Agosto, 2011
Andei lendo
sobre nomes curiosos ou repetitivos que os pais costumam dar aos filhos. A
gente sabe que no Brasil existem “preferências regionais” por certos nomes, ao
ponto de poder-se presumir a origem da pessoa no ato da apresentação.
Dificilmente um
José Ribamar deixará de ser maranhense, um Geraldo Magela não será mineiro ou
um Severino terá nascido fora do nordeste – onde comparecem ainda alguns
Raimundos Nonatos. É o Brasil com suas versões domésticas, regionais, dos Joaquins
e Manuéis de Portugal. Com farto registro, aliás, em nosso anedotário e no
cancioneiro popular.
Brincam muito,
por exemplo, com a cidade de Campos, no norte do Estado do Rio de Janeiro, por sua
pretensa inclinação saxônica nos batizados. Pode não ter amplo fundamento, mas
é certo que o município já teve um prefeito chamado Rockfeller e outro chamado
Antony...
Há não muito
tempo a TV Globo parodiou, em novela do horário nobre, essa desenvoltura
bizarra com que o brasileiro importa nomes a torto e a direito. No folhetim
havia a mocinha, Carolaine... Um
barato o personagem de Ary Fontoura, sempre caprichando na pronúncia para
referir-se à Quer-o-laine!
Talvez pior que importar
nomes seja inventá-los. Nem é bom entrar pelos exemplos.
Nomes bem ou mal
escolhidos me lembram o tempo, quando ainda moço, vivi em Goiás. Mais
exatamente no sudoeste goiano, cidades de Rio Verde, Santa Helena, Jataí,
Mineiros, Quirinópolis e imediações.
Foi em Goiás que
conheci o arroz com pequi e o licor de pequi (delícias!), a galinhada com
palmito gabiroba (portento!), o cajuzinho do campo (aquele prodígio da
natureza!) e, sobretudo, conheci muitos Jerônimos e muitos Lázaros. No
masculino e no feminino. Sendo que, Jerônimo, costuma aparecer em sua versão top de linha, com G inicial.
– O meu, é
Gerônimo dos bão; escreve aí com G, por favor.
Mas a história
que desejo contar ocorreu no Cartório de Registro Civil de uma daquelas cidades
importantes da terra do Anhanguera.
Entrou na
repartição uma distinta senhora ¬ que
depois soube tratar-se de nova médica do lugar ¬ com uma criança recém-nascida
ao colo, desejando registrá-la. A atendente, mocinha de uns trinta anos com
ares de domínio sobre seu ofício e vestígios de acne na face, indagou:
– Qual o nome da
criança, minha senhora?
–
Ingeborg ¬ retrucou a orgulhosa mamãe.
–
Ingeborg! ¬ intrometeu-se a serventuária. A senhora gosta desse nome?
–
Acho lindo, é o nome da avó dela ¬ explicou a mãe.
– Huumm!
Para mim, um horror ¬ insistiu a servidora. Mas não tem importância, né, quando
ela atingir a maioridade poderá pedir ao um juiz alteração do registro para
troca do nome... Se ela quiser, claro.
–
Você não gostou, mesmo, do nome da minha filha, hem! A propósito, qual o seu
nome, minha querida?
–
Me chamam Lazinha, mas meu nome é Lázara.
–
Ah, sim...
₪₪₪₪₪₪₪₪₪₪
(Publicado em 25.08.2011 em: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/ e no
LEOPOLDINENSE de 30.04.2013)
Pois é, garanto que muito leitor de teu blog vai dizer que não gostar do nome do bebê era "inveja" da escrivã. Estamos tão colonizados culturalmente que achamos feios os nossos nomes mais tradicionais, mas inventamos de dar nomes estrangeiros aos nossos filhos.
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