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Junho, 2003
Vou contar aqui, hoje, uma piadinha leve, inspirada (copiada não teria graça) num e-mail recebido dia desses. Sei que esses conteúdos voadores se espalham rápido pela rede, todo mundo toma conhecimento, mas vá lá minha livre reprodução.
O tema explora a ingenuidade sertaneja que, no Brasil, não é privilégio de nenhuma unidade da federação - mas que é meio chegado a “causos” de mineiro, que costumam aparecer por aí, é.
O pretenso autor da mensagem internetiana nada tem a reclamar. Papai aqui não nasceu ontem e sabe muito bem que a trama guarda total similitude com uma fábula do velho Esopo. Vejam só que coisa mais interessante:
Um lenhador cortava suas canjaranas secas à margem de um rio quando, sem mais nem menos, o machado lhe escapou das mãos e mergulhou na correnteza. Em desespero, o infeliz operário clama aos céus por ajuda.
-Meu Deus, não posso perder meu machado! É dele que retiro o sustento de minha família!
Mal pronuncia a piedosa súplica e ressoa dos altos ramos (aqui, já é Fernando Pessoa) uma voz terna que acode: "Por quem clamas, filho amado?”
- Pai, não posso mais trabalhar, meu machado caiu no rio.
Deus, então, diafanamente incorporado à figura de um doce velhinho de cabelos e barbas muito brancos, num gesto mágico, retira do rio um reluzente machado de ouro e pergunta: -“É esta a tua ferramenta, meu filho?”
- Não, Senhor Deus, não é este o meu machado – responde o honesto lenhador.
Deus, comovido com a virtude daquele filho tão sofrido, rejeitando a peça de ouro, outra vez se volta para o rio e retira de lá um segundo machado, esculpido em prata genuína: -“É este o teu machado, meu filho?”
- Também não, responde o correto lenhador. Não é este o meu machado, Pai Generoso!
Pela terceira vez, então, Deus encharca as sandálias e regressa com um machado comum, enferrujado e gasto, cabo de madeira tosca, e o exibe ao operário: -“Será, pois, este o teu machado, filho exemplar?”
- Sim, diz, transbordando de felicidade, o lenhador. É este o meu machado, ó Bom Pai!
Contente com tão rara honestidade entre os homens, Deus decide presentear o pobre homem com os três machados, mandando-o, em paz, de volta para sua casa.
Tempos depois, aquele mesmo lenhador, com sua humilde esposa, passeava pelas proximidades do rio quando ela, que não sabia nadar, tropeçou e caiu na correnteza. Desesperado, o madeireiro que jamais esquecera a intervenção divina na recuperação do machado, de novo viu-se clamando aos céus por novo milagre.
E a mesma voz harmoniosa e leve o acudiu do alto: -“Filho em quem depositei toda a minha complacência, por que novamente me chamas?”
- Salve minha esposa, Pai, ela tombou no rio e vai morrer afogada!
O Senhor, querendo testá-lo ainda uma vez, dirige-se ao rio e retira de lá a Julia Roberts: -“É esta a tua esposa, filho sincero?”
- Sim!... Sim, Pai! É esta a minha esposa.
Deus se decepciona e o repreende com energia: -“És um mentiroso! Esta moça não é tua esposa. É uma atriz americana famosa, uma linda mulher, conhecida no mundo inteiro. Estou decepcionado!
Ao que o lenhador se justifica:
- Senhor, me perdoe, não fiz por maldade. Imaginei que se dissesse “não” o Senhor voltaria ao rio e de lá extrairia a Catherine Zeta-Jones para, só depois, numa terceira operação de salvamento, trazer minha verdadeira esposa, quando eu, ao dizer “sim”, receberia as três de presente.
Mas Pai, eu sou um mísero rachador de lenha. Como haveria de manter essas três mulheres?
Somente por isto afirmei ser minha a primeira que apareceu.
Não é seguro que certa incontinência masculina em relação às mulheres exageradamente belas seja desígnio da própria criação. Mas parece que Deus perdoou o lenhador.
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(Publicada na Gazeta de Leopoldina de 16.06.2003 e em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/, em 03.12.2009)
domingo, 8 de novembro de 2009
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