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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Em Tempo de Mensalão

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Novembro, 2005

Vi a entrevista do Lula no programa Roda Viva da TV Cultura. A impressão que fica é que o nosso presidente tornou-se um homem sem a prerrogativa da verdade. Evita entrevistas por isto: não pode dizer a verdade. A verdade o constrange tanto quanto os botões arrochados do terno que já lhe magoam o manequim extrapolante. Nosso presidente é, hoje, um homem comprimido pela verdade e pela roupa. Por obra do PT, Lula se tornou um refém da inverdade. Está lidando com ela como o malabarista de circo lida com o fogo que finge engolir.

Sobre a cassação de parlamentares que receberam dinheiro de Delúbio, via indireta - isto é, Delúbio mandou que apanhassem a grana com Valério - minha visão é a do direito penal. Toda conduta para ser considerada delituosa há de ser típica. Isto quer dizer que ela tem que estar prevista em lei, como crime. E com todas as letras. É o "princípio da reserva legal": não há crime sem lei (anterior) que o defina. Sendo assim, se o sujeito foi buscar dinheiro com o tesoureiro, seja para encaminhá-lo a prefeito do interior seja para o que for, e a ele foi dito que os recursos estavam com terceiro... Qual o crime? Onde está escrito que, na mão de terceiro (Valério) ele não podia pegar dinheiro? Não está escrito em lugar nenhum? Então, absolvido! Entre o próximo.

O senador Suplicy viveu dois minutos de glória quando o protocolo lhe deu tempo para falar com Bush. Falou sobre renda mínima, seu tema predileto. No lugar dele eu talvez fosse menos cordial, dizendo ao homem mais poderoso do mundo o seguinte: "Presidente, sou José Ninguém, represento coisíssima nenhuma em minha pequena cidade e na vida de um modo geral. Seja bem-vindo a este país e não se preocupe muito com a aparente influência de Hugo Chavez por estas bandas. Há entre nós uma única pessoa com saco e sub-cultura para ouvir o venezuelano: o nosso presidente. Mas não se exulte. A disposição para ouvir V. Exa. é menor ainda!"

Já a Senadora Heloísa Helena tem decepcionado. Teve a infeliz idéia de vestir camiseta com inscrição Fora Bush, na oportunidade da visita do presidente americano, a 6 de novembro. Tiro no pé. Condenou-se a impressionar não mais que o segmento eleitoral rasteiro do quanto pior melhor. Demonstra ser ave de vôo curto. Se tivesse a dimensão correta da história brasileira e de sua inserção na geopolítica das Américas e do mundo, talvez não lhe faltasse sensibilidade para o real sentido da presença de um presidente Americano no Brasil.

Encontraram pegadas do valerioduto numa subsidiária do Banco do Brasil, a Visanet. Do jeito que a gente temia: era dinheiro nosso! Do contribuinte. Agora é só ir encurtando a linha que vem o resto... Todo furto deixa rabo e ladrão é burro por princípio. Se não fosse, não seria ladrão.

Não procede a má-vontade do presidente Lula com os jornalistas. Jornalista ganha pra ser chato; governante ganha pra ser chateado, porque a ele foi confiada a gestão da coisa pública de cujo destino o jornalista é informante e fiscal.

E vem Da. Lúcia Hippólito teorizar as vantagens da Super Receita. Para mim, um pouco além do que teorizam os circunspetos, há os que trabalham e se encanecem mais cedo preocupados em manter de pé suas empresas, seus negócios, produzir bens e gerar empregos. Penso que num país já afogado em impostos e atolado no desemprego de seus jovens, qualquer governo que enxergasse um palmo à frente do nariz deveria estimular empreendedores em vez de buscar "aperfeiçoar" o garrote vil dos achaques e da suborno/arrecadação sobre eles.

Ninguém pensou no que eu, diante das lágrimas e das orações do deputado Sandro Mabel, negando que tenha oferecido 30 mil reais a uma deputada para que ela mudasse de partido, garrei a maginá. E se em vez de troca partidária, a verba oferecida à congressista lastreasse, de fato, algum outro tipo de proposta indecente à sua excelência e, ela, como justa reprimenda, resolveu vingar-se no campo do aliciamento político? Um prato feito para a atriz Denise Fraga contar mais uma paródia familiar na TV.

Por último, tomem nota. Toda essa crise iniciada com as denúncias de Roberto Jefferson aponta para duas pessoas que, contraditoriamente, devem estar tranquilas: Delúbio e Valério. São homens cujos critérios negociais o Brasil passou a conhecer. Eles dispõem agora da mais valiosa de todas as moedas: a informação. Ante ela, reputações, carreiras e, principalmente, o poder se curvam.
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(Publicada no jornal LEOPOLDINENSE de 30 de novembro de 2005)

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