Setembro, 2011
Tido
como certo que nenhum político é capaz de dizer uma verdade por inteiro, não
deve existir no mundo coisa mais tediosa que uma reunião de políticos. Sem
falar que dali resultam, quase sempre, acertos escabrosos que passam ao largo
do que realmente importa, que seria o interesse dos cidadãos supostamente por
eles representados. Azar da democracia onde as escolhas são feitas nas urnas
por um povo incapaz de entender o que vê e o que ouve.
Exato
o caso da cidade mineira em que certa reunião partidária incluía na pauta a
estratégia oposicionista para evitar a reeleição do prefeito, um populista
safado, mas bom de palanque que só ele. Tarefa dificílima. O homem levava a
termo um mandato bem avaliado pela imprensa cupincha, apontando as pesquisas
para sua, quase certa, “recondução ao cargo”.
A
opção dos adversários foi pela ênfase na única medida polêmica adotada pelo
alcaide na administração findante, qual fora o sumiço dado à cachorrada que
perambulava pelas ruas do centro da cidade. Aliás, “uma vergonha” − era o
clamor geral − aquela matilha de cães em trote pelas calçadas, entrando nos
Bancos, nas Farmácias, nas Igrejas, para demérito do requinte urbano e até
desconforto do pudor público nos episódios explícitos do namoro canino em
comitiva.
À
falta de estratégia mais digna, decidiu-se por escancarar nos palanques o
apelido escrachado que vinha sendo atribuído (ainda a boca pequena) ao
"algoz dos indefesos animais"... Em lugar de Toninho da Matilde, seu
nome de guerra (referência à genitora dele, primeira taxista da província),
toda a oposição passaria a referir-se publicamente a ele como “Toninho Cachorro”.
Tipo
do apelido que pega e, diga-se, pegou. Só que sabido não morre de véspera e a
resposta também viria pelos palanques e pelo microfone da Difusora local. Sintam
o estrago:
- Pois é, amigos, eles descobriram que
sou cachorro. Desejo, entretanto, aqui, de público, concordar com os meus pretensos
detratores e agradecer o apelido que me atribuem. Eles estão certos! Quando
Deus criou o mundo e distribuiu individualidade aos bichos, presenteou o
cachorro − esse fiel companheiro que acompanha o homem sobre o planeta há mais
de cem mil anos − com uma índole superior. Índole que poderia ser exemplo da
afeição absoluta, da verdadeira lealdade e dedicação que os seres, ditos
humanos, deveriam guardar por seus semelhantes.
Outra coisa não tenho feito à frente dos
destinos desta terra, que não seja a canídea submissão a meu povo, a cega
fidelidade ao voto dos que me honram com sua escolha! Serei sempre – proveja
Deus! − o dedicado cão de guarda de todos vocês, os verdadeiros donos do poder,
que são as mulheres e os homens desta cidade abençoada!
Administrar não é trancar-se no ar
condicionado como um gatinho angorá de fita no pescoço. Ao contrário, é campear
pelos bairros como um vira-latas; demarcar a área de atuação para melhorias
efetivas; ser cão vigia das obras em andamento; sentinela da saúde dos menos
favorecidos; é latir alto para horror dos que se opõem aos interesses de nossa
gente.
Se meus concorrentes querem ganhar o
respeito do povo, que não se estiquem, dorminhocos, em seus gabinetes a catar
pulgas com os dentes. Venham para as ruas aprender comigo a ser cão andarilho à
caça de solução para o drama das famílias pobres; venham aprender a ter faro
para o futuro de nossas crianças desnutridas; visão aguda para as angústias dos
doentes e dos velhos... Venham colocar a língua para fora no trabalho... Venham
mijar (sim!), venham mijar comigo em cada poste que plantei em nossas comunidades
esquecidas e sem luz!
Podem me chamar de Toninho Cachorro. É
uma honra ser comparado a tão nobre animal. Só peço a vocês que, ao colocarem
seus votos na urna, não esqueçam:
– Quem tem um cão tem um amigo! (Palmas,
palmas, palmas...)
Viu.
Vá mexer com quem dá nó em filete d’água na bica.
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado em 08.09.2011 em
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
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