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segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Votos de Natal

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Dezembro, 2008

Repasso um cartão de natal que recebi. Já o conhecia de outros dezembros. Trata-se de uma pilha de substantivos de bons augúrios, sobrepostos no formato de árvore de natal. Uma fartura de votos!
Como é próprio das festas de fim de ano, palavras meio esmeriladas pelo tempo. E não faz mal que algumas virtudes sejam quase sinônimas e que outras também importantes não tenham comparecido. Vamos ficar com o critério de quem pensou primeiro.

No topo, aparece a palavra: paz.
Deseja-se tanto a paz, que nem nos acode a genuína acepção do vocábulo. Paz é tudo o que mais necessitamos como cidadãos de um mundo que pula de uma guerra para outra. Desejo uma paz revigorada a cada amigo, a cada irmão da espécie humana. Na imagem de Clarice Lispector, distribuo a paz dos meus sonhos sob um céu azul e calmo, onde anjos ao redor de uma nuvem muito branca a sustenham, diáfana, pródiga de divinas bênçãos sobre nossas cabeças.

Na segunda linha vem: união.
Quis Deus destinar-me a uma família unida. Peço em meus votos que este espírito de fraterna coesão entre pessoas prevaleça em todos os corações, em todos os lares do mundo.

Seguem-se as sete letras de: alegria.
Privilégio é ter alegria para semear quando a vida insiste em nos mostrar sua cara feia. Festas alegres para todos, neste Natal e no ano de 2009 que logo virá. Alegremo-nos, mesmo com o pouco que somos e com o pouco que temos. Deus não nos fez perfeitos, mas nos deferiu a vantagem do sorriso. Sobre a terra, só o homem sorri.

Depois vem a: esperança.

O mais inquieto de todos os sentimentos. Na inquietude construtiva a esperança dá sentido à vida. Jardineira e sonhadora ela nos promete flores. Que ninguém, jamais, perca a esperança. Que ela siga espetando flores e alento nos projetos de cada um.

Em quinto lugar o construtor da árvore escreveu: amor e beleza. Que Afrodite, a deusa do amor e da beleza, venha depositar muitas flores nos caminhos de 2009. Pássaros de sua auréola encantem nossos ouvidos. O amor e o belo triunfem em todas as suas manifestações.

E seguiu com: fé e resignação.
Na fé, pratiquemos o bem, porque fé sem obras é virtude inócua. Se lhe é difícil pensar no céu e nos anjos, absorva-se no milagre da terra e da vida sobre ela. Muita resignação. Aceitemos o plano de Deus aplicado às nossas vidas. Deus, que a tudo provê, certamente nos reserva o melhor.

Vieram também: saúde e sucesso.
Um voto pela saúde que nos propicie vida longa e útil, de contínuo aprendizado e descobertas. O aperfeiçoamento diário nos aproxime da sabedoria dos mestres e da elevação dos espíritos superiores. Muito sucesso, dentro dos limites éticos, e palmas para o sucesso alheio como se nosso fosse. “Nenhum homem é uma ilha”, disse John Donne no memorável poema. “A morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti”. Tudo o que perde e tudo o que ganha um ser humano, a todos afeta.

Seguindo nos bons augúrios: realizações e luz.
Os realizadores sempre triunfem e os que buscam a luz vençam as sombras e se banhem no olhar do Pai. Onde não pudermos ser o sol, sejamos a lua que o reflete.

Crescem o tronco da árvore em: harmonia e solidariedade.
Mediar o entendimento, sempre. O acordo ruim é melhor que a demanda destrutiva. Gosto por litígio é apanágio dos inacabados de espírito. Vamos tecer amizade entre desafetos e irmandade entre amigos. O homem é ser gregário, dependente visceral de seus iguais, mas nem sempre atento à sua estrela.

Mais diâmetro com: amizade, sabedoria e perdão.
O novo ano seja propício ao cultivo de amizades. Voltaire as chamou de “benefício divino”. O mundo nem sempre é governado com sabedoria. Vamos, então, cultivar e dividir cada gota dessa preciosidade que nos toca. Perdoar é estancar o fel, que faz muito mal a quem o estila. Moderação apenas no perdoar a nós mesmos.

Fortifica-se a base: humildade e reconhecimento.
Na humilde está a base e o fundamento de todas as virtudes. Ser reconhecido é nobre e é humano. Procuremos dar corda à memória curta do reconhecimento.

Para maior firmeza: sinceridade, estima e bondade.
Enfrente o desafio de ser sincero e simpático. Jamais, franco e antipático. Sejamos estimados e não nos estimemos além da conta. Anne Frank aconselhou: “apesar de todos os pesares, creia sempre na bondade humana”. Nossa bondade não chegue, entretanto, ao ponto da passividade diante das injustiças.

Não poderiam faltar: equilíbrio, dignidade e tolerância.
O ícone do equilíbrio é a balança. Ela nos sugere ponderação nos julgamentos, nas ambições e nas paixões. A dignidade de nossos semelhantes será prioridade. Mãos às obras em favor dos carentes de vida digna. É bom atalho para nossa própria dignidade. E sejamos tolerantes. Sta. Terezinha de Jesus nos ensinou tapar defeitos que vemos nos outros com o betume dos nossos próprios pecados.

Já no alicerce, os pilares fundamentais: igualdade, liberdade e fraternidade.
Os três ideais iluministas. O mundo se interessou menos pelo terceiro – a fraternidade. O poeta Lamartine, ainda no século XVIII, observou que o egoísmo e o ódio sempre tinham pátria. A fraternidade, não. A fraternidade era universal!

Tocando a terra firme: seriedade, paciência, gratidão e força.
Que possamos contabilizar muitos créditos de confiança. Não nos falte paciência - recomenda o poeta Drummond - mesmo com os “que têm excesso de paciência”. Saibamos assumir dívidas de gratidão. Cervantes diz no Dom Quixote que “é de gente bem-nascida agradecer benefícios recebidos”. Fortes, saibamos direcionar a força para o bem e dominar a brutalidade.

No chão do Natal: felicidade, prosperidade e confraternização.
A todos aproveite lembrar que felicidade nós a cultivamos em nós, construindo-a de dentro para fora. Prosperidade é dádiva divina por nossos méritos, nunca uma divindade em si a ser louvada. Ao final, confraternizemos da maneira solidária e cordial como sempre o fazemos, com palavras simples, porém insubstituíveis.
Feliz Natal, próspero Ano Novo!
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(Publicado no jornal LEOPOLDINENSE de dezembro de 2008)

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