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sexta-feira, 13 de maio de 2011

Ilusões

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Maio, 2011


Quem lhes denuncia virtudes na ilusão não é sábio nem poeta. Apenas o que amanheceu confuso e talvez reclame compreensão e piedade. Arranhei, sim, o tornozelo numa plantinha de espinhos contundentes, conhecida como “sensitiva”, a qual maldizem possuir virtudes alucinógenas, similares às de outra espécie, priminha dela, famosa por suas folhas psicodélico-infratoras.

Para ajudar ainda menos, Guimarães Rosa pelas encruzilhadas sinápticas do bestunto a recitar que “a vida não é entendível”. O resultado, cá eu, do meu canto, a despertar manhãs sem utopias. Daquelas em que o homem arrosta sua pequenez diante desse espasmo de onipresença a que chamamos “nós mesmos”, frágeis interrogadores das inconsistências do estar no mundo.

Meu alterego e guru, onipresente, pondera nossa finitude – dele e minha – e proclama provas irrefutáveis de que nesta vida tudo é ilusão. Difícil discordar, pelo menos no tocante à maior parte das coisas. Diria que tudo o que a vida nos oferece, nessa embalagem para presente que é o viver, seriam, sim, meras ilusões. Garranchos num quadro negro que o apagador da morte absorverá sob forma de pó. 

Duro o enigma de estar no mundo por esta centelha a que chamamos vida, com seu sentido nebuloso e desfecho aterrador.

Pisamos um universo que se expande, os astros ganhando distância entre si qual manada de bodes que pondera o desembesto da volta, na hecatombe definitiva em que tudo se reverterá ao nihil.

Passageiros da ilusão do ser, seguimos irremediavelmente atrelados às galáxias no caminho do nãoser, quando nada escapará ao pó e ao espaço. Nem o granito, nem o diamante, nem os cometas com suas órbitas setuagenárias, nem os mais longínquos rochedos que os aprisionam.

Temos, todos, encontro marcado em novo estrondo epilogal que antecederá a quietude definitiva. Não soará um lamento pelo Everest ou pelo David de Michelangelo!

Há prudência, pois, no cativar ilusões. Elas nos servem à alma como o fígado ao corpo. Salvam-nos, a cada instante, atenuando as toxinas da realidade trágica de que nascemos protagonistas.

A quem me responde o espelho? Apalpo-me e não me acho. Constato-me e não me creio. Descaindo do azul, lá fora, um sol ingenuamente equívoco e sua luz provisória. Luz última a também nãoser quando todos os sóis se apagarem.


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(Publicada em 12.05.2011 em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/mariahelena/)

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