Fevereiro, 2012
A morte do cantor Wando me trouxe
lembrança de um estouvado companheiro de trabalho, no Rio de Janeiro, o também falecido
jornalista Luiz Quintino. Esse foi um cara que se destacava. Chefe de redação
da empresa em que trabalhávamos, gozava da justa fama de sério, competente e equilibrado.
Era casado com Vanira, mulher adorável com quem tinha dois filhos já moços.
Residia num bom apartamento da Zona Sul
do Rio, levava vida profissional e social dentro dos padrões e manifestava,
sempre, grande carinho pela esposa e até pela sogra. Versado em elogios abundantes,
tinha na sogra sua grande beneficiária.
Lembro-me da ocasião em que buscava
trocar o apartamento da família. Dizia enfático:
– Só me serve imóvel com terceiro quarto
que seja “muito bom”, para minha sogra. Não abro mão de tê-la morando comigo. Minha
mulher é maravilhosa, mas quem “adivinha meus pratos preferidos” é minha sogra.
Pois foi este homem de vida conjugal nos
eixos que, a partir de certo dia, passou a incluir a própria secretária,
Olivinha, nos confetes coloridos de sua verve. Moça casada e bem mais jovem que
o chefe, talvez enfrentasse problemas em casa. Percebíamos que Quintino tornara-se
seu confidente e, aos poucos, sua companhia invariável nos almoços. Rapidinho o
namoro ficou óbvio.
Da parte do Quintino, rarearam os louvores
à esposa e à sogra. As qualidades de Olivinha ganharam preponderância em seu
apostolado.
Pelo sim, pelo não, eu – o colega ao
lado − decidi a tudo ver e ouvir em silêncio obsequioso. A situação era desconfortável
para mim, na condição de também amigo da esposa, Vanira, pelos muitos anos de convivência
com o casal. Uma distância prudente do imbróglio era-me recomendável.
Deu-se, por aquela época, que o cantor
Wando fazia grande sucesso na casa de espetáculos “Asa Branca”, nos Arcos da
Lapa. A imprensa repercutia:
– Imaginem, ele arremessa calcinhas de lingerie
para as fãs!
Wando emplacava seus grandes “hits” românticos.
Quintino foi, com Olivinha, ao show.
Se faltava algum tênue empuxo a inundar
de paixão o coração do ragazzo, o show
do Wando seria a gota d’água. O homem já não conseguia trabalhar; grudou na
Olivinha.
Claramente envolvido no lirismo da
canção “Moça” (Só podia ser: assobiava aquilo o dia todo!), passou a
desconsiderar os limites do recato.
– Era casado? Dane-se!
– A moça era casada? Dane-se, novamente!
– A moça era muito mais nova? O Wando
resolve:
“Moça,
dobre as mangas do tempo
jogue
o teu sentimento, todo em minhas mãos...”
“Dobre as mangas do tempo” é garimpo
poético de fina extração, não acham? Pois o bom Wando, mineiro de Cajuri – povoado
que fica ali, pertinho de Viçosa – disse mais, naquele show:
– Brega, minha
gente, é não viver um grande amor.
Quintino tomou
boa nota e, certamente, viveu. Deu um galho danado, mas viveu.
₪₪₪₪₪₪₪₪
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.