Novembro, 2004
Arte: Luciano Baia Meneghite (LUC)
Faz muito tempo! Noventa e quatro anos! Em novembro de 1910, mais de dois mil marujos, liderados pelo marinheiro João Cândido, apoderaram-se dos navios de guerra ancorados na baia da Guanabara e apontaram os canhões para os principais prédios públicos da capital, exigindo o fim dos castigos corporais na Marinha do Brasil.
O
governo gastara uma fortuna para modernizar a Esquadra, fazendo do Brasil uma
das maiores potências navais do mundo, mas o Código Disciplinar da Armada
continuava o mesmo da monarquia ... Foi a chamada Revolta da Chibata.
Na
noite de 22 de novembro explodiu o movimento com o marinheiro João Cândido, o
“Almirante Negro", assumindo o comando do Minas Gerais. Morreu na luta o
Comandante Batista das Neves, alguns oficiais e vários marujos. Sem saída,
Hermes da Fonseca que assistia a uma ópera quando começaram os canhonaços,
encomendou rápido um projeto a Rui Barbosa (que, aliás, tinha apoiado a
reinstauração dos castigos) pondo fim aos açoites e concedendo anistia aos
revoltosos.
Só
que o troco do governo viria depois. "O negro que violentou a história do
Brasil", segundo Gilberto Amado, foi preso com mais 17 marinheiros numa
masmorra da ilha das Cobras. Quinze morreram sufocados. João Cândido sobreviveu
e foi mandado para o Hospital de Alienados, onde os médicos negaram que
estivesse louco. Foi a julgamento e absolvido em novembro de 1912, porque a
jovem república brasileira já começava a ficar bonita, exatamente pela ação de
bravos como ele.
Tanto
que “a história não o esqueceu”. João Cândido, com sua Revolta da Chibata,
inspirou João Bosco e Aldir Blanc na belíssima canção, "O Mestre-Sala dos
Mares". Lembram-se da Ellis Regina?
-Há muito
tempo, nas águas da Guanabara
O dragão do mar
reapareceu.
Na figura de um
bravo marinheiro
A quem a
história não esqueceu.
Conhecido como
Navegante Negro,
Tinha a
dignidade de um mestre-sala
E ao acenar
para o mar, na alegria das regatas,
Foi saudado no
porto, pelas mocinhas francesas,
Jovens polacas
e por um batalhão de mulatas!
Rubras cascatas
jorravam das costas dos negros
Entre cantos e
chibatas,
Inundando o
coração do pessoal do porão
Que a exemplo
do marinheiro gritava: Não!
Glória aos
piratas, às mulatas,
Às sereias!
Glória à
farofa, à cachaça,
Às baleias!
Glória, a todas
as lutas inglórias
Que através de
nossa história
Não esquecemos
jamais!
Salve, o
Navegante Negro
Que tem por
monumento
As pedras
pisadas do cais...
(Mas faz muito tempo!...)₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado em 19.11.2004 no jornal LEOPOLDINENSE)
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