Novembro, 2011
Tem
me batido a sensação de que já vivi o bastante. Nasci e cresci num país de
terceiro mundo, com um povo descrente de si mesmo, mal dando conta do complexo
atávico de ex-colônia dos trópicos. Aquele peso do pecado original de não ser
europeu ou americano do norte. Pode ser problema meu, mas sempre me senti mais
ou menos assim.
Eis,
no entanto, que minha geração amadureceu vendo algumas coisas mudarem. A paixão
do primeiro mundo europeu pelo futebol valorizou demais nossos cinco títulos
mundiais no esporte. Ao mesmo tempo começamos a aparecer bonito também na
fotografia do vôlei, modalidade esportiva que “até os americanos” respeitam e
nos esportes olímpicos. Construímos um mercado interno forte, nos tornamos
ponteiros na produção de grãos e de carne. Alcançamos avanços tecnológicos
importantes.
Ultimamente,
já preparadinhos para morrer de vergonha por termos colocado um operário sem
cultura formal na presidência da república, eis que o homem vira líder
performático internacional, visto lá de fora como um “Pelé” da sociologia
política e, internamente, um Padim Ciço Milagreiro, dos fracos e dos oprimidos.
Não
bastasse isto, nosso líder é ungido por Deus através das perfuratrizes da
Petrobrás. Num passe de mágica, a ex-colônia alcança a fidalguia do hemisfério
norte e a fortuna, daqui mesmo, escondida a sete mil metros chão a dentro.
E,
convencidos de que a felicidade vem da terra, por pouco não acabamos de vez com
o analfabetismo remanescente, legalizando a verbalização das batatas...
De
que “ficamos ricos”, até dispensaríamos a prova dos nove, mas ela veio com a
velha Europa às voltas com uma crise econômica contagiosa, sendo que,
caprichosamente, pelo menos até agora, não se mostrou suficientemente idônea
para nos afetar.
Não
é de eriçar vaidades? É sim. Os de minha geração que morrerem hoje, morrem
realizados. Vimos tudo o que sonhamos ver! Não importa se com os pés um
pouquinho descolados da realidade. Mas que vimos, vimos.
Pena
que velho vive levando susto da juventude. Quando foi que nós, os encanecidos
de hoje − que nos escondíamos de nossos pais para fumar um cigarrinho de
tabaco, filado na rua – iríamos imaginar nossos netos invadindo uma Reitoria,
em protesto pelo direito, que acreditam ter, de traficar e usar drogas ilícitas
dentro do campus da maior Universidade da América Latina?
Ainda
bem que não será a essa minoria descartável que a atual geração de “coroas” irá
entregar um país, tornado viável e respeitável. As notícias dão conta de que,
para a maioria dos estudantes, as aulas na USP seguiram normalmente.
Ótimo,
é o Brasil preparando seus herdeiros.
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publ. a 10.11.2011,em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena)
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