Janeiro, 2012
Cá de Minas Gerais, onde estou,
o desmoronamento dos três prédios da Av. Treze de Maio, a 25.01.2012, no Rio de
Janeiro, ressoou como se ocorrido aqui em frente.
É que a Av. Treze de
Maio foi, de fato, e por muitos anos, a minha rua, a rua do meu trabalho, do
meu dia-a-dia, além da rua do Teatro Municipal, do Banco do Brasil – Agência da
Cinelândia, do Cordão do Bola Preta, do antigo IAPB, no Edifício Darke, e da
Cia. Siderúrgica Nacional, no histórico Edifício Municipal.
Fronteiriças aos prédios
que desabaram, minhas janelas de escritório, no 18° andar do número 13, abertas
sobre a cúpula do Teatro Municipal, divisavam aqueles prédios que caíram no primeiro
plano da paisagem, tendo a Baia de Guanabara ao fundo, o Pão de Açúcar e a
Ponte Rio/Niterói.
No térreo de um deles,
funcionava uma padaria com pães especiais que, à noite, costumava levar para
casa, para deleite do meu filho.
Presenciar, pela TV, a
remoção daquele entulho me comove e me atesta situar-se ali um pedacinho do Rio
a integrar, silenciosamente, meu sentimento de lar.
Opinar prematuramente sobre as causas da
tragédia não é apropriado. Se, de saída, entretanto, foram descartadas as
hipóteses de explosão, algum outro episódio terá comprometido fatalmente as estruturas
da edificação maior, que levou, em sua
brutal implosão, as duas menores.
Sabe-se que o concreto não perde
resistência com o tempo – ao contrário, torna-se mais rijo − a menos que
ferragem exposta à ferrugem o comprometa, o que é raro. Obras desastradas, de
acréscimos, surgem, então, como causa mais provável da tragédia.
A propósito, vivi experiência bastante
elucidativa da questão. Na década de 80, contratei empresa para abrir um buraco
na parede e instalar condicionador de ar em meu apartamento de 10° andar.
Aos dois pedreiros que chegaram pela
manhã, indiquei a parede a ser furada e fui trabalhar. Cismado, porém, resolvi almoçar
em casa para conferir o andamento da obra. Que susto! Só a metade direita do
buraco estava aberta; a outra, a duras penas, eles tentavam, roer a marteladas...
– Está muito duro, Doutor, é concreto
armado!
Foi fácil logo ver que na ponta das
talhadeiras estava uma pilastra do prédio. Aflito, gritei que parassem com
aquilo... Devo ter pronunciado, naquele instante, a ordem mais importante da
minha vida...
Obras feitas por “curiosos”, sem
qualquer planejamento técnico, são comuns. Moradores, proprietários e síndicos
precisam estar atentos. Contratar pedreiro indicado pelo porteiro é uma
temeridade.
Também não pensar que a simples
regularização da obra no CREA garante segurança. Dão apenas notícia de que “há
um engenheiro responsável”. O que não é tudo. É bom saber se o engenheiro, de
fato, projetou e – importantíssimo – se passa por lá. Porque Conselho não
fiscaliza obra: ele existe para defender a classe profissional por cujos interesses
zela. Conselhos são autarquias que funcionam mais como burocracias cartorárias,
vorazes, sobretudo na coleta de suas próprias receitas, em anuidades, taxas e
multas.
O ideal seria fiscalização municipal eficiente,
acompanhando reformas e exigindo manutenção.
Infelizmente, esta é outra área em que, pelo menos nas grandes cidades,
a corrupção campeia solta. Dinheirinho para aprovar, dinheirinho para não
multar, dinheirinho pra isto, dinheirinho pra aquilo. E, cuidado, hem! Melhor
contratar despachante “do ramo”, que coloque a grana na mão da pessoa certa. Se
não...
A imprensa publicou duas fotos
comparativas do prédio maior, responsável pelo desastre da Treze de Maio –
antes e depois das reformas que sofreu ao longo dos anos. Na foto mais recente,
aparecem obras de ampliação nos andares superiores e inúmeras janelas
suplementares, abertas na empena cega do
prédio. O vulto dos acréscimos assusta pelas possíveis toneladas de cimento,
areia e tijolos ali colocados posteriormente ao cálculo das estruturas. As
aberturas caóticas das janelas sugerem possíveis danos aos pilares. Tudo,
portanto, obra irregular.
É
rezar pelos mortos.
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(Publicado, em 30.01.2012, no Leopoldinense Online)
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