo pouco, ultimamente. Mas Sebastião Heitor, editor primoroso da “Revista Hora H”, me pede um texto para o mês de novembro e prometi tentar. A revista dele é ótima, já se transformou numa das presenças femininas mais requestadas desta terra e eu nunca me engracei com ela, com um artiguinho que fosse. De repente, me pergunto por quê? Vá lá, ando talvez pouco inspirado para assuntos locais. Com a internet escancarando janelas para o mundo a gente vira cidadão do planeta, esquecido da própria toca.
As notícias locais que me chegam, ultimamente, resumem-se a velórios e entram aqui em casa pela boca da arrumadeira. “–O senhor não imagina quem morreu!...” Claro que não imagino, pois meu esporte preferido é pedir a Deus, nas minhas orações, que todos vivam muito e com saúde. Todos, porque inimigos não tenho. Mas o resultado da encrenca é que tenho ido muito ao cemitério.
Apesar de pouco chegado a máscaras mortuárias - por achar melhor guardar uma imagem live dos extintos - o cemitério acaba se convertendo, para mim, num repetitivo local de encontro com pessoas vivas. Tanto vivos que aqui vivem quanto vivos que vivem fora e se dispõem a não continuarem vivos, enfrentando essas estradas-de-governos-sem-vergonha, quando arriscam vir dar em Leopoldina.
Enterros atraem velhos conhecidos, alguns tão velhos que quase já não são conhecidos. Principalmente, quando estou sem meus dois graus para longe. Bom revê-los, enquanto é tempo...
Outra coisa que faço com algum gosto nesta cidade é ir a supermercado. Minha mulher se encarrega de “passar o cartão” quando o passeio termina, poupando-me a sensação desagradável do desfalque.
Passear de carro pela cidade também é agradável. Mas convém baixar os pneus para umas 15 libras, a fim de melhor absorver os solavancos do calçamento de Leopoldina. Um protetor de vértebras cervicais também não vai mal, para prevenir fratura de pescoço nas arremetidas da cabeça contra o teto do veículo. Mulheres nunca devem dispensar o sutiã, se desejarem viajar com as mãos desocupadas. Nunca se viu tanto buraco.
Quanto ao resto, a cidade não é má. Acho que a Praça João XXIII ficou simpática com o happy hours da juventude incrementado por aqueles quiosques de muito bom gosto, valorizando o centro da cidade. As noites do centro ficaram mais iluminadas, mais comunicativas.
Há dias, amigos meus de Barbacena e Ponte Nova, passando pela João XXIII no horário nobre, concordavam: “Não temos, em nossas cidades, um lugar assim, movimentado e alegre, para os jovens!” E não têm mesmo. Fico feliz, também, quando vejo pessoas reunidas conversando, sorrindo, cantando, algumas com seus instrumentos musicais, ali na Pracinha do Urubu, ou na esquina da Pompílio Guimarães com 27 de Abril. Espaços como esses, recriados e humanizados, acabam fazendo uma boa diferença. Isto é positivo. Ganha a cidade, ganham as pessoas.
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicada no jornal LEOPOLDINENSE de 04 de novembro de 2005)
Novembro, 2005
Ando escrevendo pouco, ultimamente. Mas Sebastião Heitor, editor primoroso da “Revista Hora H”, me pede um texto para o mês de novembro e prometi tentar. A revista dele é ótima, já se transformou numa das presenças femininas mais requestadas desta terra e eu nunca me engracei com ela, com um artiguinho que fosse. De repente, me pergunto por quê? Vá lá, ando talvez pouco inspirado para assuntos locais. Com a internet escancarando janelas para o mundo a gente vira cidadão do planeta, esquecido da própria toca.
As notícias locais que me chegam, ultimamente, resumem-se a velórios e entram aqui em casa pela boca da arrumadeira. “–O senhor não imagina quem morreu!...” Claro que não imagino, pois meu esporte preferido é pedir a Deus, nas minhas orações, que todos vivam muito e com saúde. Todos, porque inimigos não tenho. Mas o resultado da encrenca é que tenho ido muito ao cemitério.
Apesar de pouco chegado a máscaras mortuárias - por achar melhor guardar uma imagem live dos extintos - o cemitério acaba se convertendo, para mim, num repetitivo local de encontro com pessoas vivas. Tanto vivos que aqui vivem quanto vivos que vivem fora e se dispõem a não continuarem vivos, enfrentando essas estradas-de-governos-sem-vergonha, quando arriscam vir dar em Leopoldina.
Enterros atraem velhos conhecidos, alguns tão velhos que quase já não são conhecidos. Principalmente, quando estou sem meus dois graus para longe. Bom revê-los, enquanto é tempo...
Outra coisa que faço com algum gosto nesta cidade é ir a supermercado. Minha mulher se encarrega de “passar o cartão” quando o passeio termina, poupando-me a sensação desagradável do desfalque.
Passear de carro pela cidade também é agradável. Mas convém baixar os pneus para umas 15 libras, a fim de melhor absorver os solavancos do calçamento de Leopoldina. Um protetor de vértebras cervicais também não vai mal, para prevenir fratura de pescoço nas arremetidas da cabeça contra o teto do veículo. Mulheres nunca devem dispensar o sutiã, se desejarem viajar com as mãos desocupadas. Nunca se viu tanto buraco.
Quanto ao resto, a cidade não é má. Acho que a Praça João XXIII ficou simpática com o happy hours da juventude incrementado por aqueles quiosques de muito bom gosto, valorizando o centro da cidade. As noites do centro ficaram mais iluminadas, mais comunicativas.
Há dias, amigos meus de Barbacena e Ponte Nova, passando pela João XXIII no horário nobre, concordavam: “Não temos, em nossas cidades, um lugar assim, movimentado e alegre, para os jovens!” E não têm mesmo. Fico feliz, também, quando vejo pessoas reunidas conversando, sorrindo, cantando, algumas com seus instrumentos musicais, ali na Pracinha do Urubu, ou na esquina da Pompílio Guimarães com 27 de Abril. Espaços como esses, recriados e humanizados, acabam fazendo uma boa diferença. Isto é positivo. Ganha a cidade, ganham as pessoas.
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(Publicada no jornal LEOPOLDINENSE de 04 de novembro de 2005)
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