Outubro, 2011
Sei que
minhas convicções sobre a volta da CPMF são discutíveis. Devo ser um dos poucos
brasileiros “a favor” desse imposto – que considero o mais justo e inteligente
jamais instituído no mundo das finanças públicas. A Contribuição sobre
Movimentações Financeiras só atinge quem tem dinheiro, e na exata proporção do
dinheiro que possui. Nada mais perfeito para resolver o problema da Saúde entre
nós. Desde que os recursos passem ao largo dos ladrões e da má-fé política que
sempre os rastreou desde a criação no governo FHC.
Nada
obstante justa e perfeita, a CPMF tem inimigos poderosos. O vulto das operações
bancárias, sobre as quais incide, permite que a alíquota seja sempre fixada
muitíssimo abaixo de “um por cento”, o que não impede que empresários nutram
simpatia bem maior pela Cofins, de alíquota em torno dos “oito por cento”.
Sabem a razão? É que a CPMF possui taxa pequenina mas não dá para
sonegar...
Conheço
hospitais públicos por dentro. Ali se celebra, todos os dias e todas as noites,
o triunfo da miséria humana. Leitos de CTI, por exemplo, em número sempre
abaixo da demanda, obrigam, não raro, à escolha de “quem vai morrer”. Imaginem
todos os leitos e respiradores ocupados e a chegada de uma pessoa jovem em
estado desesperador. Óbvio, leva-se para o quarto – ou seja, para morrer – um
paciente idoso ou com menor probabilidade de recuperação. É mal menor, mas é
terrível.
Pelo
interior do país, o SUS elege Hospitais Regionais, “de referência”, para
procedimentos fora da capacidade técnica dos nosocômios das cidades menores.
Estabelece, entretanto, LIMITES mensais estreitos (faltam verbas) para tais
eventos. Resultado: bem antes do fim do mês o “limite abonável pelo SUS” se
esgota nos hospitais de referência, que passam a informar às cidades
circunvizinhas a inexistência de vagas.
– Pelo
amor de Deus, é caso gravíssimo! Tenho aqui um acidentado de 20 anos com
fratura de crânio; não temos tomógrafo nem neurocirurgião!
– Não
temos vaga.
– Ele
morrerá se não for operado dentro de quatro horas!
– Não
temos vaga, já disse.
Se é
família de classe média, vai “se virar” e correr com o paciente para uma
Clínica Neurológica particular. Se é família pobre, muito provavelmente
sepultará o acidentado no dia seguinte.
Há
poucos dias a TV mostrou um acidentado percorrendo 80 km, em busca de socorro,
na baixada fluminense. Claro, morreu. Fratura de crânio exige cirurgia rápida.
Não
estou, pois, falando em tese. Este é apenas um exemplo do que resulta a anemia
financeira do SUS.
Como
ficou claro, falta quase nunca é de quarto vago ou de cama na enfermaria. A
expressão “falta vaga” é eufêmica. A falta é de “margem abonável”. Se o
hospital atender não receberá do SUS, impedido que estará, inclusive, de implantar
no Sistema os atendimentos feitos extralimite. Ou seja: o SUS, além de não
abonar, jamais será informado de que houve o atendimento.
Não é
por outro motivo que o hospital, quase sempre endividado – devendo a
fornecedores, devendo luz, água, Bancos – recusa o paciente. Quando vira caso
policial ou jornalístico, demite-se de baixo para cima até onde o interesse
político permite.
Querem
outro exemplo? Alguém conhece Pronto Socorro, público, com cobertura
pediátrica? Se tem, gostaria de conhecer esse lugar abençoado onde criança
possa ser salva, principalmente à noite. A realidade é que não é fácil
encontrar pediatra disposto a passar noites em claro para ganhar o que o SUS
paga aos médicos.
Quando
Adib Jatene criou a CPMF, um ledzinho azul piscou na escuridão do túnel. Só que
Jatene não podia ter nas mãos aquela dinheirama toda, resolver o problema da
saúde no Brasil, e tornar-se – quem sabe! – presidenciável! Não era tucano, ora
bolas! Providenciaram uma regulamentação:
– O
dinheiro da CPMF teria que ir, primeiro, para as mãos do Ministro da Fazenda
que o repassará à Saúde segundo os critérios, tais, tais e tais. Pronto! Jatene
ficou a ver navios. E a ver navios, com a população brasileira, seguiram todos
os Ministros da Saúde que o sucederam.
Na recente tentativa de reativar a CPMF, o Congresso passou a entender que o
governo é que não poderia colocar a mão naquela “baba”. Seria muita grana à
disposição de quem poderia desequilibrar o jogo nas eleições seguintes. Pronto!
A CPMF não passou no Congresso.
É claro
que a possibilidade (ou seria a certeza?) de desvio de grande parte do dinheiro
existe. Somos uma nação de corruptos. Mas vamos fiscalizar, vamos denunciar! O
que não é razoável é negar à nossa gente essa possibilidade real, efetiva, de
financiamento da saúde pública. Por isto sou a favor da volta da CPMF. Para
mim, a solução para a Saúde, no Brasil, passa pela combinação de duas palavras:
CPMF e honestidade.
O resto
é jogo sujo. Independente do lado em que se ponham os contendores.
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Boa parte do que você disse é verdade, mas eu ainda acho que honestidade, pura e simples, já resolvia. Sua teoria soa algo como "a vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena".
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