Março, 2011
Quarta-feira
de cinzas de 2011. Ontem, dia 8, cliquei no You Tube a “Marcha da Quarta-Feira
de Cinzas”, de Vinicius de Moraes e Carlinhos Lyra. Hoje pela manhã, acometido
de lembranças, voltei a ouvir. Eu que nem
sou tão dado a Carnaval, passei a
explorar todas as interpretações disponíveis, da linda Marcha.
Repetecos
inclusos, não fiquei menos de hora e meia ouvindo a deliciosa lamúria do
Vininha. Bendita seja toda inspiração que Vinícius bebeu em nosso nome!
A
conclusão a que chego é que não é preciso gostar de Carnaval, nem é preciso
participar de Carnaval, para que o espírito da Quarta-Feira de Cinzas baixe em
cima (e, principalmente, por dentro) da gente. Os semblantes nas ruas não
negam. Na cabeça das pessoas, todo céu de quarta-feira de cinzas é nublado,
londrino. Razão assiste ao poeta quando observa que “saudades e cinzas” foram
feitas para “restar nos corações” quando “ninguém mais passa cantando feliz”.
Até
meia noite será quarta e ainda dá pra curtir a preguiça. Mas amanhã será
quinta, quando todo sentimento de trégua e repouso assumirá conotação de
malandragem. Será o calendário exigindo da gente um ânimo que o menor quociente
de álcool no sangue – por insignificante que seja – oporá obstáculo no
argumento pesado da lombeira.
Você
não brincou o carnaval, não é mesmo, não foi pra rua bater pernas debaixo de
chuva, não foi empurrado, pisado, xingado, cuspido, nem bateu caixa a noite
toda, certo? Preferiu um passeio com a família, ao sítio, à piscina, um
rachinha de futebol society, peteca, uisquinho,
batidinha de limão ou caju... outro uisquinho, torresmo... mais um uisquinho,
linguiça frita... outra dose do importado de lei; picles, camarão pingando
aquela gordurinha de porco deliciosa, hem!...
Reforça
a dose aqui, amigão! Um joelho de porco na brasa, hem, hem, hem, um aipimzinho
crocante... Cadê a batida, gente boa?
Maravilha!
Nós aqui e os palhações lá na chuva azarando mulher turbinada e pondo em risco
a saúde. Tem gente que não pensa no dia de amanhã!
É
claro que um pouco de exagero nas frituras e no sal das azeitonas deixa também
o estômago da gente meio revirado ao fim de quatro dias. Pra falar a verdade,
não sei por que não decretam que as quintas e as sextas, depois do carnaval,
sejam igualmente “de cinzas”. Não custava nada. Estômagos e fígados
agradeceriam. Falta de graça ter que trabalhar no efeito dessa gastura
digestiva, dessa sensação de corpo moído que a ingestão de tira-gosto
industrializado provoca no organismo!
Sei que
muita gente toma isto como piada, mas tanta porcaria que se ingere para
acompanhar scotch e caipirinha é uma temeridade. O que tem ali de química
conservante, aromatizante e colorante não é brincadeira. Sacumé que é! E nós,
aqui, mal conseguindo ficar de pé...
Tudo
culpa do governo que nem tá aí pra essas paradas. Sacou? Desses órgãos
fiscalizadores dos alimentos que deviam fiscalizar, mas não fiscalizam coisa
nenhuma. Tendeu? Vai ver, numa hora dessas, eles também tão chapados, em paranoia
etílica, falando abobrinha por aí... Hic!
Esse
país só entra nos eixos, ó meu, quando pessoas conscientes de seus direitos, no
uso da sobriedade que só nós sabemos preservar em momentos assim, mandarem logo
uma ação de perdas e danos em cima dessa tal de “AVISA”... Ou seria... hic, hic...
(Publicada em 03.03.2011 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
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