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Setembro, 2009
Para respaldo de sua bronca, o polêmico cineasta cita Yoshihiro Francis Fukuyama, filósofo nipo-americano (O Fim da História), para admitir que o impulso antiautoritário da mídia foi longe demais e ameaça normas sociais compartilhadas neste nosso mundo liberal, de Pax Americana.
Só para situar as coisas, vamos lembrar que vem do século XIX, com Friedrich Hegel, a teoria do fim do processo histórico, por ele esperado para o momento do triunfo do estado liberal, tanto quanto, para Marx, ocorreria com o êxito da sociedade comunista.
Em livro de 1992, O fim da História e o Último Homem, Francis Fukuyama, retomou a tese quando a história − vista como disputa ideológica, não como término da aventura humana sobre o planeta, claro − parecia haver chegado ao fim, na queda do Muro de Berlim e no triunfo da democracia liberal.
Mas o que Stone pinça em Fukuyama vem depois: “Quando questionar a autoridade passa a ser o slogan principal de uma cultura, essa cultura está condenada porque não será capaz de manter uma união.” Para, daí, concluir que estamos em desequilíbrio, "nos tornando o que os livros de história falam sobre Roma tardia”, mergulhada na lama da decadente autoabsorção e da ausência de virtudes.
Não sei o que pensar desta afoita conclusão, mas confesso que certos questionamentos de autoridades, sobretudo judiciárias, na imprensa, deixam meus parafusos cívicos com a rosca espanada. Chego a sentir no ar um porre de liberalismo.
Embora exemplos em política se tornem velhos depressa, ainda não deu para esquecer o recente julgamento do Ministro Chefe da Casa Civil, pelo Supremo Tribunal Federal. A complexidade da questão e a expectativa aleatória do acórdão estiveram patentes nos próprios números do julgamento: cinco votos pela absolvição e quatro votos contrários.
Até aí, tudo bem. A consonância de pareceres em decisões colegiadas é apenas uma das possibilidades. O que vem ao caso são as críticas severas ao julgamento veiculadas pela imprensa, numa acidez de causar desconforto.
Nunca foi comum por aqui, e certamente que não o é em outros países, a desenvoltura com que a mais alta corte do país é publicamente objetada em matéria técnica, num bom número de casos com palavras mal escolhidas.
Minha “deformação cultural” zela pelo conceito de que toda decisão judicial é respeitável. Pode não ser prontamente acatável, se dela cabe recurso, mas é sempre respeitável.
Alguma coisa está pegando. Talvez a conduta pública pouco litúrgica de alguns membros de nossas Cortes Superiores venha desenganando reverência a seus nomes. Pode ser que a liberdade de crítica venha pisando na linha. O certo é que o equilíbrio hegeliano ditado pelo triunfo do liberalismo e da igualdade essencial, sem dúvida não inclui uma dança sapateada sobre a ordem jurídica.
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(Publicada aos 10.09.2009 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
Setembro, 2009
Andei lendo entrevista do diretor de cinema Oliver Stone (Platoon, The Doors, JFK, Natural Born
Killers, Nixon) onde ele aborda dentre outras coisas o que chama de
mensagem ideológica deletéria, o caráter antiautoritário, o cinismo e a ironia
da mídia ocidental.
Para respaldo de sua bronca, o polêmico cineasta cita Yoshihiro Francis Fukuyama, filósofo nipo-americano (O Fim da História), para admitir que o impulso antiautoritário da mídia foi longe demais e ameaça normas sociais compartilhadas neste nosso mundo liberal, de Pax Americana.
Só para situar as coisas, vamos lembrar que vem do século XIX, com Friedrich Hegel, a teoria do fim do processo histórico, por ele esperado para o momento do triunfo do estado liberal, tanto quanto, para Marx, ocorreria com o êxito da sociedade comunista.
Em livro de 1992, O fim da História e o Último Homem, Francis Fukuyama, retomou a tese quando a história − vista como disputa ideológica, não como término da aventura humana sobre o planeta, claro − parecia haver chegado ao fim, na queda do Muro de Berlim e no triunfo da democracia liberal.
Mas o que Stone pinça em Fukuyama vem depois: “Quando questionar a autoridade passa a ser o slogan principal de uma cultura, essa cultura está condenada porque não será capaz de manter uma união.” Para, daí, concluir que estamos em desequilíbrio, "nos tornando o que os livros de história falam sobre Roma tardia”, mergulhada na lama da decadente autoabsorção e da ausência de virtudes.
Não sei o que pensar desta afoita conclusão, mas confesso que certos questionamentos de autoridades, sobretudo judiciárias, na imprensa, deixam meus parafusos cívicos com a rosca espanada. Chego a sentir no ar um porre de liberalismo.
Embora exemplos em política se tornem velhos depressa, ainda não deu para esquecer o recente julgamento do Ministro Chefe da Casa Civil, pelo Supremo Tribunal Federal. A complexidade da questão e a expectativa aleatória do acórdão estiveram patentes nos próprios números do julgamento: cinco votos pela absolvição e quatro votos contrários.
Até aí, tudo bem. A consonância de pareceres em decisões colegiadas é apenas uma das possibilidades. O que vem ao caso são as críticas severas ao julgamento veiculadas pela imprensa, numa acidez de causar desconforto.
Nunca foi comum por aqui, e certamente que não o é em outros países, a desenvoltura com que a mais alta corte do país é publicamente objetada em matéria técnica, num bom número de casos com palavras mal escolhidas.
Minha “deformação cultural” zela pelo conceito de que toda decisão judicial é respeitável. Pode não ser prontamente acatável, se dela cabe recurso, mas é sempre respeitável.
Alguma coisa está pegando. Talvez a conduta pública pouco litúrgica de alguns membros de nossas Cortes Superiores venha desenganando reverência a seus nomes. Pode ser que a liberdade de crítica venha pisando na linha. O certo é que o equilíbrio hegeliano ditado pelo triunfo do liberalismo e da igualdade essencial, sem dúvida não inclui uma dança sapateada sobre a ordem jurídica.
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(Publicada aos 10.09.2009 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
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