Março, 2011
Se não me
engano Rachel de Queiroz disse, numa de suas crônicas magistrais, que palavras
são como peninhas soltas ao vento. Depois que se espalham não temos mais como
juntá-las de volta. Por isto, todo o cuidado com o que dizemos é pouco. O
estrago de uma palavra mal escolhida pode ir muito além do que pretendeu quem a
emitiu. Digo isto a propósito do que escrevi aqui na última quinta-feira, com
referência ao carnaval: brinquei com quem, imaginariamente, fosse para a rua
azarar “mulher turbinada”... Só depois percebi que ficou grosseiro.
Não escolhi bem
a expressão e devo redimir-me, principalmente com leitoras a quem possa ter
melindrado. É que o conceito popular de “turbinada” pode incluir, para muitos, toda
mulher que se haja submetido a plástica corretiva. Não penso assim. A expressão
me ocorreu por obra do que todos nós costumamos ver na passarela do samba:
aqueles exageros rotundos de mamas e bumbuns arfantes, em artificialíssimas
plenitudes. Para mim, um exagero. Como tudo mais, aliás, que coisifique a
mulher ou sirva para desmentir sua distinção, sua natureza delicada e superior.
Recentemente,
destacado cirurgião plástico do Rio de Janeiro – por acaso nosso velho
conhecido – disse em entrevista a uma revista semanal a frase sumular: –
Cirurgia plástica é bom senso.
Claro que é. O
que excede ao bom senso, o que busca a extravagância, o mau gosto apelativo, aí
sim, mereceria, no meu modo de ver, a adjetivação automobilística de
“turbinagem”. Em socorro dessas moças deformadas a silicone só aproveitaria o
argumento de que “são peças de um evento característico” ( o Carnaval) com
direito a transformar seus corpos em “componentes alegóricos”.
Sendo assim,
amigos – e principalmente amigas – quando falei em “mulher turbinada” estive
longe de qualquer referência desairosa a senhoras e moças que simplesmente
decidem por um repaginamento providencial, aqui ou ali. Isto é “de lei” e até
eu que não pertenço ao luminoso sexo, diante das oxidases do tempo (injustas
que vocês nem imaginam!) ando medindo o pulo para também providenciar retoques.
Vinícius sentenciou
que beleza é fundamental e o poeta romano, Ovídio, 43 anos mais velho que Jesus
Cristo, naquele tempo, já dissera que “a beleza é um bem frágil”. Ora, fragilidade
exige cuidados, não é mesmo.
Vida feliz e
autoestima nas alturas, pois, às mulheres que se cuidam.
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(Publicada em 17.03.2011 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
(Publicada em 17.03.2011 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)
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